segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Maníaco; por Fabio Jasmim

Gisele Almeida estava em sua casa ajudando sua mãe com um vestido de baile.
A mãe de Gisele estava ajustando um lindo vestido azul, que usaria no Baile mais tarde.
Gisele tinha 13 anos, e era muito prestativa e inteligente. A família Almeida, morava em uma linda fazenda, e Gisele era filha única.
O Sr. Carlos Almeida, pai de Gisele, estava descascando uma laranja, enquanto admirava seu belo e velho smoking preto, pensando no grande baile que trajaria com ele à noite.
Brutus, era um grande cachorro que havia na fazenda, um pastor alemão imenso, e fiel. Fazia sempre companhia a Gisele, que o adorava.
Ao cair da noite, Gisele estava fazendo seus trabalhos do colégio, enquanto observava a animação de seus pais nos preparativos para a festa que iriam.
Por volta das 20:30h, Sr. Carlos já estava com seu belo smoking, e Lúcia (mãe de Gisele), estava linda no seu vestido.
Sr. Carlos se dirige para Gisele e diz:
- Voltaremos de madrugada, não fique acordada até tarde, e não se esqueça de colocar o Brutus p/ fora.
(Gisele) - Pode deixar.

Gisele se despede dos pais, e volta para a sala, onde estava ligada a TV.
Brutus estava deitado no tapete.
Gisele dizia que colocava Brutus p/ fora de casa sempre, mas tinha um esquema:
Ele saía pela porta da frente, dava a volta na casa, e entrava pela janela do quarto de Gisele, que ficava estrategicamente aberta para a chegada do cão, que todas as noites dormia debaixo da cama de Gisele. Os dois eram inseparáveis.

Fazia muito frio naquela noite. Gisele desliga a TV, e continua a fazer suas lições, ouvindo a rádio local.
Foi então que ouviu a seguinte notícia:
- Foge do manicômio, um psicopata muito perigoso, a polícia está a procura dele desde as 19h. Mantenham a atenção dobrada até a captura do louco.

Gisele fica pálida no mesmo momento em que ouve a notícia, pois o manicômio ficava há uns 5 Km de sua fazenda.
Se ajoelha, e reza pedindo proteção a Deus.

Já se passavam das 22h, quando Gisele preparou um chocolate quente, tomou e foi para seu quarto.

Gisele, já estava mais calma quanto o fato de ter um maníaco a solta, pois Brutus estava sempre ao lado dela.

Ela se deitou na cama, desligou o abajur e se cobriu para dormir.
Antes de fechar os olhos, ela colocou a mão em baixo da cama e foi recebida a lambidas do fiel cão.
Tranquila, Gisele dorme.
Ela acorda no meio da noite, achando ter ouvido um barulho na casa. Ficou em silencio, mas não ouviu nada.
Levou a mão embaixo da cama, e novamente foi recebida a lambidas.
Um barulho vinha do banheiro, uma goteira na pia.
Um pequeno barulho como esse, no total silencio, se torna insuportável.
Mas Gisele não estava disposta a se levantar p/ ir fechar a torneira corretamente.
Porém, não conseguia dormir com aquelas gotas soando.
Levou a mão novamente embaixo da cama, e mais uma vez, lambidas receptivas.
Tomou coragem e se levantou para fechar a torneira que não deixava ela dormir.
Acendeu a luz do corredor ainda meio sonolenta e se dirigiu ao banheiro.
Ao abrir a porta do banheiro, ela acende a luz. Seu corpo inteiro foi tomado por um terrível pavor.

Pendurado pelo rabo, no chuveiro, estava Brutus, com a garganta cortada.
O chão do box, estava lavado de sangue, que ainda gotejava da garganta do cão.
Na parede de azulejos brancos, estava escrita com o sangue do animal, a seguinte frase:

"MANÍACOS TAMBÉM LAMBEM MÃOS!!!"

Fim.

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Conto de autoria de Fabio Jasmim. Todos os direitos autorais reservados ao autor desta obra.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Lua Branca: Desventuras e Caixões; por Fabio Jasmim

Tu.......

Tu.......

Tu........Clic... - Funerária Lua Branca, boa noite!?
- ...............................................................
- Alô!?
- ...............................................................
- Escuta aqui!! Isso é alguma brincadeira?!
- ..............................não...........................

A expressão facial da jovem loira se torna tensa.

- Desculpe senhor, minhas sinceras desculpas... Expresso minhas condolências neste momento.. Em que podemos ampará-lo??

Nenhuma voz se manifestou do outro lado da linha.

- Senhor? O senhor está na linha?
- .............................................................

A moça podia ouvir uma respiração arranhada, ao longe, naquele silêncio que se passava.
Sarah desliga, depois de tentar, em vão, manter comunicação.

'Deve estar em choque pela morte de um parente, e não soube lidar com essa situação..' - Pensou a moça, com um sentimento de culpa pela grosseria ao telefone..

Após alguns minutos, já eram 19h, e Sarah entra em uma sala cujas paredes serviam de mostruário para os modelos dos caixões.
Ela atravessa a sala, apaga a luz, e volta, trancando a porta ao sair.
Havia acabado seu expediente, e ela caminhava para o ponto de ônibus, que ficava a dois quarteirões da funerária.

Sarah tinha 27 anos, era loira, de cabelos encaracolados, esguia e solitária.
Não conheceu a mãe, e seu pai, morava em uma cidade vizinha. Sarah visitava seu pai quinzenalmente aos domingos.
Morava sozinha, em um pequeno apartamento. O local também era seu ateliê de pintura e, por ser pequeno, seu apartamento parecia menor ainda devido as distribuídas telas que alí permaneciam secando. A tinta óleo, além de demorar alguns dias pra secar, tem um cheiro forte, que Sarah já nem mais sentia, pelo convívio pleno.
Tinha um talento e tanto. E um hobby que lhe acrescentava mais dinheiro todo mês.

Sarah levanta o indicador direito, dando sinal pro ônibus, ela se senta lá atrás, meio desajeitada, enquanto disfarçadamente, conferia e guardava seu troco.
Passados 10 minutos, Sarah chega ao seu prédio.

Ela passa na portaria e pega sua correspondência com o Sr. Wilson, um simpático senhor, que ficava na portaria.

- Boa noite, senhor Wilson!!
- Boa noite, minha filha!! Que frio tem feito, não é?
- Pois é.. - Responde sorrindo.
- Chegaram mais correspondências, e aproveite para levar o novo contrato do aluguel e o informativo sindical..
Além de sua bolsa, Sarah se despedia de Sr. Wilson com vários papéis e correspondências. Era sexta feira, devido à greve dos correios, a correspondência de todo esse tempo, havia acumulado.
Sarah tranca a porta, e coloca todos os papéis sobre o balcão que ligava aquele mini corredor com a cozinha. Deixa a bolsa, e descalça os sapatos sem usar as mãos.
Após isso, ela segue para o quarto, e depois ao banheiro. No chuveiro, por um momento, Sarah lembrou do telefonema que recebera mais cedo, na funerária onde trabalhava. Ela sentia pena dos familiares. Ela sabia que para muitas pessoas, não é nada fácil ligar para uma funerária e pedir um caixão para alguém querido que morreu há poucas horas. Não se está acostumado com esse tipo de negociação, é uma ligação que ninguém pretende de fazer.. E as quais ela atendia, todos os dias..

Sarah muda seu pensamento ao perceber que estava há algum tempo olhando para o nada.
Desliga o chuveiro, se troca e vai para a sala.
No balcão da cozinha, em meio às correspondências, Sarah vasculha a procura do controle da Tv, ligando-a.
Do lado de dentro da cozinha, Sarah passa os olhos nas contas que já tinham passado da data de vencimento, e calculava mentalmente e precocemente os juros que viria a pagar.
Assina os novo contrato de locação, e pensa - a única prestação que eu consegui pagar no dia esse mês..
Em meio aos papéis, Sarah nota o bico de um envelope diferente. Era pequeno e azul bem escuro.
Pegando o envelope lentamente, Sarah franzia a testa.
Vira e lê a frase 'Em mãos'.
Abrindo o envelope, Sarah pega uma folha de caderno, dobrada quatro vezes.
Nesse mesmo momento, o micro-ondas apitava, anunciando que seu pedaço de lasanha congelada já estava quentinha.
Sarah deixa o envelope e o papel dobrado sobre o balcão, e pega seu jantar e talheres. Sua fome estava na frente na fila de prioridades. Estava curiosa, porém, a lasanha estava falando mais alto naquele momento.
Ela come sentada no sofá, enquanto assistia o noticiário na Tv. Nesse momento, o telefone toca.

- Alô?!
- Alô. Sarah?
- Sim.. Quem está falando?
- Isso não importa, queria saber quem é você, pois achei esse número em um papel nas coisas do meu filho.. E ele desapareceu há dois dias.. Você conhece o Johnny!?

Sarah arregala os olhos, pois não fazia a menor idéia de quem era Johnny, e de qual a razão do número de seu celular estar com um desconhecido..

- Minha senhora, me desculpe, mas eu não conheço o filho da senhora..
- E o que o número do seu telefone está fazendo no bolso de uma calça dele?

Após um breve silêncio, ela diz :
- É o que eu estou me perguntando também.. Me desculpe, não conheço nenhum Johnny, nunca nos falamos..

A mulher desliga o telefone sem nada dizer..

Sarah volta para o sofá com a testa enrugada, pensando em quem podia ser Johnny..

Instantes antes de colocar um pedaço de lasanha na boca, Sarah pensa em voz alta :

- O envelope!!

Ela deixa o prato, e caminha até o balcão da cozinha, desviando dos tripés com telas.
Ela pega o envelope e sua bolsa e volta rapidamente para o sofá, acendendo o abajur que havia ao lado.

Ela coloca os óculos, e quando começaria a ler o papel, o telefone de seu apartamento toca.. Ela deixa tudo no sofá, e se levanta, estica o braço e pega o telefone sem fio :
- Alô!?
- Alô, Sarah.
- Oi Sr. Dimitrius, o que houve?

Dimitrius era o patrão de Sarah.. O dono da funerária..

- Aconteceu algo terrível Sarah, terrível...
- Você recebeu um bilhete em sua residência?

Sarah estremece nesse momento, mas responde :
- Sim, mas ainda não li. Na verdade estava prestes a ler quando o senhor me ligou.

Então leia, e me encontre na funerária assim que acabar de ler..
- Agora?! Mas Sr. Dimitrius, o que houve, a funerária está fechada!!
- Leia, você vai entender, não sei como explicar o que aconteceu.
Dimitrius desliga o telefone.

Sarah volta para o sofá, desdobra o papel, e começa a ler.

"Sarah.. Sei que não nos conhecemos pessoalmente, e peço desculpas pela imprensão que lhe causarei. Mas no fundo, eu sou um cara legal.
Essa semana, minha vida mudou da água para o vinho. Tanto que consegui seu contato com aquele senhor mal-encarado que trabalha de manhã na funerária, para que você pudesse me ajudar. desculpe ter mentido, pois disse ser seu colega a ele, para que me desse seu número e endereço.
Minha namorada (que minha mãe sempre odiou) estava grávida, e nessa quarta-feira, entrou em trabalho de parto em seu apartamento. E me ligou.
Corri pra lá, visto que moramos bem perto, e ali mesmo na sala de estar, conduzi o parto de minha filhinha. E para a minha tristeza, o bebê nasceu morto.
Minutos depois, minha namorada começou a ter convulsões (Eclampsia), eu tentei ajudá-la, mas não sabia o que fazer. Ela também veio a falecer.
Imagino o que você deve estar achando, mas eu fiquei umas 3 horas na sala, em estado de choque, vendo meu destino ganhar uma forma gasosa.
Por isso, fui até a funerária, mas não soube o que dizer para aquele homem na manhã de quinta-feira.
Vi seu crachá na mesa, e improvisei: Disse que era seu colega, e aquele homem me deu o seu celular e seu endereço.
Tenho 23 anos, e não sei, assumo, o que fazer numa situação dessas. Ligo pra polícia? IML? Bombeiro?
Garanto que isso passou pela minha cabeça, em algum momento que tive consciência dos fatos.
Liguei hoje, no início da noite, novamente para a funerária, mas não soube o que dizer, desculpe se a assustei. Por isso escrevi esse bilhete. sei que parece loucura, mas desde 4ª feira que eu não vou pra casa. Estou no apartamento da Julie, ao lado de seu corpo e do corpinho da nossa filha. Não consigo abandoná-las aqui.
Tomei uma decisão. A que me pareceu menos dolorosa. Pagarei pela fechadura também, o dinheiro dos 3 está no meu bolso direito (Como não sabia ao certo o valor, deixei minhas economias, cerca de R$10.000, acho que dá, né?)
... Sei que não vai ser nada bonito de se ver, mas não poderia contar com ninguém.
Desculpe a má imprensão, e antecipadamente, muito obrigado!"
Johnny R.

Sarah, fica alguns instantes imaginando o que seria aquilo, e sai do apartamento, trancando a porta e se encaminhando, de táxi, para a funerária Lua Branca.
Em poucos minutos, Sarah avista do carro a fachada da funerária, e vê duas viaturas da PM, e alguns jornalistas na frente da mesma.
Ela desce do carro, e lentamente caminha rumo a funerária.

- Sarah!! Que bom que você chegou, cadê o bilhete? Ele deixou um aqui avisando que você saberia explicar o que aconteceu. E que.. cuidaria do devido pagamento..
- Como assim, Sr. Dimitrius, o que houve na verdade com esse tal Johnny.
- Seu amigo? Ele não disse nada..
- Ele não é meu amigo, é um cara que anda passando por uns grandes problemas.
- Andava passando, você quis dizer, né..

Sarah entrega o papel dobrado para Dimitrius, e caminha lentamente para dentro da funerária..
Um Fiat Uno estava parado na frente da funerária, com as portas abertas e o farol aceso, sendo vasculhado por alguns policiais..

Sarah entra, e vê alguns policiais peritos na sala dos caixões.
Ao entrar, automaticamente Sarah coloca sua suculenta lasanha no chão, junto com o suco que havia tomado no jantar.

Estavam três caixões deitados no chão, um pequeno e branco, com um bebê azulado, um contendo uma mulher com expressão de dor, e rosto pálido esverdeado, e no outro, estava em meio ao sangue e miúdos cerebrais, o corpo dele, com uma arma na mão direita.

Após vomitar, Sarah vai até o corpo, e com muito nojo mete a mão no bolso direito de Johnny.

(Policial) - Hey, O que faz aí?
(Sarah) - Pegando o dinheiro para pagamento dos caixões, ele me escreveu um bilhete, que está com o dono da funerária ali adiante..

O policial caminha até Dimitrius.

Sarah retira um envelope branco e gordo do bolso do jeans surrado de Johnny, e não contém uma lágrima ao ler do lado de fora:

'Muito obrigado, Sarah.'

Sarah se emociona, pois era a primeira vez que vendia caixões ao próprio defunto..
Dentro do envelope, além do dinheiro, havia um pequeno pedaço de papel, escrito:

"Que coincidência, uma bela coincidência está no céu."

Sarah, após alguns minutos, sai da funerária e fica alí na frente conversando com os policiais. Quando olha para o céu, e vê do que se tratava o comentário de Johnny:
Havia uma enorme, bela e branca lua cheia.

Fim.

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Conto de autoria de Fabio Jasmim. Todos os direitos autorais reservados ao autor desta obra.

sábado, 8 de novembro de 2008

O Mistério da Fazenda; por Fabio Jasmim

Capítulo 1:
Os dias pareciam que não iam ter fim para Paulo, desde quando sua esposa Catarina faleceu. Toda a magia, todo o amor de um casamento duradouro, tinha se dissipado.
Aos 54 anos de idade, Paulo não tinha mais razão para viver. A grande e bonita fazenda, agora era o cenário da dor e solidão de Paulo.
O perfeito plano de aposentadoria do casal durou pouco mais de 3 anos.....

Paulo era um bem-sucedido empresário, e sua empresa cada vez dava mais lucro. Ele e Catarina moravam em um grande e luxuoso apartamento em Copacabana, na Av. Atlântica.
Apesar de muito rico, Paulo era extremamente humilde e simples, somente na empresa e em reuniões e convenções, ele era visto de terno e gravata; Em sua casa, preferia ficar de chinelo e bermuda, o que também vestia em suas caminhadas na orla ao lado de sua esposa, e sempre que podia assim se vestir.
Paulo sempre dizia a sua esposa:
"-Quando eu me aposentar, comprarei uma linda fazenda no interior, para que possamos viver o resto de nossas vidas em paz com a natureza e a vida simples, longe de todo esse caos da cidade grande."
Catarina era a que mais apoiava a idéia, pois era bióloga, e lecionava 'ciências biológicas' em uma conhecida faculdade federal do Rio de Janeiro, e sempre sonhou em viver em uma fazenda, em contato direto com a natureza, pois sempre morou em prédios desde menina.

Capítulo 2:
Paulo anunciou sua mudança para o interior, na festa de bôdas de prata de seu casamento. Em uma caixa embrulhada para presente, Catarina encontrou a escritura da fazenda, as chaves da nova casa e as chaves da nova caminhonete.
(Catarina) - Eu não acredito!!!! E você não me disse nada?!? Seu bobo!!!

Disse para Paulo entre risadas e lágrimas.
Paulo sorriu e disse:
- O melhor da surpresa é a verdade que vemos nos olhos da pessoa. Mas você sabia dos nossos planos, só não sabia que eu já estava preparando tudo, meu amor.

A felicidade do casal resplandecia por toda a festa.

Em duas semanas, a mudança para a fazenda estava concluída. A casa era imensa, e muito bonita após a reforma que Paulo fizera. A fazenda era em um estilo colonial, e a sede da fazenda (casa), era datada de 1819. Paulo não só reformou a casa, como também construiu uma grande piscina, comprou alguns cavalos, vacas, bois, aves, reativou o lago que estava seco, plantou flores lindas nos jardins, podou artísticamente as árvores, e fez um celeiro, para os dois campos de milho que ele plantou, e alguns pés de milho já estavam com quase 1 metro.

Capítulo 3:
Ao chegar na fazenda, catarina ficou bestificada:
- Meu Deus!! Paulo, que fazenda linda!! É um paraíso, tem pomar, horta, galinha, os patinhos no lago!! Que lindo!

Paulo, abraçado com Catarina, também admirava a bela fazenda naquele pôr-do-sol de outono.

A fazenda estava realmente muito linda. Paulo não poupou despesas para reformar a fazenda por completo.
Contratou também três empregados: dois homens, para cuidar dos animais, das plantações e para serviços gerais; e uma mulher para cuidar dos afazeres do lar. Todos os três moravam em uma cidadezinha que ficava a cerca de 5km da entrada da fazenda. Paulo comprou um carro usado, meio velho, mas em bom estado de conservação, para que os empregados pudessem ir e vir da cidade para a fazenda. Um amigo de confiança de Paulo indicara os atuais empregados, pois tinha parentes naquela cidade que conhecia os rapazes e a moça. De família humilde, honesta e da melhor qualidade.

Atrás da sede da fazenda, havia uma floresta, que se projetava sob uma colina não muito íngreme, e desencadeava por vários morros florestados. O visual era lindo no amanhecer.
Nas primeiras semanas, tudo ainda era novo para o casal. O leite fresco pela manhã, as plantações já davam para incrementar o almoço, algumas tardes eram destinadas a cavalgadas pela fazenda, para conhecer todos os cantos da propriedade.

Capítulo 4:
De noite, quando não saíam para jantar fora, o casal ficava lendo juntos na biblioteca, ou na sala assistindo DVD ou Tv, aquecidos pela lareira. Era um casal muito unido, eram além de marido e mulher, grandes amigos. Em noites de luar inspiradas, Paulo levava colchonetes e edredons para o gramado da frente da casa, apagava todas as luzes da casa, e ao som de insetos noturnos diversos, e com o pisca-pisca dos vagalumes, ficavam sob as estrelas e a lua, se amando como jovens namorados.
A harmonia entre os dois era contínua e perfeita, e a vida na fazenda estava sendo uma nova e muito agradável experiencia para o casal.

Numa bela manhã, Rogério, um dos empregados de Paulo, chega até ele e diz:
-Dá licença seu Paulo.. Estamos com um pequeno problema na fazenda do senhor.
(Paulo) - Problema? Qual?
(Rogério) - É que os milharais já estão florescendo, e os campos estão infestando de pássaros que comem os grãos.
Acho que deveríamos fazer alguns espantalhos para afugentá-los.. O que o sr. acha?
(Paulo) - Claro, vamos ver quantos serão necessários, e faremos.

Capítulo 5:
Paulo pensava:
"- Achei que fosse realmente um problema, mas pássaros dos campos não são problema algum."

A montagem dos espantalhos foi muito bem humorada, Catarina se divertiu ajudando a vestir e decorar os estantalhos.
Paulo corrigindo disse:
-Meu amor, os espantalhos não podem ficar bonitos, senão os pássaros não vão se assustar.
Paulo colocou alguns galhos como mãos abertas, e desenhou um rosto mais amedrontador em todos os espantalhos.
Catarina, para não perder por total a decoração dos espantalhos, batizou todos os quatro com nomes engraçados.

Rogério e Milton, empregados de Paulo, se encarregaram de coloca-los nos campos.

Dito e feito. Ao verem os espantalhos no alto dos milharais, aos poucos os pássaros foram deixando os campos.

Naquela tarde, garoava um pouco, e estava um pouco frio, Paulo resolveu então não cavalgar. Mas disse para sua esposa:

- Amanhã, vamos cavalgar para o lado oposto da fazenda, ver o que tem lá pra'queles cantos da floresta, estava pensando em fazer um jardim por alí, com uns banquinhos, flores, etc..

(Catarina) - Tá, amanhã veremos como é aquela parte da fazenda.

A chuva engrossou no final da tarde, e por volta das 18h, a luz acabou, o que fez com que Paulo acendesse uma vela na biblioteca, onde estava lendo com Catarina.
E assim ficaram.

Capítulo 6:
Catarina, em meio a leitura a luz de vela, se vira para Paulo e diz:
- Me empresta a vela um pouco, vou ao banheiro.

Paulo acendeu outra vela, e entregou para Catarina, que saiu logo em seguida rumo ao banheiro. Paulo continuo sua leitura.

Catarina estava no meio do corredor, donde se via ao final, uma janela com os clarões dos trovões.
Dobrou a esquerda, e entrou no banheiro. Após usar o banheiro, colocou a vela no canto da pia, e lavou as mãos, pelo reflexo do espelho, Catarina achou ter visto alguém posto logo atrás dela, mas ao se virar, não havia ninguém. Catarina riu, achando estar vendo coisas na escuridão.

Ao voltar para a biblioteca, nota que Paulo não estava lá, e chama por ele. Sem resposta.

Catarina sai da biblioteca, e chama no corredor:
-Paulo!!!
Sem resposta, vai até a cozinha, e encontra Paulo arrumando um sanduíche, e pergunta:
- Por que você não me respondeu quando eu te chamei??
(Paulo) - Você me chamou?? Desculpe querida, não ouvi seu chamado, por isso não respondi. Aconteceu alguma coisa?
(Catarina) - Não, nada, só não sabia onde você estava.

Catarina acha absurdo o fato de Paulo não ter ouvido ela chamando, pois pela distância da cozinha, e o volume de seu chamado, qualquer um teria ouvido, mas releva e volta para continuar a leitura antes de dormir.

Por volta das 22h a luz voltou.

Capítulo 7:
Na manhã seguinte, após tomarem o café da manhã, Paulo e Catarina foram cavalgar.
O sol estava bem forte, e a chuva da noite anterior fez bem para a vegetação. Paulo, como já havia comentado, rumou com Catarina para o lado oposto da fazenda, para a margem da grande floresta. A floresta, em seu início, era como um bosque, poucas árvores espaçadas, mas a medida que se adentrava, o número de árvores crescia proporcionalmente.
Catarina estava encantada com a variedade de espécies de árvores e plantas daquela parte da fazenda, além de ser uma floresta muito peculiar: As maiores árvores, na grande maioria, eram centenárias, já tinham atingido seu estado máximo de maturidade, eram árvores muito robustas, as raízes já eram expostas e os troncos, muito grossos.
Paulo e Catarina param em determinada parte, pois logo a frente, seria difícil para os cavalos passar por entre as árvores.
(Catarina) - Paulo, essas árvores são muito antigas, é mata virgem, uma parte da mata atlântica que te garanto ser a mais antiga que já ví. As árvores são explêndidas!
(Paulo) - É realmente lindo. Naquela parte onde a floresta ainda é um bosque, é o lugar perfeito para fazer o jardim que eu havia comentado. Bancos e flores em meio as árvores. Vai ficar muito bom!

Catarina concorda e elogia a idéia, pois o local era propício para um belo jardim.
Por lá permaneceram até a hora do almoço. Ficaram sentados na raíz de uma das grandes árvores. Pássaros de várias espécies passavam de tempo em tempo.
Por alí permaneceram até a hora do almoço.
A paisagem do caminho de volta chamou a atenção de Paulo para uma entrada na floresta, a cerca de uns 300 metros pra direita da estrada por onde eles entraram. Paulo não comentou nada, mas observou que Catarina também reparou na entrada por entre as ávores.
(Catarina) - Será que tem uma trilha?
(Paulo) - Não sei, de tarde podemos vir aqui de novo e explorar, o que você acha?
(Catarina) - Claro!

Os dois almoçaram pensando na cavalgada que fariam na parte da tarde.
Capítulo 8:
Após o almoço, Paulo resolveu descansar um pouco antes de cavalgar até a floresta com sua esposa.
Passados 45 minutos de descanso, ele e Catarina vão até o estábulo e pegam os cavalos. De lá partem rumo a recém descoberta entrada paralela para a floresta.
Eram por volta de 2:30h, quando da estrada avistaram a entrada um pouco afastada, do lado direito. O sol já não estava forte como pela manhã, e as nuvens já se acomodavam pelo céu.
Paulo sai da estrada, seguido por sua esposa, e páram de frente para a entrada por entre as árvores.
(Catarina) - apesar de o mato estar um pouco alto, dá pra perceber que é uma trilha congruente por entre as árvores, só resta descobrir aonde a trilha acaba.
(Paulo) - E é por isso que viemos até aqui.
Após dizer isso, Paulo adentra com seu cavalo pela trilha, seguido por catarina.
A trilha era como um túnel formado pelas árvores dos lados. No topo, as copas de ambos os lados se encontravam, dando esse majestoso efeito na trilha.
Catarina) - Não vá tão depressa Paulo, esse visual merece ser apreciado. Cada vez que a gente explora a fazenda, mais encantada com toda essa beleza eu fico.
Paulo concorda, e reduz a velocidade de seu cavalo, apesar de muito curioso com o destino daquela trilha.
Passados uns 10 minutos, conforme adentravam na floresta pela trilha, Catarina repara algo diferente:
- Paulo, você está ouvindo algum barulho?
(Paulo) - Não, por quê?
(Catarina) - Não acha estranho? Pare seu cavalo por um instante, por favor.
Paulo para o cavalo e pergunta:
- O que houve?
Catarina) - Não há ruído algum nessa parte da floresta. Nem um inseto, pássaro, vento nas folhas, nada, só as nossas vozes e a respiração dos cavalos.

Paulo fica em silencio prestando atenção em sua audição, e não ouve realmente som algum.
(Paulo) - Estranho.. Mas nada de absurdo, vamos prosseguir.
Catarina concorda com um gesto com a cabeça, mas acha muito esquisito todo aquele silêncio na mata.

Capítulo 9:
Passado mais algum tempo, Catarina repara outra peculiaridade: As árvores, à medida quem os dois avançavam, estavam cada vez mais secas, e por fim, já estavam em um ponto onde não havia folha alguma nos galhos secos das árvores.

Em determinado momento, ao mesmo tempo, os dois cavalos páram.
Paulo tenta avançar com seu cavalo. Em vão.
Os cavalos não avançam desse ponto.
Ele estica o braço, e quebra um galho seco de uma das árvores, e bate com ele na parte lombar do cavalo, afim de que ele prosseguisse pela trilha. Em vão.
(Catarina) - Essa parte da floresta é muito estranha, o solo deve ser muito desprovido de nutrientes, pois todas as árvores nessa parte, estão mortas, e há muito tempo.
(Paulo) - Será que é por isso que os cavalos não andam além desse ponto?
(Catarina) - Não. Mas não sei explicar o comportamento deles.
(Paulo) - Vamos seguir a pé desse ponto.

Paulo desce do cavalo, e amarra os dois no tronco de uma das árvores.
Os dois seguem a pé pela trilha entre as árvores.
Nesse ponto da floresta, não havia uma folha verde no campo de visão do casal.
Os troncos secos, e as cores escuras das árvores mortas, davam um ar sombrio naquele momento.
Paulo olha no relógio, e para sua surpresa, os ponteiros estavam parados desde as 15h. Seu relógio não funcionava.
(Paulo) - Ué! Estranho, meu relógio parou..
(Catarina) - Deve ser a bateria que acabou, tem muito tempo desde que você trocou.
Paulo concorda, e continuam andando.

Capítulo 10:
Após avançarem pela trilha a pé, a trilha chega até uma grande clareira no meio da floresta, à margem de uma íngreme pedreira à direita, de uns 60 metros de altura, um paredão.
A frente, além da clareira, a trilha continuava.
Do centro da clareira, via-se as árvores mortas por todos os lados, porém depois de um certo espaço de árvores mortas, o cenário mudava para o verde forte das ávores. Era como que somente em volta da clareira que haviam árvores mortas e secas.
(Paulo) - Vamos continuar a trilha?
(Catarina) - Acho melhor não, o tempo está fechando, e logo logo vai chover.

Catarina fala devagar, num tom que chama a antenção de Paulo.
(Paulo) - Você está se sentindo bem?
(Catarina) - Na verdade não. Estou meio tonta, vamos voltar, por favor.
Paulo concorda, e de mãos dadas, os dois voltam pela trilha, para pegar os cavalos.
Catarina estava muito estranha, olhou umas cinco vezes para trás, enquanto iam de encontro aos cavalos. E mantia uma feição tensa.
Paulo reparou isso, mas nada comentou com sua esposa. Chegaram então onde estavam amarrados os cavalos.
Ao chegar, Paulo repara que os cavalos estão inquietos, se movimentando amarrados, em volta da árvore.
O som dos cavalos andando entre as folhas secas no chão, era o único som que se ouvia, o silêncio era absoluto.
Catarina estava pálida, montou em seu cavalo rapidamente, e saiu na frente de Paulo, que em seguida a alcançou na marcha rápida em que seu cavalo se encontrava.
Aos galopes, Catarina saía da floresta, seguida por Paulo.
O som de um forte trovão, dá início a um temporal.
em meio a muita chuva, eles saem da floresta, e pegam a estrada.
Rapidamente eles chegaram em casa. Completamente molhados pela chuva grossa que caía.
Milton e Paulo se encarregaram de levar os cavalos até o estábulo.
Catarina tomou um banho e foi se deitar, sem nada dizer. Paulo ficou preocupado com sua esposa, mas preferiu não interromper o sono dela.
Naquela noite, Paulo jantou sozinho e pensativo. Pensava em tudo que tinha acontecido naquela tarde.

Capítulo 11:
Na manhã seguinte ainda chovia quando Paulo se levantou.
Catarina estava fazendo café na cozinha.
(Paulo) - Bom dia!
(Catarina) - Bom dia amor! Dormiu bem?
Paulo responde positivamente com a cabeça e dá um beijo em sua esposa.
(Paulo) - Ontem você ficou estranha. O que houve contigo lá na floresta?
(Catarina) - Não sei ao certo, acho que a minha pressão baixou. Mas eu estava com uma sensação ruim naquela parte morta da floresta, perto daquela pedreira que fomos a pé.
(Paulo) - Como assim? Que sensação?
(Catarina) - Você vai achar que eu estou ficando louca, mas em vários momentos, eu ouvi sussuros por entre as árvores. E estava com aquela sensação de estar sendo observada. Os cavalos também agiram de forma peculiar. Há algo estranho naquela floresta.
(Paulo) - Vai saber né.. Só sei que na parte da estrada, vou fazer um belo jardim.
Aliás, estou indo lá na cidade fazer um orçamento de materiais para a obra do jardim, você quer alguma coisa de lá?
(Catarina) - Não.

Paulo dá um beijo em Catarina, pega uma maça, as chaves da caminhonete, e sai.
Catarina fica pensativa fazendo o café.
Após tomar o café, ela vai para a sala de TV.
O telefone toca, ela se levanta do sofá e atende:
- Alô?
- Mãe?!?
(Catarina) - Oiii meu filho, que saudades!!!! Tudo bem?
(Pedro) - Tudo bem, graças a Deus! Como vai a vida de caubói aí na fazenda?
(Catarina) - rsrsrsrs A fazenda é linda!! Quando que você vem pro Brasil? Você poderia passar uns dias aqui nas suas férias da faculdade!!
(Pedro) - Então. Era isso que eu estava pensando mesmo, só que meu pai vai ter que me ajudar com os custos, pois estou meio sem grana. Comprei um carro.
(Catarina) - Claro que seu pai paga meu filho, você só tem que ver a data certa das suas férias.
(Pedro) - Eu vejo e te ligo, deixa eu falar rápido senão a conta vem cara. Está tudo bem mesmo com a senhora mãe?
(Catarina) - Claro, porque?
(Pedro) - Nada não, só tive um sonho estranho com a senhora, mas nada demais. Mãe, um beijão, fica com Deus, e essa semana eu ligo de novo. Beijo!

Capítulo 12:
Pedro desliga o telefone mais tranquilo em saber que estava tudo bem com sua mãe, pois acordara naquele momento de um terrível pesadelo que envolvia Catarina.
Pedro, era o único filho do casal, e aos 26 anos, fazia pós graduação em marketing voltado para administração de empresas, em uma pequena cidade litorânea na Austrália. Estava morando lá há um ano e meio, mas quando morava no Brasil, desde os 20 anos que morava sozinho, em um apartamento perto do prédio onde moravam seus pais. Gostava de ser 'independente'.
Num futuro não muito distante, Pedro terá que assumir os negócios da empresa de seu pai.
Faltava um mês para ele entrar de férias da faculdade, e ele estava com muitas saudades dos pais, e também muito ansioso para passar as férias com eles na nova propriedade.

Catarina, além de feliz por ter acabado de falar com Pedro, estava pensativa com relação ao sonho que seu filho tinha dito que tivera, pois eram dez e pouca da manhã na fazenda; Na Austrália já era tarde da noite, devido ao fuso horário. Pedro não ligaria naquele horário se não estivesse realmente muito preocupado com ela. Mas releva, pois sabe que Pedro sempre teve medo de seus pesadelos. Lembrou de quando ele era criança, e ia dormir no quarto com eles, devido ao medo de um pesadelo que teve.

Capítulo 13:
Catarina volta para o sofá, donde assistia TV.
Pela janela atrás do sofá, dava para perceber que o sol já estava forte, e a chuva não voltaria tão cedo.
A luminosidade da janela começou a fazer reflexo na tela da TV, o que começou a atrapalhar a visão da imagem que passava.
Via-se mais o reflexo do que o programa que passava naquele momento.
Catarina então se levanta, e fecha a cortina avermelhada. Não resolveu por completo o problema com o reflexo, mas ajudou bastante. Catarina então consegue se concentrar no programa de entrevistas que assistia.
Passado algum tempo, em determinado momento ela volta sua atenção para o reflexo da janela na tela da TV. Um frio correu por sua espinha ao ver, pelo reflexo, silhuetas de pelo umas 8 pessoas adultas. Rapidamente ela se vira no sofá, mas nada vê pela janela. Olha de novo pelo reflexo, e não vê mais nada.
Assustada, Catarina vai rapidamente para a cozinha, onde estava a Dalva, empregada do casal.
(Catarina) - Dalva, acho que têm uns caras atrás da casa!!
(Dalva) - Como assim?
(Catarina) - Eu os ví pelo reflexo da janela na televisão!

Dalva prontamente chega na porta e acena para Rogério, que limpava a piscina junto com Milton.
(Dalva) - Chega aqui, por favor!?

Rogério ao ver a expressão de Dalva, rapidamente chega até ela.
(Rogério) - Que houve Dalva?!
(Dalva) - Têm uns caras atrás da casa, dona Catarina viu eles pela janela.
Rogério assobia para Milton, que vem logo em seguida.
Milton chega, Rogério conta o que está havendo, e eles resolvem cercar os fundos da casa.
(Rogério) - Vai pelo lado esquerdo, que eu vou pela direita direita, a gente se encontra nos fundos da casa para surpreende-los.
(Milton) - Ok!

Armados com uma vassoura e um rôdo, os dois fazem como combinado.
A casa era muito grande, e eles chegaram com determinado atraso em relação a pressa. Rogério chega primeiro aos fundos, e não vê ninguém no seu campo de visão. Milton aparece com a vassoura na outra extremidade da casa e acena para Rogério. Não havia ninguém lá atrás.

Capítulo 14:
(Milton) - Rogério, eles devem ter corrido pela estradinha!!
Rogério corre para a direita, e pula a cerca da lateral do estábulo, monta no cavalo de Paulo a pêlo, e sai rapidamente pela estrada de chão, no sentido dos campos de milho, e da floresta.
Rogério é um excelênte cavaleiro. Anda à cavalo desde muito novo, e já competiu em concursos e provas de hipismo do interior do estado.
E rapidamente já galopava pela estradinha de chão.

Dalva, Catarina e Milton, aguardavam na porta da cozinha.
(Milton) - Se inadiram a fazenda, Rogério alcançará antes que consigam sair. Ele cavalga como ninguém.
(Catarina) - Deu pra perceber, ele não colocou nem a sela no cavalo...

Alguns minutos depois, Rogério volta com o cavalo.

(Rogério) - Me desculpe dona Catarina, mas não encontrei ninguém na estrada. Cruzei os milharais e também não havia ninguém por lá. Mas encontrei o seu paulo, descarregando a caminhonete lá perto da floresta. Disse que vai construir um jardim.

Catarina fica meio sem graça, agradece a prontidão dos empregados e volta para a sala pensando: "Eles devem achar que eu sou louca..."

Rogério e Milton vão de encontro a Paulo, que estava descarregando as coisas da caminhonete no bosque.

Dalva vai até a sala, e se senta em uma cadeira que se encontrava ao lado do sofá.
(Dalva) - Não fique triste dona Catarina. Não foi nada de mais. Os rapazes estão em alerta caso haja ualgum inruso na fazenda.
(Catarina) - Eu sei, mas é que tenho certeza que ví pessoas atrás da casa, pelo rflexo da janela. Será que eu estou ficando louca, Dalva?
(Dalva) - Claro que não!! Louco rasga dinheiro. A senhora só deve ter confundido um reflexo pela TV. Vou fazer um chá pra senhora, daquele que você gosta. Estarei na cozinha se precisar de alguma coisa.

Catarina sorrí, e agradece a Dalva.
Mas fica pensativa: "Será que estou vendo coisas?"

Capítulo 15:
Paulo estava retirando placas de piso de pedra da caminhonete, quando Milton e Rogério chegaram a pé.
(Rogério) - Deixa isso com a gente seu Paulo, cuidado com a coluna, isso é pesado.
(Paulo) - É pesado mesmo, me deêm uma mão aqui, por favor.

Os três descarregam a grande caminhonete, enquanto Paulo explicava para os dois a idéia de seu jardim:

- Essas placas de pedra, vão ser um caminho espaçado no gramado, até alí na frente, onde vão estar esses dois bancos de madeira, um de frente para o outro espaçados, perto daquela árvore de tronco largo alí adiante. Esses grandes vasos de pedra vão estar espalhados ao redor daquele outro lado, com plantas ornamentais, e na frente, contornando todo esse espaço, vamos cercar com canteiros de flores de vários tipos e cores, fazendo uma delimitação no espaço do jardim.

(Milton) - Vai ficar muito bonito. Esse bosque aqui eu ainda não tinha reparado. Só árvores imensas!
(Paulo) - São centenárias. Por isso são tão robustas e espaçosas.
(Rogério) - Pois é, as raízes são bem expostas, já estão até altas. Aquela alí, por exemplo, dá pra passar por baixo agachado.

Após tirar tudo da carroceria da caminhonete, Paulo se vira para os empregados e diz:

- Arrumem mais ou menos as coisas pelo bosque, pois vou lá na cidade de novo, tenho que buscar mais coisas que não deram na caminhonete na primeira viagem.
(Rogério) - O senhor precisa de ajuda por lá?
(Paulo) - Não, obrigado. É pouca coisas. Alguns rolos de cabos elétricos, alguns sacos de terra adubada para os canteiros, sementes e mudas, três lustres para iluminar o jardim e alguns pequenos holofotes, para iluminar as grandes árvores.
(Milton) - É.. Vai ficar mais bonito do que eu imaginava!

Paulo se despede dos dois e sai rumo a cidade. Rogério e Milton ficam no bosque organizando todo aquele material.

Capítulo 16:
Passados cerca de meia hora, Paulo retorna para o bosque, com o resto das coisas.
Ele mesmo faz questão de arrumar o local para o jardim, posicionando os bancos em seus lugares pré-imaginados, fazendo o caminho com as placas de pedra. Enquanto Milton cavava os canteiros ao redor e Rogério enchia os vasos com terra.
Após uma pausa para o almoço, eles retornam para o bosque e continuam a construção do jardim. Por volta das 4h da tarde, eles finalizam.
(Paulo) - Amanhã cedo o eletricista virá fazer a instalação dos pontos de luz do jardim, mas mesmo assim, já ficou muito bonito!
Milton e Rogério concordam, afinal, realmente Paulo teve muito bom gosto na decoração daquele bosque.
Catarina chegava naquele momento, com uma bandeja com suco para eles.
(Catarina) - Paulo!! Ficou lindo!!!
O vento trazia plumas brancas da floresta, que pairavam pelo ar no jardim, dando uma atmosfera mágica para o local naquele momento.
(Paulo) - Ficou mesmo, amanhã um rapaz vai vir instalar os postes e os refletores, aí poderemos vir aqui de noite!

Catarina sorrí, e se senta em um dos bancos, Paulo a acompanha e senta ao seu lado.
Milton e Rogério saem rumo a fazenda, deixando os dois a sós.

(Catarina) - Pedro ligou hoje de manhã. Ele deve vir passar uns dias nas fperias da faculdade, mas está sem dinheiro, e pediu para que você ajudasse com os custos da viagem.
(Paulo) - Novidade seria se ele estivesse com dinheiro.. Depois eu transfiro o dinheiro pra conta dele, ele disse quando seriam as férias?
(Catarina) - Não, mas ficou de ligar para avisar-nos.

Em determinado momento, Catarina se atenta para um som que vinha da floresta: Tambores.
Ao longe, ela captava o som de repetidas batidas em tambores. Mas, ficou com medo de estar ouvindo coisas, e não explicitou, apenas perguntou para Paulo:
- Você está ouvindo algum barulho vindo do lado de cá?
Apontou para a floresta.
(Paulo) - Não. Você ouve alguma coisa?

Catarina, se questionando do que era real ou sua imaginação, responde:
- Não.
Apesar de ainda ouvir o som.

Capítulo 17:
Catarina, confunsa com a situação, respira fundo, fecha os olhos, mas mesmo assim continua ouvindo o som dos tambores.
(Catarina) - Paulo, você não está ouvindo nada mesmo?
(Paulo) - Não. Você está bem, meu amor?
(Catarina) - Estou, é que eu achei ter ouvido um barulho esquisito.

Catarina disfarça, pois já estava começando a achar que estava ouvindo coisas que não existiam.
O som dos tambores continuava, e a voz de Paulo conversando com ela, já estava em segundo plano. Era uma batida contínua e ritmada.
Catarina estava tensa, pois percebeu que Paulo realmente não ouvia aquele som vindo da floresta.
De repente, os tambores se calam.
Passa-se um minuto, e recomeçam, um pouco mais acelerados.
Catarina, tensa, se levanta e diz pra Paulo:
- Vamos pra casa, amanhã a gente volta pra ver o jardim depois de iluminado.
Paulo concorda, mesmo querendo ficar mais um tempo por alí. Os dois entram na caminhonete, e saem rumo a sede da fazenda.

Catarina, confusa, não consegue parar de pensar nos últimos acontecimentos na fazenda.
Paulo, ao seu lado dirigindo, cantarolava um samba que tocava no rádio.

Ao passarem ao lado dos campos, Catarina observa o sol ao fundo, quase se pondo.
De relance, ela vê um homem em meio ao milharal. Um homem alto, negro, forte, ofegante e estava com uma expressão tensa, olhando em direção ao carro.
Catarina, assustada, olha para Paulo imediatamente. E se vira novamente para os campos: O homem não estava mais lá. Tinha desaparecido num piscar de olhos.
(Paulo) - Que houve?
(Catarina) - Tive a imprensão de ver alguém no milharal.... (Reflete..) Mas foi só um dos espantalhos que me fez confundir.
(Paulo) - Esses dias eu tive a mesma imprensão, e era o espantalho também.
(Catarina) - Pois é...

Catarina começa a se convencer de que está ficando louca, pois ela sabe exatamente o que viu, mas por medo, prefere não falar nada. A visão que tivera no reflexo da janela na TV, já deve ter passado essa imagem de louca para os empregados. Refletia durante o percurso até a sede.

Capítulo 18:
Ao chegar, Paulo vai direto tomar um banho. Catarina fica na cozinha, junto com Dalva.
(Catarina) - Dalva, acho que estou vendo coisas.
(Dalva) - Como assim?
(Catarina) - Por favor, não comente com ninguém, mas hoje lá no bosque, eu ouví tambores vindos da floresta. E na volta pra cá, eu ví um homem negro no milharal, mas ele desapareceu no ar! Acho que estou enlouquecendo..
(Dalva) - Não acho que a senhora esteja ficando louca. A senhora está morando no campo há pouco tempo, está acostumada com a cidade grande, correria, barulho, stress... Pode ser que tanta calmaria afete a senhora dessa forma.
(Catarina) - Dalva, me desculpe, mas eu tenho certeza de tudo que ví e ouví nesta fazenda.
(Dalva) - Vejo uma outra explicação para esses fatos, mas talvez a senhora não acredite nessas coisas.
(Catarina) - Que coisas?
(Dalva) - Espíritos. A senhora pode ser médium e não saber. Minha tia é médium, e no início, achava ser esquizofrênica.
(Catarina) - Também não precisa exagerar Dalva! Eu não acredito nessas coisa, mas respeito. Pela minha formação e por experiencia própria, a ciência é a razão.
(Dalva) - E você tem alguma explicação científica para os tambores, as pessoas na janela da sala e o homem que sumiu no milharal?
(Catarina) - Ainda não. Mas vou ter. Pode ser qualquer coisa, desde alguma seqüela de drogas que consumi na adolescência, até reação a algum tipo de planta daqui, sei lá! Menos fantasmas!!
(Dalva) - Espíritos, você quis dizer.
(Catarina) - O que for!!

Dalva se cala, pois nota que Catarina está muito abalada, ao ponto de perder a calma.
O telefone toca em seguida, e catarina sai para atender.
- Alô?
(Pedro) - Oi mãe!!
(Catarina) - Oi meu filho!! Tudo bem? que bom que você ligou!! Achei que ligaria só amanhã ou depois..
(Pedro) - Pois é, comigo tá tudo bem sim, graças a Deus. Meu pai tá por aí?
(Catarina) - Não, tá tomando banho.
(Pedro) - Hum.. você falou com ele da minha ida pro Brasil?
(Catarina) - Falei, e é só você confirmar a data das tuas férias que ele transfere o dinheiro.

Capítulo 19:
(Pedro) - Beleza! Será daqui a um mês! Não vejo a hora de estar aí com vocês!! Tô morrendo de saudades!
(Catarina) - Eu também, meu filho! Você não imagina um décimo do quanto!!
(Pedro) - Então. Pede pro meu pai me ligar, pois ele nunca nunca lembra o número da minha conta. Tenho que desligar, senão a ligação fica cara.
(Catarina) - Tá bom meu filho, fica com Deus! Um beijo, e juízo aí!
(Pedro) - Pode deixar. Beijo mãe.

Catarina fica feliz em falar com Pedro. Faz mais de um ano que eles não se vêem, e a saudade, aperta sempre seu coração.
Paulo desce as escadas de bermuda e chinelos, olha para Catarina e pergunta:
- Quem era ao telefone?
(Catarina) - Pedro. Ele pediu pra você ligar pra ele. Vai entrar de férias em um mês.
(Pedro) - Ok! Amanhã eu ligo, pois no final de semana a ligação pra lá é mais barata. Estava pensando em a gente ir até a cidade, para jantar naquele restaurante. O peixe de lá é ótimo! O que você acha?
(Catarina) - Tudo bem! Vou tomar um banho e nós vamos.

Catarina sobe as escadas, e entra no banho.
Paulo troca de roupa e fica na sala, esperando por ela.
Passados alguns minutos, ela desce já arrumada, e os dois saem para a cidade.

O lugar estava ótimo, era dia de música ao vivo, e tinha uma banda tocando MPB e Bossa Nova. Apesar de não muito grande, o restaurante era bonito, simples e aconchegante.
Paulo, como de costume, pede uma garrafa de vinho. os dois brindam felizes.
Catarina se contenta com uma taça e meia de vinho. Paulo bebe todo o vinho restante.
Eram por volta das 23:45hs, quando Paulo pagou a conta, e entregou as chaves da caminhonete para Catarina.
- Prefiro não dirigir. O vinho subiu mais do que eu esperava.
Catarina sorrí, dá um beijo em Paulo e pega as chaves.

A noite tinha sido ótima. A banda era muito boa, a comida e o vinho estavam ótimos, e os dois, conversaram por horas descontraídos naquele restaurante.

Os dois entram na caminhonete, Catarina dá a partida e saem rumo a fazenda.

Capítulo 20:
No caminho, Paulo cochila, pois além de ter bebido no restaurante, estava exausto por causa do dia de trabalho na fazenda.
Naquele momento Catarina estava em paz. Toda a preocupação que a afligia, com relação aos acontecimentos estranhos na fazenda, estava ausente.
A escura estrada de terra era iluminada somente pelos faróis da caminhonete. No rádio tocava uma música de Roberto Carlos.

Catarina pára a caminhonete em frente a porteira da fazenda, coloca em ponto morto e sai da caminhonete para abrí-la.
Após passar com a caminhonete, ela novamente pára, e sai para fechar a porteira.
Ao voltar para a caminhonete, ela olha pelo retrovisor. Para seu total espanto, o mesmo homem que ela viu de tarde no milharal, estava parado, em pé, em frente a porteira, iluminado pela vermelha luz de freio da caminhonete. Seu rosto estampava sua raiva.
Catarina tenta sair rapidamente com a caminhonete, mas por descuido com a embreagem, a caminhonete morre.
Apavorada, ela liga de novo, engata a primeira marcha, e olha novamente pelo retrovisor. Um frio corre pela sua espinha, seguido de um susto maior do que o primeiro: O homem estava parado de frente para a janela de Catarina, a menos de um palmo dela, olhando-a fixamente.
Num movimento rápido, Catarina sai com a caminhonete, se afastando rapidamente da porteira. Nesse momento, Paulo acorda assustado.
(Paulo) - Mas o que é isso Catarina?!!! Pra que correr assim? O que houve???
Catarina, com o coração à mil e muito assustada, diz:
- Tem um homem lá na porteira!!!
(Paulo) - Pare o carro!!

Catarina pára a caminhonete.
Paulo desce com uma lanterna que estava no porta-luvas.
Apontando para a porteira, que estava a uns 150 metros de distancia, grita:
- Quem está aí?!!

O único som que ele ouvia, era dos grilos ao redor.

Novamente grita:
- Quem está aí?!!!

Sem resposta auditiva ou visual, Paulo volta para a caminhonete e vê que Catarina estava chorando.

(Paulo) - Por que você está chorando?
(Catarina) - Paulo, acho que estou ficando louca.

Capítulo 21:
(Catarina) - Era o mesmo homem que eu ví hoje de tarde no milharal!
(Paulo) - Mas você disse que era o espantalho..
(Catarina) - Eu mentí!!! Me desculpe, mas eu mentí. Não quis parecer louca. E agora estou achando realmente que estou louca!! (Aos prantos..)

Paulo abraça forte sua esposa, e diz cochichando em seu ouvido:
- Vai ficar tudo bem.. Vai ficar tudo bem..

Catarina respira fundo, arruma o cabelo, seca os olhos e diz:
- Vamos pra casa, por favor.
Paulo assume a direção e eles vão para a sede da fazenda.

Catarina fica acordada até as 4h da manhã, deitada na cama, pensando naquele homem que ela tinha visto no milharal e na porteira.
Paulo dormiu rapidamente.

No dia seguinte, catarina acordou as 11:45hs. Se trocou e desceu.
O sol estava forte, e ela decidiu nadar um pouco.
Após um mergulho, ela se deita ao sol, na beirada da piscina.
De olhos fechados, ela cochila um pouco.
Durante o cochilo, Catarina tem um pesadelo no qual era perseguida pelo homem que ela tinha visto. Ela não conseguia correr, e o homem, já estava quase chegando aonde ela estava. Com uma expressão facial de ira e ódio, ele estica a mão, e quando vai encostar em Catarina...

- AAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

Ela acorda soltando um grito estérico de pavor, que chamou a atenção de Milton, que passava alí perto. Ele corre até a piscina afoito, e pergunta:
- Que foi dona Catarina?!!!! Que aconteceu???? Por que a senhora gritou??!
(Catarina) - Desculpe. Eu cochilei aqui e tive um pesadelo terrível. Acordei gritando. desculpe se assustei você.
(Milton) - Assustou sim, pensei que tivesse acontecido algo com a senhora. Ainda bem que foi só um sonho.
(Catarina) - É... Ainda bem.

Milton se despede e volta para seus afazeres.

Capítulo 22:
Catarina olha para a porta da cozinha, e vê que Dalva também ouviu o seu grito.
(Dalva) - O que houve?!
Disse se aproximando de Catarina
(Catarina) - Tive um pesadelo enquanto cochilava aqui no sol. Sonhei com aquele homem que eu ví. E ontem de noite, eu o ví novamente. Lá na porteira. Paulo não o viu..
(Dalva) - Se você vê esse homem, e nunguém mais vê, pode ser que eu tenha razão: A senhora pode ser médium e não saber.
(Catarina) - Dalva, esse papo de novo?!
(Dalva) - É só uma hipótese.
(Catarina) - Não é uma hipótese. É uma cogitação sua.
(Dalva) - Me desculpe.
Dalva volta para a cozinha, onde preparava o almoço.

Paulo estava no bosque com o eletricista e Rogério, finalizando a montagem do novo jardim.
Os lustres e os pequenos refletores, já estavam em seus lugares.
Rogério cortava a grama com a máquina.
Paulo plantava as mudas de flores nos canteiros previamente cavados por ele mesmo.
O eletricista estava terminando as instalações elétricas, e fixando os interruptores.
Após cerca de 40 minutos, o eletricista testa e se certifica de que está tudo funcionando perfeitamente.
Paulo leva ele de volta para a cidade em sua caminhonete, enquanto Rogérioguardava as ferramentas e recolhia o lixo do local.
Enquanto recolhia a grama cortada, Rogério tem a impressão de que alguém se aproximava por trás. Ele se vira, mas não vê ninguém. Porém, fica com aquela sensação de estar sendo observado. Achando se tratar de uma brincadeira de Milton, ele chama:
- Milton?!! Pára de sacanagem, e vem me ajudar aqui.
Sem resposta, ele termina a limpeza, e sai dalí.

Após o almoço, Catarina vai para a sala de TV.
Paulo diz que vai até a cidade para cortar o cabelo e que não vai demorar.
Dá um beijo em catarina, pega as chaves, e sai.

Catarina fica vendo TV.
Passando por entre os canais, Catarina pára no Discovery Channel, onde passava o programa 'Assombrações'.
No documentário, uma senhora dava seu depoimento sobre acontecimentos em sua casa: Aparições fantasmagóricas, objetos que se moviam sozinhos, vozes..

Capítulo 23:
Catarina presta atenção em todos os detalhes do documentário. As cenas reconstituídas por atores, ilustram a narrativa de uma velha senhora.

""...Era horrível! No início meu marido não acreditava. Eu era a única que via e ouvia essas manifestações do além.
Pratos eram lançados contra a parede, as janela se abriam e se fechavam, vozes vindas do porão, e não havia ninguém lá.
Foram anos muito desagradáveis. Uma força agia naquela casa.""

Durante o intervalo comercial Catarina fica pensativa, porém, considera aquilo tudo sensacionalismo. Para aumentar a audiência, o programa era elaborado para mexer com os medos e crenças das pessoas, e os depoimentos, falsos.
Catarina conclui seus pensamentos e desliga a TV. Estava de saco cheio de todo esse papo.
Resolve ir para a biblioteca, continuar a ler o livro que começara há alguns dias.
Ela pega o livro na biblioteca e se senta na varanda de seu quarto, cuja vista, era linda. À direita se via o lago, o curral e um vasto e verde gramado.
À esquerda, o estábulo, o celeiro, os milharais, e a estrada interna da fazenda, que acabava na floresta. À frente, a estrada que leva a porteira, a piscina e a churrasqueira.
A tarde estava ensolarada, e Catarina permaneceu alí até o início da noite, lendo. Viu quando Paulo chegou de cabelos cortados.
Paulo tinha também alugado alguns DVDs, e assistia um na sala.

Catarina fecha seu livro e se junta a Paulo na sala. Mais tarde, os dois vão para o quarto e dormem.

No meio da noite, Catarina se levanta para ir ao banheiro. Acende a luz, e deixa a porta entreaberta, para que a claridade não incomodasse o sono de Paulo.

Após usar o banheiro, Catarina vai até a varanda para fechar a porta, pois estava esfriando um pouco.
Da varanda ela observa o luar, que iluminava a noite. O céu estava muito estrelado naquela escuridão da fazenda, e ela fica alí olhando o céu por algum tempo.
Uma coisa chama sua atenção: à esquerda, ao final da estrada, no bosque, se via o piscar aleatório das luzes do novo jardim. Catarina observa.

Capítulo 24:
"Deve estar com algum mal contato essa instalação elétrica.."
Pensou Catarina meio sonolenta. Admirou a lua e as estrelas por mais algum tempo, e foi para a cama.

Na manhã seguinte, ela comenta com Paulo na hora do café:

- A instalação elétrica do jardim do bosque está com mal contato.
(Paulo) - Como assim? por quê?!
(Catarina) - Essa madrugada eu acordei e fui fechar a porta da varanda do nosso quarto. De lá, eu pude ver as luzes do jardim piscando.
(Paulo) - Hum.. Depois eu vou lá verificar isso.
(Catarina) - Ok. Ah! Aliás, o jardim ficou muito bonito, meu amor! Você teve muito bom gosto em sua montagem!

Paulo sorrí para Catarina.

Catarina tinha que ir para o Rio de Janeiro resolver alguns problemas burocráticos na faculdade onde trabalhou, e Paulo vai com ela. Eles ficam no apartamento por dois dias.

Após resolvido tudo, eles retornam para a fazenda.
Paulo vai até o jardim do bosque para verificar a instalação, e lá chegando, aciona os interruptores de todos os pontos de luz do jardim.

Todos funcionavam perfeitamente.

Paulo se senta no banco do jardim, e por alí fica por algum tempo. Pensando em Catarina: "Ela anda muito estranha ultimamente.. O que será que está havendo com ela?"

A semana se passou sem problemas, Catarina e Paulo cavalgavam quase todas as tardes.

Naquele final de semana, seria a primeira colheita dos milharais, que estavam carregados de espigas.
Atividade que foi muito bem humorada.
Catarina, Paulo, Rogério e Milton, apostavam quem conseguiria encher mais cestas em menos tempo.
Descontraídos, colheram os dois campos em uma só tarde, em clima de competição.
O celeiro ficou abarrotado de espigas de milho, e a palha seca que restou, teria utilidade para a fazenda, para devolver nutrientes ao solo dos campos.

No sábado, Dalva fez o cardápio muito vasto, porém tudo derivado do milho.
Milton moera uma determinada quantidade de milho, que rendeu doces, bolos, cozidos, pastas, angús..
O casal sentia-se feliz em comer o que foi produzido alí mesmo, na fazenda.

Capítulo 25:
O domingo foi chuvoso, o que fez com que Paulo e catarina ficassem vendo TV o dia todo. Os dois estavam muito ansiosos, pois Pedro chegaria da Austrália na segunda de manhã.
(Paulo) - Amanhã temos que sair daqui bem cedo, pois o avião de Pedro chegará no Rio às 10h.
(Catarina) - Estou tão ansiosa que talvez nem durma.

Catarina realmente teve dificuldade para dormir, devido à expectativa que se encontrava. Queria ver logo o seu filho.
Pela manhã, os dois pegam a estrada rumo ao Rio de janeiro.
Eles chegam no aeroporto por volta das 9:30hs, e por lá tomam um café enquanto esperavam a chegada do avião.
O vôo se atrasa em 40 minutos, o que aumenta a expectativa do casal, que aguardava no saguão de desembarque.

Em meio a várias pessoas distintas que chegavam nos portões, Catarina vê seu filho:
- Pedroo!!!!
(Paulo) - O que é que esse moleque arrumou no cabelo?..

Pedro estava muito diferente, estava com os cabelos no estilo rastafari, o que fez com que o casal demorasse um tempo para reconhecê-lo.
(Pedro) - Catarugaa!!
Dá um forte abraço em sua mãe, que estava chorando de emoção.

Paulo, apesar de não aprovar o novo visual, não consegue esconder o sorriso.

(Paulo) - O que fizeram com você lá??
(Pedro) - Se eu te contar a metade, você cai durinho!!

Os dois riem, e se abraçam forte.

Muito felizes, eles pegam as bagagens de Pedro, e rumam para o estacionamento do aeroporto.

(Pedro) - Pai, você está com qual carro?

Paulo aponta para a caminhonete, e diz:
- Aquele alí.

(Pedro) - Você tá de sacanagem.. Que carro foda!! Deixa eu levar?! Deixa eu levar?!!!!

De tanto amolar, Pedro consegue que Paulo permita que ele dirija a caminhonete.
Os três pegam a estrada, e Paulo vai indicando o caminho para o filho.
(Pedro) - Como é bom dirigir com o volante do lado esquerdo de novo! Lá é tudo muito diferente. Muito mesmo!

Capítulo 26:
Em menos de 2 horas, eles chegma até a porteira da fazenda.
(Pedro) - É aqui?
(Paulo) - É. Você vai adorar, é uma fazenda muito bonita.

Paulo abre a porteira. Pedro passa com a caminhonete, fecha-se a porteira e eles seguem rumo a sede da fazenda.
Ao passar pelo lago, Pedro avista a grande casa ao fundo.
(Pedro) - Ca-ra-lhoo!!!!! Pai, você é sinistro!!! Uma mansão deste tamanho só pra você e mamãe???

Paulo rí, e diz:
- É, ela é meio grandinha mesmo...

(Pedro) - Meio???? Nossa senhora!!

Catarina sorrí
(Catarina) - Você tem que ver várias coisas legais que tem aqui na fazenda!

Rogério e Milton retiravam folhas caídas na piscina, quando a caminhonete chega.
Eles descem do carro, e Paulo apresenta o filho aos dois empregados:
- Rogério, Milton, esse é meu filho. Pedro.

Pedro cumprimenta os dois com apertos de mão.

(Pedro) - É um prazer conhecer vocês!
(Milton) - Manero o teu cabelo!

Pedro sorrí positivamente pelo comentário de Milton.

O almoço estava quase pronto, e o cheirinho da comida aguçou a fome de Pedro, que há mais de um ano não comia comida brasileira.
Ele entra na cozinha, e Dalva estava no fogão.
(Pedro) - Nossa, nem acredito que vou comer bem de novo!!

Dalva sorrí, e diz:
- Você deve ser o Pedro, né? Sua mãe me falou muito de você. Muito prazer, eu sou a Dalva.

(Pedro) - O prazer é todo meu!

Em vinte minutos, todos estava sentados à mesa almoçando, e Pedro, comia freneticamente.

(Catarina) - Tava passando fome na Austrália, meu filho?
(Pedro) - A comida lá até que não é ruim, mas tem que se acostumar com os temperos e os pratos exóticos. Mas não chega nem aos pés da comida e o tempero brasileiro!

Na parte da tarde, os trê ficam ao sol, na piscina. De tempo em tempo, Dalva trazia-lhes caipirinha, a pedido de pedro. Catarina tomava suco de frutas. O clima estava ótimo, e Pedro contava descontraido as novidades do outro continente. Falava dos estudos, da casa que morava, da namorada de lá, dos amigos, da cultura, enfim, foi papo para uma tarde inteira.

Capítulo 27:
Dalva havia preparado um dos quartos para Pedro, que se deitou cedo, por volta das 7h da noite. A diferença de fusos horários era muito grande, Pedro estava muito cansado.

Na manhã seguinte, Catarina se levantou e foi tomar café. Ao chegar na cozinha, perguta para Dalva:
- Pedro já acordou?
(Dalva) - Já, bem cedo. Tomou café e disse que iria andar pela fazenda. Milton selou um cavalo para ele passear.

Catarina dá uma olhada pela porta da cozinha, mas n~´ao vê Pedro no seu campo de visão.
(Catarina) - Pra onde ele foi?
(Dalva) - Não ví. Só ví quando ele pegou o cavalo com o Milton.

Catarina toma seu café da manhã, e fica sentada na beira da piscina, olhando ao redor para ver se avistava seu filho.
Por alí ficou por uma hora e meia, e nem sinal dele.

Paulo tinha saído cedo, foi fazer compras no Rio de janeiro, e só voltaria ao final da tarde, pois, além das compras, tinha assuntos para resolver em sua empresa.

Catarina desiste de esperar por Pedro, e vai para sala de TV.
Pouco antes do almoço, começa a chover muito forte, e Pedro ainda não havia voltado com o cavalo.
Catarina começa a se preocupar, pois chovia muito, e Pedro não sabia andar à cavalo muito bem.

O almoço foi servido, e Catarina comeu sozinha, ao som dos trovões vindos do lado de fora da janela.
Pensava..
"Onde será que o Pedro se meteu com o cavalo?"

Por volta das 3h da tarde, Pedro aparece em casa, completamente ensopado pela chuva.

(Catarina) - O você estava?! Nem apareceu para almoçar!!
(Pedro) - Fui lá na floresta!! Muito manero! Você já viu as árvores de lá?? São gigantescas!!
(Catarina) - Já sim, São centenárias.
(Pedro) - Aproveitei e tomei banho de chuva no jardim que tem lá!!
(Catarina) - Você foi na trilha?!?
(Pedro) - Qual trilha????

Catarina percebe que Pedro não havia reparado na entrada paralela da floresta, e desconversa:
- Que leva até o jardim no bosque, você foi por ela né?
(Pedro) - Você quer dizer a estradinha?
(Catarina) - Isso!!

Pedro responde positivamente com a cabeça.

Capítulo 28:
(Catarina) - Vá se trocar, você vai acabar ficando doente, molhado assim!

Pedro obedece. Toma um banho e pôe roupas secas.
Passa o resto da tarde conversando com sua mãe, falando mais sobre a vida no exterior, a faculdade, as pessoas, as festas, costumes..

Paulo chega de viagem, e os dois vão ajudá-lo a retirar as compras da caminhonete.
Após retirar tudo do carro, Pedro diz para Paulo:
- Pai, me empresta se carro para eu ir até a cidade aqui perto? estou sem cigarros..

Paulo, sob a condição de que Pedro abastecesse a caminhonete, empresta. E diz:
- Não venha muito tarde, e não arrume confusão por lá.
(Pedro) - Ok!

Pedro sai com a caminhonete rumo à cidade, passa no posto na entrada para abastecer, e entra no restaurante do posto para comprar cigarros.
Quando entra, percebe que de noite, o restaurante funciona como bar, onde ficam muitos caminhoneiros e viajantes.

Ele compra os cigarros, e repara que todos olhavam para ele, reparando-o: Talvez pelo seu visual alternativo, que era chamativo, ou pelo fato de ser alguém estranho para eles.
Pedro fica meio sem graça, e resolve se sentar em um dos bancos do balcão.

(Pedro) - Um chopp, por favor!?

Uma garçonete vem lhe servir a bebida, Pedro aproveita a chance e pergunta discretamente:

- Por quê todos estão me olhando?

(Garçonete) - É normal, não ligue.. É por que você não é da cidade. As pessoas dessa cidade são assim mesmo, ficam reparando nas pessoas que não conhecem. Eu acho falta de educação, mas eles são a maioria. E você, com esse visual urbano, numa cidade do interior, chama mais atenção ainda.

Pedro agradece, meio sem jeito, e toma sua bebida. Cercado pelos olhares de alguns.

Depois de um certo tempo, um senhor de idade chega perto de Pedro e pergunta:

- Com licença. Você é de onde, meu filho?
(Pedro) - Do Rio, mas estou morando fora do país por uns tempos. Estou passando férias com os meus pais.
(Senhor) - Eles são daqui da cidade mesmo?
(Pedro) - Não. Se mudaram há alguns meses para uma fazenda perto daqui.

Capítulo 29:
(Senhor) - Qual fazenda?
(Pedro) - Fazenda São Judas Tadeu.

Ao dizer o nome da fazenda, Pedro nota que o velho fica sério e um pouco tenso..

(Pedro) - Que houve? Você sabe qual fazenda é?
(Senhor) - Sei sim. Estava abandonada há muitos anos.
(Pedro) - É. Meu pai comprou e reformou ela toda.
(Senhor) - Ela pertenceu a um Barão do Café, há quase dois séculos atrás. Depois dele, poucos moraram lá. Geralmente, muito ricos! Mas ficavam lá alguns anos, e logo vendiam de novo a fazenda, até que ficou esquecida e mal cuidada. Deve ter sido uma reforma muito grande.. Não é?

Pedro acha o senhor um pouco indelicado em perguntar tantas coisas assim para um cara que ele nunca tinha visto na vida.

(Pedro) - Não sei te dizer, pois não ví como estava antes a fazenda. Barão do Café?? Como assim?

Desconversa..

(Senhor) - É. Um barão. A fazenda produzia café, e naquela época, era muito valioso e procurado para distribuição no país. Só era cultivado, em sua maioria, aqui na nossa região.
(Pedro) - Isso o senhor diz há muitos anos atrás, né?
(Senhor) - Sim. Quase dois séculos.
(Pedro) - Entendo.. Mas a fazenda então, para tamanha demanda, deveria ter muitos empregados, não é?
(Senhor) - Escravos.. Naquela época, quem tinha dinheiro e propriedades, como essa fazenda, por exemplo, não contratavam empregados. Compravam. Ou trocavam em trocas de fardos de café. A fazenda que hoje é de seu pai, possuía muitos escravos, no início do ciclo do café no país.

Pedro dá um longo gole em seu chopp, olha em seu relógio, e vê que está ficando tarde. Porém, evidencia seu interesse sobre a história da fazenda:
- Preciso ir. Mas gostaria de saber mais sobre a história dessa fazenda.. Como eu faço para saber mais?

(Senhor) - Na biblioteca municipal tem um acervo histórico bem grande. Com certeza você vai achar bastante coisa por lá, creio eu.
(Pedro) - Ok senhor, obrigado!

Pedro se despede do velho, paga o que consumiu, e segue de volta para a fazenda. Todos dormiam quando ele chegou. Foi para o quarto, e dormiu.

Capítulo 30:
A manhã de quarta-feira, estava ensolarada, não havia uma nuvem no céu.
Catarina aproveita para se bronzear, enquanto Pedro nadava na piscina.
O dia estava lindo, fazia um sol muito forte, porém, ventava constantemente. Estava ideal para um dia de piscina. Pedro, de dentro da piscina, quicava uma bola de tenis na parede da cozinha.
Catarina, de óculos escuros, estava sentada em uma cadeira de praia coberta com uma grande toalha de banho azul.
Em determinado momento, Paulo sai com a caminhonete, e não avisa onde iria. catarina acha peculiar, mas releva. Fecha os olhos, e continua seu banho de sol.
O telefone celular de Pedro toca, e ele sai da piscina para atender.
Catarina continua sentada onde estava, sozinha.
Pedro, ao telefone, entra na casa.

Catarina abre os olhos, e para terrível surpresa, ela vê, parado diante da cadeira onde ela estava, o mesmo homem que ela tinha visto anteriormente.
Desesperada, ela tenta gritar, mas não sai voz alguma de sua boca.
O homem se inclina sobre Catarina, com o olhar tenso e expressão facial de ira. E diz com uma grave e rouca voz:

"-Foi culpa sua!! Foi tudo culpa sua!!!!!"

Catarina, com a respiração travada, e o coração muito acelerado, pelo medo e tensão daquele momento, desmaia na cadeira.

Alguns minutos depois, Pedro volta para a piscina, e vê Catarina de lado na cadeira, e fala pra sí mesmi:

- Ih!! Dormiu no sol, hein cataruga!

Pedro vai até ela, balança-a pelos ombros, e nem sinal de despertar.
Ele balança novamente, e diz:
- Mãe!?
Catarina acorda desesperada, e dá um violento tapa no Rosto de pedro, seguido de um grito estérico de pavor:

- AhhHHHH!!!!

Pedro nunca na vida, havia levado um tapa de sua mãe, nem de seu pai, e retruca em voz alta, pasmo:

- O que foi isso?!!? Por que você me bateu, mãe??!!!

(Catarina) - Desculpe!! Por Deus!! Me desculpe, meu filho..

E chora compulsivamente em seguida, com as mãos no rosto.
Pedro abraça-a compreensivamente, achando se tratar de uma reação a um pesadelo.
Dalva observava da porta.

Capítulo 31:
(Pedro) - Mas o que houve?! Você dormiu e acordou nervosa desse jeito? Pesadelo?

Catarina estava cada vez mais convencida de que sua sanidade mental estava comprometida, e para desconversar, diz:
- Sim, foi um pesadelo horrível! Estava sendo atacada por marginais lá no Rio, e acordei reagindo ao sonho.

Pedro, mais tranquilo, apela para o bom humor para quebrar o clima:
- Você tem que dormir com luvas de boxe daqui pra frente, Cataruga!!

Catarina dá uma risada por entre as lágrimas.
Dalva volta para a cozinha, pensativa:
"Dona catarina anda muito estranha, essas visões, só podem ser mediúnicas..."

Algum tempo depois, Paulo volta para a fazenda, e tira da caminhonete, uma grande caixa de papelão com alguns furos, e diz para os dois na piscina:
- Tenho uma surpresa!!

Ambos se aproximam curiosos com o que teria dentro daquela caixa.
(Pedro) - O que tem aí dentro?

Paulo abre a tampa da caixa, e Catarina e pedro se inclinam para olhar o que havia dentro dela.
(Paulo) - Só temos que escolher um nome para ele!

Dentro da caixa, havia um filhote de São Bernardo, de uns 5 ou 6 meses, marron e branco.
Meio sonolento, ele olha para Pedro e Catarina, e abana o rabo.
(Pedro) - Bem que tava faltando alguma coisa nessa fazenda!! Ele é maneráço!
(Catarina) - Que gracinha!! Mas ele fica enorme Paulo!?
(Paulo) - Espaço é o que não falta para criarmos um cachorro!!

Catarina esboça um sorriso, pois ainda estava com aquele homem em sua memória visual. Estava tensa, porém, disfarçando sua suposta loucura. Mas fica feliz pelo novo cãozinho, que era lindo, e de uma raça dócil e muito fiel aos donos.

(Catarina) - Acho que sei um nome ideal pra ele.
(Pedro) - Qual?
(Catarina) - Átila. É um nome bom pra cachorro de grande porte. O que vocês acham?
(Pedro) - Mais ou menos. Dá pra pensar um melhor..
(Paulo) - Eu pensei em um nome mais curto, tipo Ed, Bill.
(Pedro) - Não, na verdade ele tem cara de Aquíles.

Depois de alguns minutos em debate, decidiu-se que o nome seria 'Ares', o Deus da Guerra.

Capítulo 32:
Paulo retira da caminhonete, um saco de ração, e algumas outras coisas para o cão: Comedouro, bebedouro, coleira...

Ares farejava o gramado perto da piscina, fazendo um reconhecimento de seu novo território.
Paulo achou que seria bom ter um cão de guarda na fazenda, porém, sempre abominou raças violentas, como doberman, pit-bull.. Um são bernardo era o ideal, pois era de grande porte, dócil e fiel. Além de ter um latido super estrondoso.

Após o almoço, Pedro vai conversar com seu pai:

- Pai, tava pensando em fazer um churrasco no final de semana, e chamar meus amigos lá do Rio. Pois em duas semanas eu estarei voltando pra Austrália, e só volto no final do ano, quando o curso acaba.
(Paulo) - Não vejo problema algum, a não ser o fato de seus amigos pegarem a estrada depois de terem bebido aqui.
(Pedro) - Eles podem dormir aqui ué! Temos muitos quartos vagos. Acho melhor do que eles passarem um dia só.
(Paulo) - Bom, você quem decide. Já combinou alguma coisa?
(Pedro) - Mais ou menos. O Vitor me ligou um pouco antes de você chegar com o Ares.
(Paulo) - Tudo bem, só me avise quantos virão, para que Dalva arrume as camas, e também, para saber o quanto precisarei comprar de comida e bebidas.
(Pedro) - Ok! Eu vou ver e te falo.
(Paulo) - O que foi no teu rosto?!
(Pedro) - Minha mãe me bateu..
(Paulo) - Por quê??!!
(Pedro) - Foi sem querer. Ela cochilou e teve um pesadelo. Quando eu fui acordá-la, levei uma bifa na cara. Acordou no susto mesmo.
(Paulo) - Hum.. Sua mãe anda meio estranha ultimamente.
(Pedro) - Como assim?
(Paulo) - Não sei ao certo, mas que está um pouco estranha, ela está. Desde o dia em que fomos na parte morta da floresta.
(Pedro) - Parte Morta???
(Paulo) - É, morta, seca. Acho que é algum componente do solo. Nada brota legal naquela parte da floresta.
(Pedro) - Onde fica essa parte?
(Paulo) - Tem uma trilha paralela à entrada que dá pro jardim do bosque. À direita da estrada. É um pouco afastada essa parte morta. É perto de uma pedreira alta.

O telefone de Pedro toca.

Capítulo 33:
Paulo vai para a biblioteca relaxar, e fazer sua leitura costumeira após o almoço.

(Pedro) - Alô?
(Vitor) - Fala Pedro!! Beleza?
(Pedro) - Fala Vitor, tranquilo.
(Vitor) - E o churrasco? Vai rolar mesmo nesse final de semana?
(Pedro) - Tá tudo certo já! Só tenho que saber quem vai vir, para comprar as coisas.
(Vitor) - Então. Vou com a Amanda, o Felipe, o Rafael e o Leandro. Dá pra dormir aí, né?
(Pedro) - Claro! Tu tem que ver o tamanho da casa! A fazenda é muito foda!!
(Vitor) - Demorou então! Sábado a gente chega aí antes do almoço. Eu te ligo se eu me perder no caminho.
(Pedro) - Não tem erro, é só você sair da via dutra no Km....

Pedro explica as coordenadas para Vitor, e se despede. Sentia muitas saudades dos seus verdadeiros amigos, fazia mais de um ano que Pedro não os via. Estava empolgado com o final de semana que se aproximava.

Catarina estava sentada na varanda, pensando na série de coisas que haviam lhe ocorrido, desde que se mudou para aquela fazenda. E estava triste, pois sempre foi uma pessoa centrada e objetiva em sua vida.. A loucura, seria a pior coisa que a vida lhe reservaria para a terceira idade.
Não conteve uma lágrima na conclusão de seus pensamentos:
"Dalva acha que eu vejo fantasma. Meu marido acha que estou com déficit de atenção, e hoje dei um tapa no rosto do meu próprio filho querido!"
Disse para sí mesma:
- Estou realmente louca, ou algo muito parecido com loucura.

Pedro resolveu ver todos os quartos da casa, pois só havia visto alguns deles, que somavam 12 quartos. Alguns estavam totalmente sem mobília, outros com apenas cama e armário. Na parte posterior da casa, havia um quarto trancado, perto do jardim de inverno, que iluminava aquela parte final do corredor, dentro da casa.
Pedro acha estranho, mas não se preocupa com o fato.
Todas as portas estavam destrancadas, exceto aquela porta.

Paulo aparece no corredor, e vê Pedro de frente para a porta trancada, e diz:
- Essa vai ter que arrombar, é a única chave que não estava na casa quando eu comprei.

Capítulo 34:
(Pedro) - Mas pai, você reformou a casa, e não arrombou esse quarto?
(Paulo) - Não ví necessidade.. Temos outros 11 quartos, e eu e sua mãe só usamos um mesmo.. Se você quiser arrombar, fique a vontade, estou velho pra essas coisas.
(Pedro) - Acho mais fácil desmontar a fechadura, que aliás, é muito velha. Não terei dificuldade nenhuma. Você tem uma caixa de ferramentas?
(Paulo) - Sim. Está lá na garagem.

Pedro vai até a garagem, e volta com a caixa de ferramentas de seu pai.
Paulo voltara para a biblioteca.
Pedro, com uma chave de fenda, começa a desmontar a fechadura da porta trancada.
30 minutos depois, um pouco suado, Pedro termina, e abre a porta.

Ao abrir, sente um vento frio passar de dentro do quarto para o corredor. Um forte cheiro de mofo foi sentido por ele.
O quarto estava imundo; Havia uma cama, um largo armário de madeira, e um móvel com 3 gavetas. Tudo coberto com uma densa camada de poeira. Pedro abre a janela, com um pouco de dificuldade, pois estava emperrada.
Ao desmontar a fechadura, Pedro nota um detalhe curioso: A chave estava para o lado de dentro do quarto.

Havia um quadro na parede, uma paisagem litorânea.

Pedro abre as 3 gavetas, mas estavam vazias.
Abre o armário, e encontra alguns retalhos do que, outrora, foi uma peça de roupa. As traças haviam comido todos os tecidos.
Em uma das portas do armário, Pedro encontra um potinho contendo tinta de nanquim seco, uma pena de escrita, e um bloco amarelado, que já estava se desfazendo. Sem nada escrito, porém, faltando algumas folhas, que haviam sido arrancadas dalí há muito tempo atrás.
Dentro do armário, havia uma grande gaveta, que estava trancada à chave. Pedro procura a chave no armário, mas nada acha.

Catarina chega na porta, e vê Pedro mexendo no armário. E diz:
- Você achou a chave desse quarto??
(Pedro) - Não. Desmontei a fechadura.
Catarina entra no quarto, e olha ao redor.
(Catarina) - Nossa, isso aqui tá imundo!! Mas esse quadro, até que é bem bonito.

Catarina fica um pouco, e depois sai de lá.

Capítulo 35:
Após vasculhar o armário e o resto do quarto, Pedro enncosta a janela, a porta, e sai.

O sol já estava se pondo, e Pedro fica na varanda, brincando com Ares. Depois de um tempo, já de noite, ele toma um banho, pega a caminhonete, e vai até o posto, no bar onde ele tinha estado e conversado com o velho. Na expectativa de encontrá-lo de novo, para saber mais sobre o passado da fazenda de seus pais.

Ele havia se interessado sobre o assunto do ciclo do café, era de certa forma, um marco na história de nosso país. Era uma cultura a qual ele ainda não havia tido acesso.

Ao chegar no bar do posto, novamente, Pedro é alvo de muitos olhares desconfiados.

Ele passa os olhos, meio tímido, por entre as pessoas que alí estavam, procurando pelo velho. Ele não estava entre os presentes.

A mesma garçonete estava no bar, Pedro chega até ela, e pergunta:

- Lembra de mim?

(Garçonete) - Sim. Com esse cabelo, todos se lembram.
(Pedro) - Você sabe aquele senhor que conversou comigo aquele dia? Ele vem sempre aqui?
(Garçonete) - Sim, vem quase toda noite aqui no bar. Hoje ele deve vir também. Mas ele chega por volta das 20h.

Pedro agradece, olha no relógio, e vê que são 19h. Se senta, pede uma cerveja com a garçonete, e fica aguardando a chegada do velho.

Capítulo 36:
Eram 19:45, quando Pedro vê o velho entrar no bar. Pedro já tinha bebido duas garrafas de cerveja enquanto esperava o velho. Pede então, a terceira garrafa.

O velho chega cumprimentando os outros senhores que estavam alí presentes, e se senta afastado de Pedro.
Pedro esperava que o velho falasse com ele, mas pelo contrário, nem olhou para ele.

Pedro então acena para o velho, que olha e acena com a cabeça, interrogativamente.

(Pedro) - Gostaria de falar com o senhor, pode ser?

O velho se levanta, e caminha na direção de Pedro, se sentando no banco do balcão, ao lado de Pedro.

(Velho) - Como vai, meu filho? Desculpe, mas não tinha te visto aqui. Enxergo mal de longe..
(Pedro) - Eu vou bem, e o senhor?
(Velho) - Graças a Deus, estou bem também.
(Pedro) - Vim até o bar procurar o senhor, porque eu gostaria de saber um pouco mais sobre a história da Fazenda São Judas Tadeu, sobre a época do Barão do Café..
(Velho) - Sim, claro. Mas toda informação tem seu preço.. Me paga uma pinga??

O velho sorrí de forma irônica para Pedro.

(Pedro) - Claro!! Garçonete, me vê uma cachaça, por favor!?

A garçonete traz a bebida. E o velho dá um longo e brusco gole, tomando toda a dose de uma só vez.

(Velho) - Ahhhh!! Essa é da boa!!

Pedro acena para a garçonete, e com um gesto, pede mais uma dose para o velho.
A garçonete traz rapidamente outra dose de cachaça.

O velho sorrí para Pedro, e diz:
- Bom garoto!

Pedro dá um longo gole na sua cerveja, e observa o velho.

(Velho) - Há muitas histórias e versões sobre aquela velha fazenda. Mau avô, era fazendeiro aqui na região, mas longe de ser um barão do café: Criava porcos e galinhas.
Mas era amigo do barão. O barão sempre comprava porco e frango de meu avô, e essa relação comercial foi se estreitando, e eles se tornaram amigos.
Quando eu era garoto, meu avô me contava as histórias da fazenda do barão, e tomávamos o café que ele produzia. Tudo às custas da escravidão.
Naquela época, era tudo muito diferente.

Capítulo 37:
(Velho) - Os escravos tinha um tratamento pior do que os animais da fazenda:
Eram castigados constantemente, mal alimentados, dormiam acorrentados em senzalas, para evitar as fugas, e trabalhavam sob as piores condições possíveis.
O barão era muito rígido, e penalizava com a morte, aqueles que fugiam e eram recapturados pelos encarregados de confiança do barão. O próprio barão executava o escravo, e o fazia na presença dos outros, para que servisse de lição para os demais escravos que pensassem em fugir.

(Pedro) - Que absurdo!! Ainda bem que acabou a escravidão!

(Velho) - Pois é. Era realmente um absurdo. Era uma vida muito sofrida, revoltante e injusta. Eles não tinham direito a nada: Não podiam exercer a religião deles, eram católicos por obrigação de seus senhores; Não podiam falar seu idioma de origem africana, eram obrigados, através de castigos e torturas, a aprender o português, não podiam festejar ou comemorar entre eles, tudo lhes era vetado pelo barão e seus encarregados de confiança.
Se uma escrava aparecesse grávida, o barão esperava que nascesse e amamentasse, para que separasse a criança da mãe, e junto com outras crianças, filhos de escravos, ele educava o básico, para que aos 5 anos de idade, já trabalhassem na fazenda, em serviços leves, como a horta, limpeza da casa...

(Pedro) - Até as crianças!? Nossa, o barão era mesmo cruel!!

(Velho) - Mas naquela época, apesar de absurdo, o Barão estava agindo dentro da lei.
Os escravos, eram bens do Barão. Logo, ele poderia fazer o que bem entendesse com eles. Cruel, mas era a realidade daquela época.
Os castigos variavam de acordo com a imaginação dos barões do café. O pau-de-arara, era o mais comum, mas além desse, eram marcados à fogo, como é feito com os bovinos, mutilados, castrados, espancados...
As mulheres escravas, além do costumeiro pau-de-arara, sofriam na "trave": Um tronco fino era colocado a um metro do chão, na horizontal, e as mulheres, eram amarradas, montadas tipo cavalo, ao tronco, somente equilibradas pelos lados.

Capítulo 38:
(Velho) - E alí ficavam. Depois de algum tempo montadas naquele fino tronco, o peso do corpo sobre o órgão genital, se transformava em uma dor terrível, que ia aumentando gradativamente. Algumas passavam um dia inteiro gemendo e chorando na trave.
Eram terríveis as torturas sofridas pelos pobres escravos.

O velho faz uma pausa, e bebe a dose de cachaça. Pedro dá um gole em sua cerveja, e pergunta para o velho:

- Você quer outra pinga?

O velho sorrí, e aceita a oferta de Pedro. Pedro pede, e a garçonete serve outra dose ao velho.

Pedro estava prestando atenção em todos os detalhes da história que aquele velho estava lhe contando.
O assunto, apesar de bizarro, era muito interessante.

(Velho) - Às vezes, o Barão só pegava leve com as torturas, quando a Baroneza intervia. Ela tinha pena dos escravos, o que causava muita raiva no barão, pois o barão achava que só porque ele tinha comprado o escravo, ele podiam judiar o quanto quizesse do coitado. A Baroneza, sempre que podia, se colocava entre o barão e o escravo. Achava covardia demais espancar um homem amarrado a um tronco. Sendo que, se não fosse assim, o escravo com certeza mataria o barão com as próprias mãos. Mas acorrentado, e de tanto apanhar, o escravo ia ficando mais "manso", obediente. Quanto menos reclamasse de dor, menos apanharia do Barão e seus encarregados de confiança.

(Pedro) - Que doidera! Pelo menos, a baroneza tinha um pouco de coração...

(Velho) - Pois é, acho que ela teve até coração demais no final das contas..

(Pedro) - Como assim??

O velho retarda sua fala, devido a um soluço..
Pedro repara que o velho já estava bem alcoolizado, e combina de passar uma outra hora, pois já estava tarde, e Pedro tinha que voltar dirigindo. E já estava bebendo desde as 19h, a cerveja começava a deixá-lo um pouco sonolento.

Pedro se despede do velho, paga todas as bebidas consumidas por ele e pelo velho, e sai com a caminhonete, rumo a fazenda.

Capítulo 39:
Pedro dirige para casa, e em determinado momento na escura estrada, Pedro tem a imprensão de que tem alguém na carroceria da caminhonete. Pelo espelho retrovisor, ele observa cautelosamente. Mas não vê ninguém. Cabreiro, ele pára a caminhonete, e sai para verificar. Não havia realmente ninguém.
Pedro coça a cabeça, olha de novo, e entra na caminhonete, dando a partida novamente. E diz para sí mesmo: "- Eu hein! Jurava ter visto um rosto pelo retrovisor.."

Chega na fazenda, guarda o carro, e vai se deitar.

A manhã de quinta-feira estava nublada, Pedro amanhece com dor de cabeça, e após almoçar, dorme a tarde toda.

Paulo passa a tarde com Catarina, no jardim do bosque. As flores já haviam brotado, e o jardim estava muito bonito. Catarina estava lendo um livro sentada na raíz de uma das grandes árvores, enquanto Paulo, com um binóculo de longo alcance, observava os pássaros.
Em determinado momento, Catarina sente um frio na espinha. Ao longe, ela conseguia captar um som: Tambores.
O mesmo som que ela tinha ouvido outro dia, estava a ouvir de novo. Ela olha para seu marido, e vê que ele está entretido olhando pelo binóculo. Catarina ouvia perfeitamente a batida contínua e ritmada, Paulo com certeza não estava ouvinda nada, mas ela arrisca:

- Paulo, você está ouvindo alguma coisa?
(Paulo) - Não, só o som dos pássaros, aliás, acabei de ver um muito bonito, com penas azuis..

Catarina, fica perplexa, e diz:
- Paulo, impossível você não estar ouvindo esse som de tambores!!!
(Paulo) - Tambores?? Quais tambores, não ouço nada. Será que deixei o som da caminhonete ligado?

Paulo olha pela porta da caminhonete, mas o som estava desligado. Ele olha com expressão interrogativa para Catarina, que diz:

- Paulo, meu amor, acho que estou louca!! Estou ouvindo claramente um som de tambores, vindos da floresta.

Paulo faz silêncio, por não saber o que dizer, e na esperamça de ouvir algum som vindo da floresta. Nada coseguiu captar.
De repente, os tambores páram. Catarina fica atenta. O silêncio total.

Capítulo 40:
Pedro se levanta por volta das 15h, e vai até a cozinha beber um copo d'água.
Pela janela da cozinha, ele vê a caminhonete chegando. A porta da cozinha se abre, e Catarina entra na cozinha apressada, e sobe as escadas barulhentamente. Paulo aparece na porta, com um olhar de desânimo. Pedro olha para ele e diz:
- O que houve??
(Paulo) - Sua mãe cismou que estava ouvindo tambores no jardim.. Ficou brava só porque eu não ouví som algum. Ela acha que está louca..
(Pedro) - Como assim? Tambores no jardim??
(Paulo) - É. Disse que o som vinha da floresta. Mas não havia som algum. Ela ficou nervosa, e quis vir embora de lá na hora. Parecia amedrontada, e não disse mais nada.

Pedro bebe o copo que segurava, enquanto Paulo abria o saco de ração do cachorro.

(Paulo) - Vou colocar comida para o Ares.

Pedro fica pensativo na cozinha.
Paulo sai pela porta da cozinha, ao mesmo tempo em que Pedro entra na sala de TV.

Pela janela, através da cortina, Pedro vê seu pai colocando ração no comedouro do cãozinho, e fica acariciando-o.
Pedro nota que seu pai estava triste, pois não compreendia o que havia acontecido no bosque.

Catarina chega na sala e vê Pedro olhando pela janela. E diz:
- Seu pai tá ficando surdo, ou eu estou ficando maluca!! Esses dias, acabou a luz, e eu chamei pelo teu pai do corredor, e dalí da cozinha ele não me escutou. Ouví um som de tambores lá no jardim, vindos da floresta. Seu pai não ouviu nada!

Pedro fica sem saber o que dizer.
Catarina liga a TV, e Pedro se senta ao lado dela, e os dois ficam assistindo TV juntos.

Capítulo 41:
Pedro e sua mãe, ficam assistindo um filme que passava na TV, Paulo, sai com a caminhonete, e diz para Pedro que vai ao mercado comprar as carnes e as bebidas para o churrasco de sábado.
Dalva estava na cozinha, assando um bolo. Pedro entra na cozinha, e diz para Dalva:

- Minha mãe tá meio brigada com meu pai, ela acha q ele tá ficando surdo, ou ela ficando louca! Meu pai tá boladão, porque não entende o que está acontecendo com ela, e ela, impaciente com a situação..

(Dalva) - Conversei com sua mãe uns dias atrás. Ela diz estar vendo um homem na fazenda, constantemente. Porém, ela é a única que o vê.

(Pedro) - Um homem aqui na fazenda?!?

(Dalva) - É. Já viu ele algumas vezes. Eu disse a ela, que ela pode ser médium, e não saber. Até citei o caso de uma tia minha que é médium, mas no início achava que era esquizofrênica. Mas sua mãe não acredita em espíritos. Não vejo outra explicação para o que só ela vê e só ela escuta. Mas louca, não acho que ela esteja.

(Pedro) - Mas então você quer dizer que aqui na fazenda tem espíritos??

(Dalva) - Eles existem em qualquer lugar. São tão reais como essa conversa que nós estamos tendo.

(Pedro) - Não é que eu não acredite em espíritos. Mas é que nunca ví um de verdade. Aí fica mais difícil de acreditar, mas eu respeito.

(Dalva) - Minha tia, hoje em dia, é médium num centro espírita de uma cidade não muito longe daqui. Mas sempre vem visitar eu e minha mãe na nossa pequena fazenda. Quando ela vier, vou chamar ela para conversar com a sua mãe. Com certeza vai esclarecer muitas dúvidas e inquietações. Ela é ótima pessoa, você deveria conhecê-la algum dia.

(Pedro) - É, quem sabe. Mas daqui a duas semanas eu volto para Austrália, tenho medo de meus pais continuarem a se desentender por bobeiras. Mas no final do ano que vem, eu volto de vez para o Brasil. Aí eu posso conhecer a sua tia. Como é mesmo o nome dela?

(Dalva) - Laura. DONA LAURA, como todos a conhecem. Ela é irmã da minha mãe, Luzía.

(Pedro) - Hum...

Capítulo 42:
Pedro deixa a cozinha, e volta para a sala de TV, e se senta ao lado de sua mãe. E pergunta:
- Mãe, é verdade que você anda vendo e ouvindo coisas aqui na fazenda?

Catarina respira fundo, e diz:
- Mais ou menos. Não te disse nada, pois você acharia que eu estou ficando louca.
(Pedro) - Claro que não, Cataruga!! Você é minha mãe, e eu amo muito você, sempre vou estar ao seu lado!

Catarina sorrí, e dá um beijo estalado na bochecha de Pedro.

(Pedro) - Mas o que você viu e ouviu?
(Catarina) - Não gostaria de falar disso agora, ainda não sei ao certo o que está acontecendo comigo.

Pedro respeita a vontade de sua mãe, e não insiste no papo. Mas diz:
- Só gostaria que você e meu pai não se desentendessem por causa de bobeiras, vocês se amam tanto, e há tanto tempo.. Meu pai ficou triste, mas não disse nada. Eu notei a expressão dele quando vocês chegaram.
(Catarina) - Eu sei... Fui meio rude com ele lá no bosque.. Mas ele não ouvia o som que eu estava ouvindo. Fiquei nervosa e com um pouco de medo de estar louca.
(Pedro) - Eu sei mãe. E te conheço muito bem. Pra você, a ciência explica tudo. Mas existem masi coisas entre o céu e a terra, do que a ciência pode explicar.

Pedro diz isso, se levanta, e sobe as escadas. Entra em seu quarto, e fica vendo TV por lá. Achava que sua mãe deveria refletir um pouco sozinha, sobre como estava agindo.
Apesar de pedro estar com a melhor das intenções, ele não sabia de 10% do que sua mãe estava passando.
Catarina estava confusa, e enquanto pensava sozinha na sala, Dalva entra e lhe traz uma xícara de chá.

(Dalva) - Fiz um chazinho pra senhora, Dona Catarina. Espero que esteja de seu agrado.
(Catarina) - Muito obrigado, Dalva. Você é um amor.

Dalva deixa o chá, e se direciona de volta para a cozinha. Antes de entrar, Catarina lhe diz:
- Dalva?
(Dalva) - Sim?
(Catarina) - Venha aqui, por favor.

Capítulo 43:
Dalva, prontamente, volta e se senta ao lado de Catarina.
(Catarina) - Dalva, você me falou de sua tia, que, supostamente, é médium..

Dalva interrompe no ato:
- Não é supostamente. É médium sim, e em um grau muitíssimo elevado. Ela auxilia espíritos que não fizeram a passagem, por motivos adversos.

Catarina faz uma pausa, e engole todo o seu descredo, num respirar fundo. E diz:
- Você acha que eu posso ser médium também, e não saber disso? Mesmo eu sendo católica?
(Dalva) - Claro! Ninguém nasce sabendo que é médium, até começar a ver, ouvir, ou sentir espíritos desencarnados.
(Catarina) - Você é médium, Dalva?
(Dalva) - Tenho muito pouca mediunidade, quase nada. Mas pratico o espiritismo desde menina. Já presenciei coisas incontestáveis sobre isso. Sinto presenças de vez em quando, lá no centro que eu frequento. Mas é raro eu sentir. Nunca ví nem ouví nada. Só sentí a presença deles. Mas eu respeito o fato de a senhora não acreditar nisso.. Muitos não acreditam.
(Catarina) - .. É que parece tudo tão fantasioso...
(Dalva) - Tanto quanto real. Tanto é, que minha tia, assim como a senhora, me desculpe.. Mas achava que estava ficando louca, esquizofrênica. Mas acredito que você, um dia, conseguirá as respostas que procura. Se Deus quizer.
(Catarina) - Tomara Dalva, tomara.

Paulo estava na varanda, na companhia de Ares, pensando no que poderia fazer, ou dizer, para agradar sua amada esposa. E teve uma idéia.
Ele chega na sala, e diz para ela, na presença de Dalva:
- Catarina, meu amor. Me desculpe se deixei você chateada por algum motivo. Não gostaria que nada afetasse negativamente o nosso amor, nunca.
Estou triste por não ter te confortado no bosque, mas a verdade, é que realmente eu não ouví nada por lá. Posso estar ficando surdo, é normal na minha condição e idade.
Gostaria que você fosse jantar comigo hoje a noite, sair para esfriar a cabeça. Acho que precisamos muito um do outro, e eu gostaria muito de ouvir você, e te dizer o que tenho pra falar. Eu te amo, e preciso te apoiar em tudo.

Continuação do Capítulo 43:
(Paulo) - Eu te amo, e preciso te apoiar em tudo. Mas preciso entender. O que você acha, do jantar?

Catarina sorrí, com os olhos cheios d'água, e diz:
- Mas é claro que eu aceito!! Na verdade, primeiramente, eu te devo desculpas pelo meu comportamento hoje de tarde, lá no bosque. Eu também te amo, e se não puder confiar e contar com você, não tenho mais ninguém.

Os dois se abraçam fortemente, e enquanto Catarina repetia as desculpas, Paulo declarava o seu amor, do jeito mais espontâneo que já disse:
- Eu te amo pra caralhoo!!

Capítulo 44:
Por volta das 19h, Paulo e Catarina saem com a caminhonete, rumo ao restaurante da cidade vizinha.
Pedro fica jogando video-game em seu quarto.
Com as luzes apagadas, o quarto só era iluminado pelas cores que saiam da TV.
Pedro estava concentrado jogando, quando em determinado momento, tem a imprensão de ter ouvido um barulho dentro da casa.
Ele pausa o jogo, e presta atenção em sua audição. Nada era captado.
Despreocupado, volta ao jogo.
Passado algum tempo, ele pausa novamente o jogo, e desce até a cozinha.
Ao abrir a geladeira, Pedro vê as cervejas que seu pai havia comprado para o churrasco de sábado, e diz pra sí mesmo:
- Que beleza!!
Abre uma das latinhas de cerveja, e sobe novamente para o quarto, bebendo-a.
Ao acabar de beber a lata, Pedro desce e pega mais uma na geladeira, e repara que havia começado a chover, e pensa: "Tomara que não chova nesse final de semana..."
Passado uma hora, Pedro já tinha bebido seis latas de cerveja, e a chuva, havia se transformado em um temporal.
Da cozinha, Pedro começou a ouvir um barulho vindo do lado de fora da porta.
Olha da janela da cozinha, mas não vê nada.
Um minuto depois, escuta de novo, e vê que o barulho vem da porta. Algo estava arrastando na madeira.

'Scrac scrac scrac.." 'Scrac scrac scrac.." 'Scrac scrac scrac."

Pedro meio assustado, fica prestando atenção no barulho que algo estava fazendo na porta. A chuva estava muito forte, mas apesar do barulho da chuva, Pedro ouvia nitidamente o som de um atrito com a porta:

'Scrac scrac scrac.." 'Scrac scrac scrac.." 'Scrac scrac scrac.."

De repente, como que com um estalo na memória, Pedro se lembra:
- Ares!!!!!

Corre para a porta, abrindo-a. O cãozinho estava todo ensopado pela chuva, arrastava a pata na porta, pois tinha ouvido barulho na cozinha.

- Que susto você me deu, rapaz!! Desculpa eu ter esquecido você aí na chuva, entre, vem..

Ares entra na cozinha abanando rapidamente o rabo.
Pedro pega uma toalha velha, e seca o cãozinho, em seguida, sobe com ele pro quarto.

Capítulo 45:
Pedro pega um cobertor velho, no fundo do armário, e coloca no chão, dobrado. Ares vem, e se deita em cima do velho cobertor.
Pedro faz um carinho no cachorrinho, e diz:
- Fica aí tranquilo.

O cachorro fica alí, e Pedro volta a jogar o jogo que havia paralisado.
Sonolento, devido as latinhas de cerveja que havia bebido, Pedro cochila enquanto jogava.


Por volta das 3h da manhã, Pedro acorda com o joystick na mão, todo torto em sua cama, pela posição em que tinha adormecido. Espreguiça, estala o pescoço, e coloca o joystick sobre a cômoda.
Olha para o cobertor, mas o cãozinho não estava mais lá.
Pedro chama por ele:
- Ares?!!! AAress??!!!

Nem sinal do cãozinho.
Pedro olha no corredor, e não vê o cãozinho.
Desce as escadas chamando pelo cão, e nem sinal dele.
Olha pela janela lateral, e vê que a caminhonete não estava parada alí, deduz que seus pais ainda não tinham chegado em casa.

- Ares?!!!!

Verifica a sala de TV, a biblioteca, o banheiro, o corredor, a cozinha, e não acha o cãozinho, fica preocupado, pois todos os quartos estavam com as portas fechadas, não havia como o cãozinho ter entrado em nenhum deles.
Pedro já ia subindo a escada, quando se lembra: Havia um quarto sem fechadura, facilmente o cãozinho entraria nele empurrando a porta com a pata.


Pedro desce novamente as escadas, e vira no corredor, no sentido do último quarto, perto do jardim de inverno.
Pela clarabóia do jardim, os trovões iluminavam de tempo em tempo o longo corredor.
Pedro chega até o final, e vê que a porta do quarto que ele desmontara a fechadura, estava entreaberta. Pedro empurra a porta, que se abre.
Pedro sente um vento frio sair de dentro do quarto para o corredor, passando através dele.

Capítulo 46:
Ao abrir a porta, Pedro vê que o cão estava lá dentro. Peculiarmente posicionado sentado, a um metro da parede, ao centro, olhando para a porta, imóvel.
Pedro também repara que o quarto já havia sido limpo e arrumado pela Dalva.

- Ares?!!
Pedro chama, mas o cão permanece imóvel, sem piscar.
Chama de novo, sem resposta.

Ele vai até o cão, e encosta nele, dizendo:
- Vamos seu molenga!!

Instantâneamente, o cão começa a abanar o rabo e fazer festa para Pedro. Como se Pedro tivesse acabado de chegar alí.
Ele diz para sí mesmo:
- Que cachorro lesado..

Pedro leva Ares para o seu quarto, encosta a porta, e dorme.

Paulo e Catarina chegam às noves da manhã, Pedro ainda dormia.
Dalva já estava na cozinha, e vê quando a caminhonete chegava ao longe.
Milton alimentava os cavalos e as vacas, enquanto Rogério, alimentava as aves e retirava os ovos dos ninhos das galinhas.

(Milton) - Bom dia Seu Paulo!
Paulo, sorridente, acena para Milton:
- Bom dia Milton!

A manhã daquela sexta-feira estava progredindo para um sol muito intenso.
Pedro acorda por volta das 10:30hs, e o sol já estava muito forte.
Ares estava deitado de barriga pra cima, no cobertor dobrado no chão, no canto do quarto.

Pedro olha ao redor, e vê oito latinhas de cerveja vazias, em pontos distintos no quarto.

A TV e o video-game, ainda estavam ligados. Pedro diz para sí mesmo:
- Nossa!? Viajei...
(Pedro) - Ares! Acorda, seu doido!

Ares abre os olhos, e num movimento rápido, porém, engraçado, gira ficando em pé em cima do cobertor. Abanando o rabo subindo na cama, de encontro a Pedro.
Pedro afaga o cãozinho, que se deita, virando a barriga para que Pedro a acariciasse.
(Pedro) - Você é um sem vergonha hein Ares!!
Sorridente, Pedro brinca com o cão.

Capítulo 47:
Depois de algum tempo, Catarina entra na cozinha, sorridente; e cantarolando, dá bom dia para Dalva:
- Bom dia!
(Dalva) - Bom dia! Que bom ver a senhora feliz assim!!

(Catarina) - Ahh.. Estou mesmo Dalva! Tanto que nós nem dormimos em casa essa noite..
Conversei muito com Paulo, tinha muito tempo que a gente não parava para saber um do outro assim. Estava descontando todos os meus medos e problemas nele. Fui injusta e rude com o homem que eu amo, sem necessidade...

(Dalva) - Vocês fazem um casal muito bonito! Ainda bem que vocês estão bem. Hoje em dia, é incomum ver casais juntos há tanto tempo!

(Catarina) - Pois é, graças a Deus, eu tenho um marido maravilhoso, em tudo.

Nesse momento, Ares entra na cozinha, e vai logo fazendo festa para Dalva e Catarina.

(Catarina) - Ares?! O que você faz aqui dentro, menino!!?

Pedro entra na cozinha, respondendo a pergunta que sua mãe fez para o cãozinho:
- Dormiu no meu quarto. Ontem choveu muito, e eu trouxe ele pra dentro. Tava todo molhado, tadinho..

(Catarina) - Ah sim! Choveu bastante mesmo essa noite.

(Pedro) - Acordei de madrugada, e vocês ainda não tinham chegado.. O jantar de vocês rendeu hein?..

(Catarina) - Pois é. Dormimos na pousada da cidade. Prefiro não entrar em detalhes, afinal, você é meu filho, e não precisa saber essas intimidades de seu pai e eu...
(Pedro) - Só acho que vocês estão velhos para ficar virando noite em motel..

Dalva esboça um sorriso tímido.

(Catarina) - Pedro, você é o único aqui que pensa assim!!
Pedro sorrí, e fica muito feliz em ver que seus pais haviam se entendido.
Catarina vê a sacola plástica que Pedro estava segurando, contendo as oito latinhas vazia, e pergunta:

- Você tomou todas essas ontem?

(Pedro) - Sim, acho que exagerei um pouquinho.. Estou ansioso para ver meus amigos, e fico sem nada pra fazer, tava em um ritmo diferente de vida. Aqui é tudo muito calmo. desculpe..

(Catarina) - Tudo bem! Sei como você deve se sentir, longe de seus amigos de infância.

Pedro sorrí..

Capítulo 48:
Pedro tira a camisa, corre alguns passos e mergulha na piscina, e sai logo em seguida. Ele olha para a lateral do estábulo, e vê algo que nunca tinha visto alí na fazenda antes: Uma moto de cross.
Pedro observa a moto, e pergunta para a Dalva:
- De quem é essa motóca??
(Dalva) - É do Rogério.
(Pedro) - Hum.. Gosto muito de motos. Será que ele me emprestaria ela?
(Dalva) - Acho que sim... Pergunte a ele, ele estava lá no galinheiro.

Pedro vai em direção ao galinheiro, e vê rogério saindo com uma cesta de ovos, e diz:
- Aquela moto é sua?
(Rogério) - É sim. Tá meio velha, mas anda bem.
(Pedro) - Pô.. Você não me emprestaria ela não?
(Rogério) - Mas é claro!! Só está com pouca gasolina..
(Pedro) - Sem problemas! Eu abasteço ela agora!!
(Rogério) - Ok então!

Rogério entrega as chaves da moto para Pedro, que agradece.

Pedro já havia participado de competições de motocross, gostava muito de andar de moto, mas desde que se mudou do Brasil, nunca mais tinha montado em uma.

Entrou em casa, calçou um tênis, colocou a blusa, e foi rapidamente em direção a moto.
Colocou o capacete, e saiu em velocidade na direção da porteira, para ir ao posto abastecer, na cidade vizinha.

Além de gostar muito, Pedro entende muito bem de mecânica de motocicletas, e toma a liberdade de ajustá-la, depois de abastecê-la.
Depois de alguns minutos de ajustes na moto, Pedro liga a moto, e diz para sí mesmo, após uma análise do novo desempenho:
- Agora sim!! Tá redondinha!

Pedro dá uma volta pela cidade, compra cigarros, e volta rumo a fazenda, com os dreads balançando ao vento, em alta velocidade pela estrada de terra.
Na porteira, Pedro encontra com seu pai, que estava saindo com a caminhonete, e pergunta:
- Pai, onde mesmo é a tal trilha na floresta, que você comentou comigo?
(Paulo) - É perto do jardim do bosque, à direita da estradinha.. Mas você vai lá de moto??
(Pedro) - Claro!!

Pedro diz isso, e entra rapidamente pela porteira, fazendo uma trilha de poeira pela estrada da entrada.

Capítulo 49:
Paulo observa Pedro entrando na fazenda, e diz para sí mesmo:
- Ô menino sem juízo!!

Pedro vê Rogério, e para ao seu lado, dizendo:
- Abastecí, e tomei a liberdade de regular ela.. Tava com folga na corrente, o cabo de embreagem tava quase escapando do encaixe, e ainda lubrifiquei ela todinha, agora ela tá redondinha.
(Rogério) - Que bom! Estava para regulá-la há alguns meses, mas por aqui não temos um bom mecânico de motocicletas.. Obrigado por ter feito isso tudo!!
(Pedro) - Não foi nada! Eu adoro motos, gostaria de ter uma aqui na fazenda..
(Rogério) - Se você quiser, eu deixo ela com você, enquanto você estiver de férias aqui no Brasil.

Pedro abre um largo sorríso..

- Claro que eu quero!! Valeu mesmo!!

Pedro agradece, e sai em direção ao bosque.
Pára a moto perto do jardim, e olha para a direita, procurando a entrada da velha trilha.
- Lá está!!

Sai da estrada com a moto, cruza um trecho de terreno irregular, e chega na entrada da trilha. Vê a estradinha subindo por entre as árvores, com mato alto nas laterais.
Pedro abaixa o visor do capacete, e sobe rapidamente pelo início da subida, e diz para sí mesmo, em voz alta: - Que maneeerooo!! Parece um túnel de árvores!!

Pedro fica deslumbrado com a beleza das árvores antigas, que encontravam as copas ao alto, formando um efeito de túnel natural.
Aos poucos, conforme Pedro adentrava na floresta, começa a reparar que as folhas verdes iam ficando escassas.
Até um ponto onde só haviam árvores secas e mortas. Todo o verde vivo e brilhante deu lugar a um marrom escuro e acinzentado.

- Que viagem!! Essa deve ser a parte morta, que meu pai comentou comigo.

Em determinado momento, a moto morre. Exatamente no local onde os cavalos pararam e não seguiram mais pela trilha. Pedro tenta dar a partida na moto, sem sucesso.
Olha a moto toda, procurando algo que justificasse a parada da moto, mas vê que ela está em perfeitas condições, porém não ligava.

- Ué.. era pra ligar... Porcaria de moto velha!!

Pedro segue a trilha a pé.

Capítulo 50:
Após caminhar por cerca de 5 minutos, Pedro chega até a clareira, e Pedro nota logo a grande pedreira que se projetava dalí.
Ao redor, todas as árvores eram secas, o que dava magnitude para aquela grande pedreira.
Ele pára logo a frente, olha para cima, e pensa:
'Nooossa!! Isso aqui dá pra fazer um rapel muuuito foda!!!'

Na mesma hora, pega o celular, para ligar para seu amigo Vitor, para que ele trouxesse equipamentos de rapel, havia achado um local ideal para a prática do mesmo.
Mas para a sua total decepção, seu celular estava desligado.
- Impossível!?!! Carreguei a bateria ontem de noite!!!!

Pedro tenta ligar o aparelho, mas seu celular não estava ligando.
Acha muito estranho, mas prossegue pela clareira.
Ao final, a trilha continuava, em uma descida não muito íngreme.
Conforme ele vai avançando trilha abaixo, repara que o mato vai ficando cada vez mais alto dentro da trilha.
Alguns minutos depois, Pedro chega a um espaço largo, porém, tomado pelas plantas e folhas secas. Sem árvores em um diâmetro de terreno de uns 40 metros, à frente.
Pedro vê que existem bases de estruturas de pequenas edificações de pau-a-pique, e deduz que alí, há muito tempo atrás, foi uma espécie de aldeia ou vilarejo. Passeando por alí, Pedro encontra alguns pedaços de ferros, enterrados parcialmente, uma ferradura, alguns bastões de madeira, alguns pedaços de tocos queimados, cordas podres, pedaços de tábuas.. Tudo espalhado no mato alto.

Em determinado momento, enquanto Pedro observava o chão daquela parte do local, ele repara algo peculiar: O silêncio era absoluto, era esquisito. Nem um barulhinho mínimo era captado por ele; nada. Nem um grilo, somente o som de sua pausada respiração era captado por sua audição.

- Que sinistro! Essa parte da floresta é morta mesmo...
Diz pensando alto.

Pedro nota que uma suave brisa começa a bater, vinda das árvores adiante.
Subitamente, ele entende como se sua mente estivesse lhe pregando uma peça: Um sussurro suave, e imcompreensível, vinha através da brisa.

Capítulo 51:
Um sussurro suave, de vozes femininas e masculinas, passeavam ao redor de Pedro.
Muito baixinho, era captado vozes disformes, imcompreensíveis.
Pedro, lentamente vai voltando de costas, para a trilha.

O vento aumenta de intensidade, e junto com o vento, as vozes. Agora não eram mais sussurros, eram claramente captadas por Pedro, que recuava lentamente, olhando para todos os lados, sem entender de onde vinham aqueles sons. Não compreendia palavra alguma.
Se vira, e sobe rapidamente pela trilha, de volta para o local da pedreira.
Chegando na clareira, Pedro já não mais ouvia as vozes que estava ouvindo ao fim da trilha.
Sem entender o foi aquilo, Pedro acha que, devido ao silêncio absoluto do local, sua mente havia pregado-lhe uma peça.
"Era só o vento passando por entre as árvores..." Pensou.

Observa a pedreira mais um pouco, e retorna pela trilha rumo à moto, porém, digerindo o acontecimento das vozes.

Pedro pega a moto, e começa a descer, empurrando-a.
Após alguns minutos, ele escuta um barulho conhecido:
"BIP"

Era o celular dele.

Pedro pega o telefone celular, e vê que o mesmo havia ligado sozinho, e estava com a bateria cheia, e com o sinal um pouco fraco.

- Ué?! Qual é a desse telefone?

Pedro pensa em ligar a moto. Após o primeiro kick, a moto funciona normalmente.

- Que doidêra!! Será que só lá em cima que nada funcionou??
Se questiona, e retorna com a moto para saber se a sua teoria era válida.
Chegando perto do local onde havia deixado a moto, a mesma morre de novo..
Pedro pega o celular, e vê que esse também havia desligado sozinho.

Pedro coça a cabeça, e empurra a moto, e novamente escuta o "BIP" de seu celular ligando novamente,
Dá a partida na moto, e ela liga normalmente.

- Que coisa!?!? Porque nada funciona a partir daquele ponto??
Se questiona, enquanto voltava pela trilha, rumo a sede da fazenda.
E em meio aos pensamentos de Pedro, nenhuma explicação plausível era levantada para o acontecido.
"Talvez um campo eletromagnético grande.. Impossível!!"

Capítulo 52:
Pedro sai pela entrada da trilha, e pega a estrada, no sentido da sede da fazenda.
Chegando lá, ele vê que a caminhonete não estava alí, e deduz que seu pai ainda não havia voltado da cidade.
Ele pára a moto, tira o tênis e a camisa, e mergulha na piscina.
O sol estava forte, e o calor castigava naquele horário.

Paulo chega pouco depois das 13h, e Pedro ainda estava na piscina.
(Paulo) - E aí? Como foi lá na trilha?

Pedro, rapidamente conclui que não contaria os fatos estranhos que presenciou por lá. Preferia descobrir o que era primeiro, e responde:
- Maneráço!! Dá pra fazer um rapel sinistro naquela pedreira!

(Paulo) - É, mas é perigoso! Se cair de lá, pode morrer ou se machucar gravemente.
(PEdro) - Eu sei, só cogitei a Hipótese no momento em que ví a pedreira.
(Paulo) - De quem é essa moto?
(Pedro) - Do Rogério, eu dei uma geral nela, e ele deixou emprestada comigo.
(Paulo) - Você não perde essa sua mania de motocicletas hein! Já te disse que pára-choque de moto, é a cara.. Tome cuidado para não cair com esse negócio!
(Pedro) - Tranquilo, pode deixar.

Paulo já ia saindo, quando repara algo que ainda não tinha visto:

- Pedro!! O que é isso nas suas costas???

Pedro fica pasmo, pois lembra que não havia comentado com seu pai sobre a tatuagem que fez. E diz:

- Ih.. Desculpa, nem lembrei de te mostrar.. Fiz uma tatuagem lá na Austrália..

Paulo sai, deixando Pedro falando sozinha, mostrando sua total desaprovação em relação a tatuagem de PEdro.

Ele sai da piscina, se seca, e após almoçar, se deita no sofá da sala, e cochila.

Capítulo 53:
Catarina pede para Milton selar o seu cavalo, e sai pela fazenda cavalgando.
Ela estava feliz, a conversa que tivera com seu marido, havia lhe tirado um enorme peso da consciência.
Deu a volta no lago, e parou sob a sombra de uma das árvores do pomar.
Se sentou aos pés da árvore, abriu seu livro, e por alí ficou, lendo.
De onde estava, conseguia ver os fundos da casa, e repara que a janela do quarto recentemente destrancado por Pedro, estava aberta. Fora ela, só as janelas do segundo andar estavam abertas.

Catarina não dá importância, e prossegue sua leitura.
Ela repara que seu cavalo começa a ficar agitado, inquieto, e fica observando-o.
Ela então se levanta para verificar, e ao chegar perto, para seu total desespero, ela vê o que deixava o cavalo agitado:

Aquele homem que ela já tinha visto algumas vezes, estava alí, diante de seus olhos.
Ela observa o homem, e nota que suas vestimentas estavam sujas de sangue, que escorria-lhe pelo meio das pernas. E começa a recuar, tensa e com muito medo.
O homem então se vira para Catarina, e olha dentro de seus olhos, com uma forte expressão de ira.
Ofegante, ele caminha em direção a ela, que recuava.
Aos prantos, Catarina toma coragem, e diz, gaguejando:
- Quem é você? O que você quer de mim??
(Homem) - Quem sou eu?? Faz tanto tempo assim, que você nem se lembra de mim, ou meu nome?

E grita com ela:
- Foi tudo culpa sua!!! Você não fez nada do que prometeu!!! Você mentiu pra mim!!!
(Catarina) - Eu não fiz nada!! Eu não fiz nada!!!
(Homem) - Toda a dor que você nos causou, você receberá em dobro, sua sem palavra!! Você traiu a todos nós!! Eu confiei em você! Eu confiei em você!!!
Desgraçada!!

E aumenta a velocidade da aproximação.
Catarina se vira, e começa a correr na direção da casa. Olha para trás, e o homem corria atrás dela, a poucos metros de distância, e se aproximando.

O homem então, consegue agarrar Catarina pelo pulso, fortemente. Ela cai na grama, e o homem senta-se sobre ela. Leva a mão atrás do corpo, e pega um grande facão

Capítulo 54:
O homem empunha o facão com as duas mãos sobre a cabeça, e diz:

- Isso costuma doer..
(Catarina) - Não, por favor, não!!

Com um rápido golpe, o homem atravessa o facão por entre os seios de Catarina, que dá um grito desesperado:

- Ahhhhhhhhh!!!!!!

Ela acorda gritando, com seu livro no colo. Estava sentada aos pés da árvore, e seu cavalo estava amarrado como ela havia deixado.
Atordoada pelo sonho, ela se levanta, e pega o livro rapidamente. Ao desamarrar a corda que prendia o cavalo, ela repara uma coisa:
Seu pulso estava muito dolorido, e com uma larga marca roxa em volta. Era o mesmo pulso que aquele homem forte agarrou em seu pesadelo.

Catarina, pasma, apalpa o pulso, e vê que está bem dolorido.
Assustada, ela sobe no cavalo, e volta para a sede da fazenda.
Ela pára no estábulo, e entrega o cavalo para Milton, sem nada dizer.
Estava muito assustada, e vai direto para a cozinha, onde estava Dalva.

(Catarina) - Dalva!! Estou com muito medo!!
(Dalva) - Como assim?! O que houve com a senhora?!

Catarina estende o pulso, e Dalva vê a grande marca roxa ao redor do pulso direito de Catarina.

(Dalva) - Santo Deus!! Onde a senhora se machucou?? O que foi isso?!!

Catarina, aos prantos, leva Dalva até a biblioteca, e fecha a porta.
As duas se sentam na poltrona, e Catarina conta todo o ocorrido para ela, e ao final, diz:

- Quero muito conversar com a sua tia Laura. Mas por favor, não comente nada do que eu te falei com ninguém!

(Dalva) - Claro! Quando eu chegar em casa, ligarei para ela, e te aviso quando ela virá.

Catarina agradece, e abraça Dalva.

Dalva fica pensativa sobre a gravidade do acontecimento com Catarina..

Pedro acorda, senta no sofá, e acende um cigarro, e pensa:
"Meu pai tá boladão por causa da minha tatuagem..."
Paulo aparece, e olha fixamente para Pedro, e diz:
- Você não tem juízo mesmo! cabelo tudo bem, cresce de novo, mas agora, marcar a pele para sempre?? Você é maluco?!

Pedro olha para seu pai, se levanta, e passa por ele, dizendo:
- Sou!

Continuação do Capítulo 54:
Pedro olha para seu pai, se levanta, e passa por ele, dizendo:
- Sou!

E passa por ele, rumo a cozinha.

Paulo olha para as costas de seu filho, e vê a larga imagem que ele havia tatuado:
Era uma imagem de uma foto, do casamente de Paulo e Catarina. Na tatuagem, havia, além do casal sorridente e abraçado, uma frase, em letras garrafais, logo abaixo da foto, que dizia "PAI E MÃE, OURO DE MINA.."

A imagem era perfeitamente fiel a foto, a qual Paulo não via há anos. E pela primeira vez na vida, viu seu rosto tatuado.
Engoliu a seco, e em silêncio, a grosseria que fez para seu filho, tudo por que ele declarou para sempre, seu amor pelos pais.

Capítulo 55:
Pedro fica triste, pois seu pai havia sido desapontado por ele.. "Sabioa que o meu pai ia ficar chateado por causa da Tatuagem..."

Paulo entra na cozinha, e vê Pedro de costas.
Era uma imagem nova que ele tinha de seu filho agora.
Estava mais maduro e desenvolveu um estilo próprio. Além de estar mais forte fisicamente, mudou o cabelo, estava morando do outro lado do mundo, sozinho, estudando para assumir a empresa, e fez em sua própria pele, uma homenagem aos pais..

(Paulo) - Doeu para fazer isso aí?

Pedro se vira, e diz:
- Muito, mas valeu a pena.. Eu gostei, pena que o senhor não gostou..

(Paulo) - Na verdade, não gostei não.. ... Adorei! Estou até um pouco emocionado.
Foi a coisa mais bonita, e verdadeira que eu já ví como prova de amor.

Os dois se abraçam, como há muito tempo não se abraçavam. Ficam conversando alí por algum tempo, e Pedro sai paratomar banho.

Quando pedro sai, paulo pensa:
"Como o tempo pássa rápido... Mé filho já é um homem! Parece que foi ontem que eu ví ele ainda criança.."
Paulo abre um sorriso satisfeito.

Catarina pensava no que iria dizer ao seu marido quando ele visse o hematoma roxo em seu pulso..
Conclui que não está louca, e talvez Dalva tivesse razão desde o início dos acontecimentos estranhos na fazenda.
Estava com muito medo do que poderia acontecer a ela..
Ficava olhando ao redor, em qualquer lugar que estivesse, com receio de encontrar-se novamente com aquele estranho homem.

Rogério e Milton, capinavam os campos, retirando o que restou da cloheita do milharal.
Rogério, em determinado momento, bate em algo duro na terra, com a enxada.

Ele cava com as mãos, e começa a desenterrar o que havia encontrado: Era um largo e enferrujado conjunto de algemas, com uma corrente de cerca de um metro entre as presilhas.
Ele continua puxando, e desenterrando, e vê que são várias algemas unidas por correntes grossas. Elos e mais elos eram puxados por Rogério, de debaixo da terra..

- Milton!! Vem ver o que eu encontrei!!

Milton se aproxima pra ver.

Capítulo 56:
(Milton) - Mas o que é isso??
(Rogério) - Não sei.. Parece algum tipo de algema.. Me ajude aqui.

Milton se junta a Rogério, e os dois ficam retirando as correntes da terra.

Por volta das 18h, Pedro sai da fazenda na moto, disse para sua mãe que não demoraria, iria comprar cigarros.
A noite daquela sexta-feira estava clara, devido ao luar deslumbrante.
Pela estrada afora, Pedro era iluminado pela lua cheia, que ganhava o céu.

Pedro chega até o posto de gasolina, encosta a motocicleta, e entra no bar.
A primeira pessoa que ele vê, é o velho o qual ele havia conversado outro dia.

Pedro se senta em um dos bancos do balcão, prende seus dreads com um elástico, e pede para a garçonete, uma garrafa de cerveja e um maço de cigarros.

O velho se aproxima, e cutuca o ombro direito de Pedro:
- Posso me sentar ao seu lado?

(Pedro) - Claro! Já ia acenar para o senhor! O senhor aceita uma bebida?

O velho sorrí positivamente para Pedro.

Pedro acena para a garçonete, e pede:
- Traz uma cachaça também, fazendo favor!?

A garçonete traz os pedidos, e Pedro agradece.

(Velho) - Então, como está a fazenda?
(Pedro) - Tá ótima, graças a Deus!

O velho sorrí de forma estranha, e vira toda a dose de cachaça, de uma só vez.

(Pedro) - Gostaria que o senhor continuasse a me contar a história que você estava me contando, sobre a fazenda que agora é de meu pai.
(Velho) - Sim, claro! Onde eu parei mesmo?...
(Pedro) - Você dizia que a baroneza se colocava entre o Barão e os escravos, nas torturas e castigos..
(Velho) - Isso mesmo!!

O velho pede outra pinga para Pedro. Pedro dá a bebida a ele.
O velho então recomeça a contar a história...

Capítulo 57:
(Velho) - Pois é, foram anos muito difíceis aqueles de escravidão. Com o tempo, de tanto torturar e castigar seus escravos, o Barão começou a tomar gosto pela tortura, e desenvolvia seus próprios métodos.
Começou a sentir prazer em ver seus escravos sofrendo.
A baroneza, sempre batia de frente com ele, alegando ser covardia e desumano o que ele fazia com os pobres escravos, mas o Barão se achava superior a todos alí.
Foi quando começou a agredir a baroneza, nas vezes que ela contrariava seus atos infames.

A primeira vez que ele bateu nela, meu avô me contou chocado. Disse que o barão estava prestes a marcar um escravo com ferro quente, e ela apareceu tentando impedir. O barão largou o ferro em brasa, e esmurrou a baroneza na frente de toda a senzala.

(Pedro) - Covarde esse Barão hein??
(Velho) - Covardia, para ele, era um amigável elogio, ele era bizarro! chegou ao ponto, de crucificar escravos que fugiam, assim como foi Jesus, com pregos nas mãos e nos pés.
Deixava o escravo na cruz, de frente para a senzala. Para que todos pudessem acompanhar a morte do escravo. As vezes, o escravo ficava bastante tempo crucificado até que morresse.
Isso alimentava a ira dos escravos contra o Barão do Café, e as surras na baroneza, faziam com que os escravos respeitassem ela, pois ela era a única alí, que se preocupava com o bem estar dos escravos.
As vezes, no meio da noite, ela ia até a senzala levar comida e fazer curativos nos mais machucados.

(Pedro) - Pelo menos isso né! Pelo menos ela se preocupava com a humanidade daqueles homens e mulheres.

(Velho) - É, em parte.

(Pedro) - Como assim?

O velho dá um gole em sua cachaça, e acende um cachimbo de madeira.

(Velho) - No início, ela ajudava os escravos, escondida do Barão. Mas quando o Barão começou a espancá-la, ela começou a se voltar contra ele também.
No início, ela mantinha contato com os escravos, para ajudá-los, sem se envolver.
Foi quando, um belo dia, ela conheceu Adamastor, um dos escravos da fazenda

Capítulo 58:
(Velho) - Adamastor era um escravo que tinha sido espancado pelo Barão, e fraturou um braço. A única pessoa que reparou na fratura, foi a baroneza, que prontamente providenciou um médico para colocar o osso no lugar.
O barão só deixou que o médico viesse ver o escravo, pois Adamastor era um escravo forte, e faria falta se ficasse alejado.
Isso aproximou a baroneza, que aos poucos, foi mantendo um diálogo com ele.
Ele contava para ela, as coisas que haviam na África, sobre a vida que ele levava lá, de quando ele foi capturado para ser vendido como escravo, da mulher que foi assassinada.
A baroneza se identificava com ele, pois o casamento dela com o barão, era de certa forma, uma escravidão também. Ela se privava de tudo para agradar o barão, e ele, espancava ela. O amor entre os dois havia acabado há muitos anos.

(Pedro) - Ué, mas porque ela não pediu o divórcio?

(Velho) - Naquela época, não era tão fácil assim se separar de um marido. Ainda mais se tratando de um Barão do café.
Se a baroneza pedisse o divórcio, o Barão talvez até a matasse, seria mais rápido e mais fácil para ele. Quem tinha o poder, fazia a lei.

(Pedro) - Hum...

(Velho) - A baroneza sabia disso, por isso se mantinha submissa ao Barão, pois não queria ser assassinada pelo próprio marido, que naquela altura, já era um louco. O barão foi até conhecido pelas suas crueldades com os escravos. Na boca miúda, chamavam ele de "O Barão mal".
Houve uma época, seguinte a fratura de Adamastor, que o barão teve que viajar por alguns dias, para tratados político-comerciais. Ficou afastado por duas semanas. O que foi suficiente para que a Baroneza se apaixonasse por Adamastor.
A partir dessa data, os dois mantinham um romance em segredo.
A baroneza se entregou de corpo e alma, e foi correspondida por Adamastor, que se apaixonou por ela também.
Mas na condição de escravo, ele dependia das visitas noturnas, ou na parte da tarde, quando o barão saía, ou dormia.

(Pedro) - Sério??? A baroneza e o escravo...

(Velho) - Sim, por algum tempo.

Capítulo 59:
(Velho) - A baroneza e Adamastor, se viam quinzenalmente, em média. Mas nunca despertaram a desconfiança do Barão do Café. E a cada surra, ela sofria discretamente, e ele idem, pois ela nunca deixou de condenar as torturas que o barão pregava em seus escravos, pelo contrário, aumentou sua resistência. As sazonais surras, se tornavam cada vez piores.

O velho faz uma pausa, e dá um gole na pinga.
Pedro, sem desviar o olhar do velho, faz um sinal com o dedo indicador para a garçonete, pedindo mais uma dose para o velho.
O velho sorrí, e prossegue.

(Velho) - A baroneza e Adamastor, planejavam uma fuga. Alguns escravos conseguiram fugir, e montaram um quilombo distante, no meio da floresta, e visitaram algumas vezes a senzala, de madrugada, no intuito de ajudá-los a fugir também. Em vão. Depois da primeira grande fuga com sucesso, o Barão reforçou as correntes e as trancas da senzala.
As visitas noturnas passaram a ser unicamente para roubar comida e ferramentas.
Eles furtavam a horta, frangos e chegaram a levar até um porco do barão.
Destruiam algumas ferramentas de trabalho pesado, afim de poupar os outros escravos.. Um erro. Pois eram os que estavam na senzala que pagavam pelos roubos dos que haviam fugido. O barão, até gostava quando achava um cabo de enxada quebrado, pois sabia quem era o escravo responsável pelas ferramentas. E esses.... coitados.. eram torturados, mutilados... Alguns escravos, morriam, devido a infecções em pequenos ferimentos. O barão oferecia tratamento só aos mais fortes, que trabalhavam mais pesado. Um primitivo bate-assopra.
Como no caso de Adamastor...
Os mais fracos, acabavam morrendo. Isolados nos cantos da senzala, pelos próprios escravos, que temiam alguma infecção.
Havia grande cumplicidade entre os escravos e a baroneza. Todos os escravos sabiam do relacionamento dela com Adamastor. Mas respeitavam-na, ela era a única que se preocupava com o bem estar deles. Não se compara com rabo-preso, era respeito mesmo! Não haviam conflitos na a senzala, pelo contrário, união, fé.

Capítulo 60:
Pedro observa o velho muito atentamente, enquanto seu pensamento viajava. Ele estava montando, em sua mente, a fazenda do Barão do café, que hoje é de seu pai.
Ele imaginava onde seria a senzala, o pau de arara.
Os escravos permaneciam unidos. Mesmo em meio a tanto sofrimento e dor, eles conseguiam sorrir, pelo simples fato de estar entre irmãos.
Pedro assimila o quilombo dos escravos à clareira que ele encontro depois da pedreira, na trilha da floresta. Meio sem jeito, para concluir esse pensamento, ele pergunta para o velho:

- Desculpe a ignorância, mas o que é um quilombo??

O velho sorrí, e responde:

- Não é ignorância de sua parte, meu filho. Um quilombo, é como se fosse um acampamento. Como os sem-terra fazem hoje em dia. Só que na época da escravidão, se parecia mais com uma tribo.

(Pedro) - Ah sim! Acho que sei onde fica o quilombo na floresta..

O velho fica sério imediatamente.

(Velho) - Você entrou na floresta?!!

(Pedro) - Sim. De moto. Achei uma trilha com mato alto, e fui ver onde dava. E achei uma clareira com uma Pedreira, e depois a trilha dá em um lugar que acredito ser o tal quilombo, pois tem umas coisas velhas lá, vasos, ferramentas..

(Velho) - Não faça mais isso!!! Existem coisas que não se podem compreender!!

O tom assustado do velho, fez com que Pedro se lembre do que aconteceu por lá, das vozes no vento, da moto e do celular que não pegavam, das árvores mortas..
Pedro engole seco, e diz:

- O que o senhor quer dizer com isso?

(Velho) - Que é perigoso!! Aquela floresta esconde muitos perigos invisíveis..

Pedro observa a expressão do velho, e vê que ele sabe mais do que está dizendo..

O velho se levanta, respira fundo, meio tonto, e se senta novamente..

(Velho) - Muita coisa aconteceu naquela fazenda, filho. Coisas ruins, assassinatos brutais, torturas fatais, foi um local de muita dor e sofrimento. Pelas mãos do Barão, muitas vidas se perderam por ambição, preconceito e autoritarismo.
O Barão foi um homem muito cruel para com seus escravos

Capítulo 61:
(Velho) - O barão, sentia prazer em castigar, sentia-se superior, uma adrenalina maligna, fazia ele se sentir bem.
A baroneza e Adamastor, viviam o maior amor de suas vidas. E planejavam minuciosamente a fuga dele, e dos outros para o quilombo, e de lá, iriam procurar outro lugar mais distante, longe dos olhos maquiavélicos do barão.
Foi então, no início de 1887, que começou a se ouvir rumores sobre o fim da escravidão por lei. O que deixou o barão furioso.
Entre os grandes produtores de café, uma grande onda de descontentamento crescia, conforme aumentavam os rumores sobre o fim da escravidão.
O barão levaria um imenso prejuízo se tivesse que libertar aquelas pessoas

Continuação do Capítulo 61:
(Velho) - O Barão, então, começou a aumentar o fluxo de trabalho dos escravos, aumentando assim, a produção de café. As torturas também aumentaram, Todos os dias, o Barão escolhia um a dedo, para dar chicotadas no fim do dia.
A baroneza e Adamastor, já não conseguiam se ver direito, o barão colocava os escravos para trabalhar até a noite.
O barão, comentou com a baroneza certa vez, que se realmente houvesse um decreto para a libertação dos escravos, ele mataria um a um com as próprias mãos. E a baroneza falou isso com os escravos. Um erro. Eles ficaram amedrontados. Não sabiam mais o quanto ficariam vivos.
Adamastor, então, sugere a antecipação da fuga, para o mais rápido possível. Mas estava cada vez mais inviável. O barão colocoava seus encarregados de confiança, para vigiar em turnos a senzala.
Nesse meio tempo, a baroneza descobre que estava grávida de Adamastor, pois não tinha relações com o Barão há muito tempo.
O barão tinha suas meretrizes para satisfação sexual, e não se importava com a baroneza. Ela era somente um símbolo para ele. Era um casamento de aparências. Só eram vistos juntos, em festas políticas, promovidas por outros barões.
A baroneza esconde a gravidez do barão, e de Adamastor. Não sabia mais o que fazer para conseguir falar com seu amado. Aquilo corroía seu coração.

O velho faz uma pausa, respira fundo, e prossegue
- Pobre baroneza... Nada saiu como ela havia planejado..
Adamastor não sabia o que estava acontecendo, não via mais sua amada.. meses se passaram, e ele nem via ela na fazenda.
Chegou uma hora, em que a gravidez era muito evidente, e o barão questiona a baroneza.
Para se proteger, ela diz que o filho é do Barão, pois ele era o único homem que ela amava.
Por incrível que pareça, o Barão acreditou!
Mudou o tratamento que dava para a baroneza, e mimava ela o tempo todo.
Era estranho para ela, receber carinho das mãos que já bateram em seu rosto.
Adamastor, não fazia idéia do que acontecia, mas certo dia, ele viu a baroneza de mãos dadas e sorridente, com o barão.

Capítulo 62:
(Pedro) - Nossa, o Barão nem imaginava que o filho não era dele? Muito trouxa!
(Velho) - Pois é! Mas a verdade viria a tona mais cedo ou mais tarde.
(Pedro) - Mas o que aconteceu?
(Velho) - Bom, o inevitável. Adamastor achou que a Baroneza havia somente usado ele, pois sem motivo, ela desaparece da vida dele. Os planos de fuga, as juras de amor eterno, a cumplicidade dos dois, na visão de Adamastor, era pura mentira. Além disso, ele não sabia que era pai da criança que a baroneza carregava no ventre. Depois dos poucos fatos que ele pode ver da senzala, ele concluiu que a baroneza havia se entendido com o Barão, e os dois esperavam uma criança.

(Pedro) - Mas foi paranóia da cabeça dele ué!! Ele sabia que ela amava ele e odiava o barão.
(Velho) - Pois é. Mas não foi isso que ele entendeu. O fato da baroneza ter se afastado, na verdade, era para manter o romance em segredo, visto que o barão reforçara a segurança da senzala. Era inviável.
Mas, Adamastor guardava muita mágoa em seu pobre coração. Havia se acostumado com as derrotas da vida. Aquela seria apenas mais uma. Mas a baroneza realmente mexeu com os sentimentos daquele escravo. Ele ficou profundamente magoado com o que ele havia suposto ser a verdade. Ficou desgostoso da vida.
(Pedro) - Mas eles nunca mais se viram?
(Velho) - Não sei te dizer ao certo. No início de 1888, o inevitável aconteceu:
A criança nasceu. E para a surpresa da parteira, era um bebê negro.
Nunca se viu o Barão tão indignado e irado!
Torturou a Baroneza de uma forma que nunca havia torturado nenhum escravo, afim de saber o nome do escravo que era o pai da criança. Ameaçou matar o bebê com uma lâmina. Ela resistiu o máximo que pôde, mas acabou dizendo, aos prantos, o nome de Adamastor.
Na mesma hora, o Barão largou o bebê, que caiu no chão. Morrendo com o impacto. E foi para a senzala com seus encarregados, explanando sua raiva ao caminhar a passos largos e firmes rumo à senzala.
A baroneza, desesperada com os acontecimentos, corta o próprio pescoço. Ela nunca se perdoaria

Capítulo 63:
(Velho) - Ela havia perdido tudo o que mais queria: O filho estava amassado no chão da sala, e Adamastor, provavelmente seria assassinado em poucos minutos. Não exitou em se matar.
O Barão, chegou na senzala já gritando o nome do pobre Adamastor.

O velho faz uma pausa, degusta mais um pouco de sua bebida, respira fundo, e prossegue:
- Pobre Adamastor, de todas as desventuras que havia sofrido na vida, a pior estava por vir. Os encarregados do Barão, além de espancá-lo, amarraram-o em uma grande mesa de madeira e o deixaram nu.
O barão, com a mesma lâmina que estava ameaçando o bebê dele e da baroneza, corta lentamente o pênis de Adamastor, que acabou desmaiando com tamanha dor.

(Pedro) - Uiii!!!!

Diz levando a mão no próprio pênis.

(Velho) - Isso ainda não foi nada. Após fazer isso, ele arrastou Adamastor pela fazenda, até a casa, para mostrar-lhe o bebê morto. Mas para a surpresa do Barão, ele encontra a baroneza morta. O bebê havia sido removido pela parteira. O barão, então, leva Adamastor até um quarto dentro da casa, e dá um tiro de espingarda na testa dele, que cai morto.

(Pedro) - Nossa!! Mataram ele dentro da casa??
(Velho) - Foi o que me disseram. Passados alguns meses, a loucura do Barão já era generalizada. Ainda mais naquela tarde de maio.. Pobres escravos. A vida, que já não era justa com eles, se mostrou pior do que eles haviam imaginado.

(Pedro) - Como assim?
(Velho) - Pois lhe digo: No dia 13 de Maio de 1888. Foi assinada a Lei Áurea. Que garantia a liberdade e os direitos humanos a todos os que haviam sido escravizados.
Menos para os escravos do Barão.

(Pedro) - Mas o que ele fez?
(Velho) - Ele realmente soltou os escravos. Mas só para que os membros da autoridade local visse, pois passadas algum tempo, eles foram caindo mortos pela fazenda. O barão havia oferecido um almoço para eles, para celebrar a liberdade.
E em meio a comida, ele espalhou veneno. Que dizimou toda a senzala, antes de alcançarem a porteira da fazenda.

Capítulo 64:
(Velho) - Em menos de 30 minutos após o almoço oferecido pelo Barão do Café, todos os escravos haviam morrido de envenenamento.
O barão então, desmancha a senzala, e em seu lugar, ele deixa uma pilha com os corpos daqueles homens e mulheres, joga combustível, e coloca fogo.
Os escravos que haviam fugido para a floresta, fizeram uma visita noturna naquele dia, foram atraídos pelo forte cheiro de gordura queimada que invadiu a floresta. E ao invés de encontrar a senzala, encontram o monte formado pelos corpos de seus familiares e amigos, em chamas e brasas, o que faz com que uma grande revolta tome conta dos corações daqueles homens e mulheres diante de tamanha crueldade.
O barão, para que não tivesse o nome sujo pela traição da baroneza, faz um funeral digno para ela. O bebê havia sido enterrado no quintal, pelo próprio barão do café.

(Pedro) - Mas o que houve com os outros escravos?
(Velho) - Muitas versões já foram contadas sobre o paradeiro deles e do barão. MAs a que mais se repetiu durante todos esses anos, foi a de que eles fizeram magia negra para acabar com o barão do café.
Dizem que eles fizeram um sacrifício humano na floresta, para invocar o mal contra o barão, para vingar as mortes de seus amigos e parentes.

(Pedro) - Mas que fim levou o barão e os escravos??
(Velho) - Não se sabe até hoje. O corpo do barão do café, nunca foi encontrado.
(Pedro) - Como assim?
(Velho) - Um belo dia, a fazenda amanheceu vazia, sem ninguém, nem o barão, nem seus empregados e encarregados de confiança.
Depois de alguns anos, o município tomou posse da fazenda e a vendeu.
(Pedro) - Que sinistro!! Nem sinal dele, nem dos escravos do quilombo?
(Velho) - nenhum vestígio foi encontrado até hoje.
(Pedro) - E os novos moradores, seguintes ao barão do café?
(Velho) - Não moraram lá por muito tempo. Ficaram quase dois anos, e venderam. E assim foi com todos os moradores seguintes. Ficavam alguns poucos anos, e se mudavam. Até que ela ficou abandonada até o dia que seu pai a comprou e a reformou.

Capítulo 65:
Pedro engole seco, e pergunta para o velho senhor:
- Mas porque eles se mudavam de lá?

(Velho) - Diziam que coisas estranhas aconteciam por toda a fazenda.
Houve uma moça, linda, filha de um dos moradores de lá, que ficou louca!
Saiu de lá direto para um manicômio. Não falava mais coisa com coisa.
Foi por isso que eu te falei que é perigoso entrar naquela floresta. Não que eu acredite em magia negra, e fantasmas.. Mas nunca se sabe o que é real ou não..

Pedro fica pensativo com a afirmação do velho. Olha ao redor, e vê que só restavam os dois e a garçonete no bar daquele posto de combustíveis. Olha para o relógio, e vê que já se passam da meia-noite, e diz para o velho:
- Foi um prazer conversar novamente com o senhor, mas está tarde, tenho que ir embora.
Se despede do velho e sai.

Continuação do Capítulo 65:
Pedro pega o troco com a Garçonete, prende com um elástico os seus 'Dreads Rastafari', coloca o capacete e dá a partida na moto, rumo a fazenda.
No caminho, Pedro pensa em todas as informações que havia recebido daquele velho.
Como que uma situação dessas poderia acabar da forma que acabou?
O que havia acontecido com o Barão do café e os escravos do quilombo?

Pedro se fazia, em média, 5 perguntas por minuto. Enquanto se encaminhava para a fazenda. Com base no que o velho contou.

Quando estava prestes a chegar na porteira, Pedro nota que um veículo está parado a frente da mesma.
Aos poucos, os faróis da moto revelam rostos conhecidos..

(Pedro) - Vitor!!?
(Vitor) - Pô!! Até que enfim hein!! Cadê seu celular, tô te ligando direto!

(Pedro tira o capacete...)

(Vitor) - Que cabelo é esse moleque??!!!

Pedro desce da moto e dá um forte abraço em Vitor, dizendo:

- Que saudade de você. Seu viado!!

Amanda estava apoiada no capô do carro, na quina da lanterna dianteira direita, e vem de encontro aos dois, seguida de Rafael, Leandro e Felipe.

(Pedro) - Porra!! Achei que vocês viessem só amanhã!! Que maneiro!!!

Eles se cumprimentam, e Pedro abre a porteira da fazenda, e após o carro passar, ele a fecha, e segue com a moto atrás do carro de Vitor.

Eles chegam até a frente da sede da fazenda, e estacionam o carro. Pedro pára a moto bem mais próximo da porta da cozinha.

Paulo e Catarina estavam na cozinha conversando, e ouvem o barulho da moto, em seguida abrem a porta e vêem Pedro e seus amigos chegando juntos.
Vitor, Leandro, Rafael e Felipe, vão de encontro à Catarina e Paulo:

- Oi tia!!! - A senhora tá linda!! - Quanto tempo!! - Agora é Cowboy hein sr. Paulo??

A intimidade dos amigos de Pedro, com os pais, se deu devido ao fato de ele sempre conhecê-los, todos frequentavam as casas uns dos outros. Chamar de tia e tio, vem de mais de 20 anos atrás. Paulo e Catarina eram amigos dos pais dos amigos de seu filho que estavam alí.

(Catarina) - Meninos!!!! Mas já vieram!?

Capítulo 66:
(Vitor) - Pois é tia, muito tempo que a gente não vê esse doido do seu filho. Ninguém quis dormir e esperar pra vir amanhã.. No caso hoje né, estávamos ligando para o celular dele desde ás 23:40h.

(Pedro) - Fiquei sem bateria.. Mas vamos entrando galera, peguem suas coisas, venham escolher seu quertos, e vamos tomar uma cerveja depois!! Que bom que vocês vieram hoje!!

(Vitor) - Essa é a minha namorada, Amanda!

Amanda se apresenta para a mãe de Pedro. Catarina dá um sorriso satisfeito, e diz:
- Sejam todos bem vindos!!

Cerca de 40 minutos depois, toda a bagagem estava em seu devido quarto. Pedro e Vitor, enchiam uma caixa térmica de isopor com várias latas de cerveja, e completavam com várias pedras de gelo.

Pedro se vira para todos e diz:
- Vamos lá pra fora, pra sentar no gramado e beber batendo papo. Que saudades de vocês!!

Eles levam cadeiras para frente da casa, e ficam observando o céu multi-estrelado enquanto conversavam e falavam de todas as novidades.
Pedro estava muito feliz. fazia muito tempo, desde que se mudou para outro continente, que não via seus grandes amigos.

Capítulo 67:
Apenas um spot de luz, na frente da porta da cozinha, iluminava o gramado da frente, as estrelas e a lua mingüante davam conta do resto da iluminação.
Vitor falava sobre seus estudos, sobre seu trabalho novo de design gráfico, sobre seu novo apartamento.
De tempo em tempo, Leandro fazia alguma piada com determinadas deixas de Vitor. O que fazia com que todos descontraíssem.

(Pedro) - Po vocês têm que ver essa fazenda de dia, é muito bonita, alí embaixo tem um lago grandão, dá pra pescar se vocês quiserem. Tem muita coisa pra se fazer por aqui. E claro, amanhã, vamos tomar um banho de piscina e curtir nosso churrasco.

(Amanda) - Como tem estrelas por aqui, hein?
(Felipe) - É por causa da iluminação. Na cidade, não vemos tantas como aqui, por causa dos postes de luz e das luzes dos prédios. Vemos só as mais brilhantes.
(Amanda) - Eu sei, aqui o céu é muito mais belo!

Em determinado momento, Vitor se vira para Pedro, e pergunta:
- Que luz é aquela lá, piscando?

Pedro se vira, e olha na direção em que Vitor havia apontado.

(Pedro) - É o jardim do bosque.. Acho que a instalação está com mal contato.
(Felipe) - Se você quiser eu dou uma olhada, sou técnico em eletrotécnica. Faço bicos com instalações em residencias lá no Rio.
(Pedro) - Seria bom, mas amanhã a gente vê isso. É meio longe para ir no escuro até lá.
(Felipe) - Ok! Amanhã eu dou uma olhada. Deve ser bobeira, mas consome energia né.
(Pedro) - É verdade.

O papo se estica até as 3:30h da manhã.
Todos entram na casa, se despedem, e vão para os quartos.

Amanda e Vitor, estavam em uma das suítes. A primeira depois do lance de escadas. Na suíte seguinte, estavam Felipe, Leandro e Rafael. Era uma beliche e uma cama de solteiro.

Pedro estava em seu quarto, que era dois quartos à frente do quarto dos homens.
Ele estava se sentindo muito bem. Feliz em rever os amigos que não via há muito tempo.
Era uma noite muito escura e quente. O dia seria muito ensolarado. Pedro dorme tranquilamente


Capítulo 68:
A manhã daquele sábado estava radiante. O sol já estava forte quando Pedro abriu os olhos.
Olhou para o relógio, e viu que eram quase 11h.
Pedro coloca um short e uma camiseta, amarra o cabelo, e desce as escadas.

Vitor e Amanda estavam na cozinha, conversando com Dalva.
(Pedro) - Bom dia Dalva! Bom dia galera!

Todos se cumprimentam.
(Pedro) - Todos já acordaram?
(Vitor) - Sim, os caras estão alí na frente vendo a fazenda. Aliás, você tinha razão: É uma bela fazenda!!

(Dalva) - Eu já preparei as carnes, estão na geladeira, separadas em potes. Estou preparando o arroz e mais umas coisinhas, para quando vocês quiserem almoçar.
(Pedro) - Ih dalva, não se preocupe não! Esses caras bebem mais do que comem. Vamos ficar beliscando na churrasqueira um tempo. Devo almoçar mesmo só mais tarde. Mas deixe arrumado, caso alguém queira antes.

Pedro pega uns potes de carne, e sai, acompanhado de Vitor e Amanda, rumo à área da churrasqueira. Que ficava na lateral direita da casa, de frente para o lago.
Ao sair, ele vê Felipe, Leandro e rafael conversando com Milton e Rogério.

(Pedro) - Aêê!! Vamos arrumar as coisas alí na churrasqueira e dar um mergulho!! Milton, beleza?

(Milton) - Beleza!
(Pedro) - Sabe onde fica o carvão?
(Milton) - Tem um saco embaixo da pia da churrasqueira, se não der eu busco mais lá no depósito.
(Pedro) - Ok! Obrigado.

Rogério acena para Pedro, e diz:
- Se quiser ajuda, é só falar, Pedro.

(Pedro) - Tá tranquilo. Valeu!

Os rapazes se encaminham juntos para a direção onde Pedro estava indo, e chegam até o quiosque da churrasqueira.

(Felipe) - Cara, muito foda a fazenda de seus pais!! Parece uma pintura! Olha esse lago com a floresta ao fundo e o céu. Perfeito!

Pedro sorrí, e diz:
- É legal mesmo. Vou lá no meu quarto buscar o som, e já volto.

(Todos) - Ok!

Pedro deixa a camiseta em uma cadeira, e sai na direção da casa.

(Vitor) - Pára tudo!!! Que Tattoo é essa, maluco! Fez na Austrália?? Ficou ótima!
(Pedro) - Fiz lá sim. Muito mais barato que aqui!!

Capítulo 69:
Pedro entra na casa, e atravessa a sala. Sobe as escadas e entra em seu quarto, e em seguida retorna com o Microsystem e um case de CD's.
Catarina estava sentada na sala, e Pedro repara algo diferente:
- Mãe, que roxo é esse no seu pulso??

Catarina fica alguns segundos pensando antes de responder:
- Machuquei andando à cavalo.. Mas está melhor. Ficou só um pouco roxo..

(Pedro) - Um pouco?!! Tá muito roxo!! Como você conseguiu machucar ao redor do pulso, andando à cavalo??

Catarina, novamente, demora alguns segundos para responder:
- Estava com a corda enrolada no pulso, e descí do cavalo. Ela esticou e enforcou meu pulso. Mas nem tá doendo.. Não se preocupe, seus amigos estão te esperando.. Quando sair carne, me chame para comer hein!

Pedro acha estranha a atitude de sua mãe. Ele a conhecia bem, e sabia que ela estava escondendo alguma coisa. Mas releva, e sai rumo a churrasqueira.

Catarina fica observando a marca roxa em seu pulso, e se recorda da visão daquele homem que havia segurado seu pulso com demasiada força e raiva. Um vento empurra a cortina contra o sofá onde ela estava sentada, e ela vê pelo reflexo da TV a figura de uma silhueta refletindo na tela.
Catarina fica imóvel, observando o reflexo, e vê que se trata do mesmo homem que ela já havia visto.
Fecha os olhos e começa a repetir para sí mesma em pensamento:
"- É só um sonho, é só um sonho, é só um sonho.."

Abre os olhos novamente, e para imediata surpresa, o homem estava agachado, diante dela, olhando fixamente para seus olhos.
Catarina ameaça gritar, mas o homem agarra seu pescoço fortemente, e levanta ela do sofá. Agora, de pé, diante dela, estava ele. Segurando pelo pescoço, ele levanta Catarina a um palmo do chão, e leva a mão atrás do corpo.
Catarina estava totalmente sem reação diante daquele homem.
Foi quando ela vê que ele pegou um facão atrás do corpo.
Catarina se desespera, começa a se debater, mas o homem não larga dela.
Ele empunha o facão, e diz:
- A morte, é só o começo da dor.

Ela fecha os olhos.

Capítulo 70:
Catarina abre novamente os olhos, e vê que o homem estava olhando para outro lado. Ela estica para poder olhar, e vê que contra a luz, havia uma silhueta de uma mulher, e pode ouvir perfeitamente na hora que a mesma se manifesta:

- Largue essa senhora, imediatamente, eu ordeno!!

A luz que se projetava atrás da silhueta aumenta, e ilumina Catarina e o homem.
Como que em um piscar de olhos, o homem solta, olha dentro dos olhos dela, e diz:
- Eu volto pra te pegar! Você não tem como fugir.

E sai em disparada, e some.
Catarina leva a mão no pescoço, e tosse.
Levanta a cabeça, e olha para a direção onde estava a silhueta.
E vê uma senhora, bem velhinha, porém bem disposta e com um semblante de muita paz e harmonia interior. Os cabelos eram lisos, grisalhos, curtos, pouco acima dos ombros.
Catarina acha que está vendo coisas, e em meio a tosses sufocadas, ela observa a imagem daquela velhinha, que sem dizer uma palavra, passava grande confiança para Catarina, apenas com o seu sorriso e seu olhar singelo.

- Sente-se, minha filha. Respire fundo e fique calma.

(Catarina) - Quem é você?? Obrigado!

- Eu me chamo Laura. Sou tia da Dalva, ela me disse para vir conversar com você. E parece que eu cheguei em boa hora. Aquele espírito iria te magoar. Desculpe não ter avisado que viria, mas tive que resolver umas coisas na cidade. Uns garotos estão procurando confusão com o mundo dos mortos, na minha cidade. Mas acredito que está tudo sob controle por lá. Você deve ser Catarina, certo?

(Catarina) - Sim, sou eu mesma!!

Catarina fica olhando bestificada para aquela senhora, sem saber o que dizer.
(Dona Laura) - Sente-se, relaxe seu corpo um pouco, você ainda está tensa.
(Catarina) - Mas a senhora apareceu do nada!

(Dona Laura) - Claro que não, estava alí atrás. Vocês tem um lindo cãozinho! Adoro animais, fiquei algum tempo alí antes. Dalva me disse que haverá uma festa, estava indo embora, voltaria só amanhã. Mas o meu senso captou uma presença ruim. Aí eu vim verificar o que era. E ví você

Capítulo 71:
Catarina se senta, e fica ao lado de Dona laura.
(Dona Laura) - Na verdade, sentí uma vibração muito negativa quando entrei pela porteira dessa fazenda. Mas achei ser só uma impressão, pois essa semana, eu visitei as ruínas de uma grande e velha casa, que foi de um egípcio; E fiquei impressionada com o mal que habita aquela casa. Fiquei um pouco indisposta, pois, sendo médium no grau que eu sou, a gente acaba absorvendo um pouco dessa energia que se manifesta.
(Catarina) - Quando essas coisas começarama a aparecer, achei que estava ficando louca. Dalva me falou sobre espíritos, mas eu nunca acreditei nessas coisas.
(Dona Laura) - Essas "coisas", são pessoas desencarnadas que já viveram aqui. Hoje elas vagam pela existência sem sentido. É muito comum que não saibam que morreram. Às vezes, o momento da morte é bloqueado pelo dissernimento da alma. Seus pensamentos continuam como se nada tivesse acontecido. É como se acordassem sem saber o que houve.
(Catarina) - Mas é difícil pra mim entender essas coisas. Me desculpe..
(Dona Laura) - Existem espíritos bons, amenos, e malignos. Os bons, geralmente não vagam. Encarnam repidamente. É um processo evolutivo.

Dalva entra na sala, e vê catarina conversando com sua tia, e diz:
- Vejo que vocês já se conheceram.

(Catarina) - É! Sua tia chegou bem na hora que eu mais precisava!!
(Dalva) - Como assim?!
(Dona Laura) - Depois eu te conto, minha filha. Deixe nós a sós, por favor, temos muito o que conversar.

Dalva sorrí, pede licensa e volta pra cozinha.

(Dona Laura) - Seu marido e seus filhos também vêem espíritos?
(Catarina) - Não. E eu só tenho um filho, o Pedro. Ele está lá fora agora com os amigos de infância. Ele está aqui de férias, mora no exterior.
(Dona Laura) - Então você é a única médium..
(Catarina) -Eu?! Médium?? Acho que não..
(Dona Laura) - Apesar de você não entender, você possui um grau de mediunidade até elevado.
(Catarina) - Elevado?
(Dona Laura) - É! Ele tocou em você. Isso é preocupante, pois vocês devem ter um elo muito grande.

Capítulo 72:
(Catarina) -Um elo grande comigo?? Nunca tinha visto ele antes!
(Dona Laura) - Talvez não nessa vida, querida.
(Catarina) - Como assim?
(Dona Laura) - Em outra encarnação, você pode ter conhecido ele. Mas você reencarnou. Ele ainda não.
(Catarina) - Mas eu não me lembro dele..
(Dona Laura) - É a bondade de Deus! Ao reencarnar, você ganha uma nova consciência, e não se lembra de sua vida passada. Você é absolvida de todos os erros, afim de ter uma chance de não voltar a cometê-los.
(Catarina) - Isso é meio confuso.. Preciso de um chá.

Ao falar isso, quase que instantâneamente, Dalva aparece com uma bandeja e duas xícaras de chá.

(Catarina) - Ué?! Você lê pensamentos??
(Dalva) - Não, mas imaginei que a senhora fosse querer, e fiz um pouco do chá que a senhora gosta.
(Catarina) - Dalva, você é demais!!

Dalva sorrí, serve catarina e Dona Laura, e volta para a cozinha.

(Dona Laura) - Como eu ia dizendo, quando o espírito não sabe que morreu, ele continua fazendo as mesmas coisas que sempre fez.
Em alguns casos, a presença de pessoas encarnadas perto deles, assusta tanto quanto a presença deles para as pessoas: Eles acham que estão vendo coisas que não existem na realidade deles.
(Catarina) - Entendo. Mas é muito surreal todo esse papo.
(Dona Laura) - Eu tenho amigos espíritos, que estão sempre comigo. São espíritos de luz. Aliás, foram eles que iluminaram a sua causa, e espantaram aquele espírito que segurava a senhora.
(Catarina) - Eles estão aqui agora?
(Dona Laura) - Sim. Mas eles podem optar por não serem vistos ou ouvidos. Atingiram o nível máximo de evolução espiritual. Não reencarnam mais, só guiam outros espíritos perdidos. Você gostaria de conhecê-los?
(Catarina) - Não sei.. Acho que sim, afinal, eles me ajudaram, né?
(Dona Laura) - Eles são muitíssimo sábios.
(Catarina) - Quantos são?
(Dona Laura) - Quatro.
(Catarina) - Posso vê-los?
(Dona Laura) - Depende deles. Eles não são muito sociáveis de primeiro contato. Não possuem senso de humor e são objetivos no que dizem e fazem.

Capítulo 73:
(Catarina) -eles não querem que eu os veja?
(Dona Laura) - Não é isso. Eles são ótimos, aprendo muito com eles. Convivo com eles desde os vinte e cinco anos. Mas não posso intervir no arbítrio deles. Mas consigo vê-los agora, parados, de pé atrás de você.

Catarina se vira, mas não consegue ver nenhum deles.

(Dona Laura) - Você não vai conseguir vê-los agora. Estão no meio de uma discursão sobre esse local, essa fazenda.

Dona Laura percebe uma certa descrença da parte de catarina. Mas apesar de não poder intervir, ela estende a mão para Catarina, e diz:
- Feche os olhos, e segure a minha mão.

Catarina obedece.

(Dona Laura) - Agora abra os olhos, ainda segurando minha mão, e olhe para trás.

Para a surpresa de catarina, ela vê dois homens e duas mulheres se olhando e gesticulando. Uma luz azulada emanava de seus contornos.
Dona Laura solta a mão de catarina, e as imagens se dissipam no ar.

(Catarina) - Isso foi incrível!! Eles são muito lindos e brilhantes!
(Dona LAura) - É, eles são mesmo. Desculpe-me, mas fiquei um pouco tonta ao fazer isso. Não tenho mais o mesmo vigor de anos atrás.

Dona Laura, aparentemente, não demonstrava nenhum sinal de indisposição, mas estava um pouco sonolenta, pois havia feito uma ponte com outra médium, para que ela pudesse ver os espíritos de luz. É fisicamente comparado com uma corrida de uns 50 metros. Mas não cansa o corpo, cansa a alma.
Passados alguns instantes, ela se recupera, respira fundo, e sorrí para Catarina.

(Dona Laura) - Quando você aprender a lidar com o seu dom, será menos cansativo para mim fazer isso com você.
(Catarina) - MAs o que foi isso exatamente que a senhora fez para que eu pudesse ver?
(Dona Laura) - Eu compartilhei minha mediunidade com outra médium. Você absorveu, por alguns instantes, o meu grau de mediunidade. Tanto que você conseguiu vê-los também.
(Catarina) - Posso te pedir uma coisa? Por favor, não comente sobre mim com meu marido e meu filho. Não queria envolvê-los nisso.
(Dona Laura) - Entendo. Você quem sabe.

Capítulo 74:
(Dona Laura) - Bom, acho que já vou indo. Tenho que chegar antes do entardecer, na fazenda da mãe de Dalva.
(Catarina) - Fique conosco. Daqui a pouco vamos almoçar, e a senhora podia se acomodar por essa noite em nossa casa. Temos quartos confortáveis, e gostaria de conversar mais com a senhora.
(Dona Laura) - Obrigado. Vou aceitar o convite. Aliás, acho que daqui há alguns instantes, você poderá ver os espíritos de luz. Eles terminaram uma discursão sobre esa fazenda, mas estão reflexivos ainda.

Passados cerca de vinte segundos, Catarina visualisa as quatro iagens luminosas. E sorrí bestificada.

(Dona Laura) - Não demonstre que os está vendo. Eles não gostam. Preferem ser vistos com descrição.

(Catarina) - OK!

Disse enquanto saía pela porta da cozinha, seguida por dona Laura.

Vitor, Amanda, Felipe, Rafael, Leandro e Pedro, estavam na piscina, com uma bola que passava de mão em mão.

Todos acenam para Catarina, e a mesma diz a todos:
- Essa é a dona Laura, tia da Dalva e ótima pessoa!

Eles cumprimentam dona Laura, e continuam entretidos.

(Catarina) - O meu filho é aquele alí de bermuda azul.
(Dona Laura) - eu sei.
(Catarina) - Como assim?
(Dona Laura) - Tem seu8 rosto tatuado nas costas dele..
(Catarina) - Hein?!?

Ela olha para as costas de Pedro, e vê seu próprio rosto tatuado. E diz:
- Pedro?

(Pedro) - Sim..
(Catarina) - Vem aqui, por favor.

Pedro se aproxima, e Catarina diz:
- Vire-se de costas, por favor..

Pedro se vira, meio sem jeito, por saber que sua mãe ainda não havia visto sua tatuagem. E ao contrário do que ele achava, Catarina diz:
- Ficou linda!!!

Dá um abraço demorado, seguido de um beijo em Pedro.

(Pedro) - Achei que você fosse brigar comigo..
(Catarina) - Tá doido?! Eu adorei! Como sempre, muito carinhoso e criativo!

Pedro sorrí, e volta para junto de seus amigos. Todos estavam portando um latinha de cerveja, e o papo entre eles estava fluindo sobre a época de escola. Catarina volta com dona Dalva, para dentro de casa.

Capítulo 75:
Catarina entra na cozinha acompanhada por Dona laura, e Dalva diz:
- Dona Catarina, o almoço está pronto, na hora que a senhora for comer, me avise para eu poder arrumar a mesa. Pedro disse que só vai comer mais tarde, pois estão beliscando na churrasqueira e tomando cerveja.

(Catarina) - Isso se ele almoçar né.. Esses garotos quando começam a beber esquecem até de se alimentar. Só param de beber quando acaba a cerveja.

Dona Laura fica pensativa com a afirmação que acabara de ouvir de Catarina.

(Catarina) - Vamos almoçar agora, se depender deles a gente nem almoça de tanto esperar. Sua tia vai ficar conosco essa noite, vamos estender a conversa que estamos tendo.

Dona Laura sorrí, e diz:
- Gostaria só de fazer uma ligação. Preciso avisar minha irmã que não voltarei hoje, para que ela não se preocupe.

Catarina imediatamente leva dona Laura até o telefone para que ela ligasse.

Minutos depois, Dona Laura, catarina e Paulo almoçavam.

Felipe se vira para Pedro, e diz:
- Vamos até aquele local para eu ver a instalação, esse mal contato pode sair caro no fim do mês.

(Pedro) - Claro, vamos de moto, é mais rápido.

Os dois sobem na motocicleta de Rogério, e seguem rumo ao jardim do bosque.

(Vitor) - Amanda, onde eles vão?
(Amanda) - Pedro vai levar o Felipe para ver o mal contato naquela luz que estava piscando ontem..
(Vitor) - Ah sim.

Pedro pára a moto no jardim, e os dois descem.
Felipe pega em seu bolso, um canivete suíço, que sempre carrega, e puxa uma ponta de chave de fenda do mesmo. E vai abrindo o interruptor, e os outros pontos na instalação nos lustres, procurando alguma conexão solta ou mal encaixada.
Após 20 minutos, havia checado e testado a iluminação. Estava tudo em perfeito estado.

(Felipe) - Estranho.. Não achei nada que cause mal contato nessa instalação elétrica. Pode ser defeito no componente. o contato interno do interruptor pode estar falhando a conexão. Ou no bocal da lâmpada.

(Pedro) - Eu não manjo nada dessas paradas de instalação elétrica, conexão.

Capítulo 76.
Pedro e Felipe voltam para a churrasqueira.
Pedro encosta a moto e se junta aos outros na piscina.
O sol estava muito forte, e a sombra da casa sobre a piscina, já estava se esgotando.
Rogério se aproxima, e chama Pedro:
- Chega aqui, quero te mostrar uma parada que eu e o Milton achamos.

Pedro sai da piscina, e acompanha Rogério até o celeiro.
Rogério tira uma lona que cobria um embolado de correntes muito enferruadas, e diz:
- Achamos lá no campo onde havia o milharal, parece ser algum tipo de algema antiga.

Pedro olha para a sequência de elos e algemas, e diz:
- É, são algemas da época da escravidão. Nessa fazenda já teve muitos escravos.
(Rogério) - Como você sabe disso??
(Pedro) - Conversei com um senhor lá naquele bar que tem no posto de combustível. Ele me contou a história dessa fazenda. Aqui morava um Barão do café. A base da produção dele era a escravidão.
(Rogério) - Eu conheço a história. Mas as pessoas gostam de fantasia-la, dizendo que a fazenda é assombrada pelos escravos e pelo Barão. Contavam ela quando eu era criança, no intuito de assustar.
(Pedro) - Bom, se é assombrada ou não, eu não sei. Mas que muitos escravos viveram e morreram aqui, isso é verdade.

Rogério concorda com um gesto com a cabeça.

(Pedro) - Mas você vai fazer o que com essas correntes?
(Rogério) - Não sei, vou perguntar ao seu pai. Ele deve querer jogar fora.
(Pedro) - Não. Tem um museu sobre a escravidão no Rio, acho melhor doar as correntes para eles do que jogá-las fora.
(Rogério) - É, bem melhor mesmo. Dá uma idéia no seu pai então, e fala sobre as correntes e sobre esse tal museu.
(Pedro) - Pode deixar, eu falo com ele sim.

Os dois saem do celeiro, e Pedro volta para a piscina.

(Felipe) - Pedro, tem uma fazenda vizinha perto daquele jardim, não tem?
(Pedro) - Não que eu saiba.. Porque?

Felipe fica meio sem jeito de dizer o por que, pois ele ouvira um batuque de tambores lá do jardim.

(Felipe) - Por nada, achei que tivesse..
(Pedro) - Tem uma trilha que sobe na floresta.

Capítulo 77:
(Felipe) - Trilha?? tipo trilha de motocross?
(Pedro) - Não. Mas dá pra ir de moto também. Mas é uma trilha na floresta, que sobe até o topo.
(Amanda) - Você já foi lá?
(Pedro) - Já, fui de moto. Mas tem um ponto lá que não dá pra seguir de moto.
(Vitor) - Porquê? A trilha é muito fechada?
(Pedro) - Não. A moto simplesmente não funciona a partir de um ponto da trilha.
(Vitor) - Como assim não funciona?
(Pedro) - Ela morre. e não pega por nada. Só se voltar um pouco pela trilha e ligar. Celulares também desligam sozinhos a partir daquele ponto.
(Felipe) - Mas qual o motivo disso? Nada elétrico ou eletrônico não funcionar assim em determinado local é muito raro!
(Pedro) - Eu não tenho explicação plausível para esse fenômeno. Mas fiz testes no dia em que eu fui lá, e era só a partir de um certo ponto que a moto e o celular desligavam. eu voltava e funcionavam perfeitamente.
(Felipe) - Muito estranho! Deve haver algum campo magnético no solo, ou algum mineral que bloqueie energia elétrica. O que é muito pouco provável nessa região do Brasil, e do mundo.

Todos ficam pensando no que Pedro havia acabado de lhes falar. Até que Vitor olha para Pedro, e nota algo estranho na expressão dele.

(Vitor) - Você tá escondendo alguma coisa da gente! Fala! Eu te conheço cara, essa sua cara não me engana!

Pedro dá um sorriso meio sem graça, e diz:
- Bom, eu ouví umas histórias sobre essa fazenda. Que antigamente havia escravos aqui, e o fazendeiro era um Barão do Café que era muito malvado com eles.. E que muitas coisas ruins aconteceram por aqui. Dizem que coisas estranhas acontecem aqui, os moradores seguintes ao Barão ficaram muito pouco tempo e se mudaram repentinamente. Há relatos de que teve morador que enlouqueceu devido aos fatos que presenciou aqui nessas terras. Coisas sinistras. Que pra ser sincero, eu não acredito. Mas são só histórias. Rogério me disse agora pouco que ouvia-as também quando criança. E contavam para assustá-lo.

(Amanda) - Você quer dizer que dizem ser assombrada essa fazenda??

Capítulo 78:
(Pedro) - É o que dizem.. Não vai me dizer que você ficou com medo?!?
(Amanda) - Claro que não!! Mas não devemos desrespeitar a crença das pessoas.
(PEdro) - Amanda você está com medo sim! Olha a sua cara!!

Todos riem do comentário de Pedro. Amanda interrompe dizendo.
- Não é nada disso!!

As risadas proseguem na piscina.

Milton, que escutava a conversa enquanto virava as carnes da churrasqueira, toma partido, e diz para Pedro.
- Não zombe de sua amiga Pedro! Olhe ao seu redor. Essa fazenda é magnífica! Tudo nela é muito bem equilibrado, a casa é enorme, assim como o terreno todo!

(Pedro) - Mas o que tem isso haver com eu falar que ela está com medo?
(Milton) - Bom, nada. Mas eu sempre morei na cidade vizinha. E sempre ouví sobre o que acontecia nessa fazenda com os moradores que ficavam pouco tempo.
(Pedro) - Ainda não entendo aonde você quer chegar, Milton..
(Milton) - É, talvez essa informação ainda não tenha sido passada. Mas é algo que sempre me perguntei. Seu pai comprou ela por um valor muitíssimo menor do que ela realmente valia. Claro que ficou mais caro porque ele reformou ela toda.
(Pedro) - Ainda não entendi Milton..

Todos olham para o diálogo que milton estava tendo com Pedro.

(Milton) - Uma coisa que eu me perguntei várias vezes, sobre essa fazenda, é:
Como uma fazenda tão bonita, e com um preço tão bom, pôde ficar abandonada por cinqüênta e cinco anos?? Desde o último morador.

(Pedro) - Tanto tempo assim??
(Milton) - Sim, eu ajudei na reforma também, e mesmo abandonada e suja, ela ainda era bonita. Claro que nem se compara com o modo que ela se encontra agora. Pense nisso.. Pois eu não achei explicação para tanto tempo. E também o fato de morarem tão pouco tempo na fazenda São Judas Tadeu.

Milton volta para a churrasqueira, e deixa-os na piscina.

(Vitor) - Caraca, cinqüênta e cinco anos abandonada!!
(Pedro) - É, eu sabia que tinha ficado alguns anos abandonada, mas não mais de meio século..

(Rafael) - Gente, deixa esse papo pra lá. Vou buscar cerveja!!

Capítulo 79:
Rafael se levanta e vai em direção ao freezer, onde estava Leandro.
(Rafael) - Que papo mais torto, tão dizendo alí que a fazenda do Pedro é mal assombrada!!
(Leandro) - Deve estar bêbado já!
(Rafael) - Pior que não tá não. A Amanda tá até bolada com medo dessa história.

Rafael pega cervejas e volta para a piscina, seguido de Leandro.

(Pedro) - Bom, não é tão história assim não.
(Vitor) - Como assim?
(Pedro) - Além do velho que eu conversei algumas vezes, minha mãe teve algumas visões aqui na fazenda, mas não entrou em detalhes. Aquela senhora que está com ela, a Dona Laura, é tia da Dalva, e é uma médium. Veio aqui para conversar com a minha mãe sobre espíritos.

Amanda estava visivelmente vidrada no que Pedro falava, e diz:
- Você quer dizer que sua mãe vê fantasmas!?

(Pedro) - Não sei ao certo o que ela viu e ouviu. Ela preferiu não me contar pois estava confusa. Dona Laura veio esclarecer isso pra ela.

(Vitor) - Será que é por isso que, como você disse, na trilha as coisas não funcionam?
(Pedro) - Não sei.
(Leandro) - A gente podia ir ver essa trilha.. Enquanto ainda é cedo e o sol está forte.
(Pedro) - É meio longe pra gente ir andando, mas se vocês quiserem ir..
(Amanda) - Eu acho melhor a gente ficar aqui na piscina do que entrar no meio do mato. Ainda mais onde aparelhos eletrônicos para de funcionar do nada!
(Pedro) - Sabia que você ia ficar com medo.

Depois de alguns minutos discutindo, eles decidem ir. Porém, Amanda prefere esperá-los na piscina.

Pedro, Vitor, Leandro, Felipe e Rafael, saem rumo ao bosque.
Alguns minutos depois, e Pedro sai da estrada para o lado direito, rumo à entrada paralela a estrada.

(Pedro) - É aqui que começa a trilha.

Rafael e Leandro observam o caminho por entre as árvores com um certo receio.

(Rafael) - Não tem bicho não?
(Pedro) - Tem. Pássaros e insetos.
(Vitor) - Você tá com medo Rafael?
(Rafael) - Não. Só perguntei por perguntar

Pedro entra na trilha e começa a subir. Seguido de Vitor, Rafael, Felipe, e por último, Leandro.

Capítulo 80:
O sol cortava as árvores, fazendo riscos luminosos por entre a folhagem. Os cinco jovens adentravam na floresta pouco a pouco.
O som de pássaros estava notável. Naquela hora da tarde, muitos eram avistados de tempo em tempo, passeando nos galhos das árvores.

(LEandro) - Poxa, essas árvores são imensas, muito robustas!
(Pedro) - São árvores muito antigas, tem mais de cem anos. Estão no seu estágio máximo de maturidade.

Felipe vinha calado. Estava novamente ouvindo o som de tambores, mas reparou que ninguém mais ouvia. E parecia estar cada vez mais perto. Conforme andavam trilha acima, mais alto era captado o som pelos ouvidos de Felipe.

Vitor começa a reparar nas mudanças na vegetação ao redor, e depois de um tempo, pergunta:
- Pedro, porque as árvores estão cada vez mais secas?
(Pedro) - É que estamos no início da parte morta da floresta.
(Vitor) - Parte Morta??
(Pedro) - É! lá mais pra frente, não tem uma folha viva. Você vai ver.

Passados alguns minutos, o verde havia dado lugar ao marron acinzentado. E o som dos pássaros deu lugar ao silêncio absoluto e tenso.

(Pedro) - Aqui que te falei, não tem mais uma folhinha verde por aqui.
(Felipe) - Muito estranho, parou!
(Vitor) - Parou o que?

Felipe meio sem graça, diz:
- Os tambores.

(Vitor) - Que tambores, Felipe?!?
(Felipe) - Vocês vão achar que eu to chapado ou que eu sou maluco. Mas estava ouvindo tambores desde lá debaixo. Na verdade, desde a hora que eu fui no jardim de moto com o Pedro.
(Pedro) - Por isso você perguntou se tinha algum vizinho né?
(Felipe) - É. Mas reparei que você não ouviam, por isso não falei nada. Só que agora parou, e o som já estava bem próximo da gente.

Todos se olham, após ouvirem o que Felipe tinha dito. E prosseguem atentos.

Passados mais uns minutos, Pedro fala para os outros:
- Olhem seus celulares. Estão desligados?

Para a surpresa conjunta, todos estavam desligados.
(Vitor) - Mas como assim??
(Pedro) - Estranho né? Voltem alguns metros e vejam o que acontece.

Eles voltam então.

Capítulo 81:
Após voltarem alguns metros, todos os celulares se ligam novamente.

(Leandro) - Mas como isso é possível?
(Pedro) - Não sei, mas quando eu vim aqui de moto, a moto também desligava, e só pegava de novo se eu voltasse alguns metros com ela.
(Felipe) - Mas isso é absurdo de impossível!
(Vitor) - Tanto que a gente tá até vendo que é verdade Felipe. Os celulares desligaram da forma que Pedro tinha falado.
(Felipe) - Eu sei, eu sei.. Mas o que eu não entendo, é o porquê disso acontecer nesse pedaço da floresta.
(Rafael) - Vai ver que é pelo mesmo motivo das árvores estarem mortas.
(Pedro) - E por esse silêncio também. Parece que a gente está falando bem mais alto do que realmente estamos, por causa do silêncio total.

Todos ficam mudos, atentando para algum possível som. Nenhum mínimo som era captado por eles naquela parte da floresta.

(Vitor) - Que bizarro! Nem um barulhinho de grilo. Nada!
(Pedro) - Vamos adiante.

Todos seguem Pedro trilha acima, e em alguns minutos, a trilha se abria para a grande clareira que era base da pedreira que se projetava.

(Vitor) - Olha! Por que você não me avisou dessa pedreira? Dá pra fazer um rapel muito foda nela!
(Pedro) - Pensei em te avisar, mas quando peguei o telefone, descobri que ele não funcionava aqui. Aí acabei esquecendo.
(Leandro) - Será que tem um platô lá em cima? Se tiver, deve ser um visual muito maneiro.

Todos observavam a grande pedreira, imaginando a possibilidade do rapel, e o que haveria no topo.
Após alguns minutos, todos prosseguem seguindo Pedro.
Pedro faz uma pausa, e propôe que todos se sentem na grama seca, pois ele contaria-lhes tudo o que lhe foi passado sobre a história da escravidão naquela fazenda.
Todos se sentam, e Pedro começa a contar sobre o barão do café e a fazenda de escravos. Sobre Adamastor e a baroneza, a gravidez bastarda, torturas, quilombo, mutilação, fuga, envenenamento e desaparecimento, e o mistério que ficou no ar, visto que o velho não sabia o que havia acontecido com o barão e os escravos sobreviventes.

Capítulo 82:
Após ouvirem atentamente a história que Pedro lhes contara, todos ficam pensativos.

(Vitor) - Você quer dizer que lá na frente é onde era o suposto quilombo?
(Pedro) - Acho que sim..
(Leandro) - O corpo do barão e de seus encarregados nunca foram encontrados mesmo?
(Pedro) - Me foi passado que não. Um belo dia a fazenda amanheceu vazia, sem nem vestígios deles.
(Felipe) - Mas eles realmente fizeram um sacrifício na floresta, para usar magia negra para matar o Barão?
(Rafael) - A baroneza se matou mesmo??

Pedro, de saco cheio, interrompe a bateria de perguntas:
- Pára todo mundo!! Eu já disse tudo o que eu sei gente!! As respostas que vocês querem, eu não possuo, e segundo o velho que me contou, ninguém possui! É um grande mistério que envolve essas pessoas e essas terras. Ele me disse para não entrar nessa floresta de novo, e eu não resisti, também procuro respostas e pistas do que pode ter acontecido realmente com o barão, seus empregados e os escravos do quilombo.

Todos seguram suas perguntas, e se levantam depois de Pedro.

(Pedro) - Vou mostrar onde que eu acho que era o quilombo dos escravos.

Diz em um tom pouco tolerante.
Todos seguem.
Após a clareira, eles começam a descer por um estreito caminho em meio a vegetação, e chegam em uma outra clareira, porém, com mato alto por todos os lados.

(Pedro) - Aqui. Olhem essas bases de construções de pau-a-pique. Esses cacos de cerâmica, esses pedaços de madeira velha.
(Felipe) - Bom, aqui tem tudo pra ser as ruínas de um assentamento escravo.

De repente, Leandro começa a perceber algo ao redor do local em que eles estavam.
- Gente, shhhhhh! Faz silêncio!

Pedro, encucado, questiona:
- Que foi Leandro? Você ouviu alguma coisa??
(Leandro) - Sim, pareceu um sussurro de mulher.
(Rafael) - Se for a Amanda querendo assustar a gente, eu vou ficar muito puto com ela.
(Vitor) - Duvido que ela viria até aqui sozinha só pra assustar a gente.
(Pedro) - É mesmo, ela tava com medo só de ouvir.

Uma brisa suave começa a soprar na floresta.

Capítulo 83:
Todos ficam em silêncio, atentos para qualquer barulho ao redor.
Suaves sussurros eram trazidos pela brisa que vinha da floresta. Pedro fica paralisado enquanto captava esses suaves sons.
(Vitor) - Fala que é mentira! Vocês estão ouvindo isso também?
(Leandro) - Shhhh! Vamos sair daqui!
(Pedro) - Espera! Isso já aconteceu comigo. Quando eu vim aqui sozinho!

Todos podiam ouvir sussurros de vozes imcompreensíveis, vindo de sua volta.
O vento aumenta sua intensidade, e junto com ele, o volume das vozes ao redor.
Folhas secas passavam sobre as cabeças dos cinco rapazes.
Rafael, começa a caminhar no sentido de volta à clareira, a passos largos, dizendo:
- Se vocês quiserem ficar, fiquem, eu vou sair daqui agora!!

Leandro segue Rafael sem olhar pra trás, em meio a todas aquelas vozes, escutam uma conhecida. Era felipe:
- Rafael, não avance mais! Volte agora.

(Rafael) - Que deu em você?! Tô indo embora daqui!

Felipe aponta para a direção da trilha.
Todos se viram, e nada veêm.

(Felipe) - Tem um cara alí, Pedro...

Pedro olha para a direção em que Felipe apontava, mas nada viu. Ele olha novamente para Felipe, e vê que pela sua expressão, ele estava muito assustado.
Felipe estava vendo um homem forte, com cabelos despenteados e sujos, com trapos cobrindo o corpo, e caminhando na direção deles, lentamente, olhando para os cinco alí. Porém só Felipe conseguia enxergá-lo.

(Felipe) - Rafael! Volta que tem um cara aí!!!!

Leandro recua olhando para Felipe.
(Vitor) - Onde você tá vendo um cara, Felipe?? Não tem ninguém alí..

Felipe olha para trás, e começa a andar lentamente em direção a trilha, e diz baixo, mas para que todos ouvissem:
- Vamos devagar e em silêncio.

Pedro retrucaria alguma coisa, mas foi interrompido por um sinal de Vitor:
- Shh!

Felipe olhava para o chão enquanto passava ao lado daquele homem que ele via. E era minuciosamente observado por ele. De repente escuta ele falar com alguém adiante:
- Não é ele! Mas ele veio por aqui!!

Felipe acelera o passo.

Capítulo 84:
Passados alguns instantes, eles alcançam a sombra da grande pedreira.
Felipe andava roboticamente sem olhar para trás, e Pedro rompe o silêncio:
- Felipe, qual é? O que você viu lá atrás?

Felipe pára, e se vira para Pedro dizendo:
- Tem mais gente nessa floresta Pedro. Quando eu olhei para trás, ví umas vinte pessoas em meio as arvores. E o homem que estava no caminho, estava com eles. Estavam atrás de alguém!

(Leandro) - Você tá doido? Não tinha ninguém além de nós lá!
(Vitor) - Mas todos escutamos vozes!! E eu estou muito assustado se é isso que você quer saber!
(Rafael) - Eu também, vamos sair daqui Pelo amor de Deus!
(Felipe) - As pessoas que se escondiam nas árvores eram todas negras! Alí realmente deve ser o quilombo Pedro. E eles vivem lá até hoje!
(Pedro) - Felipe, só você que viu essas pessoas...

Todos olham com a mesma expressão para Felipe, que fica sem saber o que dizer.
Enquanto caminhavam em silêncio, Felipe respira fundo, e diz:
- Maluco eu sei que eu não estou, galera. Não sei dizer o que foi aquilo, mas vocês também presenciaram! E eu tenho certeza que ví pessoas na floresta, e aquele cara até falou com outro que estava adiante. Pensem o que quiserem..

Todos andam em silêncio por alguns metros, e adentram novamente na trilha de volta. Pedro fica pensando no que acabava de acontecer, e que já tinha acontecido com ele antes, na visita anterior à floresta. Em determinado momento, Vitor rompe o silêncio:
- A Amanda não vai acreditar, vai achar que a gente tá de sacanagem com ela.

(Felipe) - Eu não acreditaria se não tivesse visto e ouvido tudo.
(Pedro) - É só a gente não falar com ela sobre isso. Acho melhor, pois ela já estava assustada. Mas acho que podíamos falar com aquela senhora, a Dona laura, ela é médium e saberá dizer o que aconteceu com a gente.

Todos descem em silêncio, e em alguns minutos, estavam chegando na entrada da trilha.
Eram por volta das 16:30 quando eles chegaram na sede da fazenda.

(Amanda) - Nossa, vocês demoraram!! Que houve gente??

Capítulo 85:
(Pedro) - É por que é longe para ir a pé. Mas até que fomos rápido.
(Amanda) - Poxa, fiquei mais de uma hora sozinha aqui na piscina, já saiu carne, e eu aproveitei e já almocei.

Felipe está visivelmente abalado ainda, devido aos fatos que presenciou na floresta.

(Amanda) - Que cara é essa Felipe? Você tá pálido, se sente mal?

Todos olham sérios para Felipe. Que diz:
- Não, estou ótimo, só estou cansado da caminhada que fizemos.. Não se preocupe.

Pedro vê seu pai entrando na caminhonete, e vai de encontro a ele:
- Onde o senhor vai?
(Paulo) - Vou ao Rio, tenho que resolver umas coisas na empresa, mas amanhã de tarde eu estou de volta.
(Pedro) - Ok! Boa viagem!
(Paulo) - Obrigado, juízo hein!

Eles se despedem, e Paulo sai com a caminhonete.
Catarina e Dona Laura saem pela porta da cozinha, observadas por todos que estavam alí.
(Catarina) - Pedro, vou dar uma volta pela fazenda com a Dona Laura, estaremos perto do bosque, caso você precise de alguma coisa.
(Pedro) - Tudo bem.

Pedro abre uma lata de cerveja e fica observando o lento caminhar de dona Laura, acompanhada de sua mãe.
Felipe se aproxima, e diz para Pedro:
- Estou bolado! Não imaginava que eu pudesse ver e/ou ouvir essas coisas. Nunca aconteceu nada igual, nem parecido com o que aconteceu mais cedo lá na floresta.
(Pedro) - Eu sei, também nunca me aconteceu nada assim. Estou preocupado com o que possa acontecer daqui pra frente.

Pedro e felipe ficam alí por um tempo, observando o caminhar de Dona Laura e Catarina em direção ao jardim. Os demais setão distraídos na piscina.

(Dona Laura) - Mas o que você ouviu realmente naquele jardim adiante?
(Catarina) - Tambores. Já ouví mais de uma vez, quando ´fui alí com Paulo. Mas ele não ouviu nada.
(Dona Laura) - Bom, pelo que me foi passado pelos espíritos de luz, essa fazenda já foi cenário da escravidão e sofrimento de muitos homens e mulheres. O que pode ser algo muito ruim para o pós-morte. Uma vida acorrentado pode gerar um espírito selvagem e revoltado.

Capítulo 86:
(Catarina) - Como assim?
(Dona Laura) - É simples. Eles só conseguiram ser livres após a morte. Mas lembra que eu te falei que alguns espíritos não sabem que morreram..
(Catarina) - Sim.
(Dona Laura) - Então, eles estão na fazenda, achando que ainda estão vivos. Houve uma resistência de alguns deles, que fugiram das correntes, e procuraram abrigo na floresta. Outros não tiveram a mesma sorte, e morreram cruelmente.
(Catarina) - Como você sabe disso?
(Dona Laura) - Os espíritos de luz conseguem acesso aos Arquivos Etéricos de quaisquer lugares. Eles conseguem saber o que aconteceu em determinado lugar. Tudo o que acontece, deixa uma marca. E através dessas marcas, eles conseguem reconstituir os fatos. Eles são muito bons nesses acessos.

Catarina torce o nariz, achando estranho o que dona Laura acabara de falar.
(Dona Laura) - Eu sei que é meio complicado, mas um dia você vai entender isso tudo.
Nessas terras, muitos perderam suas vidas a serviço de um homem muito poderoso.
Esse homem foi traído por sua mulher com um dos escravos, e dessa traição nasceu um filho bastardo. Que foi morto pelas mãos desse homem. Sua ira dizimou muitas pessoas que o serviram. Sua mulher suicidou-se após a morte de seu filho e de seu amante escravo.
(Catarina) - Deus do céu! A senhora é muito estranha! Como podem os espíritos de luz saber tudo isso. É incrível!
(Dona Laura) - Eles andaram pela fazenda, encontraram espíritos dessa época, e é como se eles conseguissem ler a mente desses espíritos. Eles absorvem tudo deles para montar, peça por peça, a história que eu estou te contando. Eles vão assimilando e reconstruíndo os fatos a partir dessas informações absorvidas.
(Catarina) - Mas é muito estranho, mesmo assim..
(Dona Laura) - Tudo bem.. O fim da escravidão foi a data da morte dos escravos dessa fazenda. Os que não conseguiram fugir antes, foram envenenados por seu senhor. E depois os corpos foram queimados.

Dona Laura faz uma pausa, mediante uma expressão de muita tensão. e diz para si mesma:
- Deus do céu!!

Capítulo 87:
(Catarina) - Que foi, Dona Laura??
Dona Laura vê que pensou em voz alta, e disfarçando com um sorriso, diz para Catarina:
- É que foi muita crueldade do senhor desses homens.

Catarina, percebendo que dona Laura desconversava, diz:
- Acho que a senhora está escondendo alguma coisa de mim, dona Laura.
(Dona Laura) - Em parte, sim. Mas é pelo fato de ser um assunto mais delicado, e os espíritos de luz me pedem sigilo de algumas informações. Mas acredito que não seja nada com que você precise se preocupar. Eles estão sondando o que ainda habita essa fazenda.

Dona Laura acaba de falar, e novamente seu sorriso se fecha em uma expressão tensa. Ela estava se comunicando com os espíritos de luz. Catarina nada via ou ouvia. Apesar de estar cercada por eles.

(Dona Laura) - Catarina, o que eu vou lhe dizer é muito importante. Mesmo que você não entenda sobre seu dom, ou sobre espiritos e espiritismo, você precisa saber o que aconteceu nessa fazenda. Por fato de ela pertencer ao seu marido e a você.
(Catarina) - Ok! Mas me fale logo, pois fico muito curiosa com todo esse mistério!

(Dona Laura) - Tudo bem.. Como eu havia dito, houve uma resistência de alguns dos escravos, que conseguiram fugir e se esconderam na floresta. Esses escravos montaram um quilombo, uma aldeia, onde viveram algum tempo às escondidas. Faziam pequenos furtos de noite na fazenda, para comer, construir e se vestir.
Nunca foram pegos pelos empregados encarregados de confiança do senhor da fazenda. Mas sempre tentavam ajudar os que estavam acorrentados, afim de libertá-los e fugirem, visto que muitos deles tinham parentesco e amizade.
O Barão torturava-os periodicamente, sem misericórdia alguma.
Porém, quando todos foram mortos e queimados nessa fazenda, os outros escravos vieram conferir o cheiro de queimado, e viram os corpos em chamas.
Isso gerou uma imensa e perpétua raiva, um ódio mortal contra o responsável pelos assassinatos: Contra o Barão do Café.
A medida escolhida por eles, como vingança, pode ter desgraçado essas terras.

Capítulo 88:
Catarina observa atentamente Dona Laura, enquanto ela explicava, com a expressão tensa e fechada. E diz:
- Mas o que foi que essas pessoas fizeram, dona Laura?

(Dona Laura) - Eles fizeram uma coisa que achavam que teriam controle. Mas é sempre ao contrário. Nunca se consegue controlar as forças do mal por completo.

Catarina fica com uma expressão de surpresa e medo.
- Forças do mal??

(Dona Laura) - Sim, demônios.
(Catarina) - Existem? Achei que fossem meras ilustrações e personagens místicos do mal!
(Dona Laura) - Existem sim. Muitos e em muitos lugares. Mas eles só são perigosos se invocados. Eles são alimentados pelo ódio de quem os invoca. E quanto mais ele se alimenta e fica sintonizado na ira de seu invocador, mais incontrolável ele vai se tornando. E no final, ele se torna independente de seu invocador, que por sua vez, se torna escravo dessa entidade.

Catarina, visivelmente impressionada pelo que acabara de ouvir, diz para dona Laura:
- Deus do céu! Você quer dizer que existem demônios nessa fazenda?? Com rabo e chifre?!! Eles podem fazer mal a mim e a minha família??

(Dona Laura) - Não sei te dizer se existe algum ainda. Mas é muito provável que sim.
Os escravos fizeram um sacrifício humano, em algum lugar alto nessa floresta, pedindo auxílio a um demônio antigo, oferecendo suas almas e vidas a troco de vingança àquele que torturou e matou seus entes queridos e amigos. Estavam sem esperança. A liberdade prometida havia se dissipado, e todos morreram antes de conseguirem sair dessa fazenda.
O pedido deles foi atendido. Uma noite, um demônio capturou o senhor e seus empregados, e os levou até a floresta, na aldeia em que viviam os escravos.
O barão e mais oito empregados de confiança, foram amarrados em árvores, e não lhes era concedido alimento ou água. Qualquer reclamação vinda deles, era respondida com mutilações. Cortaram-lhes as mãos, e os órgão genitais. Uns morreram de fome, outros de dor e infecção. Mas o Barão foi o que mais sofreu. Foi o último a morrer, e da pior forma.

Capítulo 89:
(Catarina) - Mas o que houve com o Barão, meu Deus!??
(dona Laura) - Além de ser torturado da mesma forma que seus empregados, o Barão foi mutilado aos poucos: Cortara-lhe um dos braços, passados dois dias, cortaram-lhe o outro braço, e o deixaram sentir dor até ficar sem forças. Quando estava quase que sem equilíbrio, soltaram ele da árvore, e o colocaram nu, sobre um enorme formigueiro de formigas-de-fogo, que aos poucos foram comendo a carne de seu corpo. Até que morresse, ele sofreu muito. Era um homem forte, resistiu bastante, o que fez com que sofresse mais.
(Catarina) - Meu Deus!! Mas o que veio depois disso tudo?
(Dona Laura) - Veio a segunda escravidão: O demônio que vingou a dor dos escravos, agora era o senhor daquelas almas. Uma eternidade de sofrimento e angústia nessa floresta. Os escravos eram agora marionetes, faziam tudo o que lhes era ordenado. Em algum lugar dessa floresta, devem estar os corpos. Provavelmente em algum altar construído para a adoração e sacríficios em prol dessa entidade do mal.

Catarina se senta no banco do jardim, pasma com tudo o que estava ouvindo de dona Laura. Quando de repente, ela começa a escutar um som vindo da floresta: Tambores. Num ritmo linear e contínuo.
(CAtarina) - Dona Laura, você pode ouvir esse som também?
(Dona Laura) - Perfeitamente. Vem da floresta.
(Catarina) - Eu já tinha ouvido antes. Você sabe o que é ou significa.

Dona Laura fecha os olhos, em contato com os espíritos de luz, e lentamente começa a mudar sua feição. Agora ela era tensa e franzida.
(Dona Laura) - É um ritual africano de magia negra. É como se fosse uma celebração ao demônio, em gratidão alucinada pelo feito alcançado com sua ajuda. Faz parte da escravidão das almas dos homens que o invocaram. todos os dias, esse ritual se repete. Provavelmente, a floresta é morta onde ele ocorre. Nenhuma forma de vida reside o local desses rituais.
(Catarina) - É isso mesmo! Lá em cima tem uma parte da floresta que é toda morta. Não sabia o motivo disso na natureza.
(Dona Laura) - O mal!

Capítulo 90.
Dona Laura se senta ao lado de Catarina, e fica em silêncio por uns instantes, e começa a falar:

- Minha filha, sei que isso tudo está te perturbando. Mas nesse momento, os espíritos de luz estão rastreando a floresta. Qualquer demônio encontrado será esconjurado dessas terras. Não se preocupe.

(Catarina) - Eu sei. É que não imaginava que tamanho sofrimento e maldade pudesse existir. Ainda mais nessa linda fazenda..
(Dona Laura) - Vamos voltar, você precisa relaxar um pouco. Dalva nos fará um chá e tudo vai ficar bem.

As duas se levantam, e caminham rumo a sede da fazenda ao por do sol.

Pedro e Vitor estavam tomando as últimas cervejas do freezer, o tempo estava virando, e todos já haviam saído da piscina há algum tempo, pois parecia que uma forte chuva estava por vir.
Amanda estava sentada lendo o jornal, e diz:
- A previsão é chuva mesmo.
(Felipe) - Tá, mas pelo visto o veredicto vai ser um dilúvio.

Diz apontando para uma nuvem negra que tomava os céus, atrás da floresta.
(Leandro) - Vai ser um toró mesmo.

Pouco tempo depois, todos já haviam tomado banho e estavam na sala assistindo TV.
Dona Laura e Catarina estavam na cozinha com Dalva, contando-lhe o que foi captado na floresta pelos espíritos de luz. Dalva ouvia atentamente cada palavra de sua tia.

(Catarina) - Me dêem licença, vou tomar um banho e já volto.

Catarina se direciona para o banheiro, quando seu pensamento lhe prega uma peça:
" O que será que tem naquele quarto que estava trancado? "

Ela muda de direção, e caminha rumo ao quarto do final do corredor.
Ao abrir a porta e acender a luz, um vento passa por ela, apesar da janela estar fechada.
Ela abre então a porta do armário, que estava limpo. Nada havia a ser visto alí, até que ela força a gaveta e vê que esta se encontra trancada.
Ela se abaixa e olha pela fenda da gaveta, e vê um pedaço de papel dobrado dentro da gaveta, e coisas que não se podia identificar pelo buraco em que olhava.
Ela sente uma presença atrás dela, se vira e vê Pedro parado na porta.

Capítulo 91:
(Pedro) - O que você faz aí abaixada olhado o armário?
(Catarina) - MEu filho, que susto você me deu! Estou olhando o que tem nele. Mas essa gaveta está trancada e não tem chave.
(Pedro) - Esse armário está cheio de cupins, se puxar forte ela deve ceder e abrir.
(Catarina) - Dona Laura me contou muitas coisas sobre o passado dessa fazenda. Coisas ruins, meu filho.
(Pedro) - Como ela pode te contar algo que não sabe? ela já esteve aqui antes?

Catarina se senta na cama e começa a contar tudo ao seu filho, desde o início das visões, até os diálogos sobre espiritismo que tivera com dona Laura.
- Ela é uma médium muito poderosa Pedro. E está sempre acompanhada de quatro espíritos de luz.
(Pedro) - Quer dizer que o barão que morava aqui virou comida de formiga?
(Catarina) - Sim.
(PEdro) - E a senhora é médium também?
(Catarina) - Sim.
(Pedro) - E um demônio habita a floresta?
(Catarina) - Sim.
(PEdro) - Acho que eu bebí demais, mãe. Isso é muita coisa para a minha cabeça..

Pedro já ia saindo do quarto, quando sua mãe lhe fala:

- Você poderia, pelo menos, abrir a gaveta pra mim antes?

Pedro volta, e se abaixa em frente o armário, levando a mão na gaveta.
Começa a forçar, mas a gaveta não cedia nem um pouco.
(Pedro) - Tá duro!
(Catarina) - É, parece que não abre mesmo.
(Pedro) - Abre sim, espere um pouco.

Pedro sai, e em poucos minutos volta com um pé-de-cabra.
(PEdro) - Agora abre!

Sem muita dificuldade, com o auxílio da ferramenta, Pedro arromba a gaveta.

Catarina chega perto para observar o interior da mesma.
(Pedro) - Nossa, que zona! Isso aqui já deve ter tido muita barata.

Em meio a trapos e caixas, Catrina visualiza o papel que tinha visto pela fenda, e o pega.

(Pedro) - O que é isso?
(Catarina) - Não sei, mas vou descobrir agora.

Ela desdobra o papel amarelado, e vê que se trata de um manuscrito em letras bem trabalhadas, com o título " A quem possa interessar."

Catarina se senta na cama de novo, e começa a ler. Pedro se senta ao lado e observa atentamente.

Capítulo 92:
Um trovão barulhento tira a atenção de Catarina por alguns segundos, mas ela retorna a leitura.

" A quem possa interessar..

Essas terras estão amaldiçoadas por aqueles malditos negros, e eles estão por toda parte. Me sinto seguido dentro da minha própria casa, e isso é muito perturbador.
Se fosse só pelas vozes no corredor eu não ligaria, mas ontem um de meus empregados foi arrastado por alguma coisa até o lago, e afundou no meio dele.
Os clarões na floresta estão aumentando, creio que alguns dos malditos ainda estão vivos por lá. Faremos uma busca contínua, até eu conseguir acabar com o último daqueles miseráveis.
Os pés de café morreram misteriosamente, provavelmente foi alguma coisa que aqueles negros botaram na terra.
As portas dessa casa se fecham se vento algum, e a porteira bate forte de madrugada. Marcos está com medo e pediu demissão hoje pela manhã.
Já fazem 40 dias que eu dizimei aquela corja, e ainda sinto o mal cheiro da senzala nesses corredores. Temo que algo sério aconteça, mas nunca desistirei dessa fazenda, que é fruto do trabalho empenhado de meu pai e meu avô"


A frase acabava com um risco de caneta trêmulo até o fim da folha.

Catarina fica pensativa e se encaminha para a cozinha. Pedro a segue.

Capítulo 93:
Dona Laura estava sentada na cozinha conversando com Dalva, quando Catarina chega, seguida de Pedro.
(Catarina) - Dona Laura, olha só o que eu encontrei naquele quarto que estava trancado.

Entrega-lhe o papel, e dona Laura lê atentamente.
Após ler, ela respira fundo e fecha os olhos, em contato com os espíritos de luz.
(Dona Laura) - Ele estava com muito medo. Temia por sua vida e sanidade mental. Foi capturado pelo demônio no momento em que escrevia esse desabafo. Onde exatamente você achou essa carta?
(Catarina) - Numa gaveta de um velho armário que está no quarto no final do corredor.
(Dona Laura) - Vamos até lá para eu ver.

Todos se encaminham para o final do corredor, o que chama a atenção das pessoas na sala de TV.

(Vitor) - Que houve Pedro?
(Pedro) - Nada não, tá tranquilo.
Dona Laura adentra o quarto e abre o armário.
Ela abre a gaveta, e revira as coisas bagunçadas, até que encontra uma chave grossa de cobre. Enfia a chave na gaveta e gira, com ela aberta, a chave era a própria chave da gaveta.
(Dona Laura) - Como você pode ver, mas uma peça pregada pelo demônio. Ele não queria que alguém tivesse contato com esse manuscrito. e trancou a gaveta com a chave dentro.
(Catarina) - Mas como isso é possível?
(Dona Laura) - Querida, um demônio pode fazer muitas coisas que julgamos impossíveis.

Dona Laura dá um passo para trás e se vira, olhando o chão de tacos de madeira.
(Pedro) - Que foi dona Laura? Deixou algo cair no chão?
(Dona Laura) - Não, me foi passado pelos espíritos de luz um detalhe que não consigo encontrar. Você poderia me ajudar a arrastar a cama?
(PEdro) - Claro!

Pedro empurra a cama para o canto do quarto, e para a surpresa de todos no quarto, havia um alçapão que se confundia com os detalhes dos tacos.

(Dona Laura) - O porão secreto do Barão do café.
(Catarina) - Meu Deus, como não reparamos nisso quando limpamos o quarto?

Pedro se abaixa, e com o pé-de-cabra consegue, aos poucos, levantar a tampa, que estava emperrada.

A luz do quarto revelou uma escada.

Capítulo 94:
Um forte cheiro tomou conta do quarto em pouco tempo. Um cheiro de mofo, porém muito forte e fedido.
Pedro observa a entrada no chão, mas consegue enxergar muito pouco.
(Pedro) - Preciso de uma lanterna, não dá pra ver nada aqui.

Imediatamente, Dalva providencia uma lanterna que estava no armário da cozinha, e traz pra Pedro.

Pedro acende a lanterna, e aponta para entrada.
(Pedro) - Nossa, isso aqui é grande!

Pedro começa a descer as escadas, e em pouco tempo estava no chão, dentro do porão.
(Catarina) - Cuidado meu filho!
(Pedro) - Relaxa mãe.

Pedro ilumina o ambiente, e vê que se parecia mais com um depósito desativado. Prateleiras de madeira estavam enfileiradas nas paredes de dois lados.
Papeis e caixas vazias estavam em algumas delas. As paredes eram úmidas, e o cheiro causava náuseas em Pedro. Aos poucos ele vai avançando, até que chega a um ponto em que um corredor virava a direita. Ele vira no corredor.

(Dona Laura) - Estranho, a luz da lanterna sumiu de vista. Vou descer por precaução.
(Catarina) - Cuidado dona Laura. Cuidado para não cair.
(Dona Laura) - Não se preocupe.

Dona Laura, apesar de idosa, tinha um vigor invejável.

Dona Laura desce, e atinge o solo.
(Dona Laura) - Pedro?? Onde está você??

Ouviu-se a voz de Pedro ao longe:
- Aquii!!!

Dona Laura segue a direção da voz, e em poucos metros consegue ver os reflexos da luz da lanterna no corredor.
Ela segue o estreito corredor até o final, e encontra Pedro.
Pedro estava de costas para ela quando ela chegou, olhando fixamente para o chão no fim do corredor.

Dona Laura se aproxima e toca o ombro de Pedro, dizendo:
- Que foi?

Ao chegar ela olha e consegue ver o que vidrava Pedro: Um esqueleto estava deitado no canto, ao lado de um grande baú velho. Um buraco era notado no centro do crânio.

(Pedro) - Adamastor...
Disse pasmo..
(Dona Laura) - O que você disse?
(Pedro) - Esse é o corpo de Adamastor..
(Dona Laura) - Quem é Adamastor?
(Pedro) - Era um escravo. Teve um caso com a esposa do barão.

Capítulo 95:
(Dona Laura) - Mas como você sabe disso tudo, meu filho?
(Pedro) - Eu soube da história através de um senhor que eu conheci num bar perto daqui. Ele me contou sobre os escravos. Uma história muito triste e misteriosa.
(Dona Laura) - eu sei do que você está falando.

Dona Laura observa o esqueleto, e diz:
- Ele foi assassinado nesse local. Um tiro de espingarda dado com muito ódio. Além de ter sido torturado e mutilado pelo barão do café.
)Pedro) - O que vamos fazer com essa ossada:
(Dona Laura) - Ainda não sei, o certo é chamarmos as autoridades. Vamos voltar e contar para os outros.

Os dois retornam para o quarto, e Pedro não consegue disfarçar sua face de assustado com o que vira.
Nesse momento, todos da casa estavam dentro do quarto. Os amigos de Pedro foram atraídos pelo mal cheiro que tomou conta da casa.

(Vitor) - Que foi cara? Que cara é essa?
(Pedro) - É tudo verdade! A história dos escravos e do Barão!
(Felipe) - Como assim? O que tem nesse porão?
(Pedro) - Acabei de encontrar o corpo de adamastor. Lá embaixo, com um buraco de tiro no crânio..
(Catarina) - Meu Deus!!!
(Amanda) - Como assim? Que história é essa???
(Pedro) - Não te contei, pois você ficaria assustada. Quando fomos na floresta, muito aconteceu, ouvimos vozes e gritos. Desculpe não ter contado. Mas agora eu sei que é tudo verdade.

Um forte trovão dá um susto em Pedro. Um temporal de grande intensidade estava desabando do lado de fora.

(Catarina) - O que faremos? Paulo não sabe de nada, e está no Rio.. Vou ligar pra ele e avisar.

Catarina sai do quarto, e se direciona ao telefone.
Depois de meia hora de ligação, ela volta. Todos estavam na sala, e o porão tinha sido fechado devido ao mal cheiro. Assim como a porta do quarto.

Sentados no sofá, estavam Dona Laura, Dalva, Amanda, Pedro, Vitor, Felipe, Leandro e Rafael.

Catarina chega e diz:
- Paulo disse que quando chegar, daremos um jeito com o corpo, ele vai falar com a polícia.

(Dona Laura) - Os espíritos de luz estão na floresta agora.

Capítulo 96:
Um clima pesado habitava a sala naquele momento. Eram por volta das 21h, quando Amanda, visivelmente abalada com os fatos que lhe foram revelados, diz para Vitor:
- Amor, vamos dormir?

Vitor concorda, e os dois se despedem de todos, e vão para o quarto.

Aos poucos, todos foram para seus respectivos quartos. Restando na sala, somente Dona Laura, Catarina e Dalva.

(Dalva) - Você quer que eu lhe prepare algo, dona Catarina?
(Catarina) - Não, obrigado dalva.
(Dalva) - Então, se me dá licença, vou dormir, estou muito cansada.
(Catarina) - Claro! Boa noite!

Dalva se despede e vai para seu quarto.

Dona Laura e Catarina ficam conversando sobre os fatos até as 23h. Depois dona Laura e Catarina sobem. Catarina mostra o quarto de Dona Laura, se despede, e vai dormir.

O domingo amanhece ainda com chuva, e a tempestade quebrou alguns galhos de árvore nos arredores.
Pedro se levanta e desce. Ao passar pela escada, ele olha de relance para a porta do quarto, e se lembra da visão do corpo de Adamastor, e sente um calafrio. E se encaminha para a cozinha.
Catarina estava sentada na cadeira, com uma grande xícara de café. Sua feição era a de quem não havia dormido nada naquela noite.

(Pedro) - Bom dia mãe, Dalva e dona Laura! Nossa, que cara é essa mãe?
(Catarina) - Bom dia, meu filho.. Não consegui dormir direito essa noite. Tive pesadelos muito reais.
(Pedro) - Eu também tive alguns..
(Dona Laura) - Na verdade, todos tiveram. Quando os outros acordarem, também falarão de seus pesadelos.
(Pedro) - Como assim?

Dona Laura pensa um pouco antes de começar a falar:
- Os espíritos de luz descobriram algo muito sério ontem na floresta. Ao acharmos o corpo de Adamastor, os espíritos dos escravos fizeram uma nova invocação. E um demônio está nessas terras. Os espíritos de luz não conseguiram esconjurá-lo, pois ele fugiu. Os pesadelos são uma manifestação do mal no nosso subconsciente. O barão enlouqueceu antes de ser capturado, por causas dessas manifestações, que no caso dele, não foram só pesadelos.

Capítulo 97:
(Pedro) - Mas eu não consigo lembrar direito de todos os pesadelos.
(Dona LAura) - Isso é muito normal. Talvez você se lembre mais tarde, se você se concentrar.

Vitor e Amanda chegam na cozinha em poucos minutos, e Amanda está visivelmente impressionada.
(Vitor) - Bom dia!
(Amanda) - Bom dia!
(Todos) - Bom dia!
(Catarina) - Vocês dormiram bem?
(Vitor) - Mais ou menos, tive alguns pesadelos..
(Amanda) - Eu também tive..
(PEdro) - Mas isso é incrível dona Laura!!
(Dona LAura) - Todos nós tivemos pesadelos esta noite.

Dona Laura não se aprofunda muito no assunto, pois nota que Amanda está tensa.
(Dona Laura) - Sentem-se, vamos tomar o café da manhã.

Todos se sentam e tomam o desjejum. Rafael, Felipe e Leandro chegam pouco depois na cozinha.

(Pedro) - Vocês tiveram uma boa noite de sono?
(Rafael) - Que nada, o Leandro acordou gritando no meio da noite e acordou eu e o Felipe. E depois tive um pesadelo e não consegui dormir direito.
(Felipe) - Eu também, sonhei que estava correndo de alguém lá floresta.
(Leandro) - Eu também sonhei com a floresta, sonhei que estava sendo seguido e estava perdido, sozinho.

Pedro fica impressionado com a coinscidência de todos terem tido pesadelos na noite que se passou..

Após o almoço, o sol abre e fica a tarde inteira ensolarada.
Vitor e os outros começam a arrumar as coisas para voltarem para o Rio, e em determinado momento, Vitor se dirige para Pedro e diz:
- Poxa cara, fico preocupado com a segurança de vocês nessa fazenda, estou impressionado com as coisas que aconteceram nesse final de semana.
(Pedro) - O pior é que eu vou voltar para Austrália em poucos dias, tenho medo de deixar meus pais sozinhos nessas terras amaldiçoadas. Dona Laura disse que não há com o que se preocupar, pois os espíritos de luz estão tentando esconjurar um demônio que existe na floresta.
(Vitor) - Demônio??
(PEdro) - É. Foi por causa dele que todos tivemos pesadelos essa noite..
(Vitor) - Meu Deus, achei que fosse menos sério do que realmente é!
(PEdro) - Eu também.

Capítulo 98:
Amanda se aproxima dos dois, e esses desconversam o assunto sobre o demônio que está na floresta, e Amanda nem percebe.
(Amanda) - E vocês cochicham hein!?

Amanda, naquele momento estava mais tranquila. O sol deu um clima mais ameno na fazenda naquela tarde. E por algum tempo, esquecera da tensão da noite anterior. Mas ainda digeria toda a informação que havia sido passada para ela por dona Laura e os meninos.

Eles arrumaram as malas e as colocaram no carro de Vitor, e por volta das 18h, se despedem de todos.
Vitor, antes de entrar no carro, dá um forte abraço em Pedro, e diz:
- Se cuida cara. A gente se vê quando você voltar, mande notícias por e-mail de lá. Se precisar de alguma coisa, é só falar que eu resolvo aqui por você.
(Pedro) - Obrigado velho. Vou sentir falta de vocês de novo, obrigado por terem vindo, e desculpe essas coisas esquisitas que aconteceram nesse final de semana.
(Vitor) - A fazenda é muito bonita! Vai dar tudo certo, e a gente ainda vai fazer muitas festas e churrascos aqui!
(Pedro) - Deus te ouça!

Eles se despedem, e Vitor sai com o carro. Pedro fica observando de longe, até que eles saem da porteira.

(Catarina) - Você sente muita falta deles na Austrália, né?
(Pedro) - Demais. Fico muito sozinho lá. Tenho colegas, claro, mas não é a mesma coisa.. Esses são meus verdadeiros amigos.

Uma lágrima no pode ser contida por Pedro. Catarina abraça e dá um beijo na testa de seu filho.

Os dois entram na casa, e ficam na sala, na presença de Dona Laura. Que lhes fala:
- Seus amigos já se foram?
(Pedro) - Sim, acabaram de ir. Vitor não quer pegar a estrada a noite, é perigoso.
(Dona Laura) - E faz muito bem.
(Catarina) - Dona Laura, estou meio apreensiva quanto a esse demônio na floresta..
(Dona Laura) - Tente se acalmar, nesse momento, os espíritos de luz estão lá, na busca contínua para esconjurá-lo.
(Catarina) - Deus te ouça!
(Dona Laura) - Ele me ouve sim!

Por volta das 19:30h, Paulo chega na fazenda, e pára a caminhonete.

Capítulo 99:
Paulo entra na cozinha, com uma bolsa de viagem, e visivelmente cansado do final de semana de trabalho no Rio de Janeiro. Mas abre um sorriso e se senta ao lado de Catarina. Depois de um beijo, ele respira fundo, e diz:
- O que realmente aconteceu esse final de semana, aqui na fazenda? Você me ligou desesperada, fiquei preocupado até o momento em que cheguei e ví que você está bem.
(Catarina) - Achamos um corpo. Dentro de um porão secreto, naquele quarto que estava trancado.
(Paulo) - Isso você já tinha me dito por telefone. Quero saber a história toda, como vocês acharam esse porão.
(Dona Laura) - É muito complexo, senhor. Primeiro, tenho de lhe perguntar o inevitável: Você acredita em espíritos?
(Paulo) - Bom, apesar de nunca ter visto ou ouvido nada pessoalmente, tenho amigos que juram que já viram fantasmas e essas coisas. Mas não duvido não.
(Dona Laura) - Bom, "essas coisas", sim, existem. E em toda parte. São pessoas desencarnadas, que ainda não puderam voltar a encarnar em um corpo físico. Eles vagam pela existência. A grande maioria das pessoas não conseguem vê-los ou ouví-los. Somente os mais sensíveis nesse plano espiritual. Nos chamam de médium.
(Paulo) - Mas isso é confuso. Vocês ainda não responderam o que está acontecendo nessa fazenda.
(Catarina) - Paulo, lembra quando a gente estava no jardim e eu disse que ouvia tambores? Lembra que eu disse que ví um homem na porteira aquela noite? Lembra que eu achava que estava perdendo a minha sanidade mental? Lembra desses acontecimentos em que eu me via sem saber o que dizer porque também não sabia o que havia acontecido?
(Paulo) - Sim, me lembro. Por que?
(Dona Laura) - Sua esposa é médium também. Ela pode ter contato com espíritos desencarnados.

Paulo faz uma expressão de surpresa e desconfiança. E diz:
- Você quer me dizer que aqui na fazenda tem espíritos e fantasmas?
(Dona Laura) - Não uso a expressão fantasma. Mas sim, aqui tem muitos espíritos desencarnados. Muitos escravos que foram assassinados nessas terras. Há muito tempo atrás.

Capítulo 100:
Paulo faz uma cara meio incrédula.
(Dona Laura) - Deixe me contar desde o começo de onde eu sei.

Dona Laura então, conta sobre sua chegada na fazenda, quando Adamastor enforcava Catarina e ela o impediu. Conta sobre os espíritos de luz e sobre a história do Barão do café e seus escravos, e sobre o ritual de invocação de um demônio para a vingança dos escravos que estavam foragidos no quilombo na floresta.

Cerca de uma hora depois, Paulo já havia recebido todas as informações que eles tinham sobre esse caso, e conclui bestificado:
- Meu Deus! Um demônio na floresta! Será que eu posso vê-lo se ele passar por perto?

(Dona Laura) - Dificilmente você verá um demônio, e contará pra alguém que o viu.
(Paulo) - Como assim?
(Dona Laura) - Eles se camuflam, são os mestres da enganação e dos disfarces. E caso você reconheça um, o mais provavel é que ele te mate antes de você sair de perto. Existem certas maneiras de se lidar com um demônio desse tipo. São criaturas muito poderosas e cruéis. São entidades que chegaram no ápice da maldade. Os espíritos evoluem, os demônios estão em constante declínio nessa evolução.

Capítulo 100: (Continuação)
Paulo fica pensativo, mesmo que ainda um pouco descrente nas informações que acabara de receber.
A conversa se prolonga em detalhes. Dona Laura passa algumas informações sobre o espiritismo para Paulo.

Pedro, passa pela cozinha, e diz para seu pai:
- Pai, o senhor vai usar a caminhonete?
(Paulo) - Não, por que? Você vai sair?
(Pedro) - Sim, vou comprar cigarros e ficar um pouco na cidade.

Paulo entrega as chaves da caminhonete para Pedro. Ele se despede e sai.

Pedro estava muito pensativo sobre o que aquela fazenda abrigava. Pedro nunca havia encontrado um corpo em sua vida. Foi algo marcante, ele estava ainda digerindo todas as informações que havia absorvido desde que chegara da Austrália.

Pedro pára a caminhonete no posto, e se encaminha para o bar. Somente a garçonete estava presente, não havia nenhum cliente naquele momento.

(Garçonete) - Pois não senhor, boa tarde!
(Pedro) - Boa noite, você quer dizer né, já se passa das 18h. rsrsrsrs. Por favor, me vê um maço de Marlboro e uma cerveja bem gelada?
(Garçonete) - É pra já.

Ela sai, e em pouco tempo volta com o que Pedro havia pedido.
Pedro acende um cigarro, e enche seu copo de cerveja.

(Garçonete) - Qualquer coisa, me chame, estou varrendo o depósito.
(Pedro) - Claro! Obrigado!

Capítulo 101:
Pedro desprende seus cabelos rastafari, que caem sobre o seu rosto.
A cena era bucólica: Pedro estava sentado num banco do balcão de um bar, onde só ele estava presente, com os cabelos sobre a face voltada para o balcão, com um cigarro no cinzeiro e um copo com cerveja, pensativo.
Um sorriso se esboçou em seu rosto, ao lembrar do final de semana que esteve com seus amigos. O sorriso foi logo se desfazendo ao lembrar que todos se assustaram com os fatos da fazenda, e tiveram pesadelos na última noite, devido ao mal que habita aquelas terras.

Pedro joga os cabelos para trás, e dá um longo gole em seu copo de cerveja, em seguida o completa novamente com mais cerveja.
Algum tempo depois, a garçonete volta para a frente do bar, e acende as luzes e liga um velho rádio que se encontrava sobre um geladeira.

(Garçonete) - Nossa. como está escurecendo rápido nesses últimos dias. Você ficou aí no escuro sozinho. Se me chamasse, eu acenderia a luz e ligaria o rádio ou a TV. Você deve estar entediado, não é?

Pedro respira lentamente antes de começar a falar:
- Na verdade não, precisava mesmo ficar um pouco sozinho para refletir sobre alguns assuntos. Foi até bom a luz não estar acesa. Não se preocupe.

A garçonete sorrí, liga a TV, dizendo:
- Vou ver um pouco de TV, estou aqui se precisar de algo.
(Pedro) - Obrigado novamente! Gostaria de mais uma cerveja, por favor.

A garçonete, prontamente atende o pedido.
(Garçonete) - Domingo assim é até bom tomar umas cervejinhas né..

Pedro esboça um sorriso amarelo, pois sabia que a garçonete só estava querendo ser simpática, e que também, estava alí faziam horas, e nenhum cliente apareceu para fazer companhia durante seu trabalho. Apesar de não estar querendo prolongar a conversa, Pedro diz:
- Pois é, nada pra fazer mesmo..

A garçonete abre a cerveja, e volta para o banco donde assistia a TV.
Pedro fica pensando em como vai ser lá na fazenda sem ele por perto. Faltavam poucos dias para ele retornar para a Austrália, e estava preocupado com seus pais.

Capítulo 102:
Pedro se recorda da tarde em que estavam na parte morta da floresta, onde ouviram coisas estranhas, e Felipe Jurou ter visto pessoas lá, mesmo que ninguém estivesse vendo. Muitas das coisas em que Pedro acreditava antes desses fatos, entraram em total contradição. Em meio a emoção de rever seus amigos, Pedro não conseguia assimlar direito, tanta informação nova.
Aos poucos ele se conscientiza que a verdade é aterrorizadora. Tudo poderia acontecer partindo do princípio que o perigo é invisível e real.
Dona Laura era a única que sabia realmente lidar com esse assunto, com esses espíritos.
Pedro se perde em pensamentos, e de cabeça baixa, concentrado, nem percebe que começam a chegar fregueses, até que sente um leve toque no ombro esquerdo.
- Dormiu aí, meu filho??

Era o velho com quem Pedro já havia conversado naquele mesmo lugar.
Pedro, surpreso, joga o cabelo para trás, e sorrí para o senhor, dizendo:
- Desculpe, não ví o senhor chegando. Não estava dormindo não, estava pensando..
(Velho) - Posso me sentar ao seu lado?
(Pedro) - Claro, posso lhe pagar uma bebida?
(Velho) - Não, hoje é por minha conta.

Pedro sorrí, e pergunta para o velho:
- Qual o nome do senhor? Conversamos algumas vezes, mas ainda não sei o seu nome..
(José) - Me chamo José, mas todos me chamam de Zé.
(Pedro) - Prazer, sou o Pedro.

José sorrí, e pede uma cachaça para a garçonete. A mesma, prontamente serve a bebida.

(José) - Mas o que houve, você me parece abatido.
(Pedro) - Pois é, meus amigos vieram pra cá, e foram embora hoje de tarde.
(José) - E você ficou triste por isso?
(Pedro) - Não. Na verdade, gostei muito deles terem vindo me visitar. O que me deixou assim, foi aquela história que o senhor me contou..
(José) - Me desculpe, não era a minha intenção deixa-lo assim.
(Pedro) - Não é isso. É que a história é toda verdade mesmo!!

José dá um gole em sua bebida, e pergunta:
- Como você afirma isso?
(Pedro) - Achei o corpo de Adamastor em um porão secreto na sede da fazenda. Com um furo no crânio..

Capítulo 103:
(José) - Você encontrou mesmo?!
(Pedro) - Sim. E coisas estranhas tem acontecido na fazenda.
(José) - Você acredita em Deus, Pedro?
(Pedro) - Sim.
(José) - Você sabe rezar?
(Pedro) - Sim, algumas orações.
(José) - Então reze, meu filho, reze. Deus não abandona a gente nessas horas difíceis.

Pedro fica meio reflexivo com o comentário de José. Mesmo acreditando em Deus, Pedro estava com sua fé um pouco abalada, devido as informações recentes que recebera de Dona Laura, e das experiencias quais tinha passado.

(José) - Tudo é possível quando se crê em Deus.

Pedro desconversa:
- Eu sei, eu sei. Vou rezar..

O velho sorrí, e dá um gole em sua bebida.
Pedro acende um cigarro, e o velho pergunta:
- Que coisas estranhas têm acontecido na fazenda?

Pedro, soltando a fumaça do cigarro, diz:
- Minha mãe viu espíritos por lá algumas vezes. Ouviu som de tambores.. Eu e meus amigos ouvimos vozes na floresta, e um deles disse ter visto pessoas por lá.

(José) - Você entrou na floresta de novo?!! Te disse que era muito perigoso!! Mantenha distância da floresta, você me ouviu!?
Pedro, repara a expressão de José mudar quando ele toca no assunto da floresta, tanto quanto seu tom de voz. E pergunta:
- Por que o senhor tem tanto medo daquela floresta? Você já esteve lá?
(José) - Sim, e não me atrevo a voltar lá nunca mais!!
(Pedro) - Como foi isso?
(José) - Foi há alguns anos. A prefeitura da cidade, de tempo em tempo, mandava uma equipe para manutenção básica da propriedade. a gente ia lá cortar grama, limpar, varrer.. Não deixar que o tempo degradasse a propriedade.
Certa vez, estávamos cortando o mato que cresceu na estrada que leva para a floresta, quando um dos rapazes sumiu misteriosamente. Achamos que ele queria nos pregar uma peça. Até ouvirmos um grito desesperado vindo do meio da floresta.

O velho faz uma pausa, e bebe mais um pouco. Pedro também toma um gole de cerveja.

(José) - Fomos atrás daquele som terrível, e partimos floresta adentro. Ficamos horas procurando. Até que eu ví..

Capítulo 104:
(José) - Uma poça com sangue, e um grande pedaço do couro cabeludo do rapaz. Fizeram buscas, mas nunca acharam o corpo daquele funcionário. Nós ficamos muito assustados, pois ouvimos sons estranhos na floresta enquanto procurávamos ele. Vozes, sussurros estranhos.

Pedro fica dividido entre ouvir o que lhe era passado por José, e em lembrar das experiencias que ele tivera na floresta. Isso aumentava a tensão que Pedro se encontrava.

(Pedro) - Mas vai dar tudo certo.. Tem uma senhora espírita lá que está cuidando para que tudo fique bem na fazenda.
(José) - Mas não deixe de rezar e pedir proteção divina.
Pedro meio pensativo ainda, diz:
- Claro, sempre!

Apesar de não ser religioso..
Porém, muita coisa que até então era pura ficção e fantasia, se mostrou real, presente e perigoso.
Pedro estava se vendo em um momento singular de sua vida: A necessidade de cuidar dos pais, e o compromisso com o seu futuro.

(José) - Não vou me demorar hoje aqui.. Falei com minha senhora que chegaria cedo. Vim só tomar uma mesmo. Mas foi bom encontrar com você. Reze.. Tudo vai ficar bem!

Pedro se despede de José, e volta para o banco onde estava. E descobre que José havia pagado as cervejas e o cigarro de Pedro. Ainda havia deixado mais uma cerveja paga para ele.
Pedro sorrí discretamente.

A garçonete serve a cerveja adicional, e volta para o entretenimento da TV naquele momento.

Capítulo 105:
Dona Laura fecha os olhos de repente, enquanto estava na sala de TV com Catarina e Paulo.
Catarina a observa em silêncio.
Sua feição muda continuamente, como se estivesse manifestando pela face, a sequência de pensamentos que lhe passava pela cabeça naquela situação.
Paulo fica apreensivo, e pergunta para Catarina:
- ... Ela está passando bem!?

(Catarina) - Shhh!! ... Não sei!..

Passado quase dois minutos, dona Laura fica imóvel. E aos poucos, recobra a consciência, olhando ao redor.

(Catarina) - A senhora está bem??
(Dona Laura) - Sim.. Só um pouco indisposta. Mas passa rápido..
(Paulo) - Pareceu-me que a senhora estava tendo uma convulsão..
)Dona Laura) - Não se preocupe.. Estou bem.. Tive uma visão, através dos espíritos de luz..
(Catarina) - O que a senhora viu??
(Dona Laura) - O demônio saiu dessas terras.. Foi esconjurado! Eles obtiveram sucesso em seus objetivos.
(Paulo) - Graças à Deus!!!
(Dona Laura) - Disse que não precisava se preocupar, Catarina.. Eles sabem o que fazem.
(Catarina) - Mas é definitivo?

Dona Laura faz uma discreta pausa antes de responder..
- Provavelmente, minha filha.. Eles não conseguiram identificar a entidade.. Foi um ato de emergência.. Mas dificilmente eles voltam quando são esconjurados.. Fique tranquila..

Catarina sorrí, de mãos dadas com seu marido.

Dona Laura, depois de passado algum tempo de conversa, diz:
- Está ficando tarde, vou voltar para a fazenda de minha irmã. Obrigado pela hospitalidade de vocês!

Catarina e Paulo agradecem dona laura pelo conhecimento passado e o mal eliminado.
(Dona Laura) - Vocês não precisam me agradecer. Isso é o que eu faço.. Sou uma serva de Deus, essa é a minha função nessa vida.

O sorriso de Dona laura não deixa dúvida nenhuma de que ela é uima pessoa de paz. Demonstrava uma paz e felicidade interior, que não se consegue muito descrever em palavras.

(Dona Laura) - Qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo! Me liguem. A Dalva tem meu número.

Catarina e Paulo voltam para sala, ficam assistindo TV.

Capítulo 106:
Catarina sorrí aliviada, enquanto estava perdida em pensamentos, sentada ao lado de Paulo.
Paulo estava ainda digerindo tudo o que tinha ouvido de Dona Laura. Muitos dos fatos eram, até então, consebidos por ele como supertição e lenda.
Dalva aparece na sala, e diz:
- Com licença, dona Catarina..
(Catarina) - Sim, Dalva?
(Dalva) - O tempo está virando de novo, e como já são quase 20h, gostaria de saber se posso sair um pouco mais cedo, para não pegar essa chuva. Mas se vocês precisarem de algo, não tem problema algum.

Catarina, sorridente, responde:
- Claro que pode, Dalva! Final de domingo, com chuva, é bom estar em casa logo.

Dalva agradece, e em poucos minutos, se despede do casal, e sai.


Pedro acaba de beber a cerveja que José havia lhe pagado, se despede da garçonete, e sai com a caminhonete, rumo a fazenda.
No meio do caminho, Pedro nota o céu ao fundo, e repara que uma forte chuva cairá em pouco tempo. E diz para sí mesmo:
- Lá vem mais um toró daqueles!

Pedro entra pela porteira, e a fecha em seguida. Rapidamente Pedro pára a caminhonete.
O vento já soprava forte, levantando folhas pelo gramado ao lado do lago. Pedro dá a volta na casa, e encontra Ares, sentado ao lado da porta de trás, e diz:
- Você precisa de uma casinha decente, mas do jeito que você vai crescer, fica dificil cara!!

Pedro solta Ares da corrente, e o leva no colo para o interior da casa.
Passa pela sala, e diz:
- Pai, temos que arranjar uma casa grande para o Ares, quando chove ele não tem onde se abrigar, a não ser que a garagem esteja aberta.
(Paulo) - Vou providenciar uma essa semana. Mas tem de ser uma bem grande, pois em pouco tempo ele estará muito grande.
(Catarina) - Eu ví algumas na porta daquela loja de ração na cidade.
(Paulo) - Pode deixar que eu vejo isso.

Pedro sobe com Ares para seu quarto. Estende um pano grosso no chão, e o cãozinho logo vai se acomodando.
(Pedro) - Seu sem vergonha, todo bobo porque está aqui dentro né?

O cão abana o rabo levemente.

Capítulo 107:
Pedro começa a tirar suas coisas dos bolsos, e ao pegar seu telefone celular, nota que havia chegado uma mensagem de texto SMS, e ele não havia reparado.
Ele acessa a mensagem, e vê que foi mandada por Vitor.
Ele a lê:

"Fala Pedro, blz?
o fds foi mt manero!
boa viajem de volta
e mand noticias, ok?
Sobre o que houve
na faznda, acho que
a Amanda viu algo tb.
Dpois te conto, nada d+.
grande abraço!"

Pedro fica pensativo com a afirmação de Vitor "Sobre o que houve na fazenda, acho que a Amanda viu algo também"...
Pedro desce as escadas, e diz para seu pai:
- Você viu o porão que dona Laura encontrou?

Paulo percebe que com tanta informação em tão pouco tempo, acabou se esquecendo do que Catarina havia comentado por telefone.
(Paulo) - Não! Esqueci completamente!
(Pedro) - Temos que ligar para a polícia, ou outro, pois tem um cadáver debaixo dessa casa!

O sorriso de Catarina se desfaz em Câmera lenta, conforme ia se lembrando desse fato. E diz:
- O importante é que isso tudo teve fim!
(Pedro) - Como assim?
(Catarina) - Dona Laura nos disse, antes de sair, que os espíritos de luz conseguiram esconjurar o demônio da floresta!!
(Pedro) - Sério?!!! Que bom!

Pedro abre um largo sorriso, enquanto abraça sua mãe. A consciência de Pedro havia perdido muito peso naquele momento. Estava aliviado de tudo o que lhe deixava preocupado naquele momento.
- Graças a Deus!!

(Paulo) - Vamos lá, me mostre onde é esse porão secreto.

Pedro, então, caminha em direção ao fim do corredor, e abre a porta do quarto. O cheiro, mesmo que fraco, ainda permanecia no quarto.
Paulo entra, e sua expressão facial muda, conforme ele sente o mal cheiro.

(Pedro) - É alí, debaixo dessa tampa. Tem uma escada que leva até o nível inferior.
(Paulo) - Pegue uma lanterna, por favor.

Paulo ergue a tampa, e o cheiro, novamente, toma conta de todo o ambiente.

Pedro vai até a cozinha e retorna com a lanterna.
(Pedro) - Aqui está.

Paulo ilumina o vão, e começa a descer..

Capítulo 108:
Paulo chega até o porão, nauseado pelo mal cheiro que vinha dele. Pedro desce logo em seguida, e se junta a Paulo.

(Paulo) - Nossa, isso aqui é grande!!
(Pedro) - E fedorento!
(Paulo) - Onde você disse que estava o corpo?

Pedro, tampando o nariz, aponta para o corredor ao final do cômodo.
Os dois se encaminham até lá, e andam até o final, visualisando o esqueleto amarronzado de Adamastor.

(Paulo) - Esse buraco no crânio, é de tiro, não é?
(Pedro) - Sim. O barão do café assassinou ele com um tiro na testa, depois de torturá-lo e mutilá-lo.

O esqueleto estava encostado na parede, meio sentado e meio deitado. Paulo observa o local e deduz:
- Ele foi assassinado aqui mesmo.

(Pedro) - Como assim? Como o senhor deduz isso?

Paulo mexe no crânio, com auxílio da lanterna, e o desencosta da parede. Podia-se notar uma marca na parede atrás do crânio, com fragmentos de osso do mesmo.
O buraco, na parte de trás do crânio, era grande o suficiente para enfiar um punho fechado.
Pedro, visivelmente impressionado com a descoberta de seu pai, diz:
- Nossa! Ele foi mesmo morto aqui! O que faremos com o esqueleto dele?
(Paulo) - Sinceramente, não sei.
(Pedro) - Devemos chamar a polícia?!
(Paulo) - Não sei ao certo..
(Pedro) - Como assim? O certo é chamarmos as autoridades, achamos um CORPO!!
(Paulo) - Eu sei, meu filho. Mas é um corpo que está aqui há mais de um século! O que a polícia fará com ele?
(Pedro) - Enterrar?
(Paulo) - Acho que o mais certo é procurarmos um arqueólogo. Rogério e Milton acharam correntes enterradas nos campos. Antigas algemas.
(Pedro) - Pois é, você entrou em contato com o museu que eu te disse aquele dia?
(Paulo) - Sim, mas não consegui falar com o contato que me foi passado.
(Pedro) - Você ainda tem o número?
(Paulo) - Sim. Está na minha agenda do telefone celular.
(Pedro) - Ótimo. Mais um item para ele levar e estudar. Só quero que esse corpo saia daqui o mais rápido possível. ME sinto estranho sabendo que tem um cadáver de baixo da minha casa!
(Paulo) - Eu também.

Capítulo 109:
Paulo se vira para seu filho e diz:
- E esse velho baú aqui atrás?
(Pedro) - Já estava aí, nem toquei nele. Está trancado.
(Paulo) - ME ajude aqui, vamos tentar levá-lo lá para cima.

Pedro, ajudando seu pai, tenta mover o baú, mas esse é muito pesado, e move-se com muito esforço dos dois.

(Pedro) - Não quero nem imaginar o que tem aí dentro. Vai que é outro corpo?
(Paulo) - Não sei se um corpo caberia dentro desse baú..
(Pedro) - Se estiver em pedaços, acho que cabem até dois.

Paulo faz uma expressão de inquietação, e retruca:
- Como assim, aos pedaços?
(Pedro) - Pai, o Barão teve uma fama de ser muito cruel. Antes de matar esse cara que está deitado aqui do lado, ele torturou muito ele. O barão cortou-lhe fora até o pênis!
(Paulo) - Nossa! Tem certeza disso? Bom, tudo que eu não tinha certeza está se mostrando real, então acho que posso afirmar que sim, foi-lhe cortado o pênis antes do assassinato.

Paulo faz um sinal da cruz ao lado do corpo, e diz para Pedro:
- Vamos tentar empurrar o baú até embaixo da entrada, depois subimos ele com uma corda.

Os dois, então, empurram o baú até posicioná-lo exatamente embaixo da entrada.
Paulo sobe, e rapidamente volta com um médio rolo de corda reforçada, jogando uma ponta para seu filho, que aguardava no nível inferior.
- Amarra ele bem, passe pelos dois olhais das laterais.

Pedro amarra o baú conforme seu pai havia lhe instruído, e quando pronto, diz:
- Tá amarrado, vou subir pra gente puxar.

Pedro sobe, e auxilia seu pai, com muito esforço físico, a erguer o baú até o quarto acima.
Paulo e Pedro posicionam o baú afastado da entrada do porão, e o observam sob a luminosidade do quarto.
Era um baú de quase um metro de comprimento, com uns 50 centímetros de altura e largura.
Um grande e grosso cadeado estava lacrando o baú, e logo abaixo, havia uma pequena placa de bronze escurecido.
Paulo passa a mão sobre a placa, e nota que tem algo escrito, mas ilegível.
Paulo vai até a garagem, e volta com um pedaço de lixa, e esfrega na placa.

Capítulo 110:
Conforme Paulo vai esfregando a folha de lixa na placa, essa vai ficando mais clara.
Em pouco tempo, Paulo consegue ler as inscrições na placa.
(Pedro) - O que diz aí?
(Paulo) - Está escrito "Bartolomeu Carvalho", em letras gravadas em baixo relevo.
(Pedro) - Será que esse é o nome do barão do café?
(Paulo) - Não sei, mas vamos arrombar esse cadeado.

Com um pé-de-cabra, Paulo força o cadeado algumas vezes. Sem êxito.
(Pedro) - Deixe-me tentar.
(Paulo) - Ele nem se moveu..

Pedro pega o pé-de-cabra, e começa a forçá-lo contra o velho cadeado. Também sem êxito.

(Paulo) - Esse cadeado é muito antigo, não conseguiremos arrombá-lo com o pé de cabra. Teremos que cortar um pedaço dele para tirá-lo daí.
(Pedro) - Mas cortar com o que??
(Paulo) - Vá até a garagem, e traga pra mim, por favor, uma maleta verde que está na porta debaixo daquele armário baixo.

Pedro imediatamente vai até a garagem, e em poucos minutos retorna com a maleta.
Paulo abre a maleta, e retira uma esmerilhadeira elétrica, e um disco de corte abrasivo.
Coloca um óculos de proteção, e diz para Pedro ligar o fio na tomada do corredor. Pedro liga, e Paulo aciona a ferramenta.
Em pouco tempo, ele corta o elo do cadeado e desliga a máquina.

(Pedro) - Conseguiu?
(Paulo) - Sim, pode desligar da tomada.
Pedro retira o plug da tomada, e volta para o quarto.
Paulo retira o cadeado, e nota que o mesmo é muito pesado.
(Paulo) - Esse cadeado parece ser de um metal fino, acho que é de bronze.
Pedro pega o cadeado e sente seu peso. E concorda com um gesto positivo com a cabeça, com a afirmação de seu pai.
Paulo abre o velho baú, e um pano vermelho cobria sua abertura. Ele retira o pano, e vê vários pergaminhos amarelados, um caderno de anotações grosso, duas caixas de madeira no fundo do baú, e abaixo, um papel dobrado em quatro.
Paulo desenrola um dos pergaminhos, e vê que se trata de um contrato de compra.
(Paulo) - É uma espécie de recibo fiscal alternativo entre duas partes.
(Pedro) - Mas é o recibo de que?

Capítulo 111:
(Paulo) - Não é de que. É de quem!

Pedro faz uma expressão de confusão, e Paulo resume:
- É um recibo da compra de uma escrava. Tem o nome dela escrito aqui, e está assinado pelo comprador, Barão Bartolomeu Carvalho, e pelo vendedor, Jeremias Duque Costa.
(Pedro) - Então o nome do Barão é mesmo bartolomeu. Não sabia que haviam recibos de venda e compra de pessoas..
(Paulo) - Nem eu. Mas Não é nada formal, é um tipo de documento para constar propriedade.

Paulo desenrola mais alguns, e vê novos nomes de escravos e escravas comprados pelo Barão do Café.
(Pedro) - Nossa, quantos escravos será que ele possuía nessa fazenda naquela época?
(Paulo) - Bom, se for congruente com o numero de recibos que achamos nesse baú, dá um total de 42 escravos. Homens e mulheres.
(Pedro) - Nossa, quantas pessoas que o Barão matou!!
(Paulo) - Mas ele não matou todos. Dona Laura disse que alguns conseguiram fugir.
(Pedro) - É, mas eles acabaram morrendo também, devido ao preço do pacto que fizeram para se vingar do barão.

Paulo faz uma expressão séria, e diz para Pedro:
- Não vamos mais ficar falando sobre esse assunto de demônios e espíritos. Dona Laura disse que está tudo em ordem, e sua mãe agora está bem mais calma. Vamos deixar tudo como está.

Pedro concorda, em silêncio, com a proposta de seu pai.

Capítulo 112:
Paulo retira o caderno de anotações, e começa a folheá-lo, e repara que era um controle de vendas de sacas de café, com datas, valores, números e vencimentos.

(Paulo) - Esse era o livro em que ele anotava o status das vendas de sacas de café. Aqui ele tinha um controle e uma noção de quanto era vendido por safra.

Pedro pega o caderno e fica observando os dados.

Paulo pega uma das caixas, e vê que esta é excessivamente pesada para seu tamanho. Ele a retira com dificuldade, e a coloca fora do baú.
Com auxílio do pé-de-cabra, e abre a tampa, e sua surpresa foi enorme:
Era uma caixa com várias pequenas barras de ouro.
(Pedro) - Isso é ouro?!!
(Paulo) - Sim, ouro maciço!

Pedro abre um largo sorriso, e diz:
- Mas que sorte!
Paulo faz uma expressão mais séria, e diz:
- Essa sorte, é fruto do azar de muitos homens e mulheres, que perderam suas vidas de forma injusta e cruel, para que um tirano louco ganhasse cada vez mais dinheiro. Corre sangue nessas barras de ouro.

(Pedro) - Você quer dizer que não vamos ficar com elas?
(Paulo) - Não sei. Não temos necessidade de ficar com elas. Graças a Deus, e ao meu suor e sonho, temos uma condição financeira muito boa.
(Pedro) - Mas o que faremos com essas barras de ouro?

Paulo retira a outra caixa e a abre: Mais barras de ouro.
(Paulo) - Acho que o mais certo seria doá-las para alguma instituição de caridade ou cultural. Tem muito dinheiro nessas caixas. Dá pra ajudar bastante gente que realmente precisa.

Pedro sorrí, e concorda plenamente com a afirmação de seu pai. E fica feliz, pois mais uma vez ele viu que seu pai é um homem bom, de bom coração.

Paulo volta sua atenção para o baú, e vê que ainda havia um papel dobrado, que estava posicionado embaixo das caixas.

Paulo desdobra o papel, e Pedro nota uma expressão automática de espanto em seu pai.
(Paulo) - Meu Deus!

Capítulo 113:
(Pedro) - O que foi? deixe-me ver o que é isso!!

Paulo esquiva o papel das mãos de Pedro, e diz num tom meio desesperado:
- Não! Não quero que você veja isso!!

Ele redobra o papel, e o coloca em seu bolso.
Pedro fica meio que sem saber o que dizer, com uma expressão confusa e desconfiada em seu olhar. Mas não fala nada, apesar de querer muito saber o que havia naquele papel, para deixar seu pai da forma inquieta que ele ficou.

Paulo, rapidamente, coloca tudo de volta no baú, e fecha sua tampa.

(Paulo) - Deixe tudo aqui nesse quarto mesmo, vou dar um jeito em tudo.
(Pedro) - Como assim? O senhor ficou estranho depois que viu aquele papel. Por que eu não posso vê-lo também?

Paulo, rispidamente, responde:
- Por que eu não quero que você veja!!

Após dizer isso, Paulo sai do quarto, e se direciona até o telefone para ligar para o arqueólogo que o museu havia indicado.

Pedro fica na sala enquanto seu pai falava sobre o corpo que ele havia encontrado.
Ao final da ligação, Pedro escuta seu pai falando o endereço da fazenda ao arqueólogo.

(Paulo) - Ele virá ainda essa semana com uma equipe para retirar o corpo sem danificá-lo.

Pedro esboça um suposto sorriso com a afirmação de Paulo, mas mantém-se sério e pensativo.

(Paulo) - Acho que depois de retirarem aquele corpo, vou reformar esse porão e torná-lo um grande depósito. Posso até fazer uma pequena oficina para trabalhos aqui na fazenda.

Pedro ouve as palavras de seu pai, mas elas tem pouca interpretação da parte dele, que estava voltando seus pensamentos para a curiosidade de saber o que havia naquele pedaço de papel. Ele sabia que seu pai estava querendo desviar seu pensamento, dizendo assuntos paralelos.

(Pedro) - Vou tomar um banho. Estarei no meu quarto, caso você resolva me mostrar o que tem nesse papel. Achei que você confiava em mim.

Pedro joga a camisa empoeirada no cesto da área da lavanderia, e passa por Paulo, e sobe as escadas.
Paulo observa seu rosto e de catarina gravado nas costas de Pedro enquanto ele subia.

Capítulo 114:
Paulo observa pedro subir as escadas, e fica pensativo. Porém, era melhor que Pedro não se envolvesse mais com essa história toda. Em am dois dias ele estaria retornando para os estudos no exterior, e Paulo queria poupá-lo de preocupações com o outro lado do mundo.
Novamente, Paulo desdobra o papel e observa seu conteúdo minusciosamente, e diz para sí mesmo:
- Isso é impossível, meu Deus!!

Catarina aparece vinda da cozinha, e pergunta para Paulo, que é pego de surpresa:
- O que você está fazendo aí parado no meio da sala?

Paulo, disfarçadamente dobra o papel e guarda, antes de se vira e dizer:
- Estou pensando. Estava longe..

Catarina sorrí, e dá um beijo em seu marido. E diz:
- A gente podia jantar fora hoje, o que você acha?
(Paulo) - Por mim, tudo bem!

Paulo esboça um sorriso, e se alegra com a felicidade em que Catarina se encontrava naquele momento.

Pedro sai do banho, e olha pela janela. A chuva já estava caindo, mas a expectativa era de que aumentaria muito. Ele olha no relógio e vê que faltavam 20 minutos para as 20h. E liga a TV. Ares estava dormindo tranquilamente sobre uma velha coberta que estava no chão do quarto de Pedro.

Pedro estava entretido com o jornal que informava notícias sobre o Rio de Janeiro, quando escuta baterem na porta de seu quarto.

(Pedro) - Entra!
(Paulo) - Vou sair para jantar com a sua mãe, você quer vir junto?
(Pedro) - Não, obrigado. Estou sem fome.

Paulo nota que Pedro ainda estava encucado pelo fato de não ter visto o conteúdo daquele papel, mas releva, e diz:
- Então tudo bem, fica com Deus, boa noite. Não precisa esperar por nõs. Devemos chegar mais tarde.

Paulo e catarina saem pela porteira, na caminhonete, debaixo de uma densa e contínua chuva.
Um trovão faz com que Catarina tenha a impressão de ver alguém caminhando na estrada, mas logo isso se mostra irreal.

Paulo estava dirigindo devagar, pois as estrada estava escorregadia, devido ao barro e a chuva.

Catarina sorria e cantarolava a canção que tocava no rádio.

Capítulo 115:
Pedro se levanta de sua cama, e vai até o quarto de seus pais.
Da sacada, Pedro observa o temporal que estava caindo. Vários clarões iluminavam as terras de seu pai. Pedro estava pensativo, sobre o que teria de tão grave naquele papel, para que seu pai não lhe mostrasse. Paulo não costumava mentir ou omitir as coisas de Pedro. Isso era o que deixava Pedro ainda mais curioso.
Pedro acende um cigarro, e fica alí por vários minutos, pensando em seu retorno para a Austrália, e sobre os fatos que vivera neste período de férias na fazenda de seus pais.
Algo chama a atenção de Pedro:
Ele tem a impressão de ter visto uma luz acesa no jardim do bosque, mas ao olhar, estava apagada. Ele então fica observando aquela direção.
De repente, as luzes do jardim começam a piscar frenéticamente. Pedro observa, e diz para si mesmo:
- Maldita instalação! Tá com mal contato ainda..

A chuva aumenta, e o vento faz com que alguns pingos de chuva atingissem Pedro.
Pedro então fecha a sacada, e retorna para seu quarto.
Ao abrir a porta, ele vê Ares. Sentado em cima de sua cama, observando atentamente a janela.
Pedro chama por ele:
- Ares! Desce daí rapaz!!

O cãozinho nem se move com a exclamação de Pedro. Ele então repete, um pouco mais alto:
- ARES!! Sai daí!!

Sem resposta do cãozinho.
Pedro então encosta levemente nas costas dele, e nesse momento, Ares dispara assustado para debaixo da cama, e por lá fica.
Pedro se abaixa, e olha para baixo da cama, e vê Ares todo encolhido. E diz:
- Vem pra cá, deita alí no seu pano!

O cachorro permanece por alí. Pedro tenta puxar ele para fora, mas ao tocá-lo, o mesmo rosna ameaçando Pedro.
Pedro então desiste, e diz para Ares:
- Desisto! Se você quer ficar aí, por mim tudo bem!

Pedro amarra seus cabelos com uma fita preta, liga a TV, e se deita em sua cama.
Após alguns minutos, pedro estava dormindo, e a TV permanecia ligada.
Ares estava embaixo da cama. Seu comportamento estava muito diferente do normal. ele estava com medo.

Capítulo 116:
Paulo estaciona o carro em uma vaga perto do restaurante. Sai do carro, abre um grande guarda-chuva preto, e dá a volta para abrir a porta para sua esposa. Os dois seguem, embaixo do guarda-chuva, para a calçada, e se abrigam na marquise de uma loja vizinha ao restaurante.
(Catarina) - Nossa, como essa chuva aumentou rápido!
(Paulo) - Pois é, mas já já ela deve parar. Vamos entrar?

Catarina, sorridente, pega na mão de Paulo, e os dois entram no restaurante.
Um garçom os conduz para uma aconchegante mesa ao fundo, e de lá, Paulo avista Rogério, seu empregado. Ele estava com sua esposa e seu filho, e acena de linge para Paulo, que o corresponde com um aceno.

Uma dupla estava se apresentando ao vivo, um tocava violão e cantava, e o outro tocava percussão.
O som deles embalou a noite do casal. Eles dançaram, conversaram, beberam e ficaram em paz. Paz que Catarina não sentia há algum tempo, desde quando começou a ver e ouvir espíritos em sua fazenda. No final da noite, por volta das 3:30h da manhã, Paulo paga a conta, e Catarina assume o volante na volta para casa. Paulo estava muito bem, mas como já era combinado de Catarina levar o carro quando ele bebesse, Paulo entrega as chaves para ela.

Em pouco tempo, os dois chegam em casa. Paulo desliga a TV de Pedro, e volta para seu quarto. Os dois dormem rapidamente. A chuva já havia cessado. E a madrugada seguia tranquila.
No meio da noite, Paulo se levanta, achando ter ouvido um barulho no andar de baixo da grande casa.

Capítulo 117:
Paulo se levanta de sua cama, e calça o par de chinelos. Se encaminha em silêncio e cruza a porta do quarto, adentrando o corredor.
Ele estava muito atento a qualquer barulho que pudesse ocorrer, mas nada se ouvia.
Vagarosamente ele desce as escadas, e é surpreendido com um barulho de passos, vindo do andar inferior. Paulo então se abaixa na escada, e se esconde atrás do corrimão, e fica observando.
O som prossegue, porém, Paulo não vê ninguém na sala de onde se ouvia o som. E permanece atrás do corrimão.
A porta da frente se destranca sozinha e se abre em seguida. Paulo nota que o medo faz com que seu coração acelere rapidamente, fazendo a temperatura de sua face aumentar.
A porta se fecha, e novamente se tranca pelo lado de dentro, sozinha.
Paulo ainda permanece alí abaixado na escada por um tempo, até se recuperar do que acabara de ver acontecer na sala de sua casa, e pensava:
- Meu Deus!! Os espíritos ainda estão aqui!! Dona Laura garantiu que eles tinham ido embora.. Ou foi só o demônio que ela expulsou da fazenda?..

De repente, Paulo sente uma presença atrás dele, no parapeito da escada. Ele se vira e vê uma silhueta de um homem parado no topo da escada. A luz da janela do corredor atrás, impedia paulo de ver as feições dessa pessoa alí parada.
Paulo arregala os olhos e começa a descer as escadas lentamente, sem desviar o olhar do topo da escada.

Foi quando se manifestou:
- Pai? O que você está fazendo aí na escada??

Era Pedro, acordou com o barulho da porta da frente se fechando.
(Paulo) - Nada não, me assustei pois não consegui ver o seu rosto contra a luz..
(Pedro) - Você estava lá fora?
(Paulo) - Eu? Não, não.. estava na cozinha..
(Pedro) - Então quem trancou a porta?

Paulo rapidamente responde:
- Eu! Desci para beber água e notei que ela estava destrancada.

Pedro, sonolento, se despede do pai e volta para seu quarto.

Capítulo 118:
Paulo retorna para seu quarto pensativo..
Preferiu não dizer nada a Pedro, e preocupá-lo com eles, ainda mais faltando dois dias para seu retorna para a Austrália.
A manhã daquela segunda-feira estava nublada. A impressão que se tinha, por volta das 10 da manhã, é que um chuva forte começaria logo logo.
Porém, depois do almoço o sol saiu, e Pedro aproveitou para tomar banho de piscina. Tão pouco ficou, e saiu. Sentou-se na sombra, e acendeu um cigarro. Em alguns minutos, ele se levanta e segue rumo a garagem na lateral direita da grande sede da fazenda.
Na garagem, Pedro estava observando as ferramentas manuais de seu pai, visto que ele tinha dito que passaria-as para o porão, depois de reformá-lo.
Na parede de fundo da garagem, havia um basculante antigo. pedro repara, e tenta abrí-lo. sem sucesso. Na segunda tentativa, Pedro consegue aos poucos abrí-lo.
Ao abrir, Pedro sobe na bancada de ferramentas, e olha através dele. A parte de trás da casa, era mal cuidada, visto que não havia acesso. Era um espaço existente entre os fundos da garagem, os fundos da casa, e um barranco, que fazia parte da floresta que crescia a partir dele até onde se conseguia ver para aquela direção. Naquele meio, em forma de um "Quase triangulo", havia mato alto e seco. Era um terreno que não se acessava por lugar nenhum da fazenda, só pelo barranco. Salvo a vista desse basculante.
Pedro vagueia com os olhos, através do basculante, por aquela parte inacessível.
Ao longe, Pedro consegue ver uma pequena construção de concreto. Pouco se podia ver dela, visto que o mato escondia boa parte. Era quase camuflada no ambiente, se não fosse a percepção de Pedro.

Pedro desce da bancada, e sai da garagem. O muro que fazia os fundos da sede da fazenda, era de cerca de 3 metros de altura, e acompanhava a lateral da garagem, isolando aquela área dos fundos da sede.

Pedro acompanha o muro, e nota que ele acaba onde começa o morro que desencadeia a floresta.

Pedro então entra na cozinha e pega uma escada de abrir para subir no muro.

Capítulo 119:
Pedro arma a escada ao lado do muro, e sobe por ela. No topo do muro, ele observa o mato alto naquele espaço baldio. E nota ao fundo, uma quina da construção que ele havia avistado pelo basculante.
Ele se senta no muro, fecha a escada e a coloca para o lado interno, no mato.
Ele desce, e caminha abrindo espaço por entre capim e alguns arbustos secos.
Com dificuldade, ele chega até a construção.
Era pequena, mas Pedro soube exatamente o que era aquilo:
Um túmulo.
Era uma construção, onde estariam os ossos da família do Barão. Várias gerações.
Pedro vai até a porta de entrada, que estava trancada com uma antiga tranca de ferro fundido.
Ao lado da entrada, uma placa de bronze escurecido pelo tempo, porém ainda legível.
Pedro conta oito nomes na lista, com data de nascimento e óbito.

Pedro observa cada detalhe da velha construção. Era mais uma ruína. Apesar de ainda estar de pé. Ao dar a volta nela, Pedro observa que atrás da mesma, tinha um pequeno crucifixo cravado na terra, de frente para um pequeno alto relevo no chão.
Pedro diz para sí mesmo:
- Não pode ser...

Com auxílio de um pequeno graveto, Pedro começa a cavucar a terra. Em pouco tempo, ele vê um pano azul claro, enrolado.
Ao desenrolar, Pedro conclui o que havia pensado:
- O corpo do bebê!!
Um pequenino esqueleto estava enrolado naquele tecido. Na parte superior do crânio, notava-se um "amassado" para dentro. Aquilo era a causa da morte. A queda no chão.
Pedro, respeitosamente reembrulha o pequeno esqueleto, e novamente o cobre com terra. Se empenhando para deixar o local da mesma forma que havia encontrado.
E diz para sí mesmo:
- Meu Deus... Quanto sofrimento já correu por essa propriedade..
Ele retorna para o muro, e sobe novamente na escada. Retirando-a em seguida.
Ao descer dela, Paulo aparece na janela dizendo:
- O que você está fazendo com a escada? Você pulou o muro?
Pedro, rapidamente pensa em tudo o que houve, e se lembra da omissão da parte de seu pai, e diz: Pulei, achei um ninho de canário da terra!!
Paulo sorrí.

Capítulo 120:
(Paulo) - Você não mexeu nele não, né?
(Pedro) - Não! está em uma árvore no barranco. É inacessível.
(Paulo) - Se você mexer, a mãe abandona os filhotes, e eles acabam morrendo.

Pedro concorda cinicamente com seu pai, e sai para guardar a escada.
Catarina estava na cozinha com Dalva, e vê Pedro guardando a escada, e pergunta:
- Ué, tá subindo em árvore agora?
Pedro sorrí, e diz:
- Pois é estava vendo um ninho que eu avistei do quintal, mas a escada é pequena.

Mais uma vez Pedro escuta a ladainha sobre não mexer no ninho dos pássaros. E novamente concorda.
Pedro sabia que era errado mentir para sua mãe, mas tinha de manter a mentira que contara ao seu pai..

Pedro retorna para a piscina, e fica deitado na beirada a sombra de um guarda sol.

O telefone toca, e Paulo se apressa para atender:
- Alô!?
(Gilberto) - Bom dia, gostaria de falar com o Sr. Paulo.
(Paulo) - Quem deseja?
(Gilberto) - Gilberto, sou arqueólogo, e ele tentou falar comigo semana passada.
(Paulo) - Opa, sou eu mesmo! Deixei recado pra você. Tenho umas peças muito antigas aqui na minha propriedade. Da época da escravidão. Gostaria de doá-las para um museu.
(Gilberto) - Que bom! vamos marcar para que eu possa visitá-lo?

Paulo e Gilberto acertam o dia para a vista de Gilberto à fazenda.
Catarina observa Paulo ao telefone, da porta da cozinha.

Capítulo 121:
Paulo fala para Gilberto sobre o corpo de Adamastor que está no porão, e Gilberto demonstra muito interesse por isso.
Eles marcam a visita e despedem.
Ao desligar o telefone, Paulo se vira e vê Catarina na porta parada.
(Catarina) - Que peças vocês disse ter para doar para um museu?
(Paulo) - Umas correntes que o Milton e o Rogério acharam enterradas nos campos.
(Catarina) - Algemas?
(Paulo) - Sim..
(Catarina) - Ele vai remover aquele esqueleto, não é?
(Paulo) - Creio que sim.
(Catarina) - Graças a Deus! Fico aliviada que esses acontecimentos tenham tido fim.

Paulo sorrí acompanhando Catarina.

Pedro estava organizando seus pertences para arrumar sua mala para a viagem de volta para a Austrália. O vôo estava marcado para quarta feira de manhã. Pedro estava um pouco infeliz, pois sabia que só voltaria a ver seus pais quando voltasse para o Brasil. E até terminar o curso, demoraria um pouco.
Mas ele sabia que era importante para seu pai, e até mesmo para ele, que ele assumisse a empresa. E esse curso estava preparando-o muito bem para tal fardo.
Pedro pega a Câmera, e observa as fotos que havia tirado no dia em que seus amigos o visitaram. Vai passando uma a uma. Cenas de todos na piscina, no churrasco bebendo, fazendo poses engraçadas..
Era um momento nostálgico para Pedro. O tempo que ele ficou na fazenda passou mais rápido do que ele imaginava.
Ele separou umas mudas de roupa para usar até a quarta feira, e começou a colocar todo o restante em sua grande mala azul.

Capítulo 122:
Dalva estava assando um bolo, e enquanto aguardava, estava distraída olhando pela porta da cozinha. Era uma tarde ensolarada, apesar de ter parecido que choveria ainda cedo.
Dalva sente uma leve tontura. Respira fundo, e novamente fica tonta. Na terceira vez ela desmaia e cai no chão, ficando metade para dentro da cozinha e metade para fora.
Catarina, após alguns minutos, entra na cozinha e se depara com Dalva caída na porta.
(Catarina) - Dalva!! Meu Deus, Dalva, o que houve?? Paulo!!!!

Paulo rapidamente chega na cozinha e vê Catarina tentando, em vão, acordar Dalva.

(Paulo) - O que houve?! Ela está bem?
(Catarina) - Não sei!! Me ajude!

Paulo se abaixa e começa a ajudar Catarina a pegar Dalva.
(Catarina) - Vamos colocar ela no sofá da sala.

Os dois levam Dalva desacordada para o sofá, e a posicionam deitada.
Em poucos minutos, e muitas tentativas, Dalva começa a recobrar a consciência.
Ao abrir os olhos, ela vê Paulo e Catarina olhando fixamente para seu rosto.

Paulo, mostrando 2 dedos, pergunta:
- Dalva, quantos dedos tem aqui?
(Dalva) - Dois. O que houve? Como vim parar aqui no sofá?
(Catarina) - Eu e Paulo trouxemos você pra cá.
(Dalva) - Mas porque?
(Catarina) - Eu cheguei na cozinha e ví você caída na porta. Fiquei muito assustada. Você desmaiou.

Nesse momento, Dalva começa a recordar seu inconsciente.
(Dalva) - Eu tive uma visão enquanto estava desmaiada.

Catarina muda completamente sua feição ao ouvir isso. E Dalva repara essa mudança.
(Catarina) - Como assim?
(Dalva) - Tive uma visão com a senhora.

Paulo faz uma expressão de espanto e curiosidade.

Capítulo 123:
(Dalva) - Não sei ao certo se era a senhora.. Foi aqui na fazenda, mas muito diferente de como ela está agora. E a senhora, usava um vestido longo, muito antigo.
(Paulo) - Como assim?

Catarina, tensa, acompanha a explicação de Dalva.
(Dalva) - Estava tendo uma discussão, e a senhora estava sendo agredida por um homem de barba! Foi horrível!!

Dalva não contém seu choro, e é abraçada por Catarina.
Paulo se levanta, e é observado por Catarina. Sua expressão remetia uma profunda reflexão. Que Paulo fazia com a mão no queixo.
(Catarina) - Que foi?
(Paulo) - Nada. Só estou pensando..
(Catarina) - Pensando em que?
Paulo, disfarçando, diz:
- Nisso. No que está acontecendo agora..

Após se recompor, Dalva se senta, e enxuga seu rosto, dizendo:
- Me desculpe por isso. Tive só um sonho esquisito. Me deixe apagar o forno, ou o bolo queimará.

Dalva se levanta, um pouco sem graça, sem olhar nos olhos de Paulo e catarina, e vai em direção a cozinha.
Catarina respira fundo, e diz para seu marido:
- Dalva não estava nada bem. Fico preocupada, ela nunca havia desmaiado aqui. Podia ter se machucado com a queda.
Paulo ouvia atentamente sua esposa, porém, estava pensando sobre outro ponto de vista.
Após conversarem, Catarina sai, e Paulo se senta no sofá, tirando de seu bolso o papel que havia encontrado no velho baú.
Ele desdobra, e observa:
Era um desenho feito com grafite, que retratava uma mulher de pé, fazendo pose com um vestido longo de época passada.
Era perfeitamente congruente com as feições de Catarina, porém, alguns anos mais jovem.
O desenho continha uma assinatura rubricada, ilegível, e datada de 12 de maio de 1839.

Paulo assimilava o que Dalva havia contado que viu durante seu desmaio com aquele desenho que ele havia encontrado.
Ele olha novamente para o desenho, e vê perfeitamente o rosto de sua esposa.

Ele dobra o papel e guarda novamente em seu bolso.
Entra na caminhonete, e sai rumo a cidade, sem nada falar com ninguém sobre seu destino.

Capítulo 124:
Quando Paulo retornou, já se passavam das 20h. E um sereno caía contínuo desde o final da tarde.
Paulo pára a caminhonete, e entra na casa.
Catarina estava sentada no sofá, junto de Pedro, assistindo um filme que passava. Os dois estavam muito entretidos com o desenrolar do filme, e Paulo passa por eles dizendo boa noite.
Os dois respondem sem tirar o olho da TV.
Paulo toma um banho, e deita em sua cama. E de lá fica vendo Tv também.

Uma hora depois, O filme já havia acabado, e Paulo dormira com a TV ligada.
Catarina desliga a TV e deita ao lado dele.
Pedro fica em seu quarto ainda vendo TV, até dormir.

Dalva estava em seu quarto, e naquele momento estava rezando. Dalva não tinha dúvidas sobre sua visão, mas sentiu-se envergonhada da forma como relatou, e por ter desmaiado. Pensava no possível significado daquela visão: "Dona Catarina há muito tempo atrás, com trajes épicos, levando uma surra enorme daquele homem de barba e mal-encarado.."
O sono acabou vencendo os pensamentos de Dalva, que adormeceu.

A manhã daquela terça feira estava nublada, daquelas que a gente tem a impressão de que vai durar toda a semana. Pedro levanta cedo, e vai ao encontro de Milton e Rogério no estábulo.
(Pedro) - Bom dia Milton, bom dia Rogério.
(Ambos) - Bom dia Pedro!
(Pedro) - Rogério, você selaria um cavalo para eu dar uma volta por aí? Hoje é meu último dia na fazenda, e vou tirar umas fotos de alguns lugares para recordação.
(Rogério) - Mas é claro! Me dê uns minutos que eu deixo tudo no esquema pra você!
(Pedro) - Beleza, obrigado! Vou tomar café e já volto.

Pedro adentra a cozinha e se senta na cadeira.
Dalva já havia colocado a mesa, e Pedro já mastigava um bom pedaço de bolo.
Apesar do acontecido, Dalva mantinha sempre um sorriso ameno estampado em sua face.
Pedro toma seu café mais rápido do que o de costume, e sai rumo ao estábulo, acendendo um cigarro.

Capítulo 125:
Portando sua câmera digital multi-funções, Pedro pega o cavalo e sai em direção ao jardim da floresta. Tirando fotos de vários angulos do mesmo.
Após alguns minutos, ele pára, e olha para entrada paralela ao jardim, que subia floresta afora. Sem muito pensar, Pedro guia o cavalo para ela, e sobe lentamente, observando o ambiente ao redor.
A floresta, devido ao tempo fechado, estava muito mais escura do que o de costume. Um ar meio sombrio estava no contexto que Pedro contemplava na subida.
Pedro coloca a câmera no modo vídeo, e começa a gravar seu percurso a cavalo.
Aos poucos, Pedro filmava e comentava a transformação que a floresta sofria conforme ele avançava pela trilha. Cada vez menos folhas verdes eram vistas, até chegar em um ponto em que só se via galhos secos. E Pedro narrava:
- "Nesse ponto, já não dá para se ver nada vivo ao redor. Todas as árvores e pequenos arbustos estão mortos. Alí na frente (Aponta na frente da lente), nada eletrônico funciona, o mesmo deve valer para essa câmera de vídeo.."

Pedro avança mais alguns metros, e o cavalo pára bruscamente.
Pedro olha para o chão e para frente, mas nada vê. Tenta avançar com o cavalo. Sem sucesso.
Pedro olha a câmera, e a mesma estava desligada. Assim como seu telefone celular.
E diz para sí mesmo:
- Até o cavalo??? Po sacanagem!

Pedro amarra o cavalo a uma árvore, e segue a pé.
Ao atingir a grande clareira aos pés da pedreira, Pedro fica pensativo, pois queria uma imagem desse local. Tenta ligar a câmera, mas essa não liga.
Ele avança e cruza toda a clareira, descendo pela trilha que levava ao quilombo. Lá chegando, Pedro escuta um barulho familiar: "BIP!"
Seu celular havia ligado sozinho. Assim como a câmera de vídeo. Pedro, animado, retorna paras as filmagens do local, narrando, simulando um documentário pessoal:
- "Aqui, há muitos anos, foi um quilombo de escravos fugitivos da fazenda São Judas Tadeu. Eles se instalaram aqui para se preparar para a vingança que viria contra o barão do café, que torturava todos seus escravos."

Capítulo 126:
Pedro passeia por entre as ruínas daquele antigo local, evidenciando em suas filmagens quaisquer objetos, pedaços de cerâmica, fundações de pau-a-pique, etc.. Qualquer vestígio era captado pela câmera.
Pedro escuta um barulho no mato que o faz parar de narrar a filmagem. Ele fica reto, e se vira para a direção de onde vinha o ruído. Era como um passo em folhas secas.
Pedro olha por alguns segundos e nada vê. E em seguida retorna para suas filmagens:
- "Aqui, provavelmente era onde eles faziam fogueira para se aquecerem e cozinhar alguns alimentos nessas panelas de barro (Aponta para cacos de cerâmica). E nesse local, deve ter sido uma casa, ou alojamento, construído com barro e bambu. Apesar de o mato estar alto, dá pra notar que aqui tem um bom espaço aberto no meio da mata fechada."

Novamente Pedro escuta o barulho. Só que agora parecia mais perto.
Imediatamente Pedro se vira, mas nada vê.
Começa então a ficar tenso, ao lembrar dos dizeres de Dona Laura.
Ele desliga a Câmera, e lentamente começa a retornar rumo a clareira. Novamente ele escuta o barulho, e nota uma brisa que soprava em sua direção. Um suave cheiro de eucalipto fez com que Pedro respirasse alí por um tempo. Ao fechar os olhos e respirar fundo, Pedro começa a ouvir algo peculiar que já havia ouvido naquele mesmo lugar: Sussurros, vindos na brisa.
Pedro abre os olhos, e nota que a brisa aumentava. Proporcionalmente, os sussurros se tornavam vozes.
Novamente o barulho no mato seco.
Pedro, numa explosão de adrenalina, começa a correr, alcançando rapidamente a clareira.
Ele atravessa toda a extensão da clareira em poucos segundos, e em pouco tempo chega até onde o cavalo estava amarrado. E para a sua surpresa, o mesmo já não estava alí. Havia se soltado, e as marcas no galho davam a entender que a corda arrastou alí por um tempo antes da parte fina do galho quebrar.
Pedro olha ao redor, e nem sinal do cavalo.
Ele então começa a descida a pé. A passos largos, olhando sempre para trás, com a impressão de estar sendo seguido.

Capítulo 127:
Pedro vai descendo cautelosamente pela trilha, com uma certa apreensão. Sua imaginação já começava a pregar peças, supostamente.
Pedro olha para trás, e vê um vulto negro vindo ao longe, e rapidamente, por entre as árvores.
A trilha estava mais escura do que o normal, devido ao tempo fechado. Mas naquele momento, estava sombria.
Pedro se desespera e começa a correr trilha abaixo, olhando para trás de tempo em tempo. O vulto estava se aproximando cada vez mais, e Pedro conseguia ouvir seus passos a uma certa distância.
Em uma fração de segundos, Pedro tem a idéia de ligar sua câmera.
Correndo, Pedro liga a câmera, e posiciona ela virada para a direção do vulto, sobre seu ombro esquerdo, e continua a correr.
Em determinado momento, a trilha acaba.
Pedro pára e se vira para trás, mas não vê o vulto que o seguia.
Pedro observa ao redor, e não vê ninguém.
A trilha havia sido modificada misteriosamente. Pedro estava pasmo, pois ainda conseguia ver as pegadas de seu cavalo por alí, só que agora havia árvores onde ela passava. E diz para sí mesmo:
- Não pode ser!!

A floresta havia se redimensionado misteriosamente.
Pedro acha que está vendo coisas devido a adrenalina em que se encontrava naquele momento.
Árvores centenárias, imensas, haviam tomado conta da trilha, e o ambiente ao redor estava diferente do que Pedro já havia visto..
Com a câmera na mão, Pedro mira para seu rosto, e começa a falar para a câmera:
- "A floresta se mexeu!! A trilha está inacessível, fui perseguido por entre as árvores e meu cavalo fugiu. Ou eu estou louco, ou tem algo muito sinistro acontecendo comigo nesse momento!"

Pedro começa o caminho de volta, subindo por onde desceu, lentamente, olhando para todos os lados, com aquela sensação tensa de estar sendo minuciosamente observado por alguém, ou alguma coisa. Para cada lado que olhava, Pedro apontava sua câmera de vídeo, como se esta fosse uma forma de defesa.

Capítulo 128:
Uma brisa voava por entre os galhos das árvores, sussurrando coisas incompreensíveis, porém amedrontadoras. Vozes femininas e masculinas se misturavam em uma baixa frequência que Pedro captava enquanto fazia o percurso de volta.
Ele aumenta o volume de captação de sua câmera, no intuito de conseguir gravar esse audio que ele ouvia.
O sol começava a passar pelos galhos, clareando gradativamente a trilha.
Pedro chega até o ponto onde estava amarrado seu cavalo, e olha para trás na direção da descida da trilha. Com alguns raios solares, Pedro conseguia ver bem melhor e mais longe o percurso. E novamente começa a descer.
A brisa se torna um vento, e os sussurros se tornam vozes. Pedro levanta sua câmera acima de sua cabeça, e continua andando.
Após alguns minutos, Pedro nota que a trilha estava desimpedida. Estava da mesma forma que sempre esteve antes. As árvores que a bloquearam minutos antes, não estavam mais alí. O cenário havia se reconfigurado de novo, e Pedro captava tudo com sua câmera.

- Mas que doidera! Isso é muito surreal!

Em pouco tempo, Pedro sai pela entrada paralela, e de lá, avista seu cavalo parado perto da estrada.
Exausto, Pedro desliga a câmera e se aproxima do cavalo. E para a surpresa de Pedro, o cavalo começa a recuar de acordo com a aproximação de Pedro.
Pedro pára e faz uma expressão de confusão.
- Que foi agora?

Diz para o cavalo.
E mesmo depois de parar de se aproximar, Pedro nota que o cavalo ainda recuava.
Pedro imediatamente olha para trás e vê um homem negro, parado na frente da entrada. Estava todo ensangüentado da cintura pra baixo, e com um olhar malígno, ele fitava Pedro.
O coração de Pedro dispara nesse momento, mas ele fica sem reação.
O homem aponta o dedo para Pedro, e diz coisas que não são compreendidas por Pedro, e se vira e volta para a floresta.
Pedro assustado, ainda arrisca se aproximar para se certificar que o homem havia ido embora..
- Meu Deus!! Era Adamastor... Dona Laura se enganou, eles ainda estão aqui!
Pedro galopa de volta para a sede.

Capítulo 129:
Pedro desce do cavalo, e corre até a cozinha, disfarçando sua tansão ao chegar na porta e encontrar com Dalva.
(Pedro) - Oi Dalva!
(Dalva) - Oi, você parece cansado..
(Pedro) - É que eu vim correndo do estábulo até aqui.
(Dalva) - Ah sim.
(Pedro) - Dalva, você pode me dar o numero do telefone da sua tia Laura?
(Dalva) - Claro! Mas aconteceu alguma coisa?
(Pedro) - Não, vou só me despedir dela, pois viajo de volta amanhã.

Dalva anota o número em um pedaço de papel toalha, e entrega para Pedro. Ele agradece e vai para seu quarto.
Ele disca o número, e após três chamadas, ouve-se uma resposta:
- Alô?
(Pedro) - Dona Laura?
(Dona Laura) - Sim, quem é?
(Pedro) - Oi Dona Laura, aqui é o Pedro, filho da catarina e do paulo, você visitou a gente, lembra?

Após um certo tempo:
- Claro! Tudo bem meu filho?
(Pedro) - Mais ou menos...
(Dona Laura) - Como assim? O que houve?
(Pedro) - Bom, eu fui tirar umas fotos da fazenda para levar para a Austrália, e acabei entrando na floresta. Estava fazendo um vídeo, quando comecei a ouvir vozes e imaginar coisas.. Meu cavalo havia fugido, e desci a pé mesmo. No meio do caminho fui perseguido por um vulto negro, e a floresta se reconfigurou de uma forma que a trilha estava impedida por grandes árvores, que outrora não estavam lá. voltei até onde tinha amarrado o cavalo, e depois desci de novo. A trilha estava aberta. Em questão de minutos, a floresta novamente se reconfigurou. E quando eu saí da trilha, encontrei meu cavalo, mas este estava assustado. Ao me virar, eu ví aquele homem, o Adamastor, cujo corpo ainda está naquele porão que a senhora mostrou para nós.

Dona Laura fica em silêncio por uns 10 segundos
(Pedro) - Dona Laura?
(Dona Laura) - Estou aqui, meu filho, só estou assimilando o que você me contou.
(Pedro) - Mas você disse que o demônio tinha sido esconjurado dessas terras?..
(Dona Laura) - E foi. mas alguns espíritos ainda estão ligados a esta propriedade.
(Pedro) - Fico preocupado, pois meus pais vão ficar sozinhos lá..

Capítulo 130:
(Dona Laura) - Não se preocupe, meu filho.. Farei uma nova visita para averiguar a situação da fazenda. Mas têm espíritos que vem e vão, dependendo das circunstâncias. Pode ficar tranquilo.
(Pedro) - Que bom! Espero que tudo fique bem, pois estarei do outro lado do planeta. Longe deles e de todos meus amigos.
(Dona Laura) - Essa semana eu vou até a fazenda de Luzia, minhã irmã, e passo por lá, ok?
(Pedro) - Ok! Muito obrigado por tudo o que a senhora fez e tem feito pela minha família.
(Dona Laura) - De nada. Essa é a minha missão nessa vida! E faço com muito gosto. Uma boa viagem de volta!
(Pedro) - Obrigado, dona Laura! Foi um prazer te conhecer e falar novamente com a senhora.

Eles se despedem e Pedro desliga o telefone.
Após tomar um banho, Pedro pega a câmera e liga com um cabo USB, ao Notebook de Paulo. E faz o download das imagens e dos vídeos.
Pedro executa o vídeo e fica assistindo.
Após o primeiro corte, a cena é no quilombo, Pedro narrava e apontava objetos no chão. A câmera desvia, e em seguida retorna filmando objetos narrados por Pedro.
Mais um corte, e a imagem é mais dinâmica e tremida. Era Pedro descendo correndo pela trilha. Pedro arregala os olhos e pausa o vídeo: O vulto era Adamastor, que corria e pulava por entre as árvores com um grande facão e sua mão direita. Pedro analisa a imagem paralisada, e diz para sí mesmo:
- Consegui captar um espírito na filmagem!!
Pedro tira a pausa, e o vídeo continua.
Em determinado momento Pedro ouve sua própria voz na gravação:
- Não pode ser!!
E a trilha é mostrada pela câmera. Uma grande árvore estava na direção das pegadas do cavalo. A câmera gira duas vezes, mostrando o ambiente escuro daquela parte da floresta.
Pedro filma a sí mesmo, dizendo para a câmera que algo está errado.
Começa a subir lentamente, e a câmera girava para a direita e para a esquerda a cada passo de Pedro.
Pedro nota que não conseguiu captar um espírito, mas sim vários!
Haviam vários rostos espreitando por entre as árvores. Todos escravos. Expressões de ira.

Capítulo 131:
Pedro observa atentamente aqueles olhares amedrontados e amedrontadores daqueles espíritos na floresta.
A cena chega ao ponto em que Pedro está onde havia amarrado o cavalo.
E começa, novamente, a descer por entre as árvores secas.
A câmera, agora está posicionada sobre a cabeça de Pedro.
Pedro aumenta o volume do computador para ver se conseguiu cptar as vozes que ouvira na floresta.
Surpreso, Pedro nota que havia gravado o áudio com clareza.
Novamente a câmera foca a trilha, e a grande árvore que a fechava, havia mudado de lugar. Em cerca de dois minutos, todo o cenário havia se reconfigurado.
Mais algumas cenas, e o vídeo acaba.
Pedro abre um software, e importa o áudio daquela parte do vídeo em que captava as vozes.
Faz uma trilha só com o áudio, representado graficamente na tela. PEdro conseguia ver os picos do áudio, ou seja, o gráfico era mais visível onde estavam as partes mais altas do áudio.
Pedro separa essas partes em otra trilha, salva e reproduz.
Aumenta o volume ao ponto de não ser mais som ambiente.
Um pouco distorcido, devido ao fato das caixas acústicas serem embutidas no monitor do notebook, Pedro consegue ouvir claramente as vozes.
Nota que não são palavras em português, apesar de alguns fonemas parecerem com um "oi", "olá", "Meu", "tua".. Pero sabia que se tratava de outro idioma.
Os timbres de vozes, diziam muito sobre o que se era dito ao vento. Tons tensos e ameaçadores, alterações no volume indicavam uma certa raiva, ou impaciencia.
Pedro conclui que estava sendo ofendido, ou ameaçado naquela hora.
Pedro separa todos os vídeos, fotos e as trilhas de áudio, e grava em seu pen drive. Em seguida ele apaga esses arquivos do computador e de sua câmera.
Diz para sí mesmo:
- Na Austrália eu mexo nisso. Consiguirei ajuda com alguns estúdios, ainda mais que eu filmei um espírito maligno.

Pedro liga a TV, e se senta em sua cama. Estava pensativo, tentando lembrar se não esqueceria de nada para guardar em sua mala. Isso sempre acontecia com ele, sempre deixava algo para trás.

Capítulo 132:
Pedro, pensativo em seu quarto, acaba por adormecer.
Catarina e Paulo conversavam na sala, e Paulo comentava sobre a visita de Gilberto, o arqueólogo.
(Paulo) - Ele virá na quinta pela manhã. Vou pedir para ele remover aquele cadáver que está no porão, e vou doar algumas peças encontradas aqui na fazenda.
(Catarina) - Que peças?
(Paulo) - Umas antigas algemas de escravos que viveram aqui, uns documentos que encontrei naquele baú. Enfim, vou ver com ele o que ele acha válido. Mas a prioridade é a remoção do cadáver.
(Catarina) - Ah sim!

A tarde segue sem acontecimentos fora do comum.
Pedro acorda por volta das 19h, se levanta e desce as escadas.
Paulo havia saído para comprar comida, e Catarina estava sentada na sala vendo TV.
Pedro se senta ao seu lado e dá-lhe um beijo estalado no rosto. E alí fica. Porém, seus pensamentos estavam voltados para os acontecimentos da floresta e os registros que Pedro havia conseguido em vídeo.
Estava preocupado com essa situação. Sua mãe estava bem melhor do que antes. Ele não queria que nada de anormal acontecesse com ela. Confiava, ainda que com um pé atrás, em Dona Laura. Ela prometeu que faria uma visita à fazenda. Mas e se ela não vier? Pensava Pedro.
Cortando o silêncio, Catarina diz para Pedro:
- Você já arrumou suas coisas? Amanhã a gente vai ter que sair daqui bem cedo, para garantir sua chegada no horário. Podemos pegar trânsito.
(Pedro) - Já arrumei sim, só separei a roupa que eu vou viajar mesmo. O resto está na mala.

Catarina sorrí, e diz:
- Vê se se cuida por lá, meu filho.. Vou sentir muitas saudades. Agora que eu estava me acostumando com você por perto, já chega o dia de você retornar para o outro lado do mundo.
(Pedro) - Eu também sinto muito a falta de vocês. Mas eu voltarei. Vai demorar um pouco, mas eu volto pra ficar.
(Catarina) - Fico muito preocupada, pois com você tão longe, às vezes tenho a impressão de que não o verei novamente..
(Pedro) - Não diga isso!! É claro que a gente vai se ver! Estou lá só para estudo mesmo..

Capítulo 133:
Catarina sorrí, e dá um abraço apertado em Pedro.
(Pedro) - Pára de pensar essas besteiras, viu!
(Catarina) - Eu não penso nisso, é que às vezes eu tenho isso como uma sensação. Nada de mais.
(Pedro) - Vou sair com a moto do Rogério e não devo demorar.
(Catarina) - Mas onde você vai?
(Pedro) - Comprar cigarros e me despedir de uma pessoa.

Pedro sai pela porta da frente e Catarina escuta o som da moto se afastando, até sumir por completo. E diz para sí mesma:
- Esse menino me faz muita falta..
Ela sai rumo a biblioteca, e seleciona um livro. Se senta na poltrona e começa sua leitura.

Em poucos minutos, Pedro chega até o posto de combustíveis. ´
Ele pára a moto, e se encaminha para o bar e restaurante.
Chegando lá, vê que o local estava vazio, salvo a jovem garçonete que estava vendo TV dentro do balcão.
(Pedro) - Boa Noite!
(Garçonete) - Boa noite! Bom ver você de novo.
Pedro sorrí, e diz:
- Bom estar aqui de novo também! Por favor, me vê um maço de marlboro e uma cerveja.
(Garçonete) - Claro!

Prontamente a garçonete providencia os pedidos de Pedro.
Pedro abre o maço de cigarros e acende um, dizendo:
- A propósito, qual o seu nome?
(Garçonete) - Ana Luíza.. E o seu?
(Pedro) - Pedro. Prazer em te conhecer. Apesar de já termos nos visto algumas vezes, ainda não sabia seu nome.
(Ana Luíza) - Pois é. Da última vez que você esteve aqui parecia meio chateado. Fiquei na minha, pois não sabia do que se tratava..
(Pedro) - É verdade. Estava mesmo. Meus amigos foram embora e agora só vou ver eles no final do ano que vem. Assim como meus pais. E você.
(Ana Luíza) - Como assim? Você mora em outro estado?
(Pedro) - Na verdade, eu moro em outro continente.
(Ana Luíza) - Que legal!!
(Pedro) - Mas é temporário. Estou fazendo um curso, lá na Austrália.
(Ana Luíza) - Que chique! Deve ser muito legal morar em outro país, conviver com outra cultura, outras pessoas.
(Pedro) - Que nada, isso é fogo de palha. Depois de um tempo você se vê sozinho, sem as pessoas que ama. E do outro lado do mundo!

Capítulo 134:
Luíza nota uma certa nostalgia nas palavras finais de Pedro, e diz:
- Mas você vai que dia?
(Pedro) - Amanhã de manhã..
(Ana Luíza) - Pois pense pelo lado positivo, você está abrindo mão temporariamente de algumas coisas, para adquirir conhecimento, que não vai ser temporário, vai estar contigo sempre. É um investimento.

Pedro sorrí, e diz:
- Tem razão! É que eu tenho pensado em tanta coisa.. Que eu nem teria tempo de te contar.
Ana Luíza sorrí, e diz:
- Eu ia te falar isso a mais tempo, mas não tive oportunidade: Acho seu cabelo muito maneiro! Fica muito bem em você, seu estilo, sei lá.. Mas é bem legal.

Pedro fica meio sem jeito, e agradece o elogio.
(Pedro) - Obrigado! Só é ruim pra lavar, mas você acaba pegando o jeito depois de um tempo.

Os dois riem descontraídos.

(Pedro) - Na verdade, eu também tenho algo pra te dizer, mas não disse por que eu sou meio lerdo mesmo, e só vejo as coisas quando já estão indo embora..
(Ana Luíza) - O que é?
(Pedro) - Você é linda demais! Quando cheguei aqui na primeira vez, foi a coisa mais gritante que eu reparei: Sua beleza.

Ana Luíza fica visivelmente sem graça, porém, adorou ouvir isso de Pedro.
Com o rosto vermelho, ela diz:
- Obrigado, mas acho que você está exagerando um pouco..
(Pedro) - Acho que não..
Pedro se aproxima gradativamente, e dá um beijo em Ana Luíza.
Após algum tempo se beijando, Pedro pergunta:
- Engraçado, eu devia ter feito isso a mais tempo.

Ana Luíza, sarcástica, diz:
- Eu também acho!
Pedro sorrí, e dá outro rápido beijo.
(Pedro) - Tem dias que não tem nenhum cliente aqui no restaurante, né?
(Ana Luíza) - As terças e quintas.
(Pedro) - Como assim?
(Ana Luíza) - É dia de reunião da comunidade. Quase sempre ninguém vem aqui nesses dias. Sempre acaba em festa essas reuniões. Aí já viu né..
(Pedro) - É, pelo naipe dos caras que eu já ví aqui, devem adorar uma festa.

Os dois conversam por algum tempo, e trocam endereços virtuais.
E após algum tempo, Ana Luíza tranca a porta de entrada, ficando só os dois..

Capítulo 135:
Pedro e Ana Luíza ficam para o lado de dentro do balcão, onde não seriam avistados caso alguém passasse pela frente do restaurante. E naquele momento, Pedro esqueceu de todos os problemas e medos que o afligia. Os dois transam por cerca de quarenta minutos, e em seguida, Ana Luíza destranca a porta, por medo de alguém resolver aparecer e ver que está fechado.
Pedro fica com Ana Luíza até as 22h. Estava momentaneamente apaixonado por aquela bela garota. Na despedida, após um demorado beijo e um abraço de boa viagem, Ana Luíza diz:
- Quando você voltar de lá, me procure. Nesse meio tempo a gente se comunica por e-mail.
(Pedro) - Claro!

Ele sobe na moto, e sai rumo a fazenda São Judas tadeu.
No caminho, Pedro estava se recordando dessa mais nova lembrança, Ana Luíza era mais uma nostalgia que Pedro levaria consigo em seu retorno para longe de todos que valorizava. Aliás, uma bela nostalgia.

Ao chegar na fazenda, Pedro deixa a moto perto da garagem, de junto com ela, um bilhete para Rogério:

"Obrigado pela moto! Foi um prazer conhecer você e Milton. Vou voltar pra Austrália amanhã, e se bobiar a gente nem se vê para nos despedirmos. No final do ano que vem eu to de volta. Abraço. Pedro."

Pedro chega em casa, e nota que seus pais já estavam dormindo.
Ele vai até a cozinha, pega algumas laranjas e leva para comer em seu quarto.
Faz um rápido check-up de sua bagabem, deixando só a roupa que usaria para a viagem para fora da mala.

Após comer e ficar um certo tempo assistindo TV, Pedro dorme. E a TV permanece ligada.

Capítulo 136:
Às 4:30h da manhã, Paulo se levanta e vai até o quarto de Pedro.
A TV estava ligada, logo, Paulo a desliga. E acorda Pedro:
- Pedro? Pedro!
(Pedro) - Oi.. Que horas são??
(Paulo) - Tá na hora. Se apronte que eu vou chamar sua mãe. Vamos sair daqui às 5h.

Pedro, sonolento, entra no banho.
Catarina acorda, sorrí para paulo e diz:
- Você já chamou o Pedro?
(Paulo) - Já, está no banho.
(Catarina) - Vou preparar um café pra nós três.

Paulo se arrumava, enquanto Catarina descia as escadas rumo a cozinha.
Coloca a água no fogo, e espera para passar um café.

Pedro sai do banho, sentindo um pouco de frio. Em poucos minutos ele já estava pronto. Prende seus cabelos rastafari com uma fita preta costumeira, e começa a descer as malas.
Pedro ainda estava pensando um pouco em Ana Luíza, dizendo para sí mesmo em pensamento:
"Porque que eu não cheguei nela antes??!"

Lamentava pelo fato de só ter se envolvido com aquela bela garota na véspera de sua partida.
"Tanta tarde que eu estava de bobeira e sozinho aqui na fazenda..."

Seu pensamento muda quando ele sente o cheirinho de café fresco que vinha da cozinha.
(Pedro) - Dalva??
(Catarina) - Não. Sou eu.
(Pedro) - Bom dia mãe! O cheirinho está muito convidativo!! Nada como um café!

Ao falar "café", Pedro se lembra de tudo o que havia esquecido. Todos os medos, inseguranças e incertezas que ele sentia em relação ao fato de seus pais ficarem sozinhos naquela fazenda.
E novamente se pega pensativo e apreensivo.

Paulo chega na cozinha, e diz para Pedro:
- Você separou seus documentos, passaporte, visto?
(Pedro) - Tá tranquilo.. Já está tudo comigo.
Nesse momento Pedro se lembra de algo que acabaria esquecendo, e pensa em voz alta:
- Os arquivos!
(Paulo) - Como disse?
(Pedro) - Já ia esquecer meus arquivos de foto e vídeo que fiz aqui na fazenda.

Rapidamente ele sobe e pega a mídia, guardando em sua mala em seguida.

(Paulo) - Quando você fez vídeos e fotos aqui?
Pedro, disfarçando, diz:
- No dia do churrasco que o povo veio aqui.

Capítulo 137:
(Paulo) - Ah sim..

Eles tomam o café da manhã juntos, e em seguida, Pedro, Catarina e Paulo saem com a caminhonete, rumo ao Rio de janeiro, para o aeroporto.
Antes de entrar no carro, Pedro dá uma olhada panorâmica na fazenda, e diz:
- Vou sentir falta daqui.. Esse lugar parece até uma pintura.
(Catarina) - Quando você voltar, a fazenda ainda estará no mesmo lugar, com as mesmas árvores, o mesmo lago, a mesma piscina..
(Pedro) - Eu sei, é que lá na Austrália é tudo tão diferente, salvo o clima que é o mesmo..

Eles entram no carro, e em pouco tempo, Paulo já havia pegado a via dutra.
Após uma hora e vinte minutos de viagem, paulo pega a saída para o aeroporto internacional.
Paulo estaciona a caminhonete no estacionamento, e Pedro pega suas duas malas. Todos se encaminham para o interior do aeroporto.
Eram exatamente 7:00 quando Pedro pegou os tickets e se encaminhou para fazer o check-in.
O vôo estava marcado para as 8h da manhã, e por volta das 7:35h, Pedro só aguardava para o embarque. Eles estavam na praça de alimentação, onde catarina tomava uma lata de refrigerante enquanto Paulo conversava com pedro:
- Meu filho, quando você chegar lá, ligue-me a cobrar mesmo, só para dizer se foi tudo bem no vôo.
(Pedro) - Fica tranquilo pai, não acredito que você está com medo do avião cair?
(Paulo) - Não é isso não rapaz!! É que a gente fica preocupado. Você está indo sozinho para o outro lado do mundo, esqueceu.
(Pedro) - Na verdade, eu estou voltando, esqueceu?

Paulo rí nesse momento.
(Paulo) - Pois é. Às vezes me esqueço que você já é um homem. Mas vai ser sempre o meu garotinho!

Os auto falantes anunciam o vôo, e Pedro se encaminha, junto de seus pais, para o terminal de embarque. Na fila para a entrada, Catarina se emociona:
- Vai com Deus, meu filho. Se cuida, liga pra gente, e cuidado lá, hein! Lá se acontecer algo com você, seu pai e eu estamos longe demais.
(Pedro) - Fica tranquila mãe. Vou sentir muitas saudades de vocês. Mas no final do ano que vem eu venho pra ficar.

Capítulo 138:
Pedro dá um longo abraço em sua mãe, seguido de um estalado beijo na bochecha.

Paulo se aproxima, e dá um abraço em Pedro, e ao pé do ouvido, diz baixinho para ele:
- Me desculpe por ter brigado com você pela sua tatuagem, seu cabelo..e por ter escondido o conteúdo daquele papel que nós achamos no baú. Fui tolo. Espero que me entenda. Estou ficando velho, e a geração de vocês é a mais dinâmica que eu já ví. Fica meio difícil de acompanhar, mas estou pegando o jeito.
(Pedro) - Eu também te amo muito, pai!

Pedro não consegue conter suas lágrimas, e após se despedir, caminha pelo terminal, olhando de tempo em tempo para trás.
Catarina e Paulo estavam abraçados, acompanhando com o olhar, o início da jornada de volta de seu filho.
(Catarina) - Fico com o coração apertado meu amor. Esse menino vai me fazer tanta falta meu Deus.
(Paulo) - Relaxa, Pedro é esperto, logo logo ele estará de volta para ficar com a gente, apesar de eu imaginar que ele vá querer morar sozinho quando voltar.
(Catarina) - Novidade, né?

Os dois riem.

Da grande janela de vidro, Paulo e Catarina vêem o avião de Pedro se posicionar na pista, e em poucos minutos, já havia decolado.

Paulo e Catarina, então, voltam para o estacionamento, pegam a caminhonete, e voltam para a fazenda.

Dalva estava na cozinha, lavando algumas louças, quando sente uma presença do lado de fora da casa.
Ela enxuga as mãos, e abre a porta da cozinha, e vê sua tia, Dona Laura, se aproximando.
- Oi tia Laura! Não sabia que a senhora viria aqui.
(Dona Laura) - Pois é, eu vim por causa do garoto, Pedro.
(Dalva) - Mas como assim? Ele deve estar voando de volta para a Austrália. Acho que a senhora se atrasou, tia.
(Dona Laura) - Não, minha filha, você não me entendeu.. Ele me ligou, pedindo para que eu viesse até aqui para verificar se ainda têm espíritos malígnos pela fazenda. Ele disse que viu e ouviu alguns na floresta, e ficou preocupado com os pais.
(Dalva) - Ah sim. Achei que ele tinha ligado para se despedir da senhora.
(Dona Laura) - Também.

Capítulo 139:
(Dona Laura) - Ele ligou para me dizer sobre os espíritos e para se despedir. É um bom garoto. Pelo timbre de voz dele, percebo muita confiança. Quando me ligou, o que me pareceu, foi uma espécie de sinuca que ele se encontrava. Ele tinha que fazer alguma coisa, mas não estaria aqui para isso, e não saberia o que fazer. Por isso eu vim aqui de novo.
(Dalva) - Entendo. Mas ele disse que viu espíritos.
(Dona Laura) - Sim. E ouviu vozes na floresta. Disse que as árvores se movem.
(Dalva) - As árvores??
(Dona Laura) - Sim minha filha. Existem forças capazes de mover até um continente. A grande maioria é extinta. Graças a Deus. Mas alguns demônios antigos, tem poderes incríveis. Iludem, enganam, criam situações inexplicáveis, como o fato da floresta ter se movimentado deixando Pedro isolado da trilha, como ele me disse.
(Dalva) - Meu Deus, quando a gente acha que já viu de tudo...
(Dona Laura) - Pois é. Bom, a Catarina está em casa?
(Dalva) - Não, está no Rio de Janeiro com o Sr. paulo, mas eles virão para almoçar.

Dona Laura olha o relógio, e vê que são 8:40h da manhã, e diz:
- Tudo bem. Vou dar uma volta por aí. Não se preocupe, continue seus afazeres. Não devo demorar.
(Dalva) - Mas a senhora vai para a floresta?
(Dona Laura) - Sim.
(Dalva) - Sozinha??
(Dona Laura) - Minha filha, eu nunca estou sozinha. Pelo contrário, sou muito bem acompanhada sempre.

Dalva sorrí, e dona laura acena com a mão, caminhando lentamente rumo ao jardim do bosque.
Estava um dia bonito. Dona Laura observava a beleza daquela paisagem sob o sol médio, parcialmente aberto.
Os espíritos de luz avançam na frente, como uma escolta de reconhecimento. E invade a floresta.
Dona Laura, tranquilamente, senta-se no banco do jardim do bosque, e fica ligada a eles por pensamento. Um contato quase telepático entre eles. Era uma sintonia de muitos anos de trabalho juntos. Dona Laura conseguia visualizar as imagens captadas pelos espíritos de luz.
Na clareira superior na floresta, os espíritos estão avançando.

Capítulo 140:
Os espíritos de luz, avistavam de tempo em tempo, alguns espíritos escravos.
Esses, são muito peculiares: - São rebeldes, revoltados e donos de uma grande ira, que pode ser facilmente usada contra as pessoas, ou outros espíritos. Mas para os espíritos de luz, aquilo não passava de um tormento fácil de ligar. Com um simples toque, os espíritos de luz absorviam esses fluídos, e os substituia por um elo de ligação com a luz. Davam uma chance àqueles que já nem se lembravam mais por que sentiam tanta raiva e eram tão vagantes. Era uma chance.
Mas a intenção dos espíritos de luz, era a suspeita da presença de um demônio ainda naquelas terras.
Dona Laura estava em transe, acompanhando tudo do jardim do bosque.
Após algum tempo, os espíritos de luz sobem pela grande pedreira, e em seu topo, a resposta para as inquietações que afligiam Pedro e sua família:
- Um altar feito de Pedras. O topo daquela grande pedreira, era um local condenado. Era onde os escravos faziam os sacrifícios pela vingança. Muitas ossadas eram vistas nesse topo. Quando o demônio tomou posse da vontade daqueles que o invocaram, novamente essas pessoas se viram escravas. E os espíritos que vagam na floresta, ainda não sabem que não são mais.
Dona Laura, instantaneamente, arregala os olhos, acordado de seu estado de transe:
- Meu Deus!!

Meio tonta, ele tenta se levantar, mas está fraca e sua mente estava raciocinando muito rápido. Ela continua sentada.
Os espíritos de luz sobrevoam o topo da pedreira em círculos. Nenhum demônio foi avistado. Mas o topo da pedreira, era a condução para a entrada de demônios nesse plano material.

Dona Laura se recupera, e se levanta. Rapidamente ela volta para a sede da fazenda, e chama por Dalva, que aparece na porta da cozinha, dizendo:
- Oi tia Laura! O que houve?
(Dona Laura) - Você não entenderia, minha filha. Me desculpe. Posso usar o telefone? É uma emergência.

(Dalva) - Claro, entre.

Dalva leva dona Laura até a sala, e disponibiliza para ela o telefone.
Dona laura disca rapidamente.

Capítulo 141:
Dalva observa, a tensão de sua tia. Era raro ver dona Laura sem um sorriso pacífico em seu rosto. Esse, era um momento desses.

O telefone toca, no centro espírita Clara Luz, o que dona Laura freqüentava há muitos anos.
Alô?..
(Dona Laura) - Alô! Manuela? É a Laura.
(Manuela) - Sim Laura, como vai?!
(Dona Laura) - Manuela, descobrí algo muito ruim!

Manuela, mudando totalmente o timbre e tom de sua voz, diz:
- Como assim Laura??

Dona Laura, então, conta para Manuela sobre a visão que teve, através dos espíritos de luz, naquela fazenda. Sobre o portal no alto da pedreira, e , rapidamente, sobre o que sabia sobre a história daquela fazenda.
Manuela, era uma senhora de 69 anos. Uma das médiuns importantes do centro espírita. Possuia, assim como dona Laura. um grau muito elevado de mediunidade.
O templo de pedra no alto da pedreira, era como se fosse uma coordenada, que indica a posição de um portal que liga o mundo dos vivos com o mundo dos mortos. Era um lugar onde era possível se trocar a frequência da vida. Tanto, e até por já ter sido, supostamente, habitat de um demônio, que escravizou almas de corpos escravos.
São raros.
E esse, com certeza ainda não havia sido selado.
Dona Laura, em sua visão, pode perceber que o portal não fôra lacrado, por um simples motivos:
Nada era vivo, num raio grande ao redor da grande pedrira. Era uma parte morta. As árvores não desenvolviam, não havia nem ninhos. O lugar era, literalmente, morto.

(Manuela) - Santo Deus! Precisamos selar esse local o mais rápido possível!
(Dona Laura) - Com certeza.. Precisamos pesquisar sobre como fazer isso, na verdade.. Estou indo para a cidade hoje. Te ligo quando chegar em casa.
(Manuela) - Faça isso.

Elas se despedem, e dona Laura desliga o telefone.
(Dalva) - Mas o que é isso tia? Portal?
(Dona Laura) - Não se preocupe, minha filha. Daremos um jeito nisso.

Dona Laura se despede rapidamente de Dalva, pedindo-lhe para que nada comentasse com Catarina e Paulo sobre o que ouviu, só que deixou-lhes lembrança.

Capítulo 142:
Dona Laura caminha em direção a porteira. Os espíritos de luz, estavam na floresta, encaminhando todos os espíritos que ainda estavam vagando por alí. E não eram poucos.
Dalva observava sua tia, enquanto se perdia em pensamentos spbre o que havia escutado da conversa de sua tia ao telefone. Diz para sí mesma:
- Meu Deus.. Isso não é nada bom...

Meia hora depois, dalva escuta o barulho da caminhonete chegando.
Catarina entra pela porta da cozinha e diz num tom meio desanimado:
- Bom dia Dalva!
(Dalva) - Bom dia!
Paulo entra logo em seguida, também cumprimentando Dalva.
Catarina estava triste por Pedro ter ido embora. Algo dentro dela dizia que ela devia estar perto de seu filho. E vice-versa.
Paulo fica pouco tempo dentro da casa, pega um chapéu, e diz para Catarina:
- Vou ajudar o Milton e o Rogério no plantio do milho. Você se lembra onde eu guardei os espantalhos?
(Catarina) - No celeiro.
(Paulo) - Isso! Não estava lembrando. Obrigado.

Paulo dá um beijo em catarina, e sai.
Ele entra no celeiro, vai até o final, e retira os espantalhos de dentro de uma caixa grande, de madeira. E segue ao encontro de Milton e Rogério. Paulo gostava de ajudar no plantio, era, além de tudo, divertido. Pois era o momento em que se distraía com os causos que ouvia de Milton e Rogério nessas ocasiões.

Catarina estava na biblioteca, e Dalva entra com uma bandeja com uma xícara de chá.
- Fiz para a senhora.
(Catarina) - Obrigado Dalva! Você é um amor.
Dalva serve chá para Catarina, e diz:
- Minha tia, Laura, esteve aqui hoje cedo. Deixou lembranças para você e Paulo.
(Catarina) - É? Olha.. Não sabia que ela estava por aqui..

Dalva, disfarçando, diz:
- Ela veio trazer uma encomenda para a minha mãe, e passou aqui para me ver antes de voltar para a cidade..
(Catarina) - Ah que pena que eu não encontrei com ela.. Se falar com ela, mande-lhe lembranças minhas, e a convide para vir passar uma tarde aqui. Ela é uma senhora muito especial, um amor de pessoa!
Dalva sorrí, e diz:
- Pode deixar.

Capítulo 143:
Após o almoço, Catarina vai se deitra, e Paulo toma um banho. Paulo estava ansioso por aquela tarde, aguardava a chegada de Gilberto, o arqueólogo do Rio de Janeiro.
Devido à expectativa, Paulo tinha a impressão de que Gilberto não viria, a cada meia hora que se passava.
Por volta das 15h, um carro adentra pela porteira. Paulo observa atentamente a novem de poeira que seguia o veículo, enquanto esse se aproximava da sede da fazenda.
O carro pára ao lado da garagem, e um homem desce acenando para Paulo.
Paulo ficou um tanto quanto surpreso, pois havia imaginado Gilberto bem diferente do que ele estava vendo:
- Gilberto era um homem baixo, muito baixo. Cerca de 1,50Mt. Um pouco acima do peso. Estava com uma calça jeans e botas de couro, com uma camiseta da corrida de são silvestre de 2002 e um boné surrado preto, que ocultava sua calvície.

(Gilberto) - Boa tarde!! Você deve ser o Sr. Paulo! Muito prazer, Gilberto!
(Paulo) - Boa tarde! Prazer, eu sou o Paulo sim. Você fez boa viagem?
(Gilberto) - Sim, graças a Deus. Só demorei um pouco para achar a entrada da fazenda, passei direto, e pedí informação em outra propriedade, bem adiante.

Paulo sorrí, e diz, vamos entrar e tomar um café!
Gilberto segue paulo e entra pela cozinha.

(Paulo) - Dalva, por favor, passe um café fresco para nós?
(Dalva) - Claro!

Os dois se sentam a mesa, e gilberto indaga:
- Por falar em café, você disse ao telefone que essa fazenda foi produtora de café, não é?
(Paulo) - Sim, há muitos anos, mais de dois séculos.
(Gilberto) - Sim, época conturbada de nossa história. Escravidão, tratados, política defasada...
(Paulo) - Pois é. Essa fazenda tem uma história escrita a sangue escravo. O dono dessa fazenda, foi um barão muito severo com seus escravos.
(Gilberto) - Não diferente de outros proprietários de escravos. Todos eram severos e cruéis, trabalhavam sob tortura contínua.

Paulo pensa:
" É, mas acho que não se compara com o que residiu nessas terras.."

Capítulo 144:
(Paulo) - O Barão que morou aqui, matou todos os seus escravos, ao fim da lei áurea.

Gilberto faz uma pausa, sua expressão facial indicava com o olhar, que procurava alguma lembrança em sua memória. Em seguida, diz:
- Já ouví falar dessa história, só não me lembro onde... Na qual, acho que a baroneza tem um filho bastardo de um escravo, não é?
(Paulo) - Isso mesmo!!
(Gilberto) - Existe muita coisa que aconteceu nessa época, que são realmente bizarras..
(Paulo) - Pois então vou lhe refrescar a memória com o que eu sei..

Paulo começa, então, a dizer tudo o que sabia sobre a história do barão e da fazenda. Não mencionando, claro, os acontecimentos com sua esposa.

Após alguns minutos, Paulo conclui.
(Gilberto) - Mas então o corpo está em um porão recém descoberto?
(PAulo) - Sim..

Gilberto fica muito empolgado com o que ouviu sobre o porão. Seus olhos brilhavam de alegria, era um achado arqueológico importante para sua carreira. Um porão que serviu de túmulo por mais de cem anos. Para o cadáver de um escravo que era pivô de uma história de traição de uma peça histórica, com um final trágico. Era perfeito.
(Gilberto) - Quantas pessoas entraram nesse porão? Ele está fechado ou aberto agora? Por quanto tempo ele ficou aberto?

Paulo, se sentindo bombardeado com as perguntas, demora um certo tempo para responder:
- Três pessoas: Eu, meu filho, e uma amiga. Está fechado, óbvio.. O cheiro é horrível!

(Gilberto) - Gostaria de ver esse porão, se você me permite. É um fascinante achado arqueológico!
(Paulo) - Concordo, tanto, que chamei um especialista, para que nada se perdesse. Tudo encontrado com relação a esse evento, é direito de todos, é conhecimento. Por isso liguei para o museu.
(Gilberto) - Fez muito bem Sr. Paulo, muito bem! Se me permite, vou antes até meu carro, pois preciso de alguns instrumentos.

Paulo concorda, e Gilberto sai e vai até o carro, abrindo o porta malas.

Paulo fica observando atentamente o jeito desengonçado de Gilberto, com metade do corpo dentro do carro.

Capítulo 145:
Após algum tempo, Gilberto bate a porta do porta-malas, e retorna com uma grande bolsa de lona, dizendo:
- Vamos?
(Paulo) - Claro.

Paulo segue na frente, e após a sala, eles seguem pelo corredor, até a última porta.
(Gilberto) - Era esse o quarto que ficou fechado, não é?
(Paulo) - Sim.

Ao abrir a porta, Paulo acende a luz, e aponta para o tampão disfarçado no assoalho.
Gilberto abre sua grande bolsa, e pega uma latinha de vick vaporub. O que faz Paulo não resistir em perguntar:
- Vick??
Gilberto, abrindo a lata, mete o dedo, pegando uma certa quantidade e passando abaixo do nariz, diz:
- Você disse que fede, não é? Isso ajuda a não ficar nauseado.
Gilberto estende a lata, e Paulo passa seu dedo na mesma, fazendo o mesmo que Gilberto.

Gilberto guarda a lata na bolsa, pega uma grande lanterna, uma câmera fotográfica profissional, e fecha a bolsa. Ele tira duas fotos do tampão fechado, e em seguida, ele abre o tampão. Tirando mais uma fotos da entrada aberta.
(Paulo) - Nossa, isso funciona mesmo!! Não sinto cheiro de nada a não ser de vick!
Gilberto se vira, e com expressão irônica, diz:
- Você acha que o pessoal que trabalha no IML gosta do cheiro?

Paulo rí bastante disso.
Gilberto liga a lanterna, começa a descer. Paulo começa a descida, mas Gilberto retruca:
- Por favor, me deixe tirar umas fotos antes de você descer. Quanto menos marcas de pegadas nessas fotos, melhor.

Paulo concorda, e fica no quarto, sentado na cama.
Gilberto ilumina o local, e observa-o minusciosamente, passeando com a luz da lanterna, imóvel.
Em seguida, de onde está, tira algumas fotos. Dá alguns passos a frente, e tira uma foto de onde estava, e outra da entrada vista de dentro.
Gilberto sente um frio repentino, como uma nuvem que passasse por ele.
Com a lanterna, ele ilumina o final da sala, e vê o corredor que se expandia para uma lateral.
Depois de várias fotos do chão, Gilberto grita:
- Sr. Paulo!! O senhor já pode descer!

Paulo, escutando o chamado, desce e se junta a ele.

Capítulo 146:
Paulo observa o lugar, ao lado de Gilberto.
O arqueólogo observa as prateleiras de madeira, contendo caixas pesadas, com papéis podres, e diz:
- Isso tem de ser retirado com muito cuidado, o papel, devido ao tempo e a umidade desse porão, pode se desfazer se for pego com descuido.
(Paulo) - É verdade, as paredes parecem até estar 'suadas'.

Gilberto continua andando, seguido de Paulo, e vira o corredor.
Ao iluminar o esqueleto de Adamastor, Gilberto pergunta:
- Vocês tocaram no corpo?
(Paulo) - Eu toquei no crânio, afastei ele um pouco da parede, para me certificar que ele fôra assassinado nesse cômodo.
(Gilberto) - Só no crânio?
(Paulo) - Sim.

Gilberto segura a lanterna com a axila esquerda, e pega sua câmera, tirando algumas fotos do corpo.
Ele nota uma marca retangular no chão, perto do corpo, e retruca:
- Algo foi retirado daqui há pouco tempo!

(Paulo) - Foi sim.. Tinha um grande baú nesse local. Eu e meu filho Pedro o tiramos e o levamos lá pra cima. Serrei o cadeado, e encontrei várias coisas, inclusive os registros dos escravos que eu te falei.
(Gilberto) - Onde está o baú agora?
(Paulo) - Lá na garagem, depois eu te dou ele também, para que seja levado junto com as outras coisas.

Gilberto concorda com a cabeça, apesar de estar fazendo uma cara de quem desaprovava a remoção do baú do local onde estava.

Paulo, em seus pensamentos, conclui que não falaria nada sobre as duas caixas contendo barras de ouro, pois, certamente, Gilberto iria querê-la também. E Paulo decidiu, junto com Pedro, de fazer uma doação para instituições de caridade.

Gilberto, se abaixa, e novamente abre sua bolsa, retirando outra lanterna, menor, e um óculos de cor amarelada.
Ele coloca os óculos, e liga a lanterna. Para a surpresa de Paulo, a luz tinha a cor roxa: Era uma lâmpada de luz negra.
Com os óculos e a luz especial, Gilberto conseguia ver rastros de sangue seco nas paredes e no esqueleto, e diz:
- Foi um tiro à queima-roupa.
Paulo retruca, e Gilberto retira os óculos e passa para Paulo.

Capítulo 147:
Paulo coloca os óculos, e Gilberto ilumina o corpo.
Paulo observa a parede atrás do corpo e pode notar marcas fluorescentes nela.
Era um espirro que circundava o crânio de Adamastor. Paulo pode perceber a violência de sua execução naquele porão.
No chão ao redor do corpo, havia marca de uma poça que se formou com o sangue, que escorreu pelas paredes. MArcas de pegadas fluorescentes, indicavam que quem matou Adamastor - O Barão do Café - pisou no sangue e sujou suas botas com o mesmo.
Gilberto ilumina o chão do corredor, e Paulo observa a sequência de passos que saiam daquele porão.

(Paulo) - Que interessante esses sistema de observar vestígios de sangue!
(Gilberto) - É, é muito usado na solução de crimes, na procura de provas incriminadoras. Com a luz negra, podemos identificar facilmente esses vestígios.

Paulo devolve os óculos para Gilberto, e ele os coloca novamente.

Após algum tempo observando o local, Gilberto pega seu celular, e liga para o museu, pedindo um carro para fazer a remoção do corpo e dos artefatos encontrados naquele porão.
Em seguida, ele pergunta para Paulo sobre o baú, Paulo, então, começa a encaminhá-lo para a garagem. Ao passar pelo tampão, Gilberto cuidadosamente o fecha.

Ao chegar na garagem, Paulo mostra o baú, que estava no fundo.
Gilberto tira algumas fotografias, e em seguida abre o baú.
As caixas que continham as barras de ouro, já não estavam alí, Paulo havia guardado-as em seu cofre pessoal, na biblioteca.

Gilberto retira os papéis e começa a observá-los.
Contratos antigos eram observados. Alguns objetos também foram retirados.
Paulo lembra do desenho que ele encontrara alí, e pensa:
" Como eu ocultei isso de meu próprio filho, acho indevido mostrá-lo para esse cara. Ainda mais por ser uma imagem perfeita de minha própria esposa, só que feito há mais de um século.."
(Gilberto) - Era só isso que tinha nesse baú? Não havia nada de valor?
(Paulo) - Só de valor histórico..

Gilberto observa os papéis, e em seguida fecha o baú.

Capítulo 148:
Paulo comenta com Gilberto:
- Têm umas algemas que meus empregados encontraram nos campos, estavam enterradas.
(Gilberto) - Onde estão?
(Paulo) - No celeiro, eu te mostro.

Paulo começa a andar em direção ao celeiro, seguido por Gilberto.
O sol daquela tarde estava perdendo suas forças, nuvens cinzentas apareciam no horizonte acima da floresta.
(Gilberto) - O carro que eles estão mandando deve demorar um pouco para chegar, mas acredito que façamos a remoção do cadáver rapidamente.
(Paulo) - Não se preocupe com isso, contanto que tire o cadáver.

Gilberto dá um sorriso, e diz:
- Sei que não deve ser muito legal ter um corpo dentro de casa.
(Paulo) - É esquisito mesmo, mas eu nem pensava nisso, e acabava me esquecendo do fato. Mas sempre que passo pela escada e vejo a porta do quarto, eu me lembro.

No celeiro, Gilberto analisa aquele embolado de correntes enferrujadas e corroídas.
(Gilberto) - Essa fazenda teve muitos escravos mesmo!
Se referindo ao tamanho da corrente e a quantidado de bifurcações no seu comprimento.
(Paulo) - Sim, muitas pessoas.

Após alguns minutos e algumas fotos no celeiro, Gilberto diz:
- Bom, agora é só aguardar o carro do museu. Mas o senhor precisa assinar alguns documentos para registro da remoção dos artefatos e do cadáver. Burocracia necessária.
(Paulo) - Tudo bem, assino com prazer, pois de certa forma eu estou contribuindo para a história e a memória do nosso país.
(Gilberto) - Isso mesmo, estão no meu carro. Depois, como vai demorar um pouco mesmo a chegada do carro, gostaria de conhecer a fazenda, se me permitir, dar um passeio por ela.
(Paulo) - Claro, fique a vontade.

Gilberto sorrí, enquanto eles caminhavam na direção do carro de Gilberto.
Ele abre o carro, e pega uma pasta amrelo, transparente. Com muito mais folhas do que suportava e fôra projetada para suportar.
Ele se senta no banco do motorista, e abre a pasta, retirando folhas selecionadas de forma intercalada na pilha de papéis.
Ao fim, entrega a Paulo 12 folhas.

Capítulo 149:
(Gilberto) - Na verdade são só seis, mas uma via para o museu e uma via fica com o senhor.
(Paulo) - Sem problemas.
Após Paulo, e Gilberto assinarem todas as vias, Gilberto diz:
- Então, vou caminhar por aí.
(Paulo) - Ok. Se você observar que vai chover, volte para cá para não se molhar. Aqui quando chove, é bem forte.
(Gilberto) - Tudo bem. Até daqui à pouco.

Paulo acena para Gilberto, e em seguida desvia seu olhar para os documentos que segurava.
Gilberto vai em direção ao lago, dando a volta pelo pomar, ele pára, e tira uma fotografia pegando a lateral da sede da fazenda. Tira mais algumas em otras direções, e continua sua caminhada retornando. Indo agora em sentido oposto, ele passa pelo estábulo, celeiro.. Seguindo ele vê a terra recém plantada nos campos, e tira mais fotos.
Gilberto então, pega a estrada na direção do bosque, e ao longe já observava os bancos do jardim.
Ele observa o tempo, que agora estava se aproximando de um mormaço, porém, com nuvens carregadas. Mas o sol ainda brilhava no horizonte.
Gilberto tinha achado a fazenda de Paulo muito bonita, e observava cada detalhe dela, gostava das paisagens que ela tinha. E nesse momento, contemplava a floresta que desencadeava até onde se conseguia enxergar.
Ele chega no jardim e começa a tirar fotos, falando em voz alta elogiava o trabalho de Paulo com a decoração daquele jardim.
- Mandou bem! Mandou bem!

Ele adentra um pouco na floresta através do bosque, e fica bestificado com o tamanho das árvores centenárias que o cercava naquele instante. Ele caminha lentamente olhando para cima e para baixo. Analisava aquelas árvores robustas. Uma brisa soprava naquele momento, o que fez com que plumas brancas pairassem no ar, dando uma atmosfera orbital naquele momento.
Gilberto, sem demora se coloca a tirar fotos de todos os ângulos, daquele momento em que o belo se mostrou num simples ventinho, num ambiente incomum, com árvores de grandes raízes.
Na sequência de fotos, Gilberto nota que começa a ficar escuro. O tempo estava fechando.

Capítulo 150:
Gilberto olha para o céu, por entre os galhos das árvores, e vê uma grande nuvem escura que o cobria.
Ela se deslocava da floresta, e em velocidade.
Gilberto tira mais duas fotos, e guarda a câmera em sua bolsa, saindo em direção ao jardim, dizendo para sí mesmo:
- Essa vai ser forte!
Apressadamente, ele caminha rumo a sede da fazenda. Uma coisa lhe chama a atenção quando olha de relance para o jardim: Um homem caminhava na floresta, ao longe. Ele pára, e força sua visão para olhar além, mas um barulhento trovão o assusta, e quando olha de novo, nada havia entre as árvores.
Ele procura por mais alguns instantes, mas não havia mais ninguém alí. Encucado, Gilberto continua sua apressada caminhada até a sede.
Ele consegue chegar até a porta da cozinha antes da chuva, que em seguida, desabou fortemente sobre aquelas terras.
Dalva observa aquele desajeitado homem, e diz:
- O senhor precisa de ajuda com a bolsa?
(Gilberto) - Não, está tudo bem. Onde está o Sr. Paulo?
(Dalva) - Na biblioteca, o senhor sabe chegar lá?
(Gilberto) - Não.
(Dalva) - Eu levo o senhor até lá.
(Gilberto) - Obrigado!

Dalva caminha pelo corredor, seguida por Gilberto, até a porta da biblioteca, e diz ao chegar:
- É aqui! O senhor gostaria de um café?
(Gilberto) - Na verdade eu gostaria de um copo d'água.
(Dalva) - Eu já trago.
(Gilberto) - Obrigado.

Gilberto entra na biblioteca, e vê Paulo sentado em uma grande poltrona avermelhada, com um livro em suas mãos.
(Gilberto) - Dá licença Sr. Paulo..

Paulo desvia o olhar do livro, e olha por cima das lentes de seus óculos de leitura, para Gilberto:
- Entre, fique a vontade.

Paulo marca e fecha o livro, dando atenção a Gilberto:
- Então, como foi o passeio?
(Gilberto) - A fazenda do senhor é muito bonita! Fui até a floresta, onde tem aquele jardim com bancos brancos.

Ao falar sobre a floresta, a expressão facial de Paulo muda discretamente, e ele diz:
- Você entrou na floresta?
(Gilberto) - Não muito, tirei umas fotos das grandes árvores de lá.

Capítulo 151:
Paulo esboça um sorriso, e diz:
- Sim. São belas árvores! São centenárias.
Gilberto concorda, elogia o jardim, e em seguida diz:
- Tive a impressão de ter visto um homem andando pela floresta, você tem algum vizinho?

Paulo, rapidamente responde.
- Não.. Alí já é trecho de Mata Atlântica. Provavelmente deve ser Milton ou Rogério, meus empregados.
(Gilberto) - Ah sim. Tomou chuva com certeza.

Paulo, desconversando, diz:
- Plantamos milho. Daqui há alguns dias, já estarão brotando. A paisagem fica muito diferente com os campos germinando.
Gilberto, apesar de ter notado que Paulo estava mudando de assunto, insiste:
- Mas pode ser que alguém tenha invadido sua fazenda..
(Paulo) - Ou não. Fique tranquilo, aqui é um lugar calmo.

Gilberto então muda de assunto, e os dois ficam conversando por cerca de uma hora. Gilberto falava do trabalho no museu, e Paulo comentava sobre sua empresa e sobre seu filho, Pedro.
A chuva, agora já era uma garoa contínua.
Nesse meio tempo, o celular de Gilberto toca, ele atende:
- Alô!...... Sim, pode deixar.....
Ele desliga e diz para Paulo que o carro do museu já estava chegando. Eles estavam na cidade vizinha.

Em poucos minutos, uma grande van Preta pára ao lado da garagem de Paulo.
Com um guarda-chuva, Paulo se aproxima, junto de Gilberto(na chuva..) da porta da van.
Um homem magro, alto, de cabelos comprido e jeans, desce da van, e é cumprimentado per Gilberto e apresentado para Paulo:
(Gilberto) - Paulo, esse aqui é o André, trabalha no museu comigo. André, esse é o sr. Paulo, proprietário da fazenda.
(André) - Muito prazer Sr. Paulo!
Paulo cumprimenta André, e diz:
- Vamos sair desse sereno!

Todos andam para a entrada da cozinha e entram na casa.
(Gilberto) - Me empresta seu guarda-chuva para eu ir até o carro pegar umas coisas para a remoção do cadáver.

Paulo, prontamente, entrega o guarda-chuva para Gilberto, que o abre e sai rumo ao seu carro.
(André) - São quantos corpos?
(Paulo) - Somente um.

Capítulo 152:
Após uns instantes, Gilberto retorna com mais uma bolsa de lona, dizendo:
- Vamos André, senão chegaremos muito tarde no Rio.

Paulo, Gilberto e André, seguem então até o quarto no final do corredor. E gilberto aponta a entrada fechada no chão, para André.
(André) - Beto, tá fedendo lá dentro?
(Gilberto) - Sim, pegue o vick.

Gilberto abre sua bolsa, e entrega para André, sua latinha de vick.
André espalha uma certa quantidade abaixo de seu nariz, e devolve a lata para Gilberto.
Gilberto abre o tampão, e os três descem.
Iluminando com a lanterna, Gilberto vai na frente, e chega até o corpo de Adamastor. André, ao ver o corpo, diz:
- Nossa! Bizarro! Tiro hardcore que esse cara levou hein Beto?

Gilberto sorrí, e concorda, dizendo:
- Pois é, morreu feio mesmo.
(André) - Pô, no meio da testa certinho. Com certeza foi a queima-roupa.
(Gilberto) - E foi mesmo, analisei com a luz negra, e tem uma poça espirrada na parede.

Paulo observa os dois que conversavam de forma descontraída sobre algo tão perturbador.

Gilberto abre sua bolsa, e tira um saco grande, transparente, e um suporte de madeira. Dá um par de luvas descartáveis para andré, e coloca-as também.
(Gilberto) - Pega desse lado, devagar.

André e Gilberto, erguem o corpo do chão, e o transferem para cima do suporte de madeira, na mesma posição endurecida que se encontrava. Já sobre o suporte, o cadáver é novamente analisado pelos dois.
O corpo estava um pouco deformado atrás, devido a posição em que apodreceu. As costas estavam retas, modeladas pela parede em que estava encostado. André, olhando a parte de trás do crânio, diz:
- Espingarda soca-soca..
(Gilberto) - Como você sabe?
(André) - uma garrucha, com certeza faria uma abertura maior na saída do progétil. Naquele tempo, não se tinha muitas opções de arma de fogo como hoje em dia. Fora a quantidade de pólvora que está marcada nessa extremidade.
André aponda com o indicador para uma mancha no crânio, supostos vestígios de pólvora.
Gilberto cobre o corpo com o plástico.

Capítulo 153:
André e Gilberto transportam cuidadosamente o corpo do porão secreto até a van.
Em seguida, o baú é colocado na mesma, junto com os outros artefatos. Ao final, as correntes são depositadas.
Após alguns instantes, Gilberto e André se despedem de Paulo, entram em seus carros, e vão embora.
Paulo observa o percurso deles até a porteira, em seguida entra pela porta da cozinha, satisfeito pelo fato do corpo que estava naquele porão ter sido removido.
Estranhava o fato de sua esposa, Catarina estar dormindo até aquele horário. Tanto que resolve ir até o quarto acordá-la.
Para sua surpresa, a cama estava vazia.
- Catarina!!
Paulo chamava pelos corredores da casa, sem resposta.
Desce as escadas e adentra a cozinha, já eram 19:30h, Dalva já tinha ido embora.
- Catarina!!!
Chama novamente.

Longe dalí, na estrada que levava até o jardim do bosque, estava Catarina, caminhando rumo à floresta, num transe hipnótico.
Sem consciência do que estava fazendo, era atraída para aquele lado.
Pés descalços, e trajando uma longa camisola branca, Catarina, de olhos fechados, caminhava lenta e gradativamente pelo sereno daquela noite.

Paulo, desesperadamente, corre pela casa chamando por Catarina.
Em determinado momento, Paulo sai pela porta da cozinha e grita:
- Catarinaa!!!!

Ao olhar por todos os lados, Paulo avista, ao longe, Catarina caminhando para a floresta.
- Catarina!!!
Paulo grita fazendo concha com ambas as mãos.

Catarina, sem reação aos gritos, continuava sua caminhada inconsciente.

Paulo, então, começa a andar naquela direção, com expressão confusa, e chama o nome da esposa de tempo em tempo.

Catarina entra no bosque, e some da vista de Paulo, que já corria nesse momento.
- Catarinaa!!!
Em pouco tempo, Paulo estava chegando no jardim, olhando pela escuridão daquele lugar, procurando por sua esposa.
Ele vai até o interruptor, e acende as luzes do jardim.
Olhando ao redor, com expressão confusa, Paulo procurava com os olhos.
Nem sinal de sua esposa.
- Catarina!!

Chamava em vão.

Capítulo 154:
Paulo estava muito tenso, e o silêncio daquele lugar se tornava perturbador.
- Catarina!!

Paulo chamava em vão por sua esposa. Ao longe, perto de uma das raízes das grandes árvores, Paulo vê sua esposa ajoelhada.
- Catarina?!!!

Paulo, rapidamente se direciona para aquele local.
Ao se aproximar, ouve algumas palavras incompreensíveis que catarina dizia, com as mãos juntas, de joelhos.
Paulo observa, e vê que Catarina estava inconsciente. Seus olhos, semi-abertos, estavam virados, só se via o branco de seus olhos.
Paulo não exita, e toca o ombro de sua esposa, dizendo:
- Catarina, você está bem?

Catarina, lentamente vira seu pescoço em direção a Paulo, sem reação, com os olhos tortos na direção do Marido.
(Paulo) - Você está bem?

Catarina, lentamente volta sua cabeça para a direção da raíz daquela árvore.
Paulo, num movimento brusco, sacode sua esposa pelos ombros:
- Catarina!!

Catarina, então, perde o equilíbrio e cai para trás, inconsciente.
Paulo tenta reanimá-la, em vão. Checa sua respiração, e em seguida a pega em seus braços, caminhando de volta para a sede da fazenda.
Algum tempo depois, Paulo entra na casa pela porta da cozinha com sua esposa inconsciente em seus braços.

Ele a coloca no sofá da sala, e se senta ao seu lado, afagando seus cabelos, chamando pelo seu nome de tempo em tempo.
Catarina estava em um sono profundo.
Paulo abre os olhos dela com os dedos, e ela nem se manifesta.

Paulo então se ajoelha aos pés do sofá, e começa a rezer um pai nosso em voz alta:
- Pai nosso que estais no céu...

Ao final da oração, Paulo observa Catarina, que ainda dormia.
Paulo se pôe a rezar frenéticamente.
Cerca de quarenta minutos depois, Catarina abre os olhos lentamente, e vê Paulo ajoelhado no chão, de olhos fechados, rezando com lágrimas nos olhos.

(Catarina) - O que aconteceu?

Paulo olha rapidamente para sua esposa e diz:
- Graças a Deus!

Dá um forte abraço nela, e diz:
- O que houve? Por que você saiu de casa?
(Catarina) - Saí de casa?

Capítulo 155:
(Paulo) - Sim! Te procurei no quarto, mas a cama estava vazia, procurei a casa inteira, e quando saí pela porta da cozinha, ví você na estrada que leva até o jardim. Corrí atrás de você, e te encontrei ajoelhada aos pés de uma das árvores centenárias. Parecia que você estava rezando em outro idioma. Você nunca teve nenhum episódio de sonambulismo, mas acredito que você estava inconsciente.. Quando te sacudi, você desequilibrou e desmaiou.

Catarina, de olhos arregalados, ouvia a narração de Paulo sobre seu caminhar. Em seguida olha sua camisola e seus pés sujos de terra molhada e mato, e diz:
- Meu Deus!! Como pode ser? Eu sonhei com o que você acabou de me dizer.. Não achei que fosse real..

(Paulo) - Como assim?
(Catarina) - Sonhei que você tinha se perdido na floresta, e eu ia até lá e rezava todos os dias para que você voltasse. Mas o que me encucou no sonho, é que você se perdeu na floresta ao me procurar, pois você, no sonho, achava que eu tinha me perdido.
(Paulo) - A verdade é que você demonstrou ser sonâmbula. Pode ser perigoso, você podia ter caído na escada e se machucado.
(Catarina) - Eu sei, me desculpe por ter assustado você.

A tensão daquele momento se desfez com um beijo e uma declaração de amor. Porém, catarina sabia que algo a atraiu para aquele lado. O sonho, foi uma manifestação daquele momento, ou seja, ela ACHA que sonhou com aquilo. E na verdade, foi real.

No dia seguinte, Dalva preparava o café da manhã, quando Paulo passa pela cozinha rapidamente, dizendo:
- Bom dia Dalva, me desculpe por não ficar para o café.. Tenho um compromisso agora cedo lá no Rio, e preciso me apressar.
(Dalva) - Mas não vai comer nem um pão?

Paulo, já do lado de fora da casa, responde:
- Não, obrigado!

Entra na caminhonete e sai.

Na cidade vizinha, Dona Laura estava no centro espírita, junto de Manuela e outros médiuns, concluindo sua pesquisa em antigos livros.

(Dona Laura) - Então, senhores, já temos tudo o que precisamos para selar aquela fenda dimensional. Vamos partir agora!

Capítulo 156:
(Manuela) - Laura, pode ser perigoso.. Você disse que o altar primário é no alto de uma pedreira..
(Dona Laura) - Perigoso será se não fecharmos essa travessia. Não sabemos o que pode cruzar a fenda, só sabemos que pode ser definitivo.

Um dos médiuns alí presente, Jonas, diz:
(Jonas) - Laura, eu posso perfeitamente escalar esse lugar. Treino rapel com meu filho há algum tempo.
(Dona Laura) - Eu sei, e agradeço sua boa vontade. Mas você não teria como fechá-lo sozinho com seu grau de mediunidade.
(Jonas) - Eu sei disso. Mas quis dizer que a senhora pode escalar a pedreira com a minha ajuda. Garanto ser seguro.
(Manuela) - Laura, todos nós sabemos que você é a única que possui poder suficiente para selar um portal dessa magnitude. Muitos espíritos de luz estão conosco. Se Jonas diz que é seguro você escalar com ele, eu acredito. A senhora não poderia subir lá sozinha. Se você se acidentar, o portal nunca será fechado.

Dona Laura, após um discreto silêncio, diz:
- Eu sei Manuela, confio no Jonas ao ponto de escalar aquele lugar com ele. Eu, melhor do que ninguém, sei que não consigo subir aquela pedreira sozinha. E também sei que somos um grupo. Nunca passou pela minha cabeça fazer tudo sozinha, tanto, que assim que descobrí o lugar, te liguei imediatamente.

Manuela sorrí, e diz:
- Então, vamos nos aprontar para irmos até a Fazenda São Judas Tadeu.

Após pegarem livros e anotações, Entram no carro: Dona laura, Manuela, Jonas, Jorge e Gilson. Essas cinco pessoas, são os maiores médiuns do centro. Todos possuem um grau de mediunidade incomum, apesar de Dona Laura se muito mais evoluída.
Gilson, desde pequeno, convive com a tele-cinése. Ele consegue mover objetos pequenos com seu pensamento, e outros pequenos feitos, como acender o interruptor a distância.
Jonas é marido de Manuela, pais de Jorge. Manuela é, depois de dona Laura, a médium mais poderosa do centro. Seu filho Jorge, de 27 anos, também possui alto grau de mediunidade. Todos possuem o dom da visão e audição.

Jonas liga o carro.

Capítulo 157:
Jonas dirige até a frente de sua casa, e diz para os demais dentro do carro:
- Vou buscar o equipamento de rapel, não demoro. Venha me ajudar Jorge!

Jorge, obedecendo o pedido de seu pai, sai do carro e entra na casa junto dele.

(Dona Laura) - Gilson, como você está depois da última reunião? Mais calmo, eu espero..
(Gilson) - Estou bem Laura, obrigado.

Gilson sofria de problemas emocionais desde a morte de sua esposa, há cinco anos.
Entrava em depressão de tempo em tempo. O que causava sérios constrangimentos para ele mesmo. Mesmo muito religioso, Gilson tinha seus momentos de tristeza. Com um QI muito elevado, quando o cérebro entrava em conflito em suas depressões, sua tele-cinése demonstrava espasmos involuntários. O que as vezes o deixava encabulado em público, quando revistas caíam da prateleira da banca, frutas na feira, e às vezes, pessoas na rua. Isso aumentava sua depressão, pois fazia-o se sentir uma aberração. Dona Laura, sempre conseguia deixá-lo em paz novamente, sempre que essas crise apareciam. Sua presença, um simples sorriso daquela senhora, trazia uma paz interior muito grande.

(Laura) - Que bom meu filho! Hoje é um dia importante para nós do centro espírita, Gilson. Novamente um obstáculo aparece em nosso caminho, e estamos prontos para enfrentá-lo. É quanto a isso que me refiro que é a missão de um médium. Existem coisas que somente são visíveis e audíveis para nós. As pessoas precisam de nós em situações como essa do dia de hoje. Aquela fazenda foi cenário de muita dor e sofrimento no passado. Nós podemos perceber esse sofrimento ainda nos dias de hoje. Muitos espíritos escravos foram salvos pelos espíritos de luz. Mas não todos. O filho do dono da fazenda me ligou, e disse que viu e ouviu alguns na floresta. Você vai perceber isso ao cruzar a porteira, a energia negativa é pesada. A famíllia que mora lá está convivendo com isso às escuras.
(Gilson) - Laura, a verdade é que estou preparado para trabalhar hoje. Pelo que você me contou lá no centro, a família deve sofrer.

Capítulo 158:
(Dona Laura) - E sofre. E nós podemos, e devemos ajudar.
(Gilson) - Com certeza! É para isso que temos o dom. Sei que às vezes me entristeço e coisas estranhas acontecem, Laura. Não se preocupe com isso, estou feliz agora. Consigo ficar em paz comigo mesmo. E com vocês ao meu redor, vejo que tudo é mais simples do que parece. A senhora sabe o quanto é especial pra mim, e o quanto sou grato por tudo o que a senhora fez, não é?
(Dona Laura) - Como você mesmo disse, " é para isso que temos o dom. "
(Manuela) - Fico muito feliz também, Gilson!

Jorge e Jonas retornam com os equipamentos e os coloca no porta-malas do carro.
Em seguida saem, e em poucos minutos Jonas chega até a saída para pista.
Cerca de 45 minutos depois, estão a poucos metros da porteira.
Jonas para o carro em frente à porteira, e dona Laura desce, dizendo:
- Vou telefonar para a Dalva, para avisar que viemos.

Todos descem do carro, e ficam aguardando, enquanto observavam através da porteira, a paisagem bonita da fazenda.
Gilson aponta para longe, a direita, na direção da floresta, e diz:
- É lá..

Todos olham e vêem, ao longe, no meio da floresta, a grande pedreira.
Gilson volta seu olha para a placa de madeira pendurada acima da porteira. FAZENDA SÃO JUDAS TADEU.
- Alô, Dalva? É sua tia Laura, tudo bem?
(Dalva) - Oi tiaa!! Tudo bem, e a senhora, como vai?
(Dona Laura) - Estou bem também, na verdade estou na porteira da fazenda. A Catarina está aí?
(Dalva) - ..Está.. mas como assim, porquê a senhora não entrou?
(Dona Laura) - Dalva, minha filha, essa não é uma visita comum. Estou com umas pessoas do centro espírita aqui. Jonas, Manuela, Jorge e Gilson. É sobre aquele assunto que não expliquei para você na minha última visita. Estamos entrando, chame Catarina, mas não lhe adiante nada sobre o motivo de nossa visita, por favor.
(Dalva) - Tá bem tia, vou avisá-la. Um beijo.
(Dona Laura) - Beijo, e obrigado!

Dona Laura desliga celular, e o devolve para Gilson.
(Dona Laura) - Vamos entrar.

Jonas entra com o carro

Capítulo 159:
Enquanto Jonas dirigia da porteira até a sede da fazenda, todos admiravam-na ao redor.
(Manuela) - Bem que você disse Laura! A fazenda é muito bonita.
(Gilson) - Pois é, mas sinto uma grande negatividade no ar dessa propriedade.
(Jorge) - Idem.

Em pouco tempo, Jonas estaciona ao lado da garagem, e todos descem do carro.
Dalva aguardava na porta, com um sorriso amistoso ao ver sua tia Laura.

(Dona Laura) - Bom dia!
(Dalva) - Bom dia tia!

Após cumprimentar a todos, Dalva diz:
- Dona Catarina está saindo do banho, disse para vocês entrarem. Podem aguardá-la na sala.

Dalva os leva, então, até a sala, e diz:
- Fiquem à vontade! Gostariam de um café?

Manuela, Jonas e Jorge, aceitam, e agradecem. Assim como os demais.
Após alguns instantes, Dalva retorna com uma bandeja com xícaras de café. Serve os três, e volta para a cozinha.

Catarina aparece no topo da escada, com um largo sorriso estampado no rosto, dizendo:
- Dona Laura!! Que bom ter a senhora aqui!
(Dona Laura) - Bom dia minha filha! Fico feliz em vê-la também! Esses são meus amigos!

Dona laura apresenta Jorge, Jonas, manuela e Gilson para Catarina, e ela se senta no sofá.

(Dona Laura) - Essa semana estive aqui, a pedido de seu filho, Pedro. Que me ligou.
(Catarina) - Pedro ligou para a senhora? Como assim? O que ele queria?
(Dona laura) - Fique calma.. Ele me disse que ouviu vozes na floresta, e que também viu um espírito.

Catarina fica um pouco tensa enquanto ouvia o que dona Laura dizia.
Dona Laura, conta detalhadamente tudo o que viu através dos espíritos de luz, e diz que o fechamento do portal, era a garantia de paz. Fala um pouco sobre os médiuns que estavam alí presentes, e Gilson faz uma demonstração da tele-cinése para catarina, tirando a aliança de seu dedo com uso do pensamento. Catarina observa a aliança sair de seus dedos como num passe de mágica.

(Catarina) - Que bom que vocês vieram! Vocês vão lá agora?
(Dona Laura) - Sim, vou escalar a pedreira com o Jonas.
(Catarina) - A senhora vai escalar??

Capítulo 160:
(Dona Laura) - Sim. Só eu consigo selar o Portal. Minha mediunidade está em um nível mais avançado.
(Catarina) - Vocês precisam de alguma coisa para chegar lá?
(Dona laura) - Não, pararemos o carro perto do jardim, e seguiremos a pé. Na floresta, seremos guiados pelos espíritos de luz.
(Catarina) - Tomem cuidado, aquela floresta é muito estranha..

Dona Laura, então, se levanta do sofá, e todos fazem o mesmo.
(Dona laura) - Estaremos de volta depois do meio-dia.

Eles se despedem de Catarina, entram no carro, e seguem pela estrada que leva ao jardim, parando ao fim da estrada.
Jonas e Jorge pegam as duas bolsas que continham os equipamentos de rapel, enquanto Manuela trazia os livros e anotações.

Os quatro espíritos de luz que acompanham dona Laura, se manifestam na chegada, todos observavam, felizes, as presenças iluminadas ao lado de dona Laura.
Eles seguem na frente, na direção da entrada paralela da floresta. Seguidos por dona Laura, Manuela, Gilson, Jorge e Jonas.
Após passarem pela grama alta, entram na floresta.

Enquanto caminhavam pela trilha, olhavam para cima, admirando o formato de túnel, causado pelas copas das árvores ao redor, que se encontravam ao centro da trilha.

(Manuela) - Aquela, com certeza, é a maior árvore que eu já ví até hoje. Em toda minha vida! Olhem a largura do tronco!

Manuela apontava para uma robusta árvore centenária afastada da trilha.
(Gilson) - Fico mais procupado com eles..
Gilson aponta para o lado oposto.
(Manuela) - Eles quem?
(Gilson) - Concentre-se, observe direito entre as árvores adiante.

Manuela, Jonas e Jorge, observam o lado oposto, e de tempo em tempo, viam figuras passando entre as árvores, tentando se esconder do comboio que subia a floresta.

(Dona Laura) - Escravos. Alguns de seus espíritos, que não foram banidos pelos espíritos de luz, ainda habitam essa floresta. Não os encare. Não precisamos de contratempos. Depois os espíritos de luz fazem uma busca na floresta, mas agora eles só vão nos guia até a pedreira no topo.

Capítulo 161:
Eles então, continuam a subir pela floresta, guiados pelos espíritos de luz
Em determinado momento, Jorge chama a atenção de seu pai:
- Pai, você está ouvindo o que eu estou ouvindo?
(Jonas) - Sim, tambores.
(Dona Laura) - Estratégia. Estão avisando aos demais escravos que estamos no território deles.
(Manuela) - Eles podem ser hostis?
(Dona Laura) - Eles podem tentar, mas nada conseguirão na presença dos espíritos de luz.

As batidas dos tambores, então, aceleram o ritmo, contínuo e reto.
Gilson, olha para o lado, e vê que um aglomerado de espíritos os observava ao longe, enquanto batucavam aquela melodia insana.
Dona Laura pára, e leva as duas mãos na cabeça, fazenda contato com os espíritos de luz. Num movimento rápido, e iluminado por um tênue luz azulada, os espíritos de luz avançam na direção dos batuques, e com um simples toque, os espíritos escravos encontram a luz, e desaparecem daquela floresta.
Ao longe, no sentido oposto, ouvia-se ainda, batidas de tambores, em resposta às batidas primárias.

(Gilson) - Outro grupo de escravos, mas estão bem mais longe.
(Dona Laura) - Não podemos nos desviar do nosso objetivo, vamos continuar subindo. Depois de selado o portal, tudo será mais fácil.

Os espíritos de luz tomam novamente a frente daquele grupo, que continua subindo.
Após alguns minutos, Manuela nota uma peculiaridade na floresta:
- Estranho, a floresta está morta nesse pedaço.. Nem uma folha verde, até os pássaros pararam de cantar, ou não habitam essa parte.
(Dona Laura) - Sinal de que estamos nos aproximando do portal. Nada vive perto de uma fenda entre o muno dos vivos e o mundo dos mortos. Olhem ao redor, tudo está morto.
(Gilson) - Deve ser por isso que sinto que a minha pressão está baixa.
(Jorge) - Eu também.
(Jonas) - Idem.
(Dona Laura) - Concentrem-se, isso é passageiro. É porque mudamos de vibração, essa área é diferente. Já vai passar.

Em poucos minutos de caminhada, eles adentram na clareira no topo, e olham para cima, para a grande pedreira que se erguia.

Capítulo 162:
Jorge e Jonas, deixam as bolsas com os equipamentos de rapel no chão, sobre uma camada seca do que um dia foi grama. E observam a formação rochosa a sua frente.

(Dona Laura) - Jonas, vamos fazer isso o mais rápido possível. Quanto mais rápido curarmos esse lugar, melhor.
(Jonas) - Tudo bem. Jorge, me ajude a montar os cintos de segurança.

Jorge e Jonas, então, ajustam o cinto de Jorge para Dona laura, e a vestem com o mesmo. Após travá-lo ao corpo de Dona Laura, Jonas coloca seu cinto, e o amarra.
Manuela coloca os livros e anotações do centro, em uma mochila, e Dona Laua coloca essa mochila nas costas, dizendo:
- Vamos Jonas?

(Jonas) - Vamos.

Jonas começa a escalar sem corda, prendendo alguns ganchos em fendas nas rochas. Em seguida, passa um grande corda pelos elos, e joga a ponta da corda para dona Laura, dizendo:
- Jorge, prende a corda no mosquetão do cinto dela, e fica aí embaixo de contrapeso.
(Jorge) - Pode deixar.

Jorge passa a corda pelo mosquetão do cinto de Dona Laura e a ajuda a começar a subir, dizendo:
- Fique calma, estarei segurando a senhora daqui de baixo, e meu pai está segurando-a lá de cima.
(Dona Laura) - Pode deixar meu filho, me sinto segura nas mãos de vocês dois. E parece ser mais fácil do que imaginei.
(Jorge) - É bem simples.

Dona Laura, então, começa a subir pelas pedras, sendo içada por Jonas e Jorge.
Jonas, continua a subir e prender ganchos nos vãos das pedras. Alcançando o topo da pedreira
Manuela e Gilson, com a mão em forma de concha sobre a testa, olhavam para cima, acompanhando a subida de dona Laura.
Dona Laura, subia lentamente, firmando passos e se apoiando sobre as mãos em longas passadas.
Dona Laura estava em pêndulo, em um gancho e balança para alcançar uma extremidade distante.
O gancho, com o peso de Dona Laura, gira e se solta da fenda que o prendia, Dona Laura, então, se projeta para baixo.
Manuela leva a mão na boca em espanto com a cena.
(Gilson) - Meu Deus!

Capítulo 163:
Jonas segura dona Laura pela corda em suas mãos, presa ao cinto dela.
(Jonas) - Fique calma Laura! Estou segurando a senhora. Vou desce-la até que toque os pés na superfície abaixo de você!
(Dona Laura) - Tudo bem! Estou bem, meu filho, obrigado por me segurar!

Gilson observa a cena aliviado, dizendo para Manuela:
- Que susto, achei que ela fosse cair.
(Manuela) - Levei susto também, mas não achei que ela fosse cair, pensei que se chocaria contra as pedras.

Os dois continuam observando a escalada de dona Laura.
Em pouco tempo, Dona laura estende o braço direito, e Jonas a puxa para o topo da pedreira.
- A senhora está bem? Não se ralou, né?
(Dona Laura) - Estou ótima, Jonas. Fazia tempo que eu não me aventurava tanto!

O sorriso de dona Laura era muito revelador nesse momento, estava em extase pela a adrenalina daquela escalada. E transparecia sua felicidade.

Jonas sorrí, e diz:
- Que bom! Vamos, acho que o altar fica daquele lado.

Jonas aponta para o lado oposto, donde se via, ao longe, uma formação congurente de pedras.
(Dona Laura) - Exatamente, lá está o altar primário.

Eles caminham pelo terreno acidentado, rochoso daquele lugar.
Dona Laura chama a atenção de Jonas para um local no caminho, onde havia uma ossada seca de um humano:
- Devemos encontrar várias ossadas como essa até lá. Os sacrifícios foram muitos.

(Jonas) - Que coisa horrível!

Jonas, ficou impressionado com a visão daquela ossada, várias fraturas em ossos, revelavam a brutalidade do sacrifício.

Em pouco tempo, as ossadas já eram comum naquele ambiente. Dezenas de corpos davam um tom escuro e marron ao chão pedregoso.
Jonas, muito impressionado, com aquele ambiente, segue com expressão de nojo, e mirava onde pisava.
Em pouco tempo, eles chegam até o altar de pedras.
Os corpos secos no chão, estavam quebradiços. Dona Laura observa Jonas, enquanto ele contava os corpos ao redor do altar.
- Só nesse pedaço tem 29 corpos!

(Dona Laura) - Você está pronto para o ritual?
(Jonas) - Estou, Laura.

Capítulo 164:
Dona Laura, então, pega a mochila que trazia nas costas, e retira dois livros e um bloco onde havia feito algumas anotações.
Os espíritos de luz, estavam cercando os dois em volta do altar, irradiando uma tênue luz azulada.
Dona Laura pega um vidro contendo sal marinho, e caminha ao redor do altar, fazendo um circulo fechado de sal, ao redor do mesmo.
Feito isso, dona Laura abre um dos livros, o mais grosso, e folheia procurando a página exata.
Percorre as linhas da página com o dedo indicador, e pára no meio, dizendo:
- Aqui está!

Ela rasga um pedaço do bloco de anotações, e usa uma tira para marcar a página. Em seguida, abre o outro livro, folheando até achar a página que procurava.

Dona Laura, então, diz para Jonas:
- Meu filho, por favor, fique atrás de mim, pois posso desequilibrar e cair, vou entrar em um transe espíritual com os espíritos de luz para realizar esse feito.

Jonas, prontamente, se posiciona atrás de Dona Laura, que diz:
- Aconteça o que acontecer, não olhe para o portal, você entendeu? Quando eu começar o ritual, feche os seus olhos e só abra quando eu disser.
(Jonas) - Tudo bem, pode deixar.

Dona Laura marca a página do outro livro, e os coloca sobre o altar de pedra.
Ela abre os braços, para cima, e fecha os olhos, dizendo:
- Que nas luzes, nos tornemos um só! Que nas sombras, sejamos um exército!

Jonas fecha seus olhos e fica posicionado com as mãos perto das costas de dona Laura.

As mãos de dona Laura, começam a emanar uma luz amarelada, e os espíritos de luz, um a um, começam a se posicionar no espaço de dona Laura, os quatro espíritos de luz, agora, estavam alinhados com o corpo de dona Laura.
Ela abre os olhos, e sua visão agora podia alcançar o mundo dos mortos, através daquela fenda no chão. O sal impedia que alguma entidade atravessasse para o plano material.

Dona Laura, com os olhos virados, pega então o primeiro livro e o posiciona sobre a mão esquerda. A mão direita estava aberta sobre a página marcada.

Capítulo 165:
Dona Laura, então, começa a dizer uma sequência de palavras incompreensíveis para Jonas. Eram mantras espírituais. A voz de dona Laura, naquele momento, era um coro de 5 vozes: a dela, e mais as dos espíritos de luz, que se manifestavam através das cordas vocais de dona Laura. Era um timbre grave e contínuo.

Conforme dona Laura ia falando, a temperatura ia caindo gradativamente. Após um tempo, Jonas estava sentindo um frio muito intenso.

Dona Laura fecha o livro, e abre o segundo livro, e recomeça a dizer os mantras, porém, sua voz agora, tinha um timbre agudo, muito mais afeminado que o primeiro.

Dos pés da pedreira, Manuela, Jorge e Gilson, olhavam para cima e reparavam na mudança brusca do clima naquele local. Além de muito frio, o céu estava escuro demais para aquele horário.
(Manuela) - O ritual está em andamento.

Gilson aponta para o céu, e diz algo que reparou:
- Vocês estão vendo aquilo?
(Jorge) - Aquilo o que?
(Gilson) - Aquele olho que se forma alí nas nuvens. Elas estão girando em torno dele.
(Jorge) - Sim, posso ver!

O céu estava muito peculiar, as nuvens giravam em torno de um vão, como se estivesse se formando um tornado. O tom negro das nuvens dava um ar sombrio naquela cena.

(Manuela) - É parte do ritual, Laura deve estar lendo os mantras espírituais. Eles abrem o domínio do céu, e do inferno. Quando ela diz que vai selar o portal, é uma metáfora, pois o que acontece, na verdade, é uma equalização das vibrações negativas daquela fenda. Impossibilitando que algum demônio, ou entidade, atravesse para o lado dos vivos.
Os três observam o giro orbital das nuvens bem acima da pedreira.
Dona Laura solta o livro, e o mesmo se mantém erguido a sua frente, flutuando. Ela leva as duas mãos sobre a cabeça, de braços abertos, e começa a aumentar o volume de sua voz em determinadas palavras. Jonas, fielmente aguardava de olhos bem fechados.
Um vapor negro, começa a subir da circunferência de sal, indo direto para a abertura nas nuvens negras, que giravam.
O vapor agora era denso.

Capítulo 166:
O denso vapor negro, aumentava de fluxo, conforme dona Laura repetia a sequência de mantras.
Pontos azulados e amarelados, eram visto em meio à névoa negra que já formava um gigantesco pilarm do topo da pedreira até o céu.
Em forma de espiral, o ar começa a girar nesse pilar negro de névoa.
Os ventos eram muito velozes, e aos pés da pedreira, a imprensão que se tinha era a de que um forte temporal começaria a qualquer momento.
Gilson observava atentamente o céu acima da pedreira, relampagos azuis, mostravam de relance, a entrada da fenda nas nuvens, que parecia sugar a névoa negra para o céu.
As árvores, na floresta atrás deles, chacoalhavam com a intensidade dos ventos, Jorge olhava ao redor as folhas secas que pairavam no ar.
Dona Laura, continua a repetir, incansavelmente, a sequência de palavras que estavam em andamento no ritual.
O sal em volta do portal, então, começa a brilhar, mostrando exatamente o contorno do altar primário.
Jonas, de olhos fechados, além de ouvir a voz de Laura e dos espíritos manifestados, ouvia rosnados e vozes monstruosas que pareciam vir de debaixo de seus pés. Jonas estava tenso nesse momento. Mas sabia que não poderia abrir os olhos, se mantivesse contato visual com algum demônio, com o portal aberto, esse poderia possuí-lo de imediato.

Com o fluxo altíssimo que subia daquele círculo de sal, o altar então começa a se desfazer. As pedras que o compunham, se tornaram areia, e foram sugadas para as nuvens.

A névoa então começa a se dissipar, e uma luz branca começava a descer dos céus, pela fenda que antes sugava.
Dona Laura muda a sequência de Mantras, e o pilar agora era formado por uma luz branca irradiante. Era como se o sol estivesse bem acima daquele lugar.
Jonas sente a temperatura voltar ao normal, e Dona Laura então, começa a bambear, caindo para trás. Jonas a segura em seus braços, e ainda permanece de olhos fechados. Dizendo:
- Você está bem? Posso abrir os olhos?
(Dona Laura) - ... Está feito... Sim... pode abrir seus olhos...
Dona Laura Sussurrava..

Capítulo 167:
Jonas, então abre seus olhos, e olha o ambiente ao redor, e vê que a formação rochosa do altar, já não estava mais alí em sua frente. Ele olha para dona Laura em seus braços.
Dona Laura estava pálida, e seu corpo estava gelado, Jonas a observa, dizendo:
- Laura, você está bem? Sua pele está tão fria..

Dona Laura, demora um pouco para responder:
- Estou fraca, me deixe sentar um pouco.

Jonas leva dona Laura até uma pedra que serviria de acento para ela, por ter onde encostar as costas, e a coloca cuidadosamente sobre a mesma.
Dona Laura estava com as mãos trêmulas, quando pegou no rosto de Jonas, olhando fixamente para seus olhos, diz:
- Você não abriu os olhos né?
(Jonas) - Não, em momento algum.
(Dona Laura) - Graças a Deus, meu filho, Graças a Deus.

Dona Laura descansa, enquanto Jonas olha para o céu, que abria em velocidade recorde, as nuvens se dissiparam muito rapidamente, e o sol brilhou em pouco tempo naquele lugar.

Após quase meia hora, dona Laura abre os olhos, e com um sorriso singelo no rosto, diz para Jonas:
- Está feito, o portal foi selado com sucesso. Nesse momento, os espíritos de luz estão varrendo a floresta, em busca dos espíritos escravos que ainda habitam aquele lugar. E devolvendo o sopro da vida para a vegetação que estava morta.
(Jonas) - Que bom que conseguimos! Enfim aquela família terá paz em sua vida.
(Dona Laura) - Pois é, Catarina é um doce de pessoa, vamos dar um passe nela antes de irmos embora. Dalva com certeza deve ter feito algo para comermos quando lá chegarmos.
(Jonas) - Hum.. Que bom, estou mesmo com fome.

Dona Laura sorrí, e diz:
- Então, vamos iniciar a descida?
(Jonas) - Sim, claro!

Dona Laura, se levanta, e recolhe os livros que estavam no chão, e os guarda em sua mochila, e a coloca em suas costas.
Jonas e dona Laura, então, caminham até a extremidade por onde havia subido.
(Jonas) - A senhora desce primeiro, eu ficarei aqui firmando a corda. A descida é mais fácil.
Jorge estava a postos lá embaixo, segurando a outra ponta da corda


Capítulo 168:
Dona Laura, então, começa a descer lentamente, firmando-se na corda, e pisando de pedra em pedra. Jonas dava coordenadas para dona Laura, e a segurava firmemente pela corda.
Em poucos minutos, dona Laura chega até o chão, sendo recebida por Manuela , Gilson e Jorge, com sorrisos estampados.
(Manuela) - Como foi lá em cima?
(Dona Laura) - Cansativo. Mas deu tudo certo. O trabalho foi realizado com sucesso.
(Gilson) - Daqui de baixo deu pra ver o tempo mudando através da fenda. Ficou muito frio, e o céu girava em torno do portal.
(Dona Laura) - Lá em cima tem muitas ossadas, restos dos sacrifícios feitos naquele maldito altar. Seu pai ficou bem impressionado, Jorge.
(Jorge) - Imaginei, ele é muito sensível. Deve ter captado toda a dor do ambiente.
(Dona Laura) - E captou mesmo. Jonas sempre foi sensitivo. Mas ficou tranquilo na minha presença. E me ajudou ao final do ritual, pois eu cairia de costas naquelas pedras do topo. Ele ficou o tempo todo atrás de mim, pois achei que isso podia acontecer, e aconteceu.

Jorge firmava a corda, enquanto Jonas descia rapidamente, retirando os ganchos das fendas nas pedras.
Pouco depois, Jonas já estava junto dos outros no chão.
Após arrumarem os equipamentos nas bolsas, eles agora começam a seguir de volta para a sede da fazenda.
A parte morta da floresta, agora estava se recompondo, e isso era notável pela presença de muitos pássaros nos galhos secos das grandes árvores ao redor.

Os espíritos de luz, já estavam fazendo a segunda busca na floresta, procurando por espíritos escravos remanescentes. E em pouco tempo, voltam para a presença do grupo.

(Dona Laura) - Pronto, os espíritos de luz já baniram todos os espíritos escravos que habitavam essa floresta. Concluímos todo o nosso plano.

Na descida, alguns pássaros, se sentiam tão a vontade na presença dos espíritos de luz, que seguiam o comboio de muito perto. Gilson observa sorridente aqueles pequenos pássaros, que pareciam agradecer ao grupo, por trazer a paz novamente para a floresta deles.

Capítulo 169:
Dona Laura observa, satisfeita, o sorriso de Gilson. Era bom ver aquele homem sorrir, visto que Laura já o tinha visto tantas vezes chorar. Seu desequilíbrio emocional era oscilante. Ele às vezes sonhava com o incêndio que causou a morte de sua esposa, e ficava deprimido, pois se sentia culpado por não ter conseguido salvá-la. Dona laura sabia disso, e sempre o confortava nesses momentos. Vê-lo sorrir satisfeito, de forma espontânea, era muito gratificante para ela.

(Manuela) - Os pássaros estão acompanhando a gente desde lá de cima!
(Gilson) - Estou vendo! Não é maravilhoso?! Olhem quantos!

Todos desviam seu olhar para o bando de pássaros que pulava de galho em galho atrás do grupo.

(Dona Laura) - Todos os seres da floresta sabem o que aconteceu naquela pedreira. Eles sentem a floresta diferente agora.

Eles continuam, e em pouco tempo, saem pela entrada da trilha, e caminham até o jardim do bosque, onde estava o carro de Jonas.
Jorge e Jonas guardam as bolsas no porta-malas, e todos entram no carro, rumando para a sede da fazenda.

Lá chegando, por volta de 13:30h, Dalva já os aguardava na porta da cozinha. Ao chegarem, Dalva diz:
- Como foi tudo lá, tia Laura? A senhora está bem?
(Dona Laura) - Sim, estou bem! Lá em cima deu tudo certo em nossa missão.
(Dalva) Eu ví daqui como ficou o céu! Fiquei assustada.. Vocês estão com fome?

Dona Laura se vira para Jonas, e diz:
- Não te disse!!

Jonas sorrí..
Eles aceitam, e Dalva serve para eles, broa de fubá com café fresco.
Catarina se junta a eles, e faz várias perguntas para o grupo.
Depois de explanada a situação para ela, dona Laura diz:
- Vamos dar um passe en você.
(Catarina) - Passe?
(Dona Laura) - É um tipo de energização da mente, do corpo e da alma.

Catarina concorda, e se deita no sofá, sendo cercada pelos cinco médiuns e os quatro espíritos de luz.
Eles abrem as mãos, com os braços a frente do corpo, e aproximam-se da pele e de Laura, e aproximam as palmas de ambas as mão, de Catarina.
Um silêncio reina o ambiente.

Capítulo 170:
Catarina permanece deitada, e as mãos dos médiuns, estavam bem próximas de sua pele, ela conseguia sentir o calor a distância.
Em pouco tempo, Catarina sente seu corpo mais leve, e um formigamento era notado em seus contornos.
Um grande sentimento de paz invade seu corpo e mente, o que faz com que ela sorria com os olhos fechados.
Sua consciência ia ficando cada vez mais vaga, era uma sonolência diferente.
A cada degrau descido, em sua escala de consciência, mais onolenta ela ficava.
Em pouco tempo, ela dorme.
Os médiuns ficam alí mais alguns minutos, dando o passe, até que terminam.

(Dona Laura) - Vamos deixar ela dormir um pouco. Foi um passe pesado, mas ela acordará muito bem disposta.

Eles saem da sala, e vão até a cozinha, onde se despedem de Dalva.
(Dona Laura) - Minha filha, já estamos indo. Catarina agora dorme no sofá da sala, demos um passe nela.
(Dalva) - Ok. Um beijo tia, vão com Deus!

Após todos se despedirem, eles rumam até o carro, e saem pela porteira.

Catarina estava em um sono profundo e tranquilo, com o sorriso ainda em sua face.

No mesmo momento, mas no outro lado do planeta..
Pedro estava caminhando pelas ruas de Melborne, com sua mochila nas costas. Ia para o prédio onde fazia o curso de pós graduação em Marketing voltado para administração de empresas.
Em suas mãos, estava o pen drive com os arquivos que ele fez na fazenda. No curso, mostraria para uns amigos, que o ajudariam a analizar as imagens captadas, com figuras de pessoas mortas, que caminhavam pela floresta.
Pedro já havia visto os vídeos várias vezes em seu notebook, agora ele tornaria aquilo mais público.
Ele chega no curso, e nas primeiras aulas, comenta com um amigo, Josh, sobre sua viagem ao Brasil, e diz ter algo interessante para ser analisado por ele.
Josh era design gráfico, e fazia vídeos amadores em festivais. Possuia um mini estudio de edição de imagens em sua casa.
(Pedro) - Captei alguns espíritos malígnos em uma filmagem. Sinistro.
(Josh) - Sério?!

Capítulo 171:
(Pedro) - Aham, meus pais moram em uma fazenda que foi produtora de café há mais de um século, vários escravos foram assassinados naquele lugar.. É uma longa história, mas consegui filmar alguns na floresta.
(Josh) - Nossa, deve ter sido assustador! Depois da aula você me mostra, tá com você aí?

Pedro balança o pen drive para Josh, em resposta positiva.
Após a aula, eles seguem juntos pelas ruas de Melborne, e em cerca de meia hora de caminhada, chegam até a casa de Josh.
No estúdio, Josh liga seu computador, e coloca o pen drive na máquina, e abre-se uma janela contendo os aquivos de foto e vídeo.
Josh abre as fotos, e vai passando uma a uma. Pedro aponta seus amigos na imagem que foi tirada no churrasco.
(Pedro) - Esses caras são muito maneiros! Se você um dia for visitar o Brasil, pode ficar na minha casa, e te apresento os figuras.

Josh dá um sorriso, sem tirar os olhos da tela.
Fotos panorâmicas da fazenda mostravam toda a beleza daquele local. Josh elogia a paisagem e diz:
- Lá deve ser um paraíso para se morar.

Pedro faz uma breve pausa, e diz:
- Sim, pode se dizer que sim.

Após ver todas as fotos, Josh pergunta para pedro:
- Qual desse é o vídeo que tem espíritos?
(Pedro) - Todos, na verdade é um só, só que está dividido, tem como juntar todos em um só nessa ordem?
(Josh) - Tem, vou fazer.

Josh então, junta todos os arquivos de vídeo e um só, e o executa.

Em silêncio, os dois observam a tela, Pedro narrava todos os objetos que encontrava no antigo quilombo.
Josh faz uma cara de impaciente, e diz:
- Onde estão os fantasmas?
(Pedro) - Calma rapaz! É mais pra frente.

Após o primeiro corte, a cena já é na floresta.
(Pedro) - Se liga!

Josh observa atentamente a sequência de imagens, e para a surpresa de Pedro, os espíritos que apareciam antes, já não apareciam mais.
(Pedro) - Ué? Tem algo errado, alí estava cheio de espíritos!? Deve ter sido na compactação!
(Josh) - A compactação não altera imagens, Pedro..
(Pedro) - Mas já era para ter aparecido vários!!

Capítulo 172:
Pedro, confuso, pede para Josh retornar a imagem, mas mesmo assim, nenhum espírito aparecia mais no vídeo.
(Josh) - Eu cheguei a acreditar mesmo que veria fantasmas nesse vídeo..
(Pedro) - Cara, não sei o que aconteceu, mas eu não mentí pra você!

Novamente eles assistem todo o vídeo, e nenhuma aparição incomum.
(Josh) - Essa sequência parece algo meio "A bruxa de blair". Se era essa sua intenção.
(Pedro) - Cara eu estava apavorado esse momento! Várias vozes ao meu redor, e a floresta parecia que se mexia, reconfigurava-se para que eu não saísse dela.

Josh não contém uma risada sarcástica, e diz:
- Você devia estar muito louco na hora que pegou a câmera!
Pedro percebe que não daria em nada tentar convencer Josh, que de alguma forma inexplicável, o vídeo estava diferente do que ele havia visto antes. E se conforma, dizendo:
- Bom, que pena que não apareceu nenhum fantasma.

Após alguns minutos, Pedro pega seu pen drive e se despede de Josh, saindo rumo a sua casa, no outro lado da cidade.

O vídeo, na verdade havia captado mesmo as imagens dos espíritos escravos, porém, como os espíritos de luz baniram eles da floresta e da existência humana, automaticamente, suas imagens se dissiparam das filmagens. Pedro nunca saberia disso. Mas tinha muita certeza do que viu, ouviu e sentiu naquele dia na floresta.

Catarina acorda no sofá, e sente muita diferença em seu corpo. Estava leve, bem disposta e incrivelmente feliz e em paz consigo mesma.
Após espreguiçar, ela calça os chinelos, e vai até a cozinha, onde Dalva estava.
(Dalva) - Como a senhora está?
(Catarina) - Ótima! Onde estão Laura e os outros?
(Dalva) - Já foram, e tem até um tempinho. Deixaram beijos pra você, e minha tia disse para eu te passar o telefone do centro espírita, ela aguarda uma visita sua lá.
(Catarina) - Poxa, achei que não dormiria tanto, nunca tinha feito isso, esse passe.
(Dalva) - E foi um 'senhor passe!' Com os médiuns mais poderosos fazendo o passe juntos.
(Catarina) - Visitarei o centro com certeza!!

Capítulo 173:
Mais tarde, por volta das 17h, Paulo chega com a caminhonete, e é recebido por Catarina com um grande beijo.
(Catarina) - Meu amor!! Que bom que você chegou! Tenho umas coisas muito boas para te contar!

Paulo fica surpreso com o demasiado bom humor de sua esposa, e sorrí, dizendo:
- Então diga!

Catarina e Paulo entram na casa, e se sentam na sala.
Ela conta para ele tudo o que aconteceu naquele dia, e sobre o quanto ela estava feliz por se sentir, agora, segura na fazenda. Fala sobre sua idéia de começar a frequentar o centro espírita. Paulo ouve tudo atentamente, com um sorriso sincero e singelo estampado em seu rosto.

(Paulo) - Que maravilha!! Quer dizer que eles retiraram todos os espíritos escravos que haviam aqui?!
(Catarina) - Sim! Enfim podemos ficar tranquilos, sem imaginar as coisas sobrenaturais que por ventura aconteceriam!

Os dois sorriem, e se beijam. Subindo, em seguida, para o quarto deles.
Dalva estava feliz, pois não conseguiu deixar de ouvir a empolgação de Catarina ao falar dos acontecidos, e do passe.

Daquele dia em diante, tudo começou a correr muito bem na vida deles. Paulo já não tinha mais o receio de que sua esposa pudesse sair perambulando inconsciente pela fazenda, ou ver e ouvir espíritos na fazenda.

Em poucos meses, a colheita do milho foi feita, em clima de festa: Milton, Rogério, Paulo, Catarina e Dalva, com grandes cestas de palha, andavam pelos campos colhendo espigas, cantando juntos uma canção antiga, ensinada por Rogério:

"Obrigado mãe-terra, pela luz e pelo sol
Obrigado! Obrigado!
Obrigado mãe-terra, pelo ar e pela água
Obrigado! Obrigado!
Pelas flores, pelos frutos, pela vida
Obrigado! Obrigado!
Por tornar a nossa vida mais bonita
Obrigado, Obrigado!"

O ano se passou, e Pedro retornou, formado, para o Brasil.
A alegria de seus pais era tremenda, Pedro agora estava em solo nacional, e ainda que passasse a semana no Rio de Janeiro, se interando dos negócios de seu pai, nos fins de semana, ele ficava na fazenda com os pais.

Capítulo 174:
Algumas vezes, Pedro voltava para a fazenda acompanhado de seus amigos, e era sempre uma festa. A qualidade de vida de Catarina e Paulo havia chegado onde eles sonhavam.
Paulo, construíra, onde fôra o porão secreto, uma pequena oficina, e também uma adega. Lá ele podia fazer seus pequenos serviços para a fazenda, e ainda se dedicava ao artesanato em madeira, que começou a aprender com ajuda de Milton.

Catarina ia ao centro espírita, na cidade vizinha, todas as quartas-feiras, e estava adorando tudo o que aprendia sobre aquela doutrina.
Tudo estava muito bem.

No meio do ano seguinte, Dalva iria se casar. Já morava junto de seu amor há algum tempo, iria apenas oficializar. E a festa, foi por conta de Paulo, que promoveu um segundo casamento simbólico para ela, em uma grande festa junina que ele organizou na fazenda.
Dalva estava muito feliz também, e se emocionou com a atitude de Paulo.
Todos vestidos a carater, dançavam quadrilha em volta da fogueira. Pedro, que agora namorava Ana Luíza, seria pai daqui há 7 meses, e ainda não sabia de nada. Foi uma noite emocionante, pois Ana Luíza contou para Pedro que o exame de gravidez havia dado resultado positivo. Pedro, muito feliz com o que ouvira, em determinado momento, pega o microfone da banda de forró que tocava, e disse:

- Gostaria de um minuto da atenção de todos vocês!

Todos olham para o pequeno palanque improvisado, onde estava Pedro a se pronunciar:
- Pai. Mãe. Hoje está sendo uma noite maravilhosa. Gostaria de, em nome de todos, dar os parabéns para Dalva pelo seu casamento!!

Todos vibram com a atitude de Pedro.
- E queria dizer aos meus pais, que eu os amo muito! E que em alguns meses, a nossa família vai aumentar, vocês serão avós!!!

Uma grande vibração tomou conta de toda a festa:
- AAAAAAAAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Muitos jogaram o chapéu para o alto comemorando. Os amigos de Pedro, surpresos, foram dar os parabéns para ele. Catarina e Paulo, muito emocionado, abraçam Pedro, e os três são aplaudidos.

Capítulo 175:
Foi uma noite memorável, a fazenda esbanjava alegria.
Na manhã seguinte, Milton e Rogério limpavam o gramado, quando Paulo saiu com a caminhonete, acenando para os dois, dizendo:
- Vou até a cidade, e volto para dar uma mão pra vocês!

Rogério e Milton acenam de volta.
Pedro estava dormindo, e só se levantou para se despedir de seus amigos, que precisavam chegar cedo ao Rio de Janeiro. Em seguda, desabou na cama de novo. Dalva estava de folga, por esse motivo, Catarina fazia um café na cozinha.
Estava uma manhã ensolarada, e pela janela da cozinha, Catarina via Milton e Rogério em seus afazeres. Sorridente, aguardava a água ferver na chaleira.
Catarina, ainda sonolenta, se senta, e começa a ler uma matéria no jornal que estava em cima da mesa da cozinha, e acaba cochilando.
Durante o cochilo, Catarina se vê caminhando pela estrada que levava ao jardim do bosque, enquanto uma figura, ao longe, vinha ao seu encontro.
Estava tudo como naquela manhã, o sol, Milton e Rogério, do outro lado, limpavam a grama. Ela olha para adiante, e sente um calafrio lhe subir pela espinha: Adamastor se aproximava, vinha ao seu encontro.
Seus olhos bem abertos, indicavam exatamente o que ele sentia naquele momento, raiva, ódio.
Catarina se vira, e quando tenta voltar, algo não deixa que ela se mova, ela olha para o chão, e vê que grandes e enferrujadas correntes prendiam seus pés ao solo.
Adamastor se aproximava e já estava muito perto. Ele estica as mãos, e quando vai tocar em Catarina..

-- Fíííííííííííííí!!!!!
A chaleira fervente, apitou e fez com que Catarina despertasse de seu cochilo, para seu conforto.
Ainda assustada, ela olha ao redor, e se levanta, passando o café, achando até absurdo o sonho que tivera. Solta uma discreta risada de sí mesma.
Ela enche uma xícara de café, e volta para a mesa, onde lia o jornal.
Algo chama a atenção dela para a janela da cozinha, alguém havia passado, no sentido do final da casa, porém, não conseguiu ver quem era.
Ela sai pela porta, e se direciona para aquele lado.

Capítulo 176:
Pedro se levanta, com a cabeça meio dolorida, causada pela bebedeira que foi na noite anterior. Ao seu lado, estava Ana Luíza, deitada com a mão embaixo do travesseiro.
Pedro sorrí, lembrando que seria pai. Ana Luíza se mostrou uma pessoa muito boa, e Pedro estava muito feliz com a relação que tinham, fazia planos de se casar antes do filho nascer.

Ele vai ao banheiro, e lava o rosto, sem despertar Ana Luíza. Em seguida desce as escadas, indo para a cozinha.
Ele olha para a pia, e o café estava ainda no coador, a garrafa aberta ao lado.
Pedro olha, achando estranho a ausencia de sua mãe.
Ele enche uma xícara de café, e ao tomar, nota que o mesmo está frio. E diz para sí mesmo:
- Argh! Que coisa horrível!

Se levanta, e chama por sua mãe:
- Mããeee!

Sem resposta.
Ele sai pela porta da cozinha, e olha ao redor e nem sinal de Catarina.
Ele vê que a caminhonete não estava ao lado da garagem, e pensa:
" Ah tá, saiu com meu pai e nem acabou de passar o café.."
- Dalva, que falta que você tá fazendo hoje..

Ana Luíza desce e vê Pedro na cozinha, fervendo uma chaleira de água, e diz:
- Bom dia, meu amor! Vai fazer café??
(Pedro) - Sim, minha mãe fez e não botou na garrafa térmica, tá gelado!
(Ana Luíza) - Mas ela está aonde?
(Pedro) - Saiu com meu pai.. Não sei onde foram.
(Ana Luíza) - Deixa que eu faço o café, você não deve ser muito experiente com isso..

Ela rí ironicamente

(Pedro) - Você quem pensa!! Fiz muito café lá na Austrália, você vai aprovar com certeza..

Ana Luíza se senta e aguarda o café.


Capítulo 177:
Pedro, então, coa o café, e serve duas xícaras.
Ana Luíza prova, e diz:
- É, não é o pior que eu já tomei..
(Pedro) - Fala sério! Esse café é o melhor que você já tomou.

Os dois riem, e por um momento, Pedro se lembra de algo que não passava pela sua cabeça há muito tempo: A história do Barão do café.
Nesse momento Pedro queima sua lingua com o café quente.
Em pouco tempo, esse pensamento sai de sua cabeça.

A hora do almoço se aproxima, e Pedro acha estranho a demora de seus pais, e resolve ligar para seu pai:
- Alô?
(Pedro) - Pai, minha mãe tá com você?
(Paulo) - Não, meu filho, ela tá em casa, você está aonde?
(Pedro) - Estou em casa, achei que ela estivesse com o senhor, não a ví hoje ainda.

Uma pausa é feita dos dois lados da ligação.

(Paulo) - Estou indo pra aí!

Paulo desliga o telefone, e imediatamente pára as compras que estava fazendo, e segue a passos largos até a caminhonete. Seguindo rumo a fazenda.

(Ana Luíza) - Que foi Pedro, ela não está com ele?
(Pedro) - Não, ele disse que ela está aqui..

Pedro sai pela cozinha, e corre até perto dos campos, e grita para Rogério e Milton:
- Hey!! Vocês viram a minha mãe??!

Os dois respondem que não, e Pedro volta para dentro da casa, dizendo para Ana Luíza:
- Lú, procure em todos os quartos lá em cima, que eu procuro aqui em baixo!
(Ana Luíza) - Tá, mas porque você está nervoso assim?
(Pedro) - É uma longa história, faça o que te peço, por favor..

Ana Luíza adere toda a tensão de Pedro e sobe as escadas rapidamente.

Pedro e Ana Luúza abrem todos os cômodos da casa, e nem sinal de catarina.
Após alguns minutos, Paulo chega com a caminhonete e entra apressadamente em casa, vendo Pedro e Ana Luíza andando pela casa.

(Paulo) - Vocês acharam ela?
(Pedro) - Não.

Paulo se senta, e leva as duas mãos na cabeça.
- Ai meu Deus!!

Pedro olha para seu pai, e diz:
- Fica calmo pai, ela deve ter saído, e como eu estava dormindo, ela não avisou ninguém.
(Paulo) - Rogério e Milton!! Eles viram ela??
(Pedro) - Não.

Capítulo 178:
Paulo não contém uma discreta lágrima.
(Pedro) - Fique calmo pai, a gente vai encontrá-la.
(Paulo) - Você não entende. Vou lhe mostrar. Pegue um envelope azul que está na gaveta da biblioteca, por favor.

Pedro corre até a biblioteca, e retorna com o envelope solicitado por seu pai.
Paulo, lentamente abre o envelope, e tira um papel dobrado de dentro dele, e entrega a Pedro.

Pedro, tenso, desdobra o papel, e Ana Luíza pôde reparar a brusca mudança em sua feição.
(Pedro) - Não pode ser!!
(Paulo) - Por isso não quiz que você visse quando encontramos.

Era o desenho que Paulo havia encontrado no baú, e ocultado de Pedro.
Pedro olha a data do século passado, e vê perfeitamente a imagem de sua mãe.
(Pedro) - Isso é uma grande coinscidência, quem é essa do desenho?
(Paulo) - A baroneza, esposa do barão do café, que teve o caso com o escravo que tiramos do porão.

Pedro se senta, com o olhar vago, seu cérebro trabalhava tão rápido, que não conseguia se concentrar.
Ana Luíza observa aquilo, sem jeito, e sem saber o que falar ou fazer.

(Pedro) - Dona Laura, ligue para dona Laura!!

Paulo pega a agenda telefônica, e disca rapidamente o número dado por ela.
Uma atendente do centro espírita atende, e rapidamente Paulo diz:
- Bom dia, gostaria de falar com a Laura?

A atendente a chama, e em cerca de um minuto:
- Alô?
(Paulo) - Dona Laura?
(Dona Laura) - Sim, quem é?
(PAulo) - É o Paulo, liguei por que algo aconteceu essa manhã. Catarina sumiu, sem deixar vestígios.
(Dona Laura) - Como assim?
(Paulo) - Não sei, por favor, ajude-nos, depois de tanto tempo, acho que algo ainda habita essas terras.

Dona Laura faz uma pausa, e diz:
- É quase impossível, mas de toda forma, estou indo para aí, chegarei de tarde.

Paulo agradece e desliga o telefone.
(Paulo) - Ela está vindo, chegará dépois do almoço.
(Pedro) - Pai estou com medo, ela nunca fez isso antes.
(Paulo) - Na verdade, fez sim.

Pedro torce o rosto, encarando seu pai.
(Paulo) - Na noite em que removeram o corpo de Adamastor.

Capítulo 179:
(Pedro) - O quê?! Como assim?
(Paulo) - Ela parecia estar em um transe sonâmbulo, e foi andando até o jardim do bosque. Depois desmaiou.
(Pedro) - O que mais você não me contou e mostrou?
(Paulo) - Nada.
(PEdro) - Vou até o jardim do bosque atrás dela.
(Paulo) - Pedro...

Pedro sai pela porta da cozinha, e grita para Rogério:
- AÊ! Vou pegar a moto e já trago de volta!
(Rogério) - Beleza!

Pedro corre até o celeiro, e liga a moto de Rogério, saindo em velocidade pela estrada do jardim do bosque.
Rapidamente ele chega até lá, e começa a chamar por Catarina, sem resposta.
Ele olha para a direita, e ao longe, vê a entrada da trilha na floresta. Ele se encaminha para lá, e em velocidade começa a subir pela trilha.
PEdro nota que a floresta estava um pouco diferente da última vez em que ele havia entrado.
Ele continua a subir, e em pouco tempo, nota que a antiga parte morta da fazenda agora estava mais viva do que nunca, e ao passar pelo ponto, a moto não morreu como antes morria.
Ele pára perto da pedreira, e olha ao redor.. Nem sinal de catarina, ele vai até o local onde era o antigo quilombo, e também não a vê.
Rapidamente ele retorna pela trilha, e em pouco tempo alcança a estrada, voltando para a sede da fazenda.

Paulo estava parado na porta da cozinha, ao lado de Ana Luíza, observando a chegada de Pedro, e diz:
- E aí? algum sinal dela?

Pedro, descendo da moto, diz:
- Não, nada. Fui até a floresta e voltei, e nem sinal da mamãe.

PEdro, tenso, diz:
- Dona Laura podia chegar logo, estou com um mal presentimento, pai.
(Paulo) - Não fale isso! Sua mãe está bem, e nós vamos achá-la!

Ana Luíza observava a tensão dos dois, sem entender o aparente motivo para tanta preocupação.

Pedro dá a volta pela casa, em busca de algum vestígio, e nada encontra.
Ana Luíza, se vira para ele e diz:
- Fique calmo, meu amor, pra que tanta euforia assim?

PEla primeira vez, Pedro grita com Ana Luíza:
- ESSA FAZENDA TEM UMA HISTÓRIA MACABRA!! DEMÔNIOS E ESPÍRITOS. MINHA MÃE CORRE PERIGO!!!

Capítulo 180:
Ana Luíza, arregala os olhos, e após Pedro acabar de dizer, ela se vira, sem nada dizer, e entra na casa.
Pedro leva as duas mãos no rosto, dizendo:
- Droga!

Paulo, após algum tempo, diz:
- Não devia falar assim com ela, meu filho.
(Pedro) - Mas ela não entende!
(Paulo) - Então explique. Ela não mereceu a forma como você gritou com ela. Não se esqueça que ela está grávida.

PEdro, controlando sua respiração, diz:
- O senhor tem razão, vou falar com ela.

PEdro entra na casa, e sobe para seu quarto.
Ana Luíza estava deitada com o rosto prensado contra o travesseiro. Pedro entra e se senta na cama, ao lado dela.
Passando as mãos em seus cabelos, e diz:
- Me desculpe por ter gritado com você.. É que eu estou muito apreensivo. E realmente tem muita coisa que você não sabe sobre essas terras.

Ana Luíza se vira, e Pedro nota que ela estava chorando. Ela diz:
- Não sei mesmo. Pois você não me contou nada sobre isso. Estava tentando te acalmar, só isso..
(Pedro) - Eu sei, me desculpe Lú. Isso não vai se repetir.

Ana Luíza se senta na cama, e com um sorriso esboçado, abraça Pedro, dizendo:
- Tá perdoado.. Mas me conte a história dessa fazenda.

PEdro, então, conta para ela, tudo o que sabia sobre a história do Barão do café. Conta também sobre os acontecimentos bizarros que alí ocorreram, e os que ele havia presenciado.

Algum tempo depois, ela pergunta:
- Mas e aquele desenho que seu pai mostrou da sua mãe lá na cozinha?
(PEdro) - Não é a minha mãe, é a baroneza, morta há mais de um século. Agora você entende?

Ana Luíza, diante de tantas novidades, gagueja:
- Si..sim. Acho que sim.

(Pedro) - Estou com fome, e você?

Eram quase meio dia, e Ana Luíza responde:
- Também estou, quer que eu prepare algo para a gente comer?
(Pedro) - Seria muito bom.

OS dois descem, e Ana Luíza pega alguns potes com comida na geladeira, e esquenta no fogão.

Após algum tempo, Paulo, Pedro e Ana Luíza almoçavam juntos. A ausência de Catarina à mesa, fez que se formasse um silêncio alí.

Capítulo 181:
Após o almoço, Pedro lavava as louças, e ana Luíza secava e guardava, Paulo estava tentando se manter calmo, mas a ansiedade pela chegada de Dona Laura, o deixava inquieto.

Pedro e Ana Luíza, vão até a sala, e ficam no sofá, sentados, olhando a TV.
Paulo estava na cozinha, sentado, e em silêncio, rezava.

Passada quase uma hora, Paulo escuta o que tanto esperava:
- Sr. Paulo?!

(Paulo) - Dona Laura!! Pedro, ela chegou!!

Paulo abre a porta, e vê dona Laura parada alí. Pedro e Aba Luíza chegam ao lado de Paulo.

(Pedro) - Dona Laura, que bom que a senhora veio, a gente tava...

Dona Laura interrompe Pedro, dizendo:
- Eu sei, meu filho, eu sei.

A expressão de dona Laura estava muito diferente da de costume, e ela diz:
- Sr. Paulo, gostaria de falar com o senhor, em particular, se possível.

Paulo olha para Pedro e Ana Luíza, e os dois entram na casa, Paulo sai, e dá alguns passo ao lado de dona Laura.

(Dona Laura) - Tenho algo a dizer, algo muito ruim Paulo..
Paulo comprime os lábios, e diz:
- O que houve??

Dona Laura respira fundo, e diz:
- Estive com Catarina agora.
(Paulo) - E onde ela está!?? Estamos procurando ela desde de manhã!
(Dona Laura) - Ela está bem do meu lado...

Dona Laura não contém uma lágrima que rola.
(Paulo) - MAs como assim? Não vejo nada!!!
(Dona Laura) - Paulo, Catarina faleceu. O espírito dela está ao meu lado.

Dona Laura toca a mão de Paulo, e fecha os olhos. Aos poucos, Paulo consegue visualisar sua esposa, ao lado dela..
(Paulo) - Não... Por Deus! Não...
(*Catarina) - Meu amor.. me perdoe, era o meu destino.. Adamastor me persegue desde outra vida. Foi um grande equívoco da parte dele, mas está feito. Ele me matou essa manhã.

Paulo estava em visível estado de choque, e nada consegue dizer. E solta a mão de dona Laura. A imagem de sua esposa desaparece diante de seus olhos.
(Paulo) - Diga que isso é um pesadelo, dona Laura, diga!
(Dona Laura) - Gostaria muito de dizer isso. Mas não é. Sinto muito, Paulo, sinto muito mesmo..
Paulo chora.

Capítulo 182:
Paulo, inconformado, diz:
- Mas porquê?? Isso não é justo!!

Dona Laura aproxima-se de Paulo, e toca, de novo, em sua mão.
Catarina, novamente se torna visível para Paulo.
(*Catarina) - Paulo, esou calma, pois aprendi muito sobre a transição entre a vida e a morte, não me deixe mais triste do que estou. Pedro precisa de você. Eu fui a reencarnação de alguém que deixou uma dúvida pendente, mesmo após a morte. Adamastor se sentiu traído. Agora, em espírito, consigo me recordar de minha outra vida. Mesmo que de longe. Realmente houve uma história de amor entre eles. Mas abraçada por um terrível mal entendido..
(Paulo) - Eu estou viúvo.. Viúvo. Como você quer que eu entenda. Pra mim ainda é um terrível pesadelo. Vou acordar daqui a pouco, e tomar o seu café.
(*Catarina) - Não, não vai. E eu sinto muito por isso. a gente teria ainda muito pela frente, meu amor. Sinto te abandonar na nossa jornada. Não foi minha culpa, e nem em outra vida..

PAulo leva as mãos no rosto, e chora compulsivamente.
Pedro, vê tudo da porta, e diz para Ana Luíza:
- Fique aqui, por favor.

Pedro corre até seu pai.
Ana Luíza observa o momento em que Pedro cai de joelhos no gramado, cobrindo os olhos, soltando um gultural.. NÃÃÃOOO!!!
Ela corre até ele, e a tristeza se mostra em nível cavalar naquele trio.
Dona Laura afaga os cabelos de paulo, que abraçava seu filho com muita força.

Após um certo tempo, Pedro sai com Ana Luíza, e dona Laura diz para Paulo:
- Temos que remover o corpo, mas prefiro que você não participe disso. Vou ligar para o centro, e els virão com uma equipe do IML.
(Paulo) - De forma alguma!! Eu quero ver a minha esposa pela última vez!! E como saberemos onde está o corpo??

Dona Laura olha séria para Paulo, e diz:
- Ela nos mostrará..

Paulo, em choque, diz:
- O que eu vou fazer agora, dona Laura? O quê?

Dona Laura, sem nada dizer, dá um longo abraço em Paulo. Uma paz incrível toma conta de Paulo durante esse momento.
Em seguida, ela diz:
- Continuar, meu filho.. Continuar...

Capítulo 183:
Dona Laura pega na mão de Paulo, e os dois começam a andar para o lado da garagem. Parando no muro, depois da garagem, dona Laura diz:
- O corpo está além desse muro. Preferia que você não..

Antes de dona Laura acabar de falar, Paulo, num movimento rápido, pula e agarra o topo do muro, se erguendo, com dificuldade, até sentar sobre o mesmo.
(Dona Laura) - Meu filho..

Paulo faz uma expressão desesperadora, sentado no muro, e sem olhar para dona Laura, pula para o outro lado.
Dona Laura, pode ouvir o choro desesperador de Paulo do outro lado do muro.
Pedro corre até aquele local, e questiona dona Laura:
- Que foi, o que tem lá? por que ele pulou?

Dona Laura, emocionada, não consegue responder.
Pedro pula, e agarra o topo do muro. Sua mão escapa. Ele pula de novo e agarra com firmeza, e sobe rapidamente.
Ele pula para o outro lado, e vê seu pai ajoelhado, diante do corpo de sua mãe.
Paulo segurava sua cabeça sobre o colo, e afagava lentamente os cabelos, num compulsivo pranto desesperado, dizia:
- Aaaaaai!!!! Aaaaai!!
E chorava.

Pedro olha para a face de sua mãe, e vê uma expressão nunca vista em seu rosto: Desespero, medo, dor!!
O rosto estava contraído na hora do óbito, e manteve as mesmas feições do momento.
Catarina estava pálida, num tom azulado.
Pedro esboça dizer algo, muito impressionado, e desmaia.
Paulo nem observa a queda de pedro sobre o mato alto dos arredores do mausoléu.
Catarina estava encostada com as costasna pequena construção de concreto, sentada no chão.

Dona Laura e ana Luíza, choravam do outro lado do muro.

Os espíritos de luz encontram Adamastor sentado no jardim, com as mãos cobrindo as orelhas. E se aproximam.
Adamastor olha rapidamente para os espíritos de luz, sem demonstrar surpresa, diz:
- Sabia que vocês viriam. Da última vez eu consegui me esconder na floresta. Mas agora, fiz o que eu queria. Façam o mesmo que fizeram com meus entes na floresta, me tornem iluminado!!
Os espíritos de luz observam, sem se aproximar de Adamastor..

Capítulo 184:
(Adamastor) - Andem!! façam aquilo, me tirem daqui!! Não é o que vocês querem?
Sem nada dizer, os espíritos de luz se viram, de costas para Adamastor. Nesse momento, um vento sopra lentamente, e Adamastor ouve algo atrás dele. Ao se virar, ele vê sombras andando no meio das árvores do bosque, em direção à ele. E diz para os espíritos de luz:
- Que foi? Quem são eles??
Os espíritos de luz, não demonstram reação nenhuma, e continuam de costas para Adamastor.
As sombras cercam Adamastor, e aos poucos se tornam figuras monstruosas. E agarram adamastor, perfurando-lhe com garras longas e afiadas.
Em segundos, Adamastor some no ar, junto das sombras. E os espíritos de luz, lentamente começam a se direcionar para perto de dona Laura.

A tarde caiu, e por volta das 18:30h, Paulo chega com o corpo de Catarina ao IML, carregando-a nos braços.
Pedro, Ana Luíza e Dona Laura, estavam junto.
Foi decretada a causa da morte como infarto fulminante, mesmo que catarina nunca tivesse tido problemas cardíacos. Ela morreu de medo.

O velório foi muito comovente, muitas pessoas conhecidas estavam presentes.
Pedro, de cabelos cortados, colocava uma rosa branca sobre o caixão de sua mãe, na hora em que o mesmo ia sendo içado para dentro da cova.
Todos os amigos de Pedro estavam postos atrás dele, apoiando-o naquele momento.
Paulo teve de ser retirado do local. estava sem controle de suas emoções.

A terrível história daquelas terras havia tido um fim. MEsmo que de uma forma não aceitável por Paulo; que se tornou uma pessoa triste depois do acontecido.
Pedro, se casou com Ana Luíza, quando ela estava no oitavo mês de gravidez, e não houve muita comemoração. Pedro já ficava no Rio durante a semana, mas todo final de semana ficava na fazenda, fazendo companhia para seu pai. Mesmo que às vezes, Paulo nem sequer conversava direito. Estava em um luto contínuo.

Os dias pareciam que não iam ter fim, para Paulo, desde que sua esposa, Catarina, faleceu. A grande e bonita fazenda agora era cenário da sua dor e solidão.

FIM

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Conto de autoria de Fabio Jasmim. Todos os direitos autorais reservados ao autor desta obra.